Loucura Total da Bomba de Hiroshima
3 de agosto de 2020
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais e Notícias | Tags: censuras posteriores, desconhecimento dos possíveis efeitos dos Estados Unidos, dramaticidade das primeiras fotos em revistas norte-americanas, teste do desconhecido, testes posteriores com soldados norte-americanos em Bikini, visita obrigatória a Hiroshima
Com as pesadas perdas das tropas norte-americanas nas batalhas de Okinawa, Guam e Iwo Jima, os americanos avaliavam que a invasão das principais ilhas que formam o arquipélago que é o Japão implicaria em inestimáveis mortes, pois os soldados japoneses sacrificariam as suas vidas, mas não se rendiam. Apesar da guerra do Pacífico já estar no seu fim, os russos avançavam pelo Norte e os Estados Unidos que mal conheciam os possíveis efeitos das bombas atômicas decidiram por lançá-las em Hiroshima e Nagasaki. Tanto não sabiam exatamente quais eram os seus impactos que nas provas posteriores feitas em Bikini, no Pacífico, partes das próprias tropas norte-americanas foram colocadas a distâncias variadas dos locais de sua explosão para avaliação mais segura dos seus potenciais estragos. Era uma loucura total, onde cientistas, que fugiram da Europa e do nazismo e fascismo, colaboraram no projeto dos militares norte-americanos. Estima-se que somente em Hiroshima as vítimas foram mais de 130 mil mortos.
A bomba atômica explode no ar, mas suas consequências se espalham pela cidade e sua população
Ainda quando criança vi as primeiras fotografias estampadas nas revistas norte-americanas que, logo após o bombardeio, não estavam censuradas, passando a ser depois de constatada a dimensão da calamidade provocada. As cenas descritas pelos poucos sobreviventes que ainda estão vivos, como o que consta do artigo de Paula Spech, publicado neste domingo na Folha de S.Paulo, que inclui o depoimento de três sobreviventes que vivem no Brasil. Crianças com as peles queimadas, lançando-se nos rios (a temperatura no epicentro da bomba está estimadas em mais de 1 milhão de graus C), e outras coisas semelhantes difíceis de serem imaginadas até pelas mentes mais criativas. Uma visita a Hiroshima e ao seu museu dá uma pálida ideia do que foi a maior catástrofe nuclear provocada pela humanidade, que precisa ser conhecida por todos.
Hiroshima arrasada pelo bombardeiro atômico
Conheço Takashi Morita, hoje com 96 anos, que organizou a entidade que representa as vítimas da bomba atômica no Brasil, pois os seus sobreviventes, conhecidos como “hibakusha” (vítimas do bombardeiro atômico), que moram no Brasil são submetidos anualmente a exames médicos no Hospital Santa Cruz, em São Paulo, que presidi. Ele, com seus familiares, se empenha por dezenas de anos por estas vítimas (sua esposa já faleceu). Eram 270, mas com o avanço da idade, hoje ainda são 80 vivos, que devem aumentar, pois o governo japonês admitiu recentemente os mesmos direitos aos que foram afetados pela chamada “nuvem negra” que se seguiu ao bombardeio, tanto em Hiroshima como Nagasaki. Todos tinham o preconceito que os seus descendentes sofreriam os efeitos da radiação, que felizmente, foi minimizado.
Takashi Morita, 96 anos, fundador do Hibakusha do Brasil pela Paz
O que impressiona dos sobreviventes é que eles não guardam amarguras do que aconteceu, mas desejam que tudo porque passaram contribua para o banimento definitivo do uso de armamentos atômicos em todo o mundo. Eles têm uma missão nas suas vidas. São pessoas excepcionais, bem acima da média de qualquer população e podem nos dar lições por não se abalarem com banalidades. É de se acreditar que eles enriqueceram com muitas reflexões que fizeram durante estes 75 anos de suas vidas e todos nós temos que aprender muito com suas experiências.