3 de dezembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais, Notícias | Tags: alguns descartados, artigo do The Japan Times, boom de caipirinha no mundo e no Japão, diversos sabores exóticos, o Brasil em pauta
Um artigo publicado por Angela Erika Kubo no The Japan Times dá uma ideia da disseminação da caipirinha em todo o mundo, chegando até aos exageros como no Caipirinha Bar em Roppongi, Tóquio. O proprietário Javier Watanabe é dono de muitos outros estabelecimentos na região, entrando na onda do Brasil que está em alta no Japão, tanto pela Copa do Mundo como pela futura Olimpíada, onde os estrangeiros estão se encantando com a famosa caipirinha que apresenta flexibilidades para agradar aos seus muitos apreciadores, com os diversos ingredientes utilizados. Todos sabem que o mais tradicional é a cachaça com limão, gelo e adocicado a gosto com açúcar. Mas chegou até a ser servida com o natto, uma soja fermentada, que saiu de linha por ser exagerada na sua combinação. O novo bar conta com uma iluminação suave e relaxante música brasileira de fundo, mas com uma leitura atualizada de jazz, como se encontra em muitos lugares, não somente no Japão como no mundo, notadamente na Ásia.
Caipirinha Bar em Roppongi, um sabor do Brasil com ingredientes naturais. The Japan Times, matéria da Angela Erika Kubo
Neste estabelecimento também se utiliza muitas outras frutas, como vem ocorrendo no Brasil e em outros países, mas sempre tendo a cachaça como ingrediente obrigatório.
O seu preço atual, para os padrões japoneses, é relativamente elevado, ainda que as quantidades sejam generosas, mas pode ser obtida por um preço mais conveniente no happy hour. Alguns ingredientes não conhecidos no Brasil também são utilizados, como o wasabi, que é uma espécie de raiz forte.
Em outras localidades em Tóquio podem ser encontradas por preços mais convenientes, chegando-se a utilizar um xarope de limão em vez da fruta. Também existem versões onde os bartenders agitam a bebida como em outros cocktails, mostrando adaptações da versão brasileira para outras preferências.
28 de novembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais, Notícias | Tags: automações e uso de computadores, casos ilustrativos dos pilotos e médicos, de Nicholas Carr, instigante artigo do The Wall Street Journal, outras avaliações e considerações, publicado em português no Valor Econômico
Nicholas Carr, autor do livro “A geração superficial: o que a internet está fazendo com os nossos cérebros”, publicado em português pela editora Agir, escreveu no The Wall Street Journal, republicado em português no Valor Econômico, um instigante artigo que recebeu o título de “A automação excessiva emburrece”, que nos leva a reflexões. Ele informa que nos anos 50, James Bright, professor da Faculdade de Administração de Harvard, teria estudado os efeitos reais da automação, descobrindo que as novas máquinas estavam deixando os trabalhadores com funções monótonas e menos exigentes. Cita observações recentes que os pilotos de aviões estão dependendo cada vez mais dos computadores para as operações críticas de aterrissagem e decolagem, deixando os menos ágeis para operações de emergência que exigem as suas intervenções. Também que os médicos estariam exagerando nos usos dos protocolos que recomendam uma listagem de exames para cada situação, o que levou a incapacidade de diagnosticar o primeiro caso de ebola, por exemplo.
Mas ele menciona que existem programas de software que centram suas atenções nas capacidades das máquinas que acumulam muitas experiências e tecnologias. Como também os que procuram valorizar as decisões tomadas pelos seres humanos utilizando suas sensibilidades, centradas neles.
As possibilidades das discussões desta natureza são amplas, reconhecendo-se que muitas decisões ultrarrápidas nas operações de bolsas estão sendo tomadas pelos computadores, agravando as flutuações que sempre ocorrem, mas que não necessitariam ser tão exageradas. Também podem ser apresentadas as dificuldades decorrentes das excessivas especializações que levaram a elaboração de modelos que minimizariam os riscos, que não funcionam adequadamente. Muitas decisões estão sendo tomadas sem que todos os dados desejáveis, como as políticas e decorrentes da psicologia coletiva, como os comportamentos de massa, também sejam considerados.
Nicholas Carr, autor de “A geração artificial: o que a internet está fazendo com os nossos cérebros”, Editora Agir.
