Brasil Dispõe de Diplomatas Qualificados
27 de setembro de 2020
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais e Notícias | Tags: a profunda experiência do embaixador Sérgio Amaral, colocações qualificadas que merecem ser avaliadas, contraste com a atual mediocridade, raras análises mais fundamentadas
Há de se reconhecer que frequentemente fica difícil selecionar assuntos que tenham substância, pois muitos artigos constantes da imprensa brasileira e colocados pelas autoridades do país aparentam uma lamentável superficialidade. Mas, na garimpagem, sempre se encontra exceções, como da entrevista do embaixador Sérgio Amaral para Diego Viana, do Valor Econômico, usando toda a experiência que ele acumulou durante a sua brilhante carreira, tanto no Brasil como na França, Reino Unido e Estados Unidos. Mostra que o país já está isolado do mundo relevante, suas causas e o que se pode esperar nos próximos anos.
Embaixador Sérgio Amaral. Foto do artigo publicado no site do Valor Econômico, que vale a pena ser lido na sua íntegra
Nos Estados Unidos, o republicano Donald Trump procura conseguir a sua reeleição, mas o democrata Joe Biden está nas pesquisas de opinião com pequena vantagem, não se podendo se assegurar ainda quem será o vencedor. Trump procura explorar junto aos seus eleitores o receio do avanço da China e, mesmo que Biden consiga superá-lo, tudo indica que os Estados Unidos procurarão reforçar com os aliados europeus a Parceria Transpacífica – TPP, visando neutralizar parte do avanço chinês no desenvolvimento de novas tecnologias.
Sérgio Amaral, que tinha o comando da embaixada em Washington, acompanhou por três anos este processo de ascensão de uma nova potência no mundo. E aponta o risco de sofrer no fogo cruzado entre os Estados Unidos e a China. Se não houver um acordo entre estes dois países, o Brasil e os demais terão que escolher um dos lados, segundo ele. O problema fundamental é se os norte-americanos podem conviver com a China como um país igual, qualquer que seja o resultado das eleições.
Não se tratando nem do comércio como avanço da tecnologia. Sempre existe o risco de um acidente no Mar da China, o que seria lamentável. Segundo o embaixador, não haveria grande diferença quem quer que seja o vencedor das eleições nos Estados Unidos.
Segundo o embaixador, o Brasil já está isolado, como vem expressando os países europeus. No passado, o problema social era relevante, agora é o ambiental o fundamental e o Brasil terá que efetuar algumas mudanças, pois os recursos voltados para isto são volumosos. O ponto nevrálgico dos relacionamentos dos norte-americanos com os chineses é o G5, segundo ele, onde a Huawei tem um papel importante.
Sergio Amaral comenta que os norte-americanos desejam reduzir o déficit comercial com os chineses, comprando produtos como a soja daquele país, o que afeta os interesses brasileiros. O Brasil é hoje um país de pequena importância nestes negócios mundiais de comércio e teria que se aliar com outros para defender seus pontos de vista. Em outras áreas internacionais, como a OMS e o OMC, os acordos dependem de muitos países, não se tratado de algo que possa ser decidido por somente poucos.
A pauta da política internacional do Brasil é muito ampla e sem considerar as experiências de diplomatas brasileiros como Sérgio Amaral, ficando com autoridades que não contam com amplas experiências e pensando no longo prazo, o país só tem a perder, o que também acontece em outros setores, como os econômicos.
Neste pequeno resumo do que consta da longa entrevista, menciona-se somente o que foi avaliado como essencial, mas a leitura completa da entrevista dá uma visão mais ampla, de tudo que precisa ser considerado para o Brasil recuperar parte do que perdeu de importância nos últimos anos no cenário mundial.