Se gasta Mais do que se Produz no Brasil
8 de outubro de 2019
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia e Política, Editoriais e Notícias | Tags: o uso indevido do cartão de crédito, um pouco de saudosismo do passado, uso das cadernetas de poupanças da Caixa Econômica e os cofrinhos das crianças
Entre os graves desequilíbrios da economia brasileira, que não permitem um crescimento econômico mais vigoroso, diagnostica-se no próprio governo que na economia brasileira continua se gastando mais do que se produz, não permitindo uma poupança que financiaria parte dos investimentos indispensáveis para a criação de mais empregos. Os mais idosos se lembram das velhas cadernetas de poupança da Caixa Econômica, acompanhado de um pequeno cofrinho, onde as crianças aprendiam a poupar as poucas moedas que ganhavam. Disseminava-se a cultura de que havia que se poupar para permitir depois o consumo do que fosse desejado.
O hábito de poupanças de moedas nos cofrinhos no passado
Hoje, uma criança que vá para uma loja de brinquedos acompanhados dos pais e avós, tomados por uma cultura consumista, pede para comprar o brinquedo que deseja. Se os responsáveis afirmam que não estão com o dinheiro necessário, logo perguntam: “Você não tem cartão?”, como se fosse uma mágica que permitisse a compra sem gerar nenhum outro encargo. Os bancos afirmam que os juros reais estão caindo, mas reconhecem que, sobre os saldos negativos destes cartões, eles estão subindo, alegando o aumento da inadimplência que gera custos. Mas seria de se perguntar quem concedeu crédito para aqueles que não podem honrar seus compromissos? Os gerentes dos bancos deveriam ser os responsáveis por estas inadimplências, mas o público em geral é que acaba arcando com estas más gestões.
Parece indispensável que se volte à cultura da poupança, gastando somente o que foi poupado anteriormente, pois em economia não costuma haver milagres e os encargos acabam ficando com os mais necessitados. Os bancos e seus dirigentes continuam aumentando seus lucros, tanto na recessão como nos períodos de recuperação da economia.
Afirma-se que o Banco Central no Brasil conta com autonomia para suas decisões, que influem decisivamente nos juros. Mas os seus dirigentes foram treinados nas teorias monetárias e creditícias nas melhores universidades do mundo, que evidentemente visam a estabilidade do sistema bancário, que é mantida com suas elevadas remunerações. Deveriam cuidar também das gestões dos cartões de crédito que estão se aperfeiçoando rapidamente em todas as partes do mundo, cujos custos serão arcados pelos seus clientes.
Há que se voltar à política saudável de gastar somente o que foi produzido. Mas no Congresso Nacional como no Executivo ou mesmo no Judiciário parece vigorar a orientação de que gastos adicionais são possíveis, arcados pelos que não têm poder político, que são os pobres consumidores. Em tudo existe um limite e a gastança desenfreada do presente vai acabar gerando uma situação em que os credores externos do Brasil acabarão concluindo que os riscos são exagerados, havendo que se preocupar com a situação que não é sustentável a prazo mais longo.
Já enfrentamos situações semelhantes no passado e o que está acontecendo também em muitas outras economias, e sabemos que, sem uma disciplina razoável, os custos de uma crise podem ser extremamente elevados.