Poderia se acrescentar ainda que as informações resumidas e rápidas estão induzindo muitos à superficialidade, sem que análises mais profundas e desejáveis sejam efetuadas. Observa-se que muitos executivos não possuem sequer formações mais sólidas sobre humanidades, levando a uma exagerada automação nas decisões que até podem ser acertadas, mas requereriam um quadro mais amplo e complexo de informações que estão influindo em vários fenômenos sociais.
Quando se trata da medicina, por exemplo, observa-se a quantidade de exames inúteis que são requeridos aumentando os seus custos, sem que informações vitais como os históricos dos pacientes e de seus passados sejam considerados. Na biologia como na botânica observam-se que as cargas do que herdamos do passado nas nossas formações são relevantes para as tendências de determinadas anormalidades ou qualidades, o que parece estar sendo consideradas menos relevantes.
Distorções também ocorrem diante dos riscos a que os profissionais de medicina estão sujeitos com as potenciais ações judiciais por indenizações decorrentes de erros de diagnóstico. Diante destes fatos, muitos exames são requeridos para fundamentarem possíveis defesas.
Na comunicação social, onde a internet vem desempenhando um papel importante dada a sua velocidade, observa-se que muitos veículos estão sofrendo com as restrições de suas receitas, passando a utilizar profissionais menos experientes, disseminando informações que nem sempre foram adequadamente analisadas.
A procura de mecanismos que permitam um equilíbrio mais razoável das vantagens da internet como suas inconveniências parece que está se constituindo num desafio importante da nossa era. Tudo vai exigir um mínimo de disciplina, até para que as futuras gerações saibam os limites destas facilidades, para que não fiquem prejudicadas pelos vícios que estão se disseminando com seus usos abusivos, aumentando até a redução da comunicação adequada entre seres humanos.
27 de novembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais, Notícias | Tags: Mahmmad Gardo Baquaqua, notícias divulgadas pelo site de O Globo, trabalho de historiadores brasileiros com apoio do Canadá, uma biografia de um escravo que viveu no Brasil
O Brasil é um país com uma história ainda curta que conta com limitações de documentações originais que comprovam muitas versões do que consta como oficial, mesmo sobre assuntos que nem sempre merecem a atenção devida de todos. Quanto há uma notícia de um trabalho nesta área, todos que se interessam por assuntos semelhantes acabam se emocionando. Uma notícia publicada por Leonardo Vieira no site de O Globo informa sobre um jovem historiador de Pernambuco, Bruno Véras, que se interessou sobre um livro lançado em Detroit, USA, em 1854, pelo próprio ex-escravo Mahmmad Gardo Baquaqua, “An interesting narrative, Biography of Mahmmand G. Baquaqua”. Com a ajuda do Ministério da Cultura, do consulado do Canadá e outros dois pesquisadores brasileiros, está providenciando o lançamento deste livro em português, o que se espera ocorra até o final do próximo ano. O artigo pode ser encontrado na sua íntegra no http://oglobo.globo.com/sociedade/historia/historiadores-traduzem-unica-autobiografia-escrita-por-ex-escravo-que-viveu-no-brasil-14671795 .
Informa-se que existem outros livros, em inglês, escritos por ex-escravos, publicados nos Estados Unidos e na Inglaterra que receberam também apoio daqueles que desenvolviam uma campanha para a eliminação da escravidão, que já começava a ser abolida em algumas unidades dos Estados Unidos. Mas, pelo que se saiba, no Brasil só se dispõe de livros como o de Castro Alves e outros abolicionistas, que, mesmo tendo objetivos semelhantes e causem fortes impactos, não têm a força daqueles que viveram calamidades do tipo. O livro em pauta relata desde o que ocorreu dentro de um navio negreiro, que veio de Uidá, no norte da África, tendo chegado a Pernambuco, no Novo Mundo, em 1845.
Capa do livro divulgado pelo professor Bruno Véras
O artigo informa que Mahommah G. Baquaqua era filho de um comerciante proeminente, estudou numa escola islâmica, tendo adquirido conhecimentos de leitura e matemática, que o qualificavam a atuar nas rotas comerciais do então califado de Socoto e o extinto Império Ashanti, que efetuavam o tráfico de escravos de regiões da África Ocidental. Também no Brasil, chegou a desempenhar papéis mais importantes, mas sem ser reconhecido pelos seus esforços entrega-se à bebida. Foi revendido ao Rio de Janeiro, chegando a atuar no comércio de charque entre o Rio Grande do Sul até a capital de então da Corte.
