3 de setembro de 2010
Por: Naomi Doy | Seção: Livros e Filmes | Tags: Coréia, Editora Simon & Schuster, história recente, mulheres coreanas, Natureza morta com arroz, New York-1997
A autora, Helie Lee, nascida na Coreia do Sul, emigrou para o Canadá ainda criança com os pais e a irmã, em 1968. Dali, a família passou para a Costa Oeste americana, onde hoje reside, em LaCrescenta, Califórnia. Seus pais desejavam para suas filhas um futuro com liberdade e sem ameaça de guerras, onde pudessem manter a identidade cultural. Helie Lee cresceu odiando sua origem asiática, renegando a herança coreana, e tudo fazia para parecer uma garota ocidental. Mas na sua casa se falava coreano, e ela indiscutivelmente não conseguia passar sem a sua tigela de arroz com kimuchi (conserva típica de legumes com molho picante de pimenta vermelha). Uma atração irrefreável a leva a uma viagem em busca de suas raízes, já adulta, à Coreia do Sul e a Xangai, na China.
Neste livro, Helie Lee relata a provação vivida pelo povo coreano desde a ocupação japonesa até os recentes anos da Coreia dividida em Norte e Sul, e em permanente estado de guerra fria depois de ter suportado uma devastadora guerra civil. Narrada pela voz da sua avó materna, Hongyong Baek, nascida em Pyongyang em 1912, é, ao mesmo tempo, uma dura e incisiva revelação do sofrimento das mulheres e crianças coreanas – pois guerras e invasões, embora seja um jogo de homens, fazem de mulheres e crianças as maiores vítimas.
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19 de agosto de 2010
Por: Naomi Doy | Seção: Livros e Filmes | Tags: China, dinastia Zhou, Períodos da “Primavera e Outono” e dos “Estados Guerreiros”, “idade axial”: 771-221 a.C. | 5 Comentários »
Na China dos anos 771-221 a.C., aproximadamente 170 estados familiares nobres reinavam fora do controle central. Cada estado tinha a sua capital murada; formavam alianças e ligas entre si, e também travavam acirrados combates militar-diplomáticos, tentando dominar um ao outro. Na era dos Estados Guerreiros, sete reinos dominavam a Planície Central ao Norte do país, entre os Rios Amarelo, Huai e seus volumosos afluentes.
Paradoxalmente, essa época de guerras também suscitou o aparecimento de pensadores que propunham bases teóricas para cultivar uma sociedade humana em harmonia com a ordem do Universo à qual pertenciam. Os reinos, cansados de guerras e destruições, ansiavam por ordem e paz. Pensadores tentavam inspirar reis a procurar viver em harmonia sob o domínio de um único rei, como contava a lenda de uma época dourada quando a China era unificada.
Confúcio (551-479 a.C.) e seus discípulos faziam parte de um grupo de pensadores precursores desse tempo. Foram contemporâneos de grandes mestres da Índia (Buda, circa 560-480 a.C.) e da Grécia (Platão, 420-340 a.C. e Aristóteles 380-320 a.C.), entre outros. Época que historiadores denominam “idade axial” – quando se estabeleceram as primeiras formas básicas do pensamento da civilização no mundo.
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11 de agosto de 2010
Por: Naomi Doy | Seção: Livros e Filmes | Tags: domínio mongol, quase invasão do Japão, século XIII, “Vento e Ondas”
Exímio em narrativas fascinantes sobre angústias urbanas modernas com delicados toques de psicologia amorosa, Yasushi Inoue se sobressai também como talentoso contador de histórias de antigas lendas e tradições da China, Coreia e Japão. Dedicando-se seriamente ao estudo da história chinesa e coreana, fez frequentes viagens aos dois países. Seus inúmeros romances históricos são considerados de profunda autenticidade, não só por intelectuais japoneses como por chineses e coreanos: Os telhados de cerâmica de Tempyô(1957), Tun-huang (1959), Lou-lan (1959), O Lobo Azul (1960- sobre Genghis Khan), Viagens além de Samarkand (1971), Confucius (1989), para citar apenas alguns.
Wind and Waves, University of Hawaii Press-1989, tradução de Fûtô, 1963, conta os dramáticos eventos que afetaram o Leste Asiático – particularmente a península coreana – nos meados do século XIII. Após ter invadido a China, derrotado a Dinastia Sung, e estabelecido o poderoso Império Mongol na China (Dinastia Yuan), Kublai Khan dirigiu sua ambição para a conquista do arquipélago japonês. O Japão, então sob o xogunato de Kamakura, era um país de belicosos samurais, isolado nas brumas além do Mar do Norte. Para Kublai Khan, lá se escondiam imensas riquezas. Emissários enviados para que Kamakura se rendesse ao Imperador Mongol foram seguidamente ignorados pelo xogunato.
