Fusão da Fiat Chrysler com a Renault
31 de maio de 2019
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia e Política, Editoriais e Notícias | Tags: ainda uma proposta para exame, as novas tecnologias de veículos elétricos, pouca consideração com a Nissan e Mitsubishi Motors, problema de escala e comercialização
Como se trata ainda de uma proposta apresentada pela Fiat Chrysler – FCA para a Renault, sem todos os detalhes que precisam ser considerados na operação está sendo divulgada, talvez por ainda não terem sido acertados. Um artigo da Financial Times, elaborado por uma equipe composta por Arash Massoudi, David Keolane, Kana Inagaki, Leo Lewis, James Fontanelle-Khan e Rachel Sanderson, foi reproduzido no Valor Econômico. Mas alguns dos seus dados fundamentais divergem com os publicados no site do Japan Today, elaborado pela agência noticiosa japonesa Kyodo.
A possibilidade de fusão da Fiat Chrysler com a Renault está sendo considerada
Todos estão informados que o acordo entre a Renault com a Nissan e a Mitsubishi Motors continua em discussão demorada, havendo detalhes que ainda não estão claros. Com ela, além da dimensão que é relevante, a tecnologia do futuro que se concentra nos veículos elétricos seria basicamente a que vem sendo desenvolvida pelos japoneses, que estão bem instalados na China, onde as baterias eficientes estão mais avançadas no mundo, além da gigantesca dimensão do mercado chinês.
Agora, com uma participação de segundo nível dos japoneses, a FCA e a Renault estariam negociando a possibilidade de fusão, que apresentaria também a vantagem do maior acionista se tornar a dinastia Agnelli, que deixaria a incômoda participação do governo francês em segundo lugar. Esta possibilidade exerceria uma forte pressão nos japoneses, que não possuem uma importante personalidade representando o seu grupo controlador. Isto poderia acelerar os entendimentos ou passariam a ter um papel pouco significativo no possível novo grupo. Inclui-se até a possibilidade dos japoneses deixarem de participar destes acordos, no que for possível, pois já existem ações da Nissan em poder da Renault.
O Financial Times informa que as sondagens já se estendem por um bom período, comandados John Elkann, presidente do Conselho da FCA, e Jean-Dominique Senard, que assumiu há pouco tempo a Renault. A divergência principal dos dados é que a Kyodo informa que os dados de vendas destas empresas, somadas, chegariam a 15,6 milhões de veículos em 2018, colocando expressivamente acima da Volkswagen que vendeu 10,89 milhões no mesmo ano, tornando indiscutivelmente acima da Toyota e, portanto, a primeira no mundo. Sem os dados da Nissan e da Mitsubishi Motors, a FCA com a Renault só chegaria 8,7 milhões de veículos. Nem estes dados parecem ser precisos.
O artigo informa que a fusão só ocorreria entre os acionistas, mantidas as fábricas existentes dos dois grupos, sem afetar o emprego dos operários, assunto sensível na França como na Itália. Uma possível holding estaria sendo cogitada para ser instalada na Holanda. Também os japoneses sofrem fortes pressões dos seus funcionários e sua redução é sempre um problema complicado. Também parece que os problemas de tecnologias futuras aparentemente nem foram tocados, mas são relevantes para grandes grupos se manterem competitivos nos mercados nas próximas décadas.
Os japoneses só foram informados sobre estes entendimentos depois que eles foram anunciados, temendo-se a manutenção do sigilo. Os japoneses manifestaram diplomaticamente que estes entendimentos seriam interessantes de serem examinados. Todas estas informações ainda indicam que há muito que se acertar agora em diante, estando com o sinal verde do governo francês e do italiano, sem nenhuma participação das autoridades japonesas que não costumam se imiscuir em entendimentos dos grupos privados, mesmo quando internacionais. Até o momento, parece que existem mais questões a serem acertados do que os já resolvidos.
Fala-se na possibilidade dos japoneses terem um representante no Conselho da nova empresa. Também existem atrativos para que suas tecnologias mais avançadas sejam utilizadas em grupos maiores do que os presentes, incluindo os veículos elétricos.
O que fica evidente é que existem diferenças culturais importantes, tanto entre povos com longas tradições, como entre culturas empresariais que sempre dificultam entendimentos entre empresas de grande porte no mundo. Evidentemente, a lógica teórica pode estar razoável, mas existem outros obstáculos que envolvem também personalidades bem como grupos de funcionários influentes. Os japoneses costumam divulgar estas negociações após avanços maiores terem sido alcançados. Os riscos de que estes entendimentos preliminares não sejam consolidados, apresenta um elevado risco, ainda que tenha sido bem recebido nos mercados das ações, com elevação das cotações das ações da FCA e da Renault.