Mas foi uma encomenda de café que lhe proporcionou a oportunidade para ir a Nova Iorque, e numa tentativa de fuga, acabou preso e fugiu para o Haiti, tendo se convertido e ingressado na Igreja Batista Abolicionista, onde teve possibilidade de aprender inglês, na região de Nova Iorque.
Alguns destes relatos encontram respaldo no que se conhece, como o comércio de charque e o papel da Igreja Batista Abolicionista, que até hoje continua atuando com a denominação de Igreja Metodista Livre e sempre teve importância em causas como as mencionadas, inclusive no ensino. Certamente, haverá muitas documentações adicionais que podem dar maior respaldo a esta interessante história.
27 de novembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais, Notícias | Tags: colocação do suplemento Paladar do Estadão, medidas adicionais, o selo de Indicação Geográfica
O suplemento Paladar do jornal O Estado de S.Paulo informa sobre as iniciativas em andamento que procuram distinguir as regiões já existentes que se diferenciam pelas suas qualidades ou tradições de seus produtos gastronômicos. São queijos, vinhos, cafés e outros produtos de determinada região que recebem o selo de Indicação Geográfica, que valoriza o reconhecimento de suas características, como o que já acontece com o Queijo da Canastra, uma região de Minas Gerais. Algo semelhante ocorre com vinhos, e cafés, havendo outros produtos menos conhecido do público, por ainda não estarem valorizados nas suas diferenciações.
A capa do suplemento
O mapa do Brasil com as 24 Indicações Geográficas com as quatro Indicações de Origem e as demais Indicações de Procedência
Elas são importantes para que seus produtores sejam valorizados e devem ser amplamente divulgados para o conhecimento de todos os consumidores, se possível com suas características que os diferenciam. Este trabalho deve ser prestigiado pelas autoridades e deve ter um prosseguimento prioritário.
Mas outros conceitos que estão sendo valorizados, por exemplo, pela Sebrae – Serviço de Apoio às Pequenas e Médias Empresas, que procura identificar “closters” pelo país acabam sendo importantes, e são amplamente utilizados em países como o Japão. Algumas regiões brasileiras são conhecidas pelas suas produções, como de flores e todas as atividades ligadas a elas, devem ser destacadas para juntar os benefícios de assim serem reconhecidas. O mesmo acontece com frutas, doces, produtos de couro e muitos outros mais.
No Japão, todas as cidades contam com produtos pelos quais são mais conhecidos, e os que as visitam fazem questão de levar para os seus amigos lembranças que acabam valorizando esta cidade. Podem ser conservas, doces, biscoitos ou outros produtos, e os agraciados com eles ficam extremamente gratos pela lembrança, fazendo com que os produtores daquela cidade também sejam ajudados com as demandas adicionais.
Estes fenômenos já ocorrem de forma natural. Os turistas que visitam o Sul de Minas, normalmente procuram adquirir produtos da região para consumir em casa ou presentear amigos. Produtos artesanais do Nordeste, por exemplo, também são valorizados e reconhecidos no Brasil como até no exterior.
Trata-se, sem dúvida, de uma técnica de marketing que, amplamente divulgado, acaba propiciando novos negócios que nem sempre são reconhecidos se não contarem com maciças divulgações.
25 de novembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais, Notícias | Tags: biografia de Lilly Ebstein Lownstein, trabalhos de ilustração científica, um livro de grande destaque
Existem livros que exigem pesquisas de grande profundidade, cuidado e qualidade para a sua elaboração. Quem tem o privilegio de folhear o livro “Ciência e Arte” – A Trajetória de Lilly Ebstein Lowenstein entre Berlim e São Paulo (1910-1960), elaborado pelo casal Monica Musatti e Roney Cytrynowicz, publicado pela editora Narrativa Um, São Paulo, 2013, fica impressionado que tenha sido lançado no Brasil, ainda que existam alguns outros excepcionais que honram os trabalhos das editoras no país. Já conhecíamos alguns dos trabalhos anteriores desta dupla que desperta admiração pelo trabalho sério de pesquisas envolvidas. Mas a avaliação delas fica ressaltada quando se sabe que a família da biografada não tinha documentações a respeito dos seus trabalhos que foram acumulados nas instituições em que ela trabalhou ou em revistas onde foram divulgados.
