Diferentes Solidariedades
28 de maio de 2020
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais e Notícias | Tags: as importâncias das comunidades, diferenças nos sacrifícios, empenhos de pessoas modestas que moram também nas favelas, grandes empresas e pessoas de posse, multiplicam-se as ações de solidariedades com a atual crise
Com a atual crise por que passa o Brasil e o mundo, multiplicam-se as notícias sobre ações voluntárias de solidariedade para assistir aos mais necessitados. No entanto, mesmo que todos sejam bem-vindos, há que se diferenciar os que são feitas pelas grandes empresas e pessoas privilegiadas daqueles que vivem nas comunidades em que os necessitados são em maior número, onde os voluntários são igualmente carentes. Muitos deles conhecem pessoalmente os beneficiados, sabendo de suas necessidades e eles dividem o pouco que conseguem mobilizar para sua subsistência e proteção contra o coronavírus.
Voluntárias que moram nas favelas ajudando os necessitados em Paraisópolis e Heliópolis, em São Paulo
Sempre existiram pessoas de boa vontade que conhecem os seus vizinhos, ajudando quando ocorrem os partos, fornecem um pouco de sal ou açúcar. Quando eles precisam, sabem também que podem contar com as ajudas dos que moram, precariamente, em barracos que mal comportam as famílias. Quando o governo ainda se surpreende com o número dos que vivem dos chamados “bicos”, muitos analfabetos que nem possuem documentos. Os programas oficiais foram surpreendidos, com dirigentes como da Caixa Econômica que, não conhecendo o Brasil, assistem às imensas filas dos que passam a noite ao relento para tentar conseguir atender a todas as exigências burocráticas para poder receber o mínimo para a sua subsistência e de suas famílias. Muitos países adotaram sistemas de proteção dos necessitados menos exigentes em detalhes, pois hoje são poucos os que não foram atingidos pela crise, inclusive os que possuíam trabalhos regulares e patrimônios mínimos para o sustento de suas famílias.
O Brasil é muito mais complexo do que está nos livros da Universidade de Chicago, que, mesmo lido muitas vezes no original, pouco falam dos confins de países hoje chamados em desenvolvimento. Os brasileiros que moram na Amazônia, nas fronteiras das ocupações, ou nas palafitas do Nordeste dificilmente receberam recenseadores do IBGE ao longo de suas vidas, como constatei pessoalmente nos meus trabalhos, alguns voluntários como dos desfavelamentos que os estudantes tentavam reduzir, mas que só aumentaram ao longo do tempo.
No passado, os párocos como da Igreja Católica tentavam ajudar estas famílias mais desfavorecidas. Hoje, existem outros de diferentes igrejas que exercem papéis similares, mas os voluntários são em maior número. Mesmo em alguns países desenvolvidos continuam existindo, pois muitos necessitam de assistências, como idosos que moram isolados de suas famílias. Somente alguns poucos países, como os escandinavos, conseguiram diminuir os necessitados, com a redução das diferenças na distribuição de renda, e os voluntários precisam continuar a desempenhar seus importantes papéis no mundo.
O contraste é que existem recursos voluntários de doação de alguns países desenvolvidos, como os voltados à preservação do meio ambiente que interessa ao mundo, mas alguns países, como o Brasil, se dão ao luxo de não aceitar as condições mínimas exigidas que seja a favor dos brasileiros, continuando a insistir em políticas que não ajudam no desenvolvimento sustentável, que ajuda a minorar a situação das populações menos privilegiadas.