A Quase Centenária Lancet Comenta COVID 19 no Brasil
7 de agosto de 2020
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais e Notícias, Saúde | Tags: as limitações existentes, comentário da Lancet sobre Covid 19 no Brasil, dados somente superados pelos Estados Unidos, governantes aproveitam a crise para se promover, no Brasil é o contrário, particular política do presidente Jair Bolsonaro, substituição dos ministros da Saúde
A quase centenária revista inglesa The Lancet figura como das mais confiáveis em assuntos de saúde no mundo. No número desta semana, comenta o que está acontecendo no Brasil com o Covid 19 e a particular política que vem sendo adotada pelo governo Jair Bolsonaro, cujos pobres resultados só são superados pelos Estados Unidos. Citam uma bibliografia que compreende cerca de duas dezenas de fontes de dados.
Ilustração constante do comentário no The Lancet, que vale a pena ser lido na sua íntegra
Os cientistas acreditavam que os líderes políticos aproveitariam a atual crise do coronavírus para se promover junto aos eleitores, visando aumentar o seu poder, objetivando suas reeleições. Mas não é o que vem acontecendo no Brasil, onde a política está moldada pela particular forma de atuação do presidente Jair Bolsonaro. É verdade que ele opera num forte contexto institucional democrático, tendo como exemplo o Supremo Tribunal Federal que mantém as políticas estaduais de distanciamento físico com as quais o governo federal de Bolsonaro não concorda.
Os investimentos nos sistemas de saúde em nível estadual, com esforços para expandir as capacidades de leitos de emergência em unidades de terapia intensiva, também são sustentadas pelo SUS – Sistema Único de Saúde, no contexto de fraca coordenação e gestão federal, inclusive com os hospitais privados. Desde que foi empossado em 2018, com liderança autoritária enfatizou os valores familiares tradicionais, de moral judaico-cristã, segundo o comentário da revista. Questiona a eficácia e legitimidade das instituições democráticas, como o Congresso Nacional, o Judiciário e os partidos políticos.
Ele considera o desemprego mais importante que a saúde, a alimentação dos desfavorecidos, empenhando pela sua reeleição em 2022. Mas isto não o fortaleceu e sua aprovação eleitoral é baixa. Seus familiares sofrem com as investigações de divulgação de notícias falsas e seus seguidores contam somente com cerca de um terço dos votos.
O presidente Jair Bolsonaro já demitiu dois ministros da Saúde e conta no momento com um interino que é um general do Exército, com muitos militares ocupando posições estratégicas neste ministério. Os dados de infectados com o coronavírus bem como as mortes figuram logo abaixo dos Estados Unidos, sendo devastadores. Para continuar no poder, ele é obrigado a negociar com muitos grupos de políticos.
Segundo o comentário da revista, as instituições democráticas do Brasil precisam trabalhar em conjunto com a comunidade científica para ajudar a proteger a saúde da população, o que o governo não vem conseguindo com a participação dos governos estaduais e municipais. O nível dos testes feitos na população ainda é baixo comparado com outros países.
O que é possível extrair-se deste comentário é que o Brasil, mesmo contando com o SUS, não se consegue um sistema de atuação eficiente para atendimento da população no setor de saúde. Além da falta de disposição do presidente Jair Bolsonaro, existe legislações que deixam parte da política sanitária às administrações estaduais e municipais.