Além das pesquisas, estes livros exigem a coleta de depoimentos de pessoas que trabalharam com a biografada que, com o passar do tempo, nem sempre estão mais disponíveis. No caso, envolvem trabalhos efetuados em instituições que antecederam até mesmo a formação da Universidade de São Paulo (USP) em 1934. Como ela estudou na Escola Lette-Variem em Berlim, tendo se diplomado em 1914, também foram coletados dados na Alemanha, tendo que ser traduzidos para o português e inglês, pois se trata de uma edição bilíngue.
Lilly Ebstein estudou em Berlim na época em que ocorria uma intensificação das pesquisas científicas auxiliadas com ilustrações e o início do uso da fotografia nestas atividades. As turbulências com o final da Primeira Guerra Mundial promoviam migrações de expressivas personalidades europeias para o Novo Mundo, inclusive o Brasil. Chegando ao país, já em 1926, ela estava contratada pela Faculdade de Medicina e Cirurgia de São Paulo para ilustrar os trabalhos, inclusive com fotomicrografia para professores da instituição como o consagrado italiano Alfonso Bovero, para o que não se contava com pessoal qualificado.
Capa do livro lançado
Os importantes trabalhos científicos, como as teses de doutoramento dos profissionais que atuavam na área da medicina, recebem ilustrações elaboradas por ela, ainda na época que em São Paulo não estava consolidada a Faculdade de Medicina de São Paulo, que viria a se instalar na Avenida Doutor Arnaldo em 1932, antes da formação da Universidade de São Paulo. Não se contava ainda com o Hospital das Clínicas, que só se instalaria em 1944.
Ela colaborou também no Instituto Biológico e o professor José Reis nos anos 1930, seguindo a tradição já existente na Europa sobre estes tipos de assuntos, como de vegetais abundantes no Brasil, que despertavam interesses entre pesquisadores consagrados. Sem as contribuições das ilustrações como as dela muitos alunos da medicina e da biologia teriam dificuldades nos seus aprendizados.
As notas referentes aos textos dos diversos capítulos do livro, bem como o minucioso levantamento de onde constam as suas ilustrações, além das fontes de pesquisa e bibliografia, fazem jus aos trabalhos mais acadêmicos publicados no Brasil. Na realidade, todo o avanço que ocorreu na medicina como na biologia neste país teria encontrado limitações não fora o importante trabalho efetuado por Lilly Ebstein Lowenstein, que fica preservado com a publicação deste importante livro.
20 de novembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais, Notícias | Tags: a evolução da vida de um estudante em Tóquio dos seus seis anos ate os vinte e um anos, diferenças com o Ocidente, intercâmbio do Japão com a Europa no início do século XX, Ogai Mori e Vita Sexualis, últimos lançamentos
A editora Estação Liberdade que teve o seu primeiro grande sucesso com a tradução do livro de Miyamoto Musashi, trabalho excepcional da minha amiga Leigo Gotoda, promove o lançamento de diversos livros escritos por autores japoneses, como este de Ogai Mori, Vita Sexualis. Uma ótima tradução de Fernando Garcia que também oferece ricas observações e explicações permitindo o melhor entendimento dos leitores sem grande familiaridade com a literatura japonesa, numa apresentação primorosa. Os que esperam encontrar descrições escandalosas de encontros sexuais podem ficar frustrados, pois naquela época mais do que hoje existiam diferenças acentuadas nas visões da cultura japonesa, que era muito reservada, e brasileira, que era mais livre sobre estes aspectos sexuais. O importante é que a editora tem a coragem de enveredar por campos que podem gerar algumas más interpretações de alguns leitores menos informados.
No Oriente, notadamente no Japão, parece que estes assuntos que podem ser delicados, como os primeiros conhecimentos sexuais de meninos japoneses, costumam diferir das visões maliciosas que já predominavam na Europa na época, onde o conceito de pecado era relevante. Minha pequena experiência pessoal é que a partir da estética como nas xilogravuras de ukiyo-e de Hokusai, que ilustra a capa do livro, as figuras femininas e masculinas japonesas estão bastante vestidas, somente sugerindo que estão se preparando para atividades sexuais, com todas as partes sensuais escondidas. No Ocidente na época, o padrão de beleza parece ter sido determinado pelas mulheres nuas que pelos critérios atuais seriam exageradas em peso, como pode ser observado em muitas fotografias da época.
