Especulações Sobre Após a Crise Atual
22 de maio de 2020
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia e Política, Editoriais e Notícias | Tags: artigo no The Washington Post, atividades a distância, mudanças possíveis de ocorrer, redução das grandes metrópoles, situação no Brasil
Na atual situação difícil em todo o mundo, são poucas as noticias mais alvissareiras, restando no máximo algumas especulações sobre o que se modificará para o futuro, com alguns aspectos positivos e outros preocupantes. Ishaan Tharoor publicou um artigo no The Washington Post que, traduzido para o português, foi reproduzido no Estadão, depois de superada a fase mais aguda da atual crise. Ele procurou colher observações de muitos especialistas de diversas áreas, urbanistas, economistas e historiadores.
Wall Street onde se situa a Bolsa de Nova York
Já havia uma tendência das corretoras mais importantes do mundo situarem-se na proximidade da Bolsa de Nova York e agora, com todas as facilidades das comunicações eletrônicas, os agentes destas empresas passaram a trabalhar a distância, de suas residências, evitando os deslocamentos que apresentam maior risco de contaminações, como do coronavírus. No entanto, como aspectos preocupantes, as relações diretas entre as pessoas tendem a diminuir, quando os seres humanos são sociais, nem tudo sendo substituível pelos melhores meios eletrônicos.
Estas mudanças vêm ocorrendo há milênios e não são novidades, mas atualmente a velocidade delas se acelerou e sua natureza apresenta diferenças sensíveis. 95% dos contaminados com o coronavírus são urbanos que viviam de serviços, havendo uma tendência para suas mudanças para as periferias ou pequenas cidades do interior com o tempo, onde os estresses tendem a ser menores. Algo parecido ocorre também em Paris, Xangai e outras metrópoles pelo mundo.
A Unesco advertiu que um em cada oito museus tende a desaparecer, também como um dos fatores que atraem populações, inclusive turistas que precisam ser atendidos, para frequentarem estes locais com serviços. Também as grandes lojas de departamento tendem a ser substituídas por outras menores localizadas nas periferias das grandes metrópoles ou nas cidades do interior.
Uma pesquisa efetuada nos Estados Unidos informa que 70% dos pequenos restaurantes localizados nas metrópoles tendem a desaparecer, continuando esta crise por muitos meses. Isto tende a ocorrer também com pequenos estabelecimentos prestadores de serviços de diversas naturezas. Não se pode ignorar que muitas vendas no varejo como até de serviços começam a utilizar os meios de comunicação social, além dos sistemas logísticos para atender aos consumidores nos seus lares, mesmo que ocorram problemas localizados.
Os grandes edifícios onde estavam escritórios como em Nova York ou mesmo Mumbai, na Índia, tendem a ficar vazios, como verdadeiros elefantes brancos. Muitos funcionários ficarão desempregados, não se sabendo ao certo o que acontecerá com eles, muitos passando para a economia informal. Alguns serviços, como dos médicos e hospitalares, podem aumentar os empregos, mas discute-se como se financiarão estas atividades.
No passado, algumas crises semelhantes provocaram melhoras na infraestrutura. como em Nova York, Paris e Londres, com a construção de redes de água e esgotos. Algumas cidades deverão aumentar suas áreas de lazer, com espaços reservados para pedestres e bicicletas, evitando o trânsito de automóveis. Também melhorarão as tecnologias de vigilância, procurando reduzir as violências caso o desemprego aumente muito rapidamente.
Por incrível que pareça, as economias já desenvolvidas enfrentarão grandes dificuldades e as em desenvolvimento dependerão de sua capacidade de promover a melhoria e ampliação de sua classe média, sem depender exageradamente da exportação que deverá se reduzir com a diminuição da globalização. Não poderão contar com as vantagens que beneficiaram países como a China e a Índia, que, com suas imensas populações, ampliaram seus mercados internos. As pesquisas que melhoraram suas tecnologias continuarão sendo estratégicas, inclusive nas atividades de serviços. Ainda assim dependerão de planos econômicos consistentes, não podendo contar com grandes ajudas externas.
Países que não tenham planos bem elaborados politicamente, contando com um apoio mínimo consensual da população e dos poderes constituídos, enfrentarão riscos elevados. Se dependerem fortemente do exterior, como o Brasil, só poderão contar com melhoras lentas, que demandam muito tempo. Na medida em que não tenham bons sistemas educacionais e de pesquisas, acabam apresentando elevados riscos, em que pesem as disponibilidades de recursos naturais favoráveis.