Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Impossível Agradar a Todos na Índia

15 de abril de 2019
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia e Política, Editoriais e Notícias | Tags: as atuais eleições na Índia, maiores chances para Narendra Modi, não atendeu as expectativas de todos mas é o líder indiano mais destacado, uma potência pobre a caminho do que se conseguiu na China

Um implacável artigo publicado por Gurcharam Das, influente jornalista indiano, no Foreign Affairs mostra que mesmo a Índia registrando um crescimento em torno de 7% ao ano nos últimos anos, o mais elevado no mundo com inflação entre 2 a 3% ao ano, não consegue satisfazer a todos. Para quem vive no Brasil, onde está se tornando difícil conseguir um clip_image002crescimento de pouco mais de 1% neste 2019, parece até um sonho, ainda que a Índia tenha aproveitado as vantagens proporcionadas pelos jovens com o chamado “dividendo demográfico”.

O atual primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, o mais provável vencedor na maior eleição do mundo, que dura quase um mês

Gurcharan Das, um dos mais influentes jornalistas indianos, não estava satisfeito com o governo indiano de Mammohan Singh, que não conseguia reduzir a inflação nem a corrupção. Apesar de algumas restrições ao exagerado nacionalismo e até aos muçulmanos na Índia do governador do Estado de Gujarat naquele país, Narendra Modi foi um dos liberais que aderiu à sua primeira candidatura, na esperança que o marasmo que se observava naquele país fosse rompido. Hoje, mesmo com o crescimento econômico em torno de 7% ao ano, com inflação entre 2 a 3% ao ano, redução da corrupção naquele país, ele se revela não totalmente satisfeito com o atual governo por não ter conseguido uma melhoria na distribuição de renda, proporcionando mais emprego para os trabalhadores indianos. Admite, no entanto, que Narendra Modi, com sua liderança, é o mais provável vencedor das eleições indianas em curso. Os brasileiros que passam por uma situação muito pior invejam o que está acontecendo naquele gigantesco país emergente, que transformou milhões de pobres em participantes da classe média, ainda que o atual governo não tenha conseguido tudo o que muitos esperavam dele.

Muitos alegam que Narendra Modi é autoritário e sectário, mas a Índia tem a democracia mais estável entre os países emergentes, contando com instituições consolidadas pelos muitos que foram à Inglaterra para efetuar seus estudos, que asseguram a sua estabilidade, quem quer que seja eleito. Mesmo o partido atual do governo, BJP – Partido Nacionalista Bhartiya Janata, está dividido, o que parece natural em qualquer democracia.

Sempre haverá motivos para críticas ao atual governo. As eleições podem tentar corrigir parte delas, mas esperar que se aproxime mais da perfeição parece que é exigir muito em qualquer sociedade emergente e democrática. Muitas reformas terão que ser introduzidas no próximo mandato, como é natural no desenvolvimento que é um processo contínuo de mudanças. Há que se promover acomodações políticas, como a mudança no Banco Central daquele país, que contava com um excelente presidente do tipo liberal, próxima à recomendada pelos formados pela Universidade de Chicago.

O autor das críticas atribui muitos dos atuais problemas aos funcionários públicos que dominam a administração. Muitos indianos emigraram para países vizinhos, como o Vietnã, Bangladesh e Indonésia, mas parece que este fenômeno se tornou universal. Tudo indica que Narendra Modi é um modernizador pragmático como os que têm conseguido sucesso em Cingapura. Mesmo que ele não tenha conseguido tudo que prometeu nas campanhas eleitorais anteriores, há que se considerar que ele obteve muito e poderá ter a chance de continuar introduzindo inovações, caminhando democraticamente pela rota aberta pela China, de forma mais autoritária com Xi Jinping.

O Brasil tem muito que aprender com a Índia.