Uma Visão Que Merece Ser Considerada
12 de julho de 2020
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais e Notícias | Tags: artigo do ex-comandante do Exército Brasileiro, pronunciamento apresentado no Estadão, visão que vale a pena ser discutido democraticamente
O general da reserva Eduardo Villas Bôas foi o comandante do Exército Brasileiro até janeiro de 2019. Ele apresentou um pronunciamento no jornal o Estadão com fundamentado ponto de vista, que merece ser discutido. Segundo ele, falta atualmente ao Brasil um projeto nacional capaz de provocar a sinergia entre todos que integram esta sociedade. O pronunciamento, relativamente curto, merece uma cuidadosa análise no seu todo, pois neste artigo só se faz um resumo do seu conteúdo, do nosso ponto de vista.
O general da reserva Eduardo Villas Bôas que foi o comandante do Exército Brasileiro até janeiro de 2019. Foto constante junto ao seu pronunciamento publicado no Estadão, que vale a pena ser lido na sua íntegra
Segundo ele, nós somos um país com mais de 200 milhões de habitantes, que tem a própria riqueza gerada desde 1500, com a miscigenação de três raças. Parece detalhe, mas poderia ser observado que quando da descoberta do Brasil só se contava com os indígenas que aqui estavam e os portugueses que chegaram, recebendo posteriormente a contribuição dos africanos e de imigrantes vindo de diversas partes do mundo. Segundo o autor, a criatividade, a alegria de viver, a tolerância, a adaptabilidade, a resiliência, a religiosidade, o sentido de família, o patriotismo e outros atributos são marcas desta população que precisam ser aproveitados.
O que poderia ser acrescentado no diagnóstico do Brasil é o que teria criado todas estas qualificações citadas. Tudo indica que a miscigenação de diversos povos propicia parte delas, num país gigantesco do ponto de vista geográfico, que vai dos trópicos até as regiões temporadas, privilegiado por variados recursos naturais, sem grandes obstáculos insuperáveis, mas que precisam ser preservados de forma sustentável. A abertura para o intercâmbio com o exterior teria permitido também influências vindas de diversas regiões do mundo. O que poderia ser considerado limitante foi o adequado preparo de elites brasileiras, até no exterior, como foi obtido por alguns outros países que se desenvolveram.
Depois de 50 anos de senso de grandeza desta população, com uma ideologia de desenvolvimento e progresso, mencionado pelo autor, seria parte consequência da participação do Brasil na Segunda Guerra Mundial, com a disseminação política da democracia, notadamente no combate ao fascismo e o nazismo. Nos anos oitenta não se atentou que os brasileiros estavam sendo divididos por interesses alheios à sua natureza, travestidos de ideologias, a ponto dos seres humanos não fossem valorizados como tal, privilegiando grupos e seus interesses, sem a adequada compreensão dos objetivos nacionais. Os brasileiros passaram a andar em círculos, sem identificar os rumos para o seu futuro.
Ficou o país carente de um projeto nacional, prevalecendo o individualismo, o imediatismo e os interesses corporativos ou grupais. Na maioria dos países que conseguiram se desenvolver, alguns poucos partidos políticos eram os relevantes, enquanto no Brasil eles tinham “donos”, somente para interesses eleitorais. Segundo o autor, um projeto de nação seria uma oportunidade para conseguir a sinergia para o interesse coletivo, a caminho da paz e da prosperidade. Ou o processo seria o contrário, havendo necessidade de uma legislação partidária mais racional visando o interesse nacional. Seria a hora de um grande mutirão, com todos arregaçando as mangas, considerando as capacidades e as disponibilidades, segundo o autor do pronunciamento, mas tudo indica que haveria necessidade de alguma instituição organizada se movimentando neste sentido.
De qualquer forma, o debate do assunto poderia gerar ideias operacionais para a superação das atuais limitações, o que seria do campo político, mesmo com a participação de militares, ainda que não seja da sua especialidade.