Aspirações de Ascensão de um Jovem Nikkei
7 de março de 2021
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais e Notícias | Tags: A carreira num banco nikkei, auxiliar de pesquisa no Instituto de Administração da FEA-USP, completado o curso de Técnico de Contabilidade, fazendo o curso de Economia da FEA-USP, outras visões complementares
Quando trabalhava num banco nikkei, tendo como veteranos estudantes da FEA-USP, eu havia sido beneficiado por todas as gratificações e aumentos salariais concedidas aos funcionários e alimentava em muitos a expectativa de uma boa carreira para mim naquela instituição. No entanto, fui informar aos responsáveis pelos recursos humanos que deixaria a instituição por um cargo modesto no Instituto de Administração da FEA-USP, até com remuneração mais baixa, o que surpreendeu a muitos. Já cursava Economia e fui ser auxiliar numa pesquisa de um sociólogo, que se tornou depois professor daquela escola. Ele tratava dos assuntos como os indicadores sociais do desenvolvimento, quando os economistas se concentravam nas contas nacionais para tanto. Eu acreditava que estando ligado, mesmo indiretamente, com atividades acadêmicas, abriria um horizonte mais promissor para o meu futuro.
Edifício na Rua Dr. Vila Nova, onde ficava localizado a FEA-USP e o seu Instituto de Administração, muito antes da sua transferência para o campus da USP. Os seus fundos tinham uma área comum com a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da mesma universidade
Neste Instituto de Administração trabalhavam muitos que tinham posições ideológicas tendentes ao socialismo, mas dentro da diversidade dos profissionais daquela Faculdade havia até os que estavam trabalhando pioneiramente com os recursos humanos, como a psicologia, com posições políticas diferentes. O professor Delfim Netto ficou no comando da instituição por um período. O Instituto tinha como seu acervo principal uma biblioteca famosa até hoje, na qual estudantes e professores da vizinha Faculdade de Filosofia, Ciência e Letras iam à procura dos livros e revistas de qualidade. Posteriormente, quando eu estava na diretoria do Banco Central do Brasil e na Presidência do INCRA – Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária, solicitei a ajuda de uma equipe daquele Instituto para efetuar as reformas administrativas. Fiquei naquele organismo até depois de me formar em Economia na FEA-USP, aguardando uma oportunidade para atividades de maior potencialidade.
Ela surgiu quando o professor Delfim Netto se tornou o responsável do Departamento de Economia da CIBPU – Comissão Interestadual da Bacia Paraná-Uruguai. O Departamento de Engenharia estava sob o comando do professor Paulo Mendes da Rocha, da Escola Politécnica da USP. Quem se empenhou por um longo período para a consolidação da instituição foi o governador Lucas Nogueira Garcez, que também era originário da Politécnica.
A CIBPU se inspirou no que os norte-americanos fizeram no Tennessee Valley Authority, para seu aproveitamento integral, como mecanismo para sair da crise de 1929. No caso brasileiro, juntou-se o esforço dos sete estados da região centro-sul naquele período, visando o máximo aproveitamento das águas, não somente para geração de energia elétrica, como navegação fluvial, irrigação e turismo, entre outros aspectos.
Para efeito de geração de energia elétrica, nem todos sabem que o relevante é o mínimo de água que passa pelas hidroelétricas, culminando na binacional Itaipu. Para tanto, as usinas à montante, como Jupiá e Ilha Solteira, são extremamente estratégicas, entre outras, pois ajudam a regularizar o fluxo das águas mínimas necessárias. Um exemplo prático atual mostra que os chineses na usina de Three Gorges, que copiaram muito da binacional Itaipu, enfrentam dificuldades por não contarem com reservatórios relevantes à montante.
A Usina binacional de Itaipu tem um reservatório modesto para a sua dimensão, pois conta com muitos à montante, que regularizam as águas necessárias
O trabalho executado na CIBPU, que no conjunto já era muito expressivo, permitiu também a criação de nossas boas relações com muitos recursos humanos dos estados, inclusive políticos e dirigentes, que com o tempo foram ascendendo em suas carreiras aos níveis federais e internacionais.
Acabei sendo convidado pelo professor Delfim Netto para tornar-se seu professor-instrutor na FEA-USP. Na medida em que ele ascendeu a ministro do governo federal, isto me permitiu assumir posições como membro do Conselho Monetário Nacional, no qual fui designado como diretor do Banco Central do Brasil. Numa nova administração, tornei-me presidente do INCRA – Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária, além de ajudar em outras tarefas do governo federal.
Acredito que as decisões tomadas quando ainda era um estudante universitário foi, em grande medida, acertadas para a carreira de um mero jovem nikkei. Mas elas dependeram também, e muito, das oportunidades que ocorreram no Brasil, que independiam das opções pessoais. Em outros capítulos futuros, procuraremos relatar resumidamente o que foi possível se fazer, no Brasil como no exterior, ao longo do tempo.