Relevância da OMS e da Cooperação Internacional
28 de maio de 2020
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais e Notícias, Política, Saúde | Tags: a necessidade de cooperação internacional, importante entrevista da Soumya Swanminath da OMS para o Estadão, os problemas que estão dificultando o combate eficiente ao coronavírus
Ainda que alguns poucos não reconheçam adequadamente, a Organização Mundial de Saúde conta com um diretor geral africano de grande importância internacional, Tedros Adhanom Ghebreyesus. Um diretor do Programa de Emergência sueco, Mike Ryan, e a indiana Sounya Swanminath, cientista chefe e diretora executiva, entre muitos outros especialistas de elevada qualificação.
Soumya Swaminathan, a indiana cientista-chefe e diretora executiva da OMS, em foto constante do artigo publicado no site do Estadão, que vale a pena ser lido na sua íntegra
Na entrevista concedida por Soumya Swaminathan à Priscila Mengue, do Estadão, por email, ela defendeu o acesso universal à saúde, a garantia dos direitos humanos e o desenvolvimento sustentável diante do que está acontecendo atualmente no mundo, mostrando sua visão ampla. Ela entende que, mesmo após o controle do coronavírus, a comunidade mundial precisa continuar atenta às possibilidades de ressurgimento de novas pragas semelhantes. O que poderia se acrescentar é que está se verificando que o coronavírus não se restringe a um determinado tipo, mas de alguns, com mudanças no tempo nas suas características, como se verifica atualmente na China e outros países. Segundo ela, a OMS adota a posição científica que estas pandemias tendam a se tornarem frequentes no futuro, havendo um novo normal.
Poderia se entender que ela aponta, entre outras muitas razões, que haveria uma tendência de mudanças climáticas, com o aumento dos desmatamentos, elevação da densidade populacional e movimentos migratórios que estariam impulsionando nova onda de eventos de emergência. A urbanização do mundo, o aumento da população global e as mudanças ecológicas, como as mudanças climáticas, contribuiriam para o aumento das transmissões de doenças. Estes fenômenos e a urbanização provavelmente aumentarão a frequência e a intensidade destas novas pragas. Além disso, animais e humanos estarão vivendo mais próximos uns dos outros e vários vírus, incluindo coronavírus, estarão circulando em animais que ainda não infectaram humanos. À medida que a vigilância melhora em todo o mundo, seria provável que mais novos vírus sejam identificados.
Ela confirma que a América Latina, inclusive o Brasil, está se tornando o atual epicentro do coronavírus, independentemente das eficácias dos seus sistemas de saúde. O que seria crucial seria a coerência da política adotada, com coesão partidária, do governo e de toda a sociedade, especialmente nos grandes estados federados, com a população ouvindo uma mensagem consistente de todos os níveis.
Ela observou que a Organização Pan-americana de Saúde vem constatando na Amazônia, não somente na brasileira, a incidência do coronavírus sendo o dobro de outras regiões destes países. Também as comunidades mais frágeis estão sendo mais afetadas. Assegurando os direitos humanos, o acesso à saúde seria universal, realizando o objetivo de desenvolvimento sustentável, preparando o mundo para enfrentar futuras pandemias.
Na recente Assembleia da OMS, enfatizou-se a necessidade de cooperação internacional nos esforços em andamento, divulgando-se o chamado “Access to Covid – 19 Tools Accelerator” para novos diagnósticos da pandemia. Mais de 120 vacinas estariam em desenvolvimento, com 8 já em avaliação clínica, além de novos medicamentos e tecnologias de tratamento, para compartilhar os avanços de forma equitativa para todos.
Já existem formas de proteção dos pacientes com anticorpos, mas não se sabe por quanto tempo, e os cientistas estão trabalhando com grande empenho para se chegar a um “passaporte de imunidade” ou “certificado sem risco”, quando os pacientes se recuperarem da doença.
Espera-se que este esforço internacional sugerido pela OMS se torne uma realidade operacional, pois existem outros interesses, como dos laboratórios privados, bem como objetivos políticos e eleitorais, que possam dificultar os intercâmbios internacionais.