Agronegócio Sustentável na Folha de S.Paulo
29 de agosto de 2019
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais e Notícias | Tags: View all
Quando o assunto das queimadas na Amazônia continua ocupando espaços importantes na imprensa mundial, como um relevante contraponto a Folha de S.Paulo realiza a sua terceira edição do seminário sobre o agronegócio sustentável, fornecendo informações detalhadas sobre os esforços brasileiros no sentido da ampliação deste tipo de atividades, acompanhando o que acontece no mundo.
3ª Edição do Agronegócio Sustentável da Folha de S.Paulo
Na realidade, o Brasil não precisa desmatar e incendiar a floresta Amazônica, pois vem registrando nas últimas décadas uma crescente integração lavoura-pecuária-floresta, notadamente no seu Centro Oeste, obtendo um aumento de produtividade em arroba de carne por hectare, como demonstrado em gráficos elaborados pela Embrapa. Isto consta de um interessante artigo de Cláudia Rolli que se refere ao desafio de trabalhar de forma limpa em larga escala, com o controle do uso de agrotóxicos, ainda que exista uma grande heterogeneidade no seu agronegócio. Os bons produtores rurais já adotam tecnologias avançadas e outros ainda insistem em aumento das áreas exploradas.
Um dos avanços mais expressivos ocorreu com a introdução do plantio direto, que evita a liberação do CO² que ocorria com a aragem das áreas de lavoura. Também o controle biológico das pragas e doenças deu a sua contribuição, o que ainda não se generalizou entre os pequenos produtores. Quando existe uma elevada mecanização nas produções, as novas tecnologias são mais fáceis de serem utilizadas. Infelizmente, 170 milhões de hectares são utilizados pela pecuária, sendo que 63 milhões com pastos degradados.
Segundo a Umaflora – Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola é possível aumentar a produção em cinco vezes e reduzir em 50% as emissões de gases por hectare, e 90% das emissões por quilo de carne produzida. Existem experiências como da Korin, mas seus custos ainda são elevados, como no Pantanal, no Mato Grosso. Algo semelhante ocorre com outros alimentos que são produzidos agricolamente, onde os consumidores podem ajudar, pagando um pouco mais por produtos sustentáveis e orgânicos.
Existem autoridades que estão conscientes destas possibilidades, com disposição de proporcionar incentivos até fiscais, preocupando-se com problemas ambientais. Também entidades de classe como a CNA – Confederação Nacional de Agricultura se voltam no mesmo sentido, como também já ocorre no exterior.
De forma semelhante, existe a preocupação com os agrotóxicos, havendo necessidade de pesquisas adicionais para evitar os que causam problemas. Formas naturais do controle das pragas necessitam ser pesquisadas, como colocado num artigo de Andrea Vialli. A integração dos institutos de pesquisas com os produtores necessitam ser mais intensificadas, inclusive nos mecanismos de suas certificações. Existem grandes empresas que já estão trabalhando, inclusive com técnicas modernas de rastreamento dos produtos agrícolas.
Também existem algumas controvérsias sobre os responsáveis, tanto do atual Código Florestal como nas burocracias, para facilitar o acesso ao crédito visando produções consideradas verdes. Da parte dos consumidores parece haver um desejo de contar com mais produtos orgânicos e em centros urbanos como São Paulo conta-se com a ampliação da sua oferta, inclusive nas redes de supermercados.
O quadro geral ainda parece estar nos seus estágios iniciais de aperfeiçoamento, com algumas regiões mais avançadas, enquanto em outras ainda não existe um esforço sistemático. Há que se estabelecer um plano nacional, com recursos governamentais adequados como os que ajudaram a organizar a Embrapa. Estas questões não podem ser limitadas às administrações de um governo, mas pensando no longo prazo, há que se imaginar algo semelhante à tarefa do Estado.
Tudo indica que há uma ansiedade, tanto dos consumidores como dos produtores, e o Brasil dispõe de todas as condições para avanços significativos, tanto para atender o mercado interno, como até voltar a sua produção sustentável para o mercado internacional.