Homenagem ao Antonio Carlos Jobim
18 de janeiro de 2020
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais e Notícias | Tags: comparações com os clássicos, controvérsias sobre os usos recentes dos meios eletrônicos, Jobim e sua simplicidade com um piano ou violão, minhas preferências mais tradicionais
Assisti a um show no SESC Pinheiros fazendo uma homenagem ao Antonio Carlos Jobim (foto), onde participava dois remanescentes da sua época, a cantora Joyce Moreno, que continua ativa até hoje, e Raul de Souza, que o acompanhava em algumas apresentações como um dos músicos. Minha preferência pessoal é do Jobim pioneiro, simples com um piano ou um violão, que era uma beleza pura, mesmo quando acompanhado do seu grande parceiro Vinicius de Moraes. Assisti a um programa de televisão, com ele se referindo ao canto de um passarinho no quintal de sua casa. Estranho quando alguns consideram uma evolução natural que hoje sejam usados instrumentos eletrônicos num show desta natureza, que me parece falta de talento que é suprido pelos que consideram uma evolução natural. São como Beethoven e outros clássicos num concerto com acompanhamentos eletrônicos, que não parecem combinar para um conservador.
É evidente que os avanços das tecnologias eletrônicas apresentam muitas vantagens para o mundo. Mas quando vejo um casal num restaurante concentrado nos seus celulares, nem conversando entre os dois, acabo sentindo que estamos perdendo muito da nossa humanidade. Temo pelo futuro quando vejo as crianças brincando somente com jogos eletrônicos, que podem livrar seus pais das responsabilidades de suas educações mais completas.
Joyce Moreno, com sua longa experiência internacional, afirmou no show que a música brasileira é a melhor do mundo. Acredito que é uma marca importante da criatividade dos brasileiros. Quando vejo na televisão programas do excepcional Arte 1 mostrando as grandes contribuições de Noel Rosa, que deixou mais de 300 músicas, sendo mais de 30 gravados por ele mesmo, fico totalmente convencido que a música brasileira tem uma longa e respeitável tradição histórica. Isto nos anos trinta e quarenta, quando a rádio começava a funcionar no Brasil.
Hoje somos reconhecidos no mundo, com Jobim tendo feito programas de destaque mundial com o consagrado Frank Sinatra. Em qualquer parte do mundo, ouvimos músicas brasileiras tocadas no som ambiente de muitas organizações, como nos shopping centers. Não podemos desvalorizar este grande patrimônio nacional, fazendo mau uso dela, na minha modesta opinião de quem não é um especialista no assunto, mas viajou por todo o mundo. Quando passo por estas experiências, é a mesma sensação de quando num no interior de um pequeno país asiático, quando informei a uma criança que era brasileiro, ela logo mencionou: “Pelé”.
Quando eu era o Comissário Brasileiro Para Ciência e Tecnologia na EXPO Tsukuba 85, levei a Nara Leão para cantar no Dia do Brasil, sem saber que ela já estava doente, quase no fim de sua vida. Garota de Ipanema, com sua simplicidade, corresponde a uma enciclopédia para mostrar o que é uma jovem no Rio de Janeiro.
Se mesmo num esforço organizado das autoridades brasileiras continuamos recebendo turistas estrangeiros, uma parte se deve a fama do país no mundo, onde a música brasileira tem um grande papel já desempenhado. Vamos ter o maior carinho na preservação deste patrimônio que nenhum dinheiro do mundo pode comprar. Vamos continuar insistindo nas coisas boas do Brasil.