O Estadão Entrevistou 53 Líderes Brasileiros
13 de novembro de 2019
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais e Notícias | Tags: as desigualdades se destacam, como parte dos 130 anos da República, destacando os temas mais citados, exigindo que as autoridades se preocupem com o assunto, o Estadão entrevistou 53 líderes brasileiros, para não serem apanhados de surpresa como em alguns outros países como o Chile
Numa matéria longa elaborada por Marcelo Godoy e Paula Reverbel, contando com a ajuda de muitos outros jornalistas, o Estadão entrevistou 53 líderes brasileiros, políticos, econômicos e sociais, e intelectuais, e eles apontaram os valores que mais os preocupam nestes 130 anos da República. Ainda que a escolha deles não tenha uma base científica como amostragem, acaba refletindo as preocupações mais importantes do momento. Eles serão detalhados nas entrevistas programadas para os próximos números deste jornal.
O Chile vinha executando uma política liberal, mas a população está manifestando a sua insatisfação, o que eventualmente pode ocorrer também no Brasil
Entre os sete valores mais citado por estes lideres figuram: combate à desigualdade com 31 citações, democracia com 30, educação com 28, combate ao privilégio 27, reforma do Estado 26 e igualdade perante a lei 21, e liberdade 21. São assuntos que estão provando insatisfações agudas e perigosas em muitos países, inclusive nos vizinhos latino-americanos. A intensidade dos usos de comunicações eletrônicas no mundo parece ter provocado algo parecido com um contágio em muitos países.
O atual governo brasileiro vem privilegiando os mais ricos, na esperança que eles sejam capazes de promover investimentos que não conseguem ser feitos na economia brasileira pelo poder público, sobrecarregando os encargos dos menos favorecidos. Como tudo isto exige um prazo razoável para proporcionar resultados, muitos ricos estão se transferindo para o exterior, na esperança de preservar os seus patrimônios. Os investimentos não estão sendo capazes de promover rapidamente o desenvolvimento, criando bons empregos para a massa dos trabalhadores brasileiros, que estão deteriorando suas situações, gerando perigosas insatisfações.
O atual governo vem enfrentando problemas para os quais não estava devidamente preparado, exigindo medidas emergenciais, pois as suas prioridades parecem estar longe da realidade brasileira. A população fica chocada com as multiplicações dos incêndios, os vazamentos do petróleo, as insuficiências dos recursos para a assistência médica, cortes nos recursos da educação e da pesquisa, que dão um sentimento de improviso com muitas mudanças repentinas, inclusive chocantes com a política anunciada. Ainda que se saiba que as correções mais profundas, como da previdência social e o déficit do setor fiscal, sejam graves, mas de maturação, exigindo longos períodos que nem sempre podem ser esperados.
Todos sabem que existem problemas emergenciais difíceis de serem previstos. O que parece indispensável é que as principais prioridades sejam estabelecidas, não se podendo atacar todos os problemas que foram sendo acumulados ao longo do tempo. O Executivo sabe que muitas medidas exigem aprovações do Legislativo e do Judiciário, e o custo para obter seus apoios parecem exagerados, sem que simultaneamente também se atenda aos interesses nacionais. As verbas dotadas para os parlamentares poderiam ser voltadas para as prioridades mais elevadas, que também proporcionem apoio político nas bases de muitos deles.
Lamentavelmente, mesmo os melhores planos elaborados por bons funcionários públicos, inclusive com boas formações no exterior, necessitam de duras negociações com as principais lideranças políticas. Quem se encontra no poder costuma atrair o apoio de outros políticos, mas se o presidente da República fica com a necessidade de mudar de partido, por não conseguir nem aglutinar o apoio dos membros da sua agremiação, algo parece muito estranho.
Qualquer governo conta com algumas deficiências, mas as escolhas dos principais ministros com critérios ideológicos e religiosos não parecem as melhores orientações. As constantes mudanças nos mais altos escalões do governo acabam criando perplexidades entre os muitos que poderiam ajudar as autoridades. Evidentemente, o mundo passa por um período difícil de desaceleração do crescimento, quando todos os problemas acabam ficando mais difíceis. Não parece restar senão restringir-se às prioridades mais importantes, não se podendo atacar todas as frentes simultaneamente. O governo conta com muitos quadros preparados e experientes, mas eles não recebem o apoio desejado, dando a impressão, no Brasil e no exterior, que os riscos de investimentos neste país são elevados, quando se dispõe de uma rica biodiversidade que, com custos relativamente baixos, encontra demandas no exterior, que se preocupam com a preservação do meio ambiente e de produtos que sejam saudáveis para as alimentações.
Delfim Netto propõe que seja utilizada rapidamente a lei delegada, principalmente para acelerar os investimentos em infraestrutura que podem ajudar a criar empregos. Algo parecido precisa ser providenciado para que a insatisfação popular, que já está atingindo até a classe média mais modesta, tenha condições para demonstrar democraticamente a sua insatisfação.