Ogai Mori, autor de Vita Sexualis
O livro é autobiográfico e relata as experiências de um estudante em Tóquio no início do século XX, dos seus seis anos aos 21, quando vai para a Alemanha estudar medicina, interessando-se também por aspectos da literatura e filosofia europeia. Dá uma boa noção do que era a vida dos jovens estudantes em Tóquio naquela época, como pode ser constatado em outros livros da época.
Informa sobre o que ocorria na vida noturna de Tóquio, descrevendo como era o bairro de Yoshihara onde se concentravam os prostíbulos daquela capital na época, que podiam ser frequentados somente pelos que contavam com muitos recursos. Mas não entra nos detalhes das suas experiências, que é focado de forma muito discreta, como era na cultura japonesa de então, ainda que artistas de ukiyo-e retratassem cenas mais ousadas para os padrões japoneses, com as figuras das cortesãs .
Observa-se que estava em voga a influência filosófica europeia no Japão, que procurava reproduzir estas preocupações no texto do livro. O autor foi um médico formado na Alemanha, como era muito comum entre estudantes de famílias de posse de todo o mundo, e ele teria atuado na Guerra Nipo-Russa.
Todos os leitores que possam estar interessados nestes livros de autores japoneses encontram muitos deles editados em português pela Editora Estação Liberdade, com apresentações de qualidade, com uma seleção respeitável. A editora normalmente me contempla com exemplares dos seus lançamentos, que costumam ser muito interessante, ainda que nem sempre se conte com o tempo desejável para um exame mais acurado.
19 de novembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais, Gastronomia, Notícias | Tags: alimentação barata faz sucesso com clientes estrangeiros, artigo sobre ramen no exterior no The Japan News, sabores e ingredientes locais
Um artigo publicado por Jin Kiyokawa, do Yomiuri Shimbun, divulgado pelo site do The Japan News, informa que, além do sushi e sashimi que são dispendiosos, está havendo um verdadeiro boom de interesse dos norte-americanos e europeus sobre variações do ramen, devidamente adaptado aos sabores e ingredientes de preferências locais, surpreendendo até os japoneses responsáveis pelas cadeias de lojas. Informa-se que já se dispõe de 650 estabelecimentos que estão satisfeitos com o sucesso. Como é sabido de muitos, existe um Museu de Ramen em Shin-Yokohama, que vem efetuando estes levantamentos, que hoje não se restringem ao Japão, selecionando os considerados melhores.
Yumeya, um estabelecimento popular de ramen em Frankfurt. Foto de cortesia do Shin-Yokohama Ramen Museum.
As adaptações que estão ocorrendo com o ramen são impressionantes, como o Zweite Ramen que inclui chucrute para complementar o rico caldo de carne, bem com pequenos pedaços de bacon, e uma especiaria conhecida como seiben para criar um sabor diferenciado.
Na França, está se servindo um ramen com um caldo de uma mistura de carne francesa com o dashi japonês. Existem estabelecimentos que servem o ramen com uma pasta elaborada com uma farinha de trigo usada nas massas de pizza e farinha de trigo dura para dar um sabor e uma textura diferentes.
Uma cadeia em Nova Iorque de nome Ippudo foi criada em 2008 e já conta com estabelecimentos até em Londres, todos apresentando algumas adaptações locais, tanto nos sabores como nos tipos distintos. Estão tentando desenvolver o que seria o padrão mundial.
A Ramen Setagaya opera restaurantes no Estado de Nova Jérsei e também no exterior. Muitos estabelecimentos foram instalados pelos expatriados japoneses que atuam no exterior, havendo casos de utensílios distintos. Um seria uma colher chamada Renge, que são maiores para os clientes poderem sorver o ramen junto com o molho, pois nem todos os estrangeiros conseguem consumir os caldos com as massas. Até vídeos estão sendo oferecidos para ensinar como os japoneses sorvem, fazendo um barulho característico.
