Bloomberg e o Sucesso do Japão no Combate ao Covid – 19
28 de maio de 2020
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais e Notícias, Saúde | Tags: 43 razões examinadas, artigo de Lisa Du e Grace Huang, com pouco testes na população, muitas hipóteses possíveis, seu exemplo poderia ser aplicado em outros países?
Muitos questionam por que o Japão que testou somente 0,2% de sua população teve um sucesso no combate ao coronavírus, destacando-se dentro do Grupo do Sete países mais importantes no mundo. 43 razões foram examinadas, mas não foi possível se chegar a uma conclusão razoável para esta performance.
Os japoneses que foram criticados no caso do navio de passageiros Diamond Princess colheram informações importantes do episódio, ficando alertados sobre a sua propagação muito rápida
Ainda que o artigo publicado no site Bloomberg procure colher informações de muitos especialistas, não se chega a uma conclusão clara que possa ser aproveitada por outros países. Eles não seguiram no Japão restritamente as recomendações hoje adotadas pela Organização Mundial de Saúde, mas é inegável o seu sucesso, com mortes abaixo de mil pessoas.
É possível mencionar-se que os especialistas japoneses colheram conhecimentos importantes com o caso do navio Diamond Princess, mesmo que tenham sido criticados pelas orientações adotadas, que mostraram que a propagação do coronavírus era muito rápida, havendo que se tomar medidas drásticas. Os alunos das escolas foram proibidos de frequentar as aulas e os isolamentos foram drásticos.
Há que se considerar que os japoneses já usavam máscaras em respeitos aos outros, desde os simples resfriados até gripes e outras moléstias que afetavam as respirações, como a influenza e a tuberculose, o que se tornou universal, contribuindo para a redução das propagações. Depois de um longo isolamento, os japoneses estão generalizando as liberações nestes dias, com cuidados a serem tomados. Há que se considerar que a população é sensível à orientação governamental, que foi acusado até ser muito lento nas suas ações.
A Bloomberg ouviu muitos especialistas, entre outros o professor Mikihito Tanaka, da famosa Universidade de Waseda, especializado em comunicação científica. Ele expressa que mesmo os acadêmicos não sabem exatamente o motivo do sucesso japonês até agora. Entre os 43 possíveis motivos, consta também que a obesidade é relativamente baixa entre os japoneses. O fechamento rápido das escolas parece ser contribuído. Há os que atribuem que falando japonês emitem-se menos gotículas potencialmente carregadas de vírus. Os japoneses foram rápidos nos rastreamentos dos afetados. O Japão usou metade dos 50 mil enfermeiros da saúde pública neste rastreamento.
Segundo Yoko Tsukamoto, da Universidade de Ciências de Saúde de Hokkaido, o Japão não conta com um Centro de Controle de Doenças como nos Estados Unidos, mas o centro de saúde pública do Japão funciona como algo parecido. No Brasil, o Sistema Único de Saúde deveria funcionar como tal, mas o governo não tem dado a atenção que a organização merece.
O Japão vem adotando, segundo Kazuto Suzuki, o chamado Três “Cs” – espaços fechados, espaços lotados e configurações de contato próximo, uma abordagem pragmática e muito eficaz. Shigeru Omi, que já foi da OMS, cita que o japonês tem a consciência da saúde, o que considera o fator mais importante.
Há ainda a hipótese não confirmada, que exige mais estudos, que a cepa do vírus que se espalhou no Japão seja menos perigosa que a que chegou à Europa. Norio Sugaya, da Universidade de Medicina da Keio, aventa a hipótese de uma nova rodada no Japão, que segundo Yoshihiro Niki, professor de doenças infecciosas da Faculdade de Medicina da Universidade Showa, poderá ser pior. Tudo isto parece indicar que há muito que se saber ainda sobre o coronavírus, no Japão como no resto do mundo.