Seria Espirituoso se Não Fosse Trágico

9 de maio de 2020
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais e Notícias, Política, Saúde | Tags: alegou que se tratava de um fake, alertado pelos seus auxiliares sobre as repecurções negativas cancelou o evento, entusiasmo no contato com seus colegionários ele aumentou para três mil participantes, o presidente Jair Bolsonaro informou que organizaria um churrasco na sua residência para 30 pessoas neste sábado | 10 Comentários »

O presidente Jair Bolsonaro fala intempestivamente, sem pensar de forma adequada sobre ideias que lhe vêm à cabeça. Depois, alertado pelos seus auxiliares sobre possíveis repecurções negativas de seus pronunciamentos junto ao público, muda frequentemente o anunciado sem nenhuma cerimônia. Se isto ocorresse em períodos normais, seria um evento que não mereceria nenhum destaque. Mas quando muitos brasileiros estão morrendo pela ação tardia do governo no combate à pantomia do coronavírus, agravando a já difícil situação da economia brasileira, que atinge mais agudamente a população menos privilegiada, isto se torna trágico. Principalmente quando existe uma grande discussão de que muitas notícias divulgadas com distorção pelo que se passou a chamar de fake news, cujos autores nem sempre são facilmente identificáveis, mas suspeita-se que em grande parte são de partidários e de seus familiares. O presidente admite que esta notícia seja um fake de sua responsabilidade.

O presidente fala com seus colegionários usualmente e informou que realizaria um churrasco neste sábado. Foto constante do artigo no site da revista Isto É, que vale a pena ser lido na íntegra

No desejo de manter-se a qualquer custo no noticiário, o presidente acaba fazendo o que não seja digno a um Chefe de Estado e do Governo, sem que haja um planejamento razoável para toda a Nação, não restrita aos seus correlegionários. Como aconteceu de forma constrangedora no Supremo Tribunal Federal. Ainda que a atual pantomia do coronavírus tenha apanhado de surpresa muitos dirigentes no mundo, algo parecido vem ocorrendo com frequência, e o Brasil dispõe do SUS – Sistema Único de Saúde, que poderia ser um instrumento eficiente para a política na área médica. No entanto, como enfatizado pela credenciada The Lancet inglesa, o presidente vem se destacando como um dos principais obstáculos para o eficiente combate a esta pantomia no mundo, mesmo contra a posição de estudiosos brasileiros competentes.

Nesta situação difícil, onde os afetados e mortos pela praga no Brasil podem chegar a ser dos mais graves no mundo, espera-se uma seriedade maior do governo, evitando que o presidente abuse diariamente com suas idas e vindas, que deixam a população desesperada de como se comportar e as autoridades regionais limitados na sua possibilidade de ajudar a minorar a situação, mesmo que os problemas apresentem diferenças locais.

A confusão não se restringe ao setor de saúde. Quando as autoridades do setor econômico procuram proporcionar o mínimo de assistência aos menos privilegiados, mesmo sabendo que eles seriam dezenas de milhões, os planos confusos não se ajustavam à realidade brasileira, que conta com muitos analfabetos que não possuem sequer documentações adequadas. As imensas filas junto às agências da Caixa Econômica mostram sofrimentos adicionais, envolvendo agora as lotéricas, que não estão aparelhadas para estas complexas operações. A toda hora há mudanças nos que podem ser beneficiados e os que não atendem às difíceis condições estabelecidas, que são complexas até para os que estão acostumados aos usos dos meios eletrônicos.

O governo procura suprir setores dos ministérios com militares reformados ou outros ainda na ativa, mas eles não foram treinados para atividades políticas e administrativas de diferentes atividades, muitas vezes marginalizando funcionários que atuam nestas atividades por anos, fazendo o que lhes cabe é possível fazer. Com o presidente e alguns dos seus ministros mudando a toda a hora de posição, nem o líder do governo na estratégica Câmara Federal consegue saber claramente qual a orientação a ser dada aos seus comandados, como ele está se queixando pela imprensa.

Com estas e outras confusões, a manutenção do prestígio do governo acaba se esgotando rapidamente, ficando a incerteza do que nos aguardo para o futuro deste país, que poderia ser dos mais promissores no mundo.