Diferenças Chocantes Sobre Fluxos de Fatores de Produção

24 de novembro de 2019
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia e Política, Editoriais e Notícias | Tags: como economista é difícil aceitar estas diferenças, crianças sozinhas enviadas pelos pais para a fronteira, mas recursos humanos não, o capital tem fluxo livre entre países, o problema na fronteira do México com os Estados Unidos, um país estruturado com o recebimento de muitos imigrantes

Uma notícia chocante está na primeira página do Washington Post. Latino-americanos que não podem migrar para os Estados Unidos acabam enviando suas crianças de cinco e três anos, sozinhas, para aquele país que, até de forma violenta, evita os migrantes, ainda que o fluxo de capital seja livre entre estes países. São ambos fatores de produção, assim como tecnologia, e isto ocorre por conveniência dos países desenvolvidos como o dos norte-americanos, que receberam contribuições importantes de imigrantes de variados países.

Crianças de cinco e três anos são enviadas sozinhas para a fronteira do México com os Estados Unidos. Foto constante do artigo publicado no Washington Post, que merece ser lido na íntegra

Pela conveniência dos países desenvolvidos, o capital financeiro pode fluir livremente de um país para outro, mas o mesmo não acontece com o outro recurso de produção, os humanos. Não é algo aceitável pela lógica e esta violência choca a simples economistas como nós. De forma idêntica, algo semelhante acontece com a tecnologia, sobre a qual incidem pesados royalties que são pagos aos seus fornecedores.

Se hoje proliferam por países latino-americanos manifestações populares até violentas, parte se deve a este tipo de tratamento desigual entre fatores de produção, pela conveniência dos países mais ricos. É muito chocante ver crianças inocentes sendo separadas dos seus pais, provocando justas indignações. Isto ocorre num país que contou com muitos imigrantes de outros países que colaboraram para o seu desenvolvimento.

Não existe uma lógica nestes países que hoje restringem a entrada de imigrantes. Mesmo na Europa, muitos imigrantes de países árabes e africanos, miscigenando com os naturais destes países, contribuíram para o seu desenvolvimento. Hoje, países que apresentam pequenas cifras de novos nascimentos, com suas populações decrescendo e envelhecendo, necessitam de recursos humanos do exterior para atender suas necessidades básicas. Isto acontece até em países asiáticos, como o Japão, que só aceitam migrantes temporários, como regra geral, mas que vão renovando suas presenças.

Separar as crianças de tenras idades dos seus país chega a ser desumano, pois, ainda que possam aprender muitas coisas nas escolas, necessitam do apoio dos seus genitores para suas formações básicas. O desenvolvimento da humanidade nos últimos séculos ocorreu com a decisiva colaboração de imigrantes. Imaginem os Estados Unidos sem os imigrantes europeus, inclusive dos intelectuais que fugiam do nazismo e do fascismo.

Espera-se que estas restrições insanas sejam corrigidas com urgência para que tenhamos condições de nos considerarmos humanos.