Conflito Entre Turcos e Sírios na Área Ocupada Pelos Curdos

8 de outubro de 2019
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais e Notícias | Tags: a perda oficial do território, os curdos se sentem traídos pelos norte-americanos, problemas antigos com os curdos desde a Segunda Guerra Mundial

O presidente Donald Trump, que costuma decidir sem ouvir especialistas norte-americanos nos complexos problemas como os que envolvem os curdos, acaba ampliando as dificuldades com a retirada das suas tropas, deixando os curdos com um sentimento de que foram traídos.

Mapa recente da região constante do artigo no site do Daily Mail, do Reino Unido

Meu envolvimento pessoal com os curdos data do período em que tentava ajudar o Comitê de Refugiados da ONU. Como muitos sabem, no fim da Segunda Guerra Mundial os curdos perderam o seu território e desde este período vivem em territórios como da Turquia, da Síria e do Iraque usando documentos fornecidos pelas Nações Unidas, pois são considerados apátridas. Esta situação deixam os curdos desconfortáveis, envolvendo-os constantemente em conflitos nos territórios que eram deles no passado, gerando uma instabilidade em toda a região. Os Estados Unidos ocupavam parte desta área com tropas. Por decisão do seu presidente, elas receberam ordens de deixar a região, para reduzir os seus custos, desencadeando uma ofensiva dos turcos sobre a área, criando um problema de nível internacional, quando já existem muitos outros de difícil equacionamento.

Até o momento, ninguém pode antecipar como a presente situação tenderá a se resolver, numa região de alta complexidade como é o Oriente Médio, que já conta com outros problemas graves que podem gerar conflitos armados internacionais. No fundo, os ingleses e os franceses, que eram importantes no fim da Segunda Guerra Mundial, não conseguiram deixar uma situação estável nesta região, que acabou se complicando com a criação de Israel ocupando parte que era da Palestina. Os problemas petrolíferos e nucleares, inclusive com o atual Irã, antigo Império Persa, geram grandes interesses difíceis de encontrar uma situação estável.

Existem na região, países que já foram até mais importantes que atualmente, pois a humanidade na sua antiguidade contou, por exemplo, com a Mesopotâmia, atualmente com a denominação de Iraque. Também o Egito tem uma história milenar, ao lado dos persas, hoje iranianos. É difícil imaginar que países de outras regiões tenham a capacidade de resolver os problemas existentes na região, que exigem complexas negociações diplomáticas, para se atingir um mínimo de estabilidade.

A história está mostrando que importantes potências passadas estão vivendo mudanças relevantes, não tendo mais condições materiais ou militares para contribuir na estabilidade da região. Bem ou mal, as Nações Unidas continuam sendo a organização internacional posterior à Segunda Guerra Mundial que diplomaticamente tem melhores condições para criar uma situação de razoável estabilidade nesta difícil região de diferentes interesses políticos, econômicos e militares.

Quando o atual governo brasileiro, mesmo sem contar com as condições para um papel mais relevante no nível internacional, arroga-se em princípios discutíveis de relevância mundial de alguns dos seus problemas, parece importante que tenha um mínimo de humildade. Reconhecer que, preservando seus interesses nacionais, tenha condições de um entendimento diplomático mais amplo com a comunidade internacional, aprendendo com as dificuldades enfrentadas por outros países, mesmo em questões de outra natureza.