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Essência da Cultura Japonesa Influenciada pelo Zen Budismo

22 de outubro de 2019
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais e Notícias | Tags: a síntese da influência do zen budismo expresso pelo chamado haiku, artigo de Michael Hoffman publicado no Japan Times, dificuldades nas traduções | 1 Comentário »

Michael Hoffoman, um conhecido intelectual que escreve muito sobre a cultura japonesa, aventura-se a tentar traduzir para o inglês o que ele entende como a essência da cultura japonesa influenciada pelo zen budismo, expresso da forma mais sintética possível numa imagepoesia chamada haiku, que expressa uma situação completa em apenas 17 sílabas. Ele utiliza o haiku de Matsuo Basho (1644-94), na interpretação dada pelo mestre de zen Butcho, quando ele fez uma visita ao primeiro, na sua casa às margens do rio Sumida, na atual Tóquio, que na época era conhecida como Edo. Isto foi explicado por Daisetsu Suzuki (1870-1966), no seu livro “Zen e a Cultura Japonesa”. (As traduções são livres, com o que se perde muito destes fabulosos e profundos ensinamentos).

Pintura da figura de Matsuo Basho (1644-94), mestre do zen budismo

O mestre Butcho perguntou na visita: “Como você está?”, ao qual Basho teria respondido: “Depois da recente chuva, o musgo está mais verde do que nunca”. Butcho prosseguiu: “Que budismo está aí, antes o musgo crescia verde?”. Para muitos, o budismo não é uma religião, mas uma forma de ver o mundo.

Basho teria respondido: “O sapo pula na água, ouça o som”. Estamos quase lá (pois, para muitos, o principal objetivo da vida era atingir a sua compreensão), e usou o haiku, que se tornou dos mais famosos no Japão ao longo de sua história cultural: “Um velho lago/ o sapo pula nele/ o som da água”. É evidente que em português isto pode parecer até ingênuo, principalmente aos que desconhecem o pensamento zen.

No zen, recomenda-se, segundo Daisetsu Suzuki, um especialista, que o poeta se aprofunde completamente livre do egoísmo, para o “inconsciente cósmico”. No reino do “não pensamento”, “não mente”, descobrimos “nossa natureza lunar (possivelmente no sentido universal), nossa natureza flor de cerejeira” (na cultura japonesa aprecia-se a flor de cerejeira, que é muito passageira, efêmera), que seria da natureza humana.

Para se entender todo o profundo sentido destas poucas palavras do haiku, é preciso ler e relê-lo muitas vezes. O velho lago é uma imagem de transcendente de tranquilidade, que é perturbada pelo salto do sapo, que é aprofundado no seu sentido pelo som da água. O haiku não expressa uma ideia, mas coloca a imagem refletindo intuições. Ele o coloca no universo, não no passado, mas podendo se prolongar pelo futuro, segundo Suzuki.

Em poucas silabas, Basho colocou num simples haiku o que muitos autores expressaram em livros, com longas considerações. Suzuki menciona entre eles Milton e William James. Para muitos, este poder de síntese seria o máximo do que se pode conseguir na literatura.

As lições que podemos obter destas colocações, no momento em que o mundo está conturbado com tantas informações superficiais que levam a perigosas radicalizações, parece ser é que reflexões profundas podem nos ajudar a conseguir maiores realizações.


Um comentário para “Essência da Cultura Japonesa Influenciada pelo Zen Budismo”

  1. Mauricio
    1  escreveu às 01:22 em 23 de outubro de 2019:

    Poxa que interessante muito bom, gosto de ler sobre o zen