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9 de agosto de 2010
Por: Paulo Yokota | Seção: Livros e Filmes | Tags: autora vive nos Estados Unidos, coreanos durante a ocupação japonesa, depoimentos sobre as dificuldades
Este livro da escritora Linda Sue Park, que tem outros publicados pela editora Yearling Book, foi editado em 2002 em Nova Iorque, e republicado em 2004. Refere-se ao lamentável período em que a Coreia estava anexada ao Japão, ato pelo qual o primeiro-ministro japonês apresentou expressamente suas desculpas recentemente. A autora era estudante do primário em 1940, junto com o seu irmão, e todos os coreanos tiveram que mudar o seu nome naquele período. Ainda que o livro seja destinado mais para os adolescentes, os críticos o consideram como um importante documento sobre as dificuldades da guerra.
Os coreanos foram transformados em súditos do Império do Japão e as suas escolas passaram a lecionar em idioma japonês. A autora relata o que aconteceu com sua família que tinha orgulho da herança coreana, mas era obrigada a se submeter ao domínio do país vizinho que ganhou a guerra no começo no século passado entre os dois países, e agora se envolvia na que passou a ser conhecida como a Segunda Guerra Mundial.
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6 de agosto de 2010
Por: Naomi Doy | Seção: Livros e Filmes | Tags: conto de 1949, Editora Estação Liberdade, tradução do japonês por Jefferson José Teixeira-2010 | 2 Comentários »
Importante empresário “que habita a área de Osaka e Kobe”, sentindo-se retratado em poema publicado numa revista especializada, escreve para o autor desse poema, intrigado com a precisão com que o poeta o descreveu não só fisicamente, mas até parecendo adivinhar o seu estado de espírito quando vagueava “pela relva coberta de neve de uma reserva de caça em vilarejo de fontes termais, em Izu”. Omite o verdadeiro nome, mas remete também três cartas que lhe foram escritas por três mulheres: uma jovem que descobre o mundo pérfido dos adultos, uma mulher atormentada por fantasmas carregados de rancores e remorsos, e outra que se dissimula por trás de uma máscara de frivolidades e cinismo.
A partir da construção dessas três cartas, o escritor nos faz mergulhar numa bem urdida trama de amor e ódio velado, de traição e vingança recalcada, de solidão e violência reprimida. Num ambiente refinado e sofisticado, cercado por belas paisagens imersas em diferentes estações do ano, que se revelam sutis, luminosas, melancólicas ou hostis, conforme o estado de alma das três mulheres.
A língua japonesa possui uma nuance peculiar, intraduzível em outras línguas: uma linguagem diferenciada para cada sexo, cada idade, cada classe social. Uma mulher adulta fala a língua de mulher adulta, distinta da de uma criança, uma jovem, um rapaz, ou um homem. O estilo epistolar de uma mulher refinada é de elegância delicada e elaborada, permeado de referencias metafóricas a objetos, paisagens ou às condições do tempo que a rodeiam. Que, em verso ou prosa, indicam as mil emoções e antagonismos que vão pela sua alma. O autor manipula essa particularidade com requintada mestria nas epístolas concebidas para as três personagens femininas, três mulheres cultas de idades, personalidades e idiossincrasias diversas. Cuja essência o tradutor conseguiu captar com bastante propriedade.
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2 de agosto de 2010
Por: Paulo Yokota | Seção: Livros e Filmes | Tags: escritora jovem, mas premiada, Tóquio por dentro
Os bons jovens escritores japoneses recebem prêmios que levam os nomes de escritores famosos. Hiromi Kawakami já recebeu os Akutagawa (1966) e Tanizaki (2001) e é bem aceita pelos leitores japoneses. A Editora Estação Liberdade publicou este ano a tradução do japonês feita por Jefferson José Teixeira. Um livro agradável que permite conhecer uma parte de Tóquio e alguns dos seus habitantes, personagens deste “Quinquilharias Nakano”.
Todas as cidades que se prezam têm seus “mercados de pulga”, sempre atrativos, pois é possível adquirir uma peça interessante por um preço razoável. Não são antiguidades, pois nos antiquários os preços são naturalmente elevados. Em Tóquio, encontram-se estas lojas espalhadas, diferindo de cidades como Londres, onde há bairros onde elas se concentram. Ou Paris ou Nova Iorque, onde as feiras são atrações para um bom fim de semana. Em Tóquio também existem feiras de quinquilharias em determinados dias, onde é comum se encontrar quimonos usados, velhos, mas não antigos.
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1 de agosto de 2010
Por: Paulo Yokota | Seção: Livros e Filmes | Tags: debates e esclarecimentos, documentário, os Festivais da Record
O filme documentário de Renato Terra e Ricardo Calil tem os elementos indispensáveis para provocar recordações e polêmicas sobre o que aconteceu no famoso Festival da TV Record de 1967, inclusive nos seus bastidores. Há um reconhecimento de todos que apreciam a música popular brasileira que os festivais daquela emissora tiveram importância naqueles anos tumultuados dos finais dos anos 60, bem como na sua evolução futura.
