Um Possível Ponto de Inflexão no Brasil

29 de janeiro de 2019
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais e Notícias | Tags: a nova dura realidade depois das eleições que consagraram Jair Bolsonaro, Clube da Esquina em Belo Horizonte, com os desastres da Vale em Mariana e Brumadinho, depois também do seu dramático esfaqueamento, já ocorreu no período autoritário, na cultura com os festivais de música popular na televisão, nas praias de Copacabana e Ipanema

As indignações provocadas pelas ondas de lama em Brumadinho são mais fortes do que as águas de Mariana, sepultando o passado com todas as suas mazelas. São fenômenos sociais profundos que marcam um ponto de inflexão das tendências passadas, com todas dramáticas mortes que chocam a opinião pública brasileira e a mundial. Exigem profundas mudanças que não suportam mais as permissividades do passado, exigindo que o Brasil reconsidere os cuidados preventivos que afetam o seu meio ambiente e a população, mesmo que o atual governo não os deseje. Isto já ocorreu no passado, com arte e cultura, quando as restrições impostas por um regime autoritário foram atropeladas pela criatividade de muitos artistas brasileiros.

Ondas de lama em Brumadinho arrasaram tudo, inclusive o passado recente, exigindo novas considerações sobre o meio ambiente e o respeito à população. Se o governo recém-empossado não perceber o que está acontecendo, corre o risco de ser alijado do poder. Jair Bolsonaro, na sua recuperação física, precisa aproveitar a oportunidade para rever algumas de suas orientações

Enterrem até o que ficou consagrado pela última eleição. Temos um novo Brasil, clamando por respeito pelo meio ambiente e pela vida da sua população, num quadro dramático disseminado por televisão, jornais e revistas e todos os atuais meios de comunicação social. Ninguém consegue ficar indiferente ao clamor que se levanta não somente no país como no resto do mundo. O Brasil não dispõe de alternativas e precisa aproveitar todas as oportunidades para mudanças profundas, que começam nas muitas mazelas de entidades públicas.

Parece-nos que a entrevista concedida por Maria Teresa Corujo a Leandro Prazeres e publicado no site da UOL, a única que votou contra a concessão de licença para a barragem na Mina do Feijão que, ao se romper, provocou toda a inundação de lama em Brumadinho, não deve deixar de lida por todos os brasileiros. Com a prisão preventiva dos que atestaram que a barragem não apresentava riscos importantes, não há como o governo não rever os critérios que estão sendo aplicados.

Com a nova disposição do Ministério Público responsabilizar os que estão dando estas concessões em todo o Brasil, parece que é possível acreditar que algo já está mudando neste país com relação a estas minerações. Até o presidente Jair Bolsonaro, ao ver de helicóptero a região atingida por esta calamidade, revelou que ficou impressionado com este desastre que ceifou incontável número de vidas. Parece-nos que já existe uma base concreta para que este ponto de inflexão ocorra no Brasil.