Subestimando o Presidente Jair Bolsonaro
23 de setembro de 2020
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais e Notícias | Tags: ataque aos índios e caboclos, incompreensão de parte da imprensa, militares e funcionários beneficiados, os estrangeiros não votam no Brasil, pesquisas de opinião pública, seu objetivo de reeleição, sustentação até as eleições | 2 Comentários »
Se muitos não concordam com o presidente Jair Bolsonaro e os que lhe são fiéis, a pior posição que eles adotam é subestimar as suas capacidades eleitorais. As pesquisas de opinião pública disponíveis continuam informando, para desespero dos seus adversários, que ele continua numa posição invejável e ainda não apresenta indícios que deve piorar, mesmo no quadro adverso em que se encontra o Brasil. Seus injustos ataques aos índios e caboclos pelos incêndios que se multiplicam pelo país, como no seu pronunciamento na ONU, são basicamente contra os que não votam nas próximas eleições, inclusive estrangeiros. É usual que quando existem dificuldades elas sejam atribuídas aos inimigos de outros países, como Donald Trump tem feito com os chineses, o que sensibiliza muitos eleitores. Os beneficiados pelo governo brasileiro são os grileiros de terras, madeireiros e mineradores clandestinos, que mobilizam grupos de eleitores para Bolsonaro, em defesa dos seus interesses pessoais. Tudo muito simples e primário, de fácil compreensão até para os menos informados.
Presidente Jair Bolsonaro fala na Assembleia da ONU por vídeo
Também muitos que foram beneficiados pela assistência de emergência na pandemia do coronavírus, mesmo com algumas dificuldades para recebê-la, e reduzido em valor nos próximos meses, estão gratos ao presidente, mesmo que seu ministro da Economia ainda não consiga manter o déficit fiscal controlado. O nível de recuperação da economia brasileira continua lento, com a inflação pressionando os menos favorecidos. Não se sabe se a reforma administrativa e a fiscal possam ser aprovadas no Congresso, deixando marcas de aumento das incertezas, pois suas explicações são exageradamente técnicas, incompreensível para população e mesmo para analistas especializados.
Em vez de aumento dos aportes de recursos vindos do exterior, as informações são de elevações das saídas, inclusive de brasileiros que já se encontram no exterior que dificilmente votarão nas próximas eleições brasileiras. Os países europeus estão alertando o Brasil que, sem medidas concretas de combate aos incêndios, não haveria um acordo razoável da Comunidade Europeia com o Mercosul. O governo brasileiro vende a ideia que se trata de perseguição dos estrangeiros ao Brasil, uma colocação que surte efeito numa parcela dos eleitores. Estas questões não sensibilizam os eleitores brasileiros comuns, mais voltados ao dia a dia de suas duras vidas. As questões chamadas microeconomia têm melhor compreensão de todos do que as chamadas macroeconomia.
Muitas questões que estão em discussão no Congresso ou no Judiciário também estão longe do dia a dia dos brasileiros, mais sensível ao preço do arroz ou o que precisam adquirir nos supermercados, os preços dos combustíveis ou contas de energia elétrica. Com a atual pandemia, seus consumos baixaram de qualidade com os chamados deliveres e os jovens de classe média preferem tomar suas cervejas, pouco se importando se seus riscos de saúde são elevados. As praias também dão indicações dos problemas que os afetam, sendo mais relevantes o sol, as ondas e as conversas com os amigos.
A duração dos isolamentos recomendados também aparenta ter sua importância. Mesmo na Europa, após alguns meses, muitos começaram a frequentar onde existem aglomerações de pessoas, provocando até a necessidade de um segundo round de restrições. Nos países tropicais, como o Brasil, as restrições não contam com a firme determinação da população, que costuma ser mais informal. O governo amplia, até com exemplos pessoais, as transgressões das regras recomendadas, o que tende a agradar parcela importante dos eleitores. Os brasileiros têm a tendência de acreditar em milagres, o que vem sendo explorado com habilidade pela equipe do presidente Jair Bolsonaro. Seriam algumas razões por que não se pode subestimar as capacidades eleitorais do seu grupo, onde praticamente inexiste a oposição, mesmo dentro do Judiciário, do Congresso, da imprensa e dos militares de forma simplista.
Sentem-se saudades de figuras políticas como Adhemar de Barros, que tinha formação sofisticada na Alemanha, mas falava a língua do povo. Ou de Jânio Quadro, que era um gênio capaz de gestos ou ações populares quando em público, mesmo tendo uma cultura sólida. Hoje, parece que temos carências destes tipos de políticos, havendo que se conformar com comportamentos grosseiros, que não podem ser subestimado no deserto em que vivemos.
Paulo, como o Brasil perdeu credibilidade com o Bolsonaro! Torço para que o Lula e a Dilma regressem! O Brasil precisa de ética, de honestidade, de moralidade!
Meus parabéns pelo grandioso blog! Mantenha as críticas ao Bolsonaro e vamos lutar por um país melhor!
Caro Adalberto Mendes de Paula,
Muitos não concordam com a sua posição, e consideram o governo Bolsonaro de forma positiva, o que não sabemos se vai perduram até a reeleição que ele pretende.
Paulo Yokota