Ainda os Problemas da Guerra Comercial EUA – China
29 de maio de 2019
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia e Política, Editoriais e Notícias | Tags: chineses providenciando estoques de terras raras, o comportamento brasileiro, visões com prazos discrepantes, visões mais restritas dos norte-americanos
Na atual guerra comercial dos Estados Unidos com a China, que tende a estender seus efeitos por todo o mundo, observa-se que os chineses pensam num horizonte mais longo. Circulam informações que eles estão armazenando terras raras que todos sabem serem estratégicas para o futuro das próximas décadas. Os norte-americanos podem resolver parte dos seus problemas com os produtos importados, mas tendem a se tornar menos competitivos no mundo. Enquanto alguns imaginam que países como o México, o Canadá, membros da Comunidade Europeia e o Brasil poderiam se beneficiar com fornecimentos de curto prazo que substituiriam os produtos chineses voltados para o mercado norte-americano, ou até fornecimentos aos chineses dos produtos americanos que ficaram proibidos de serem vendidos para a China.
Muitas são as ilustrações da guerra comercial entre os Estados Unidos e a China, que acaba prejudicando o crescimento econômico em todo o mundo
Por ser a China, um país milenar que já passou historicamente por fases favoráveis como desfavoráveis ao seu desenvolvimento, eles contam com uma cultura que os levam a considerar suas conveniências de prazo mais longo, mesmo com as flutuações normais na economia mundial. Estão produzindo equipamentos eletrônicos voltados à economia do futuro, como os conhecidos da geração 5G, tanto na indústria como nas comunicações. Suas pesquisas estão mais avançadas, com muitos recursos humanos treinados até nos Estados Unidos, e que contam agora na própria China com todas as condições indispensáveis para criar conhecimentos para os manter competitivos nas próximas décadas.
Todos sabem que as medidas que os norte-americanos estão tomando para reduzir o seu desequilíbrio comercial externo são como tiros nos seus próprios pés, pois as restrições tarifárias sobre componentes estratégicos acabam deixando-os tecnologicamente mais atrasados, não sendo suficiente para reativar as pesquisas como as que estavam sendo feitas no Vale do Silício. Indica, de forma lamentável, uma visão mais curta do seu horizonte.
Os que imaginam que isto beneficiará outros países como o México, o Canadá, componentes da Comunidade Europeia e até o Brasil, com matérias-primas e produtos alimentícios, sugerem somente visões de curtíssimo prazo. Um desaquecimento do crescimento mundial só pode beneficiá-los por um prazo mais curto ainda, pois as pesquisas para desenvolvimento de novas tecnologias competitivas não parecem ocorrer de forma relevante.
Os muitos países em desenvolvimento ou emergentes tendem a ampliar suas produções usando conhecimentos já acumulados no exterior, como os africanos ou dos países menos desenvolvidos da Ásia, que contam com recursos humanos de baixo custo com os quais se tornam difíceis de competir.
Todos necessitam estar conscientes que só se tornam competitivos de forma sustentável se desenvolverem pesquisas próprias que possam ser transformadas em tecnologias aplicadas nas produções dos seus produtos e serviços. Também para adaptação de conhecimentos obtidos no exterior necessitam, na maioria das vezes, de suas adaptações para as condições locais. Lamentavelmente, não existem milagres nestes aspectos econômicos e políticos. Ainda que todos sejam prejudicados imediatamente, há que se pensar na criação das condições para se tornarem competitivos no médio prazo. O Brasil, com as reduções dos investimentos nas pesquisas e na educação, parece caminhar no sentido que não parece o mais correto.