Riscos de Subavaliação dos Adversários
15 de maio de 2020
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais e Notícias, Política | Tags: aspirações simples de muitos da população, ensinamentos que vêm desde os antigos chineses, mínimo para Jair Bolsonaro continuar no poder, o atual caso brasileiro
Muitos brasileiros entendem que o presidente Jair Bolsonaro seja um político modesto para o cargo que ocupa. Mas ele consegue se manter no poder, contando com o suporte de muitos correligionários e obtém o apoio do bloco político chamado Centrão para contar com o número de parlamentares que impedem qualquer processo mais drástico contra ele. Mesmo que existam muitas suspeitas que seus familiares e amigos estejam envolvidos em questões duvidosas, ainda não se conseguiu envolvê-lo nas iniciativas diretas na sua intervenção na Polícia Federal, notadamente na sua Superintendência no Rio de Janeiro, base política de sua família. Ainda que conte com parte importante da imprensa que não lhe é simpática, ele usa abertamente os recursos governamentais para contar com o apoio de muitos outros organismos dos meios de comunicação social.
Presidente Jair Bolsonaro fala à imprensa no Palácio da Alvorada
Ainda que seu governo não consiga equacionar de forma adequada o grave problema que enfrenta com o coronavírus, bem como suas consequências econômicas e sociais, seus adversários não conseguem mecanismos eficientes para afastá-lo do poder. Os antigos chineses já afirmavam que um grave erro político seria subestimar os adversários em qualquer questão. Já houve no Brasil um político brilhante no passado que afirmava que ele gostaria que falassem dele, mesmo mal, consciente que se mantendo no noticiário teria alguma chance eleitoral no futuro. Jair Bolsonaro, menos brilhante, ficou na imprensa com a discussão de seu laudo de possível contaminação do coronavírus por meses.
No estágio atual em que se encontram as investigações relacionadas com o uso indevido do poder, a AGU – Advocacia Geral da União encontra-se numa situação estratégica e o presidente promete ao seu atual ocupante a indicação para o STF – Supremo Tribunal Federal, que é uma natural aspiração de muitos no final de suas carreiras. Não se sabe exatamente qual o efeito deste tipo de promessa, mas é um gesto importante. O Judiciário terá um papel fundamental neste episódio todo, mas ele só se manifesta quando provocado, havendo posições variadas de pressão de muitas origens, não havendo nenhuma segurança sobre a sua orientação final, ainda que membros do Supremo venham sendo criticados veementes por muitos partidários ao governo atual.
A incerteza parece continuar perdurando por muito tempo no Brasil, em nada contribuindo para o país, mas não se pode esperar que estas questões complexas fossem resolvidas de forma rápida, dentro de um atual quadro mundial adverso, infelizmente.
Muitos da população brasileira estão sendo afetados pelo coronavírus, inclusive com elevado número de mortos, chegando entre os países mais sujeitos a esta pantomia, pela deficiência de sua rede hospitalar, pública e privada. Ainda não se chegou ao seu pico, mais já atingiu as principais regiões do país, inclusive as mais distantes das grandes metrópoles urbanas. Ainda não existe uma perspectiva de se contar com a assistência médica razoável para suas vítimas. Os seus efeitos econômicos e sociais são dos mais graves, sem que haja uma perspectiva para a sua solução num prazo razoável.
Com o quadro político complicado, todas as soluções se tornam mais difíceis. A falta de uma perspectiva mais clara deixa a população e as autoridades locais sem rumo e mesmo medidas restritivas setoriais não recebem o apoio da população, pois pacientes assintomático não permitem a clara identificação dos riscos para muitos por um período mais longo.
Seria desejável que soluções mais rápidas ocorressem, mas realisticamente não se pode esperar por elas, infelizmente. A atual gravidade da situação deveria induzir a um mínimo de entendimento nacional, mesmo entre as facções políticas antagônicas, como tem ocorrido em alguns países de longas tradições de conflitos internos. Espera-se um mínimo de racionalidade, antes que o quadro se agrave ainda mais, que lamentavelmente está entre as muitas possibilidades, havendo que se fazer todo o possível para evitá-lo..