Sempre é Mais Difícil Fazer do que Falar
28 de novembro de 2019
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais e Notícias | Tags: entrevista de Augusto de la Torre que foi do Banco Mundial e é professor da Universidade de Columbia, insatisfações mesmo com as melhorias registradas nas últimas décadas como no Chile, o que vem acontecendo nos vizinhos latino-americanos, os riscos para o Brasil
Sempre é mais fácil falar do que fazer, pois no mundo atual está se propagando muito rapidamente as manifestações agudas com as insatisfações populares, que podem atingir até o Brasil, que começa a registrar modestos crescimentos econômicos. A disparidade entre os menos privilegiados da população com suas elites gera parte destas tensões, que são difíceis de serem minimizados.
O equatoriano Augusto de La Torre, economista-chefe do Banco Mundial e professor na Universidade de Columbia
Augusto de La Torre concedeu uma entrevista a Thais Carranca, publicada no Valor Econômico, informando que o Brasil precisa ver o que está acontecendo nos países vizinhos da América Latina. Ainda que nos países como o Chile e na Colômbia melhoras econômicas tenham sido registradas nos últimos anos, as insatisfações da população com algumas dificuldades dos menos privilegiados acabaram desencadeando violentas manifestações difíceis de serem resolvidas. Ele afirma que os economistas costumam usar os índices de Gini para expressar as diferenças das distribuições dos desenvolvimentos, mas existem alguns aspectos cruciais onde os menos privilegiados não estão sendo atendidos, gerando agudas manifestações de insatisfações.
Recomendar que o Brasil deva prestar atenção a estes problemas que estão ocorrendo em países vizinhos parece fácil, mas todos reconhecem que é difícil contornar estes problemas, quando o mundo sobre uma desaceleração do crescimento, não fornecendo um vento a favor para estes países latino-americanos.
Os recursos disponíveis são limitadíssimos e o Brasil vem privatizando estatais para gerar o indispensável para os seus projetos prioritários. Mas as agudas dificuldades de assistência social dos que estão desempregados, dos idosos que estão aumentando e a redução de verbas para a pesquisa e a educação não favorecem as condições para maiores investimentos de estrangeiros no país, diante dos riscos elevados que perduram.
A população é mais sensível ao que lhe acontece diretamente, quando comparado às prioridades nacionais. No atual governo, os privilégios de funcionários, dos militares e das forças de segurança estão merecendo maiores atenções. Mas sempre haverá insuficiência diante da grande massa de insatisfeitos. As correções destas dificuldades são difíceis de ser enfrentadas, com as muitas distorções políticas existentes, que exigem o atendimento das necessidades mais imediatas dos eleitores dos que estão atualmente no Congresso Nacional.
Também os privilégios do Judiciário, além de sua invasão em áreas que deveriam ser dos parlamentares ou do Executivo, acabam aumentando as dificuldades. A atual barganha com o Congresso para aprovar algumas medidas consideradas prioritárias para resultados de longo prazo não aparenta ser a mais adequada. Existem outros meios, além de concessão de verbas para atender os interesses dos parlamentares, mas isto exige mais competência na administração política do que se vem registrando recentemente.
Observando o que acontece em Hong Kong, por exemplo, constata-se que os que se tornaram classe média ou experimentaram maior descentralização política não admitem retrocessos. Não parece existir uma saída fácil dos problemas existentes, exigindo um prazo razoável para a volta do crescimento mundial, além de resolver os problemas graves de sustentabilidade do mundo. Por ora, o que parece possível é absorver aperfeiçoamentos que já foram conquistados em outros países, procurando soluções que também respeitem as restrições políticas existentes. O Brasil tem condições para tanto, ainda que modestamente e de forma mais humilde.