O Pouco Que se Pode Fazer
8 de julho de 2020
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia e Política | Tags: ativação da economia, exemplos de contenção dos efeitos do coronavírus, o pouco que se pode fazer, problemas climáticos
Poucas vezes o mundo enfrentou simultaneamente tantos problemas e, por mais que se procure o que é possível fazer para superar as dificuldades do Brasil, constata-se realisticamente que são limitadas as opções disponíveis, infelizmente. No que se refere à saúde, parece indispensável estudar porque alguns países estão conseguindo resultados mais favoráveis. Nos problemas climáticos, parece indispensável que o Brasil deva ser mais ousado, como evitando os incêndios e desmatamentos para os quais dispõe até de recursos vindos do exterior. Parece que nosso país deva procurar formas que auxiliem a colocar produtos brasileiros no exterior, mesmo com a concorrência acirrada, procurando formas de superar o atual desemprego, que tende a agravar outros problemas, como os das disparidades de renda na sua população. Não existem milagres, mas ainda restam alguns espaços para esforços concentrados, sendo indispensável estabelecer as suas prioridades.
Há que se fazer esforços extraordinários para superar os problemas brasileiros, dentro de um plano coerente, estabelecendo prioridades
Se até o presidente Jair Bolsonaro foi contaminado pelo coronavírus, há que se ter a consciência clara que o problema seja de grande gravidade no Brasil, competindo com os Estados Unidos nos dados estatísticos mais dramáticos. Mas, de outro lado, verifica-se que alguns países estão conseguindo resultados razoáveis, mesmo sem medidas mais radicais. Não parece conveniente que os brasileiros se conformem com o que estão sofrendo. Aparenta ser conveniente que o Brasil absorva parte destes conhecimentos para serem adaptados às condições locais com a urgência possível. Não se pode esperar que o pico das contaminações e das mortes sejam automaticamente superadas, pois estão se constatando que existem variados tipos de vírus, havendo também novos surtos onde eles já foram parcialmente superados. É sempre mais rápido usar parte do que resultaram razoáveis em países semelhantes ao Brasil, emergentes, que contam com recursos limitados que possam ser alocados para estas finalidades cruciais.
Ainda que os problemas atuais tenham surpreendido muitos dirigentes de países no mundo, notadamente na velocidade da propagação da pandemia, muitos foram capazes de elaborar um plano estratégico para o seu combate. Sem algo semelhante, fica mais difícil estabelecer as prioridades das medidas a serem tomadas, que não podem simplesmente depender da sensibilidade pessoal do seu dirigente máximo e auxiliares que procuram executar o que lhes agrada.
Qualquer país decente da dimensão do Brasil necessita de uma equipe de especialistas em diversos setores, que se dispõem alguns no país, mas nem todos são utilizados por apresentarem diferenças ideológicas ou de conveniências políticas partidárias com os dirigentes máximos. Sem admitir diferenças de opiniões, corre-se elevado risco de escolhas inadequadas. Ainda que um razoável consenso demande mais tempo pelas negociações indispensáveis, mesmo nos países considerados de sistemas autoritários.
Por um longo período, o aumento da globalização mundial veio colaborando no desenvolvimento de muitos países, notadamente os emergentes como o Brasil. Com a atual crise, alguns sentimentos nacionalistas foram reforçados, mas mesmo países de grandes dimensões como a China necessitam da importação de matérias-primas e alimentos e são pragmáticos nestas operações. O Brasil conta com condições competitivas para muitos destes produtos, principalmente se melhorar a sua infraestrutura para transporte das zonas produtoras para os portos. E existem países que contam com disposição para financiá-los, mesmo sem contar com privilégios para efetivá-los. É conveniente que os brasileiros não dependam somente de poucos parceiros, pois situações monopolísticas criam situações embaraçosas como está se verificando com alguns produtos industriais chineses.
O Brasil conta com recursos humanos e condições naturais, como minérios, solos e clima para ter uma presença mais importante no cenário internacional. O que aparenta ser obstáculos é a convicção de alguns dirigentes, que necessita ser alterada de forma pragmática, diante das acentuadas dificuldades atuais do Brasil, dos grupos eventualmente no poder.
Tudo indica que os incêndios e desmatamentos como os da Amazônia, além de ilegais, estão agravando os problemas climáticos no país como no mundo. Existem abundantes recursos como os créditos de carbono que poderiam ser utilizados para minorar estes problemas, mas não se conta no governo com condições operacionais para tanto. Agora empresários e entidades entendem que o Brasil pode melhorar a sua produtividade sem necessitar de crescimentos de áreas, que não melhoram as tecnologias empregadas. Um mínimo de racionalidade neste setor poderia melhorar a imagem do país no exterior, facilitando intercâmbios internacionais em variados setores.
Todas estas medidas são demoradas para gerar efeitos importantes, mas precisam ser iniciadas, até por falta de alternativas no Brasil.