Os depoimentos colhidos recentemente esclarecem aspectos importantes daqueles festivais. Este filme documentário está inspirado no livro de Zuza Homem de Mello, uma autoridade reconhecida sobre a música popular brasileira que participou daqueles eventos, e serviu como consultor deste trabalho. Personagens importantes com seus depoimentos, com uma perspectiva de mais de 40 anos, deixaram claras os seus dilemas e dúvidas.
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1 de agosto de 2010
Por: Paulo Yokota | Seção: Livros e Filmes | Tags: diversas leituras de Ozu, ocidentais, pontos de vista japoneses, universais | 1 Comentário »
A intensa discussão provocada pela oportuna iniciativa do CCBB exibindo os principais trabalhos do cineasta japonês Yasujiro Ozu confirma a sua importância não somente no cinema do Japão, como mundial. O artigo publicado hoje pela Folha de S.Paulo no seu caderno Ilustríssima, do crítico Carlos Augusto Calil, “O tofu de Ozu – O desencantado senhor da solidão”, como que conclui o debate.
Quando cita Leví-Strauss afirmando que só ia ao cinema já idoso para ver os filmes de Ozu, apesar dos seus personagens e histórias refletirem o que há de mais característico do comportamento japonês, nota-se ele é universal do ponto de vista humano. A psicologia dos seres humanos, principalmente urbana, está colocada só colocada no cenário japonês.
Cartaz de Uma Tarde de Outono (1962), último filme de Ozu
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28 de julho de 2010
Por: Naomi Doy | Seção: Livros e Filmes | Tags: cinema cearense, estreia em longa de Petrus Cariry | 2 Comentários »
Por se tratar de cineasta ainda desconhecido no sul, assistir a este filme foi uma surpresa bastante agradável, numa estreia sem alardes em São Paulo. É a história de pequena e humilde família em vilarejo não muito distante de Fortaleza, contada com simplicidade e em lento ritmo de espera. Como se a vida fosse um longo e silencioso tempo de espera para a morte.
Esse tempo age de forma distinta para cada personagem. Há um senso de resignação dos adultos diante de um novo tempo, ou diante da iminência da morte: na avó adoentada que prepara o neto para a separação que ela pressente, na filha e no genro presos numa vida de desesperança e imobilidade. Para jovens ou crianças, porém, esse tempo é vago e tênue: o neto Zeca, que ouve passivamente a história contada pela avó, ou a neta Fátima que prepara, com doce enlevo e expectativa, o enxoval para o seu casamento.
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21 de julho de 2010
Por: Naomi Doy | Seção: Livros e Filmes | Tags: Abbas Kiarostami/Cinco dedicados a Ozu-2003; Era uma vez em Tóquio-1953, Pai e Filha-1949, Também fomos felizes-1951
Logo após os momentos finais de Tomi, sua mulher, Shukichi (ator Chishu Ryu), não suportando ficar no quarto onde filhos reunidos velam o desenlace da mãe, vai para fora de casa. Para o pequeno espaço contíguo à casa, donde se avista a bela Baía de Seto, colina abaixo. Intimamente, enxergamos mil pensamentos e reminiscências através do seu perfil e dos gestos mansos. A sensação de perda e vazio fugaz, misturada à lembrança recente da viagem um tanto atordoante a Tóquio, da qual ele e a mulher tinham acabado de chegar. Os anos de cumplicidade compartilhados, a paisagem imutável do mar que separa as ilhas de Honshu e Shikoku – que Shukichi tantas vezes contemplara com Tomi (atriz Chieko Higashiyama).
Os barcos a vapor continuam a deslizar levando e trazendo entes queridos que vão e vêm. O mar, as miríades de ilhas e ilhotas lá estão, como sempre estiveram. O som tão familiar do apito dos barcos, porém, agora soa angustiante e intolerável. Pelo rosto de Shukichi alternam-se sentimentos de aturdimento, melancolia, solidão: hakanai, munashii, aware-nai, simplesmente intraduzíveis. O vazio provocado pela sensação de atroz fugacidade, aquela vontade de “ser levado junto”.
Ozu foi mestre em captar tais momentos. Para ele, “atuar é não expressar as coisas, deixar coisas serem ponderadas, saboreadas. Aqueles que apreciam isso alcançam um estado transcendente”. Ele teve a sorte de encontrar atores como Chishu Ryu e Setsuko Hara, que apenas pelas nuances expressivas de seus rostos, olhar e corpos conseguiam exprimir alegria, dor, tristeza, solidão. Nas palavras de Ozu, “Setsuko Hara é uma pessoa admirável. Se houvesse apenas mais quatro ou cinco pessoas como ela…”
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