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Foreign Affairs Publica Longo Artigo Sobre Jair Bolsonaro

17 de agosto de 2020
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia e Política, Editoriais e Notícias | Tags: conservador de extrema direita, ele não é uma cópia de Donald Trump, limitações e mudanças frequentes, longo artigo de Brian Winter sobre Jair Bolsonaro no Foreign Affairs, pragmático para as mudanças de política, segue a tradição brasileira de elevada presença militar na administração federal

Num longo artigo de Brian Winter publicado no Foreign Affairs descreve-se a atuação de Jair Bolsonaro desde quando passou para a reserva depois de atritos dentro do Exército, para se tornar um direitista que pretende ser conservador. Mas muda a sua atuação de forma pragmática para continuar no cenário político, visando sua reeleição no próximo pleito presidencial. Difere do Donald Trump, que conta com os Estados Unidos numa economia em imagerecuperação, pois o Brasil enfrenta variadas dificuldades que ainda se aprofundam na atual crise. Mas consegue manter seu prestígio popular, oferecendo benefícios emergenciais a um grande número da população brasileira, que não são sustentáveis no prazo mais longo.

Ilustração constante do longo artigo publicado no site do Foreign Affairs, que vale a pena ser lido na sua íntegra

Resumidamente livre, o artigo começa por enumerar os aspectos que chamam a atenção dos estrangeiros, como as belezas do Rio de Janeiro, as obras de Oscar Niemeyer, a bossa nova e a Garota de Ipanema. Um país violento, mas difícil de resistir aos seus atrativos. Enfatiza os problemas do que chama de interiorzão, com os incêndios e desmatamento na Amazônia e o uso intensivo dos cerrados para a produção agropecuária, com muitos contrastes dentro deles.

Ainda que, com os agudos problemas do corunavírus e suas exigências sanitárias, econômicas, políticas e sociais, acumulam-se também problemas de corrupção de que são acusados os aliados e familiares do presidente. Mesmo assim, consegue nas pesquisas de opinião pública um apoio popular em torno de 40% dos brasileiros, manifestando-se de forma veemente contra os que pensam diferente dele.

Segundo o autor do artigo, ainda que o presidente seja comparado a Donald Trump, ele é uma invenção brasileira, seguindo a longa tradição da presença de militares no comando do país. Sua atual imagem no exterior é precária, dificultando o apoio que poderia vir de outros países com a política por ele adotada. Mas, internamente, ele não é uma aberração. Cercou-se de militares da reserva e até da ativa para administrar o país, o que é tradicional no Brasil.

Na área civil, acompanha orientações como do acadêmico direitista Olavo de Carvalho e seus admiradores, entre os quais estão os filhos de Jair Bolsonaro. Ainda que não haja uma unanimidade sobre suas qualificações acadêmicas, atuando nos Estados Unidos. O Brasil registrou alguns progressos no governo com a administração atual, como a redução da criminalidade, algumas reformas pró-mercado e redução da burocracia para os pequenos empresários. Mas, segundo o autor, o país parece terrivelmente contido, enfrentando o risco de uma segunda década perdida, com muitas disfunções políticas.

Era um país que chegou a reclamar um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU, mas a sua imagem no exterior só vem piorando, até por uma má série de declarações infelizes. Ele se manifestou contra as mulheres, os que mudaram de sexo, os corruptos e os que ele considera esquerdistas, como membros dos governos anteriores, mais com ameaças verbais do que ações concretas.

Depois de um boom com os preços das commodities, agora o Brasil aprofunda-se numa recessão, com a volta do aumento de homicídios. O que seriam problemas em outros países, de repente virou motivo para a melhoria do status do presidente. Os militares voltaram às posições-chaves, começando com o seu vice-presidente, situação que não foi vivida pelos jovens brasileiros. Eles ocupam o comando de 10 dos 23 ministérios. São seus pilares junto com conservadores sociais. Eles passaram a reescrever a história do Brasil nos livros escolares, notadamente do período autoritário, segundo o autor do artigo.

imageOs costumes populares passaram a ser motivo de riso como o carnaval brasileiro, usando o tuite do presidente para tanto. Com a ajuda da sua ministra das mulheres, afirmava que as meninas deveriam se vestir de rosa e os meninos de azul. Com a participação dos seus filhos, montaram um grupo paralelo do governo que a imprensa passou a chamar de “gabinete do ódio”.

Bolsonaro participa de marcha evangélica em São Paulo, Brasil, junho de 2019. Foto constante do artigo no Foreign Affairs

No Congresso, apesar da longa tradição de manter um déficit fiscal controlado por um teto, passou a se comportar como se isto não tivesse importância, apesar de declarar formalmente que o respeitará. Ele afirma que não entende de economia, que ficou com Paulo Guedes, formado em Chicago, mas muitos dos seus auxiliares já estão deixando o governo. Sua retaguarda elabora críticas ao seu comportamento, mas ele afirma que fica até o fim. Outro que era considerado como um dos seus pilares de combate à corrupção no Ministério da Justiça, Sérgio Moro acabou deixando o governo, tornando-se um ferrenho adversário do presidente.

Jair Bolsonaro volta-se também contra o Judiciário e o Congresso, mas acabou mudando sua base parlamentar passando a ligar-se com o chamado Centrão. Ele também vem se envolvendo com uma oposição mal articulada e num pleito pela sua reeleição venceria o Partido dos Trabalhadores, que ainda conta com o antigo presidente Lula da Silva. Bolsonaro não seria uma aberração, mas um retorno à normalidade brasileira, com o enfraquecimento do poder civil, segundo o artigo publicado no Foreign Affairs.

Como a maioria dos artigos daquela revista, o atual ora apresentado está bem elaborado, usando muitas fontes confiáveis, mostrando que seus jornalistas têm uma longa vivência da dura realidade brasileira.