Proposta do Banco Central de Ampliar Cooperativas de Crédito
8 de dezembro de 2020
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais e Notícias | Tags: defesa dos cooperados, diferenças com empresas comerciais comuns, dificuldade de perpetuação dos mesmos dirigentes, experiência passada no Brasil, mudanças dos pequenos produtores para operadores de cereais no mercado externo
Observa-se uma intensificação de notícias na imprensa brasileira sobre o aumento das cooperativas de crédito, visando a elevação da concorrência com os bancos na concessão de créditos com baixos custos das operações. As experiências passadas no Brasil indicam as dificuldades decorrentes, com poucos dirigentes que, deixando de ser produtores, especializam-se em negociações de cereais no mercado internacional, deixando os produtores em posições subalternas, com mínimas possibilidades de se tornarem dirigentes importantes. Algo parecido ocorre com também com as cooperativas de crédito que podem beneficiar alguns dirigentes, mas não beneficiam todos os pequenos cooperados.
Cooperativas de crédito não fazem milagres, muitas vezes beneficiam seus dirigentes, sendo difícil beneficiar os pequenos cooperados
A ideologia cooperativista, mesmo interessante, não pode fazer milagres, mudando a natureza humana. Ainda que vise permitir que cooperados tenham créditos com custos razoáveis, o que nasceu como forma de agregar muitos pequenos produtores, dando a todos os direitos idênticos, sempre aparece os dirigentes que procuram se beneficiar deste agrupamento de pessoas, usufruindo de vantagens para eles próprios. Imaginar que as autoridades monetárias, como do Banco Central, consigam evitar possíveis distorções é uma ideia generosa, que nem sempre se mantém ao longo do tempo.
Normalmente, os que se tornam seus dirigentes possuem qualificações superiores aos demais membros. Com o transcorrer do tempo, quase naturalmente, eles acabam sendo os mais beneficiados, enquanto os demais só podem conseguir o que seja razoável pela junção dos interesses de todos.
No cooperativismo, as cotas de capital que colocam no empreendimento, independentemente do seu valor, seriam idênticos. Com o transcorrer do tempo, a tendência dos que possuem poder de comando é acabar, naturalmente, usufruindo mais vantagens. A generosa filosofia do cooperativismo nem sempre prevalece à natureza humana.
O exemplo histórico de casos semelhantes ao longo do tempo indica que os dirigentes, que eram também pequenos produtores, tendem a se especializar no controle da organização. Pelos seus constantes contatos com as autoridades acabam, naturalmente, contando com intimidades com eles, até porque revelam qualificações diferenciadas.
Os produtores brasileiros de cereais acabaram voltando-se para as atividades internacionais, que eram seus principais mercados. Além das pequenas cooperativas locais, surgiram também as regionais e nacionais, onde as seleções dos administradores qualificados se tornaram relevantes. Acabam reduzindo a importância das generosas ideias de igualdade que criaram estas cooperativas, infelizmente.