No Brasil, também o ramen está muito popular como num estabelecimento chamado ASKA, no bairro da Liberdade. Existem dias em que os clientes necessitam aguardar por quase uma hora na rua, pois além do ramen ser saboroso, e vendido por um preço módico que atrai inclusive as famílias, além dos jovens que aprenderam a consumi-los quando trabalhavam temporariamente no Japão.
Todos sabem que o ramen é originário da China, onde pode ser apreciado em estabelecimentos na rua, que apresentam elevada qualidade. No entanto, no Japão sofreu mudanças e aperfeiçoamentos, principalmente nas variedades que são oferecidas, com diferentes ingredientes. Por ser barato acaba ficando acessível a uma ampla camada da população.
18 de novembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais, Gastronomia, Notícias | Tags: nas dificuldades o último apoio da família, no frio as comidas coletivas das famílias, uma cultura que valoriza a família
Quando se encontra no The Japan Times um artigo da Makiko Itoh falando de uma culinária em torno de um nabe (tipo de panela) com uma família compartilhando o seu sabor e calor neste outono/inverno japonês, me vem a lembrança de São Paulo da época da garoa, quando todos nos reuníamos em torno do hibachi (pote de fogo) para apreciar um prato que estava sendo cozido e de onde apanhávamos pequenas porções, ao mesmo tempo em que o calor era aproveitado para aquecer a todos e ao ambiente. Hoje existem fogareiros portáteis à gás, mas nos tempos como da Segunda Guerra Mundial o carvão proporcionava o fogo, e todos utilizavam até os cobertores para melhor aproveitar o calor para se aquecer. Era a forma de uma alimentação que reunia a família, numa refeição coletiva, que poderia ser de um sukiyaki (cozido de carne com legumes e outros ingredientes) ou um tirinabe (cozido que aproveitava os restos dos peixes). Que saudades destas coisas simples e importantes que ficarão sempre nas nossas gratas lembranças.
Hoje, fico triste vendo um casal num restaurante em São Paulo, mulher e homem (nem sempre), com seus sofisticados aparelhos eletrônicos, atentos às informações atualizadas, mas irrelevantes, ou até aos jogos que estão praticando, sem conversar quanto mais se comunicar. A refeição não é compartilhada, dando a impressão que não são seres humanos, mas robôs. Parece que perderam a humanidade, suscitando-nos vontade de interferir onde não somos chamados, para informar que em muitos lugares os celulares são proibidos nas mesas, tanto por incomodarem os vizinhos como para evitar estas tendências ao isolamento. Podemos chamar isto de avanço? Então vamos voltar ao que era bom no passado, que não podemos abandonar.
Um saboroso cozido como você quer que seja: o interessante sobre o nabe caseiro (panela quente) é que os ingredientes são os de sua preferência e é fácil de fazer (tradução livre). Makiko ITOH, publicado no The Japan Times
Os ingredientes destes pratos podem ser os de preferência dos consumidores, quer sejam carnes, peixes ou frangos, junto com verduras, legumes e quase sempre com tofu (queijo de soja), cogumelos e outros ingredientes. Os pontos de cozimentos podem ser também de suas preferência, havendo possibilidade dos temperos serem incluídos ou apreciados em separado.
A autora informa que este tipo de culinária já era utilizado no Japão no século XIX e se tornou mais conhecido no Período Edo, quando passaram a ser utilizados os hibachi. Os potes usados e mais recomendados são os donabe (de cerâmica) que conservam melhor o calor, mas também podem ser de ferro, havendo recentemente os de aço inoxidável ou de esmalte.
O gyo-nabe (de carne) foi utilizado na Restauração Meiji, quando os japoneses absorveram costumes ocidentais, como o consumo de carne bovina. Também existiu um período em que o bacalhau fresco era muito utilizado, por se tratar de um peixe com consistência mais firme. Hoje se utiliza também ostras, carne de porco em fatias finas.
Esta culinária é recomendada também para as crianças, pois muitas delas evitam verduras e legumes, que, quando preparado desta forma junto com carnes, acabam sendo melhor apreciados. A possibilidade de alternativas parece ser o forte deste tipo de preparo dos pratos, que sempre são mais apreciados no outono ou no inverno.
