Entrevista de Paulo Guedes Sobre Muitos Projetos
4 de novembro de 2019
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia e Política, Editoriais e Notícias | Tags: as necessidades mais urgentes para conseguir o apoio da população, entrevista de Paulo Guedes para a Folha de S.Paulo, reformas para programas de longo prazo, uma visão exageradamente ampla
A Folha de S.Paulo publicou hoje uma longa entrevista de Paulo Guedes (foto), ministro da Economia do Brasil, concedida para Alexa Salomão, falando sobre as reformas de longo prazo, algumas que exigem mudanças constitucionais que serão enviadas ao Senado e outras para a Câmara dos Deputados, todos dentro de uma orientação liberal populista do atual governo Jair Bolsonaro. Revela um otimismo com o que já conseguiram na reforma da Previdência, ainda que muitos ajustes tenham sido introduzidos pelos parlamentares sobre o projeto do executivo reduzindo seu impacto futuro, havendo que se cuidar ainda de muitos detalhes.
Para o Senado, seriam enviados três PEC – Proposta de Emenda à Constituição, um primeiro sobre o pacto federativo que contaria com um novo regime fiscal, o segundo de emergência fiscal contendo despesas públicas em situações críticas e o terceiro sobre a utilização dos fundos públicos. Para a Câmara, seria uma reforma tributária. O ministro revela grande otimismo interpretando que o legislativo hoje é reformista, mas o quadro atual é de dúvidas para a população e muitos empresários, refletindo o que está acontecendo em muitos países no mundo. Ainda que a oposição no Brasil também esteja desarticulada.
O nível de desemprego e as informalidades de muitos trabalhadores por conta própria são elevados, ao mesmo tempo em que aumentam os idosos que necessitam de serviços públicos, como os da saúde que estão sendo contidos. As desigualdades dos muitos marginalizados morando em condições precárias, com a classe média e os poucos de elevada renda são amplas, e qualquer estopim pode gerar problemas de difícil controle no curto prazo, como vem ocorrendo no Chile, que vinha adotando as orientações mais liberais recomendados pela Universidade de Chicago, fazendo muitas mudanças na direção certa. Mesmo que a maioria da população brasileira entenda que muitas das reformas propostas sejam indispensáveis no longo prazo.
Existem alguns especialistas que entendem que em vez de planos detalhados de longo prazo, um mais simples, estabelecendo as prioridades seria mais realista, permitindo caminhar na direção correta, sempre que possível. Diante do quadro de desespero que também afeta muitos brasileiros, sem alguns benefícios de curto prazo, os riscos acabam ficando elevados, mesmo conseguindo o apoio, a duras penas, dos parlamentares indispensáveis. Sonhos muito grandes no atual cenário internacional não parece ser recomendáveis, havendo necessidade de maior pragmatismo, no mínimo para transpor o período de baixo crescimento na economia mundial.
Para a correção dos desequilíbrios fiscais que existem atualmente na economia brasileira, além da redução dos dispêndios públicos que não contribuem na ativação da economia, há que se promover um aumento de arrecadação, difícil de ser suportado por aqueles que já se encontram nos limites da sobrevivência. Muitas necessidades encontram resistências diante das desigualdades de tratamento, acreditando-se que os privilegiados teriam melhores condições de efetuar investimentos indispensáveis.
A construção civil que estimula a criação de empregos já está sendo fomentada, ao mesmo tempo em que a redução dos juros acaba estimulando outras demandas. Mas é preciso admitir que muitas fábricas foram sucateadas, encerrando suas atividades. Ao mesmo tempo em que a infraestrutura brasileira ainda se encontra deteriorada, exigindo pesados investimentos de maturação demorada, mesmo com a colaboração do setor privado interno e externo. A redução dos investimentos na educação e nas pesquisas não promovem as novas tecnologias indispensáveis para a competitividade externa.
No atual quadro difícil para qualquer administração, minimizar os atritos com a imprensa, por exemplo, parece uma boa orientação, sem aprofundar a polêmica, que já é difícil em si. Uma capacidade pragmática de absorver até a oposição, que está desarticulada, parece indispensável, mas sem a barganha que sendo feita com a dotação adicional de recursos públicos. Muitos críticos apontam que o governo não conta com bons articuladores políticos, e os apoios que obtém são exageradamente custosos.
Os conflitos que se registram dentro do governo, com mais tiros pelas costas do que dos adversários, pouco contribuem para conseguir reformas razoáveis. Parece que um pragmatismo simples ajudaria mais do que sofisticados projetos, que são difíceis de serem entendidos por especialistas quanto mais pela população que está pagando por todas as mazelas.
Há que se admitir que existem uma gigantesca biodiversidade brasileira, que, com custos bastante modestos, pode produzir bens destinados ao comércio exterior, ajudando a criar uma parte do emprego para os brasileiros. Nas últimas décadas, o que veio sustentando a economia brasileira foi o setor agropecuário, utilizando novas tecnologias absorvidas com os equipamentos que estão sendo utilizados. Mas isto não vem se realizando no vital setor industrial e de serviços, na escala desejada. Mas faz-se o que é possível, mesmo que não seja a melhor opção disponível.