Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Coronavírus e a Globalização

30 de março de 2020
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia e Política, Saúde | Tags: artigo de Andrew Moody publicado no site da China Daily, um ajuste que já vinha ocorrendo antes, um mundo novo com problemas locais que influenciam de forma significativa o comportamento das sociedades | 6 Comentários »

imageUm artigo de Andrew Moody publicado no site do China Daily coloca algumas questões sobre a globalização que já vinha sofrendo restrições antes da calamidade atual provocada pelo coronavírus em todo o mundo. A matéria faz parte de uma série de artigos naquele jornal oficial chinês que pretende discutir estes problemas que não são isolados.

A globalização e os problemas que ela acentuou

É natural que muitos relacionem os problemas atuais que estão sendo provocados pela coronavírus com a globalização que veio ocorrendo de forma acelerada desde os anos 90. Mas Andrew Moody chama a atenção no seu artigo que nos últimos anos já ocorriam problemas com restrições a este processo de integração mundial, pois, além de suas vantagens para muitos povos como os chineses e mais recentemente os hindus, também provocavam problemas locais que afetavam muitos indivíduos ou grupos que necessitavam de empregos.

Depois da Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos tornaram-se o país líder no mundo, inclusive no desenvolvimento de novas tecnologias. Mas os norte-americanos já começavam a contar com rivalidades e, segundo alguns, facilitou a China a ganhar importância no mundo, admitindo na Organização Mundial do Comércio que fosse uma economia de mercado, quando a participação governamental era decisiva, inclusive com a concessão de subsídios oficiais. A globalização não se restringia ao comércio, mas chegavam aos financiamentos até de projetos de infraestrutura dentro da orientação do estabelecimento das novas rotas das sedas, visando intensificar os relacionamentos geopolíticos.

Milhões de chineses foram treinados em universidades norte-americanas e agora, voltando ao seu país, recebem todas as condições para desenvolverem pesquisas relevantes para o seu avanço tecnológico. Atualmente, médicos e outros profissionais chineses ajudam países europeus no combate ao coronavírus, inclusive com fornecimentos de muitos equipamentos relativamente simples como os estratégicos respiradores e os instrumentos que fornecem os primeiros indícios de contaminação com grande rapidez, além de máscaras para a proteção destes especialistas. Até medicamentos estão sendo fornecidos pela China.

De outro lado, muitos países ocidentais adotaram políticas restritivas ao recebimento de imigrantes de diversas origens, além de conflitos entre si. Os Estados Unidos tinham se desenvolvido no passado com a ajuda destes imigrantes e seus descendentes, mas procuram reservar seus atuais empregos para a sua população. Algo parecido vinha acontecendo também nos países europeus, como reação tipo populistas.

As opiniões dos diversos autores sobre estes assuntos ainda não são consensuais. Todos enfatizam alguns aspectos, sem que haja algo comum. No caso chinês, a natureza do seu sistema político centralizado concede poucos espaços para aqueles que têm opiniões próprias. Algo parecido também acontece na Rússia.

Até o momento, os agudos problemas emergenciais acabam ocupando maior espaço nestas discussões. Na medida em que a China tenha a tradição de pensar mais profundamente nos problemas de longo prazo, ainda que não exista um razoável consenso por ora, tudo indica que, num prazo mais amplo, suas políticas poderão ser mais consistentes.

Deste ponto de vista, o Brasil onde a discussão é muito superficial e emotiva, parece que será bastante difícil haver uma razoável eficiência nos objetivos de prazo mais longo, até porque está sendo obrigado a assumir volumosos recursos emergenciais, aumentando substancialmente a sua dívida pública.


6 Comentários para “Coronavírus e a Globalização”

  1. Hugo Leonardo Barbosa
    1  escreveu às 10:09 em 31 de março de 2020:

    Sr. Paulo:

    Desculpe-me, mas acho que a China é, de fato, a maior culpada pela pandemia do COVID-19.

    Sabe-se que é muito perigoso o contato do ser humano com os animais animais silvestres e, como é cediço, hábitos culinários “exóticos” dos chineses podem ter contribuído pelo surgimento do novo coronavírus (consumo de morcegos, pangolins etc.) .

    É mister que os chineses repensem muitas coisas… Respeito os costumes milenares de um país, mas olha o problemão que o COVID-19 está causando no mundo!

    Aliás, vários tipos de coronavírus são originários da China! Mera coincidência?

  2. Paulo Yokota
    2  escreveu às 13:09 em 1 de abril de 2020:

    Caro Hugo Leonardo Barbosa,

    Sua tese e aceita por muitos, mas também existem algumas outras que estão sendo colocadas. O fato concreto é que atualmente a maioria dos países estão dependendo dos seus fornecimentos de equipamentos e outros meios pelo qual se consegue manter o coronavirus sob razoável controle. As inovações tecnológicas, inclusive de produções em massa, parecem hoje relevantes. O mundo do futuro deve ser bastante diferente do que foi o passado recente.

    Paulo Yokota

    Paulo Yokota

  3. Nayla Gomes da Mota
    3  escreveu às 23:21 em 1 de abril de 2020:

    Yokota, por favor, há muita coisa a ser discutida. Leia a matéria abaixo e tire as suas próprias conclusões. O mundo precisa combater o PRECONCEITO!

    Estrangeiros são hostilizados por chineses que temem nova onda de coronavírus no país:

    https://epoca.globo.com/mundo/estrangeiros-sao-hostilizados-por-chineses-que-temem-nova-onda-de-coronavirus-no-pais-24337860

  4. Paulo Yokota
    4  escreveu às 08:20 em 2 de abril de 2020:

    Cara Nayla Gomes da Mota,

    Obrigado pelo seu comentário. Parece que as coisas são mais complicadas que parecem, e seria preciso identificar o que auxilia no aumento do preconceito. A história nos ajuda a compreender parte disto, mas muito pouco. Parece natural que todos se preocupem com os que lhes são mais próximos, começando pelo familiares, as pequenas comunidades, até chegar as nações. Os chineses que possuem uma história milenar foram também objetos de preconceitos.

    Paulo Yokota

  5. Renata Vargas de Oliveira
    5  escreveu às 13:14 em 2 de abril de 2020:

    Dr. Paulo Yokota:

    É bom lembrar que pilotos, copilotos, chefes de cabine, comissário de bordo da Azul, da Passaredo, da LATAM e da Gol estão sendo discriminados por alguns, pois há quem acredite que eles possam estar contaminados pela COVID-19.

    Coveiros também relatam casos de preconceito, assim como profissionais da área de saúde (médicos, enfermeiros etc.).

    Brasileiros de etnia amarela (descendentes de japoneses, coreanos etc.) relatam, outrossim, episódios de discriminação. É triste, mas há indivíduos que acham que os amarelos são, com certeza, portadores da COVID-19.

  6. Paulo Yokota
    6  escreveu às 20:03 em 2 de abril de 2020:

    Cara Renata Vargas de Oliveira,

    Infelizmente quando aumentam as preocupações de muitos, nem sempre a racionalidade sempre prevalece, acabando para dar espaços como preconceitos.

    Paulo Yokota