17 de novembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais, Notícias | Tags: avaliação internacional, importância mundial, música popular brasileira, novo lançamento do disco de Francis Hime
Não tenho a qualificação de um Zuza Homem de Mello para comentar sobre a MPB – Música Popular Brasileira e sua evolução, mas como simples consumidor desejo expressar a minha opinião sobre o assunto. Nos idos dos anos sessenta do século passado, quando o Brasil passava por grandes mudanças políticas, econômicas, sociais e artísticas, um grupo de brasileiros com a maior sensibilidade, inclusive poética, que não tinha o poder da força, impunha com sua arte uma revolução de criatividade. Retomava o que Heitor Villa-Lobos já iniciara, descobrindo nas coisas simples do povo brasileiro, com muita felicidade, uma nova visão do mundo. Uma releitura das mais caras tradições musicais do Brasil, como o samba com uma nova batida que se chamou Bossa Nova. Jovens da classe média se misturavam com o que tinha de mais popular no país, com o respaldo da estrutura musical de alta qualidade, inclusive a clássica, onde se destacavam músicos como Antonio Carlos Jobim, Francis Hime, Carlos Lyra e alguns outros que conheciam as bases do que se utilizava no que se chamava música erudita, que também se socorria sempre do folclore e das canções populares em muitos países.
Numa recente viagem por localidades como Cingapura ou Tóquio, observamos que em lojas de departamento, hotéis, restaurantes finos e outras localidades frequentadas por pessoas de bom nível intelectual de todo o mundo, o que mais se ouvia no ambiente era a música popular brasileira que reconhecíamos com alegria, ainda que com nova roupagem. Depois que a Bossa Nova foi buscar a contribuição do jazz que já era internacional, os brasileiros levaram para o mundo, notadamente via Estados Unidos, uma nova música popular que impressionava até consagradas personalidades como Frank Sinatra, como foi o intenso intercâmbio com Antonio Carlos Jobim. Eventos importantes de brasileiros foram improvisados e empolgaram nas salas consagradas como a da Carnegie Hall.
Muitos cantores populares, como Sérgio Mendes, descobriram o mercado norte-americano e começaram a divulgar pelo mundo, a ponto de eu ter ouvido em fins dos anos sessenta em Quioto, no Japão, um grupo que cantava imitando-o em português, imaginando que era em inglês, sem mesmo saber que se tratava de música brasileira.
A evolução continuou e continua a ocorrer por décadas, tanto no Brasil como no mundo. Hoje, o que se ouve no mundo é uma nova MPB enriquecida com outras tendências, já polida pelo jazz atual, utilizando o que há de melhor em gravações sofisticadas em estúdios, sempre tendo por base a criativa música brasileira. Todos sabem que Garota de Ipanema é a música mais tocada até hoje no mundo, nas mais variadas versões.
Assistindo no SESC Pinheiros ao show de lançamento do novo disco de Francis Hime, Navega e Ilumina, comemorativo dos seus 50 anos de carreira, tem se a impressão que se dispõe ainda em pedra bruta de um verdadeiro diamante da mais elevada qualidade, que, com todo o respeito que se deve dar ao pioneiro selo SESC, merece uma edição de qualidade internacional como os que são feitos no Japão, lapidado com o que se dispõe de melhor em tecnologia. Todos os grandes artistas brasileiros gravam no Japão, que, além de contar com um expressivo mercado interno, ajuda a promover a exportação para outros países.
A capa do novo CD de Francis Hime
O que não se deve esperar é que Francis Hime continue com a voz de quando jovem, pois mais que intérprete sempre foi um grande compositor, que criou músicas da mais elevada qualidade e sofisticação para letras elaboradas por muitos parceiros consagrados como Vinicius Moraes, Chico Buarque de Holanda e muitos outros. Fantasia para Violino, com arranjo e interpretação do maestro Claudio Cruz, é algo raro de ser encontrado mesmo nas melhores músicas eruditas.
Lamentavelmente, como os cantores acabam ganhando mais destaque no mercado brasileiro, muitos compositores insistem em fazer suas gravações por aqui, ainda que pudessem contar com intérpretes melhores.
Além do que consta deste novo CD Francis Hime, ele dispõe de um dos melhores acervos de trabalhos de elevadíssima qualidade que merece ser lapidado nos melhores estúdios disponíveis. É preciso aproveitar o momento áureo da melhor música brasileira nos mercados mundiais para um lançamento de qualidade internacional. Não há de faltar empresários interessados nesta empreitada, que, além de divulgar o que existe de criativo nas artes brasileiras, mostra que existe um acúmulo de trabalhos persistentes, conectado com o que há de melhor no mundo, que continua precisando mais do nunca desta alegria brasileira.
16 de novembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais, Gastronomia, Notícias | Tags: dificuldades até chegar ao estágio atual, extenso artigo no Wall Street Journal sobre a criação do atum, o trabalho da Universidade de Kinri
Há um consenso razoável de que hoje mais da metade dos peixes e outros frutos do mar, como o camarão, já são criados em cativeiro, e a grande maioria envolveu intensos e longos trabalhos para que isto se tornasse uma realidade. Os consumos destas proteínas saudáveis estão se elevando no mundo, principalmente depois que os chineses aprenderam a apreciar os produtos crus como os sashimis e o sushis, que antigamente eram inconvenientes dadas as condições sanitárias naquele gigantesco país. Contribuíram também as disseminações das culinárias japonesas e outras do Sudeste Asiático por todo o mundo, consideradas atraentes e saudáveis. Tudo indica que esta tendência do passado recente vai se intensificar no mundo nas próximas décadas.
Todas as criações, tanto dos camarões como dos salmões, também exigiram longos e intensos trabalhos. A do atum, principalmente os considerados de melhor qualidade, espécies conhecidas em inglês como bluefin e em japonês como o hon maguro (verdadeiro atum), que proporciona os mais apreciados toros na parte próxima a sua barriga, intensos em boas gorduras, exigiram grandes esforços, pois o estoque mundial de espécies naturais chegou a ser ameaçado com a intensidade das pescas e melhorias dos equipamentos utilizados para a sua localização, tanto no Pacífico como até no Atlântico, onde atuneiros trabalhavam ao longo de muitos meses. Técnicas de congelamento rápido também ajudaram a preservação de suas qualidades para transportes a grandes distâncias, consumindo longo tempo da captura até a sua comercialização nos grandes mercados como o de Tsukiji em Tóquio. Também foram aperfeiçoadas as técnicas de descongelamento até chegar ao consumo final com qualidade.
Uma parte desta memorável epopeia mereceu um artigo elaborado por Yuka Hayashi, publicado no The Wall Street Journal, que pode ser acessado em sua íntegra em inglês, podendo ser traduzido em partes com o uso do sistema da Google para tanto, no site http://online.wsj.com/articles/why-farmed-fish-are-taking-over-our-dinner-plates-1415984616?mod=WSJ_hp_EditorsPicks .
Destaca-se a persistência e dedicação por muitos anos do professor Hidemi Kumai sobre o assunto, ele que é professor emérito da Kinki University do Japão.
Professor Hidemi Kumai Produção de atuns em fazendas marítimas
O artigo informa que os trabalhos começaram em 1969 com a tentativa de dominar o ciclo completo da criação do bluefin, desde os seus ovos, os bebês, jovens e adultos numa tentativa de sua criação como se fora uma agricultura, sabendo-se que se tratava de um desafio imenso, como relata Hidemi Kumai, hoje com 79 anos.
Os pescadores consideram os professores como insanos, pois se acreditavam que o bluefin só se desenvolvia na natureza. O primeiro problema é que sua pele se desintegrava quando capturados. Em 2011 perdeu-se 300 peixes adultos de um estoque de 2.600 com um tsunami provocado por um terremoto, quando a maré provocou um escurecimento das águas, e os peixes entraram em pânico rompendo as redes.
Um tufão dizimou o seu estoque no ano passado, e neste ano os pesquisadores ficaram torcendo até começar a época da reprodução, pois o ano foi pródigo em tufões. Havia momentos que só se podia rezar, confessam os pesquisadores, como Tokihiko Okada, que cuida hoje da produção.
Houve um período em que os peixes não produziam os ovos, o que hoje é atribuído às mudanças de temperatura durante o dia, lição aprendida pelo acasalamento em outro local de pesquisas, ao sul do Japão.
Numa ocasião, 2 mil avelinos foram perdidos, todos com os ossos do pescoço quebrados. Descobriu-se posteriormente que eles entraram em pânico com a luz que foi acesa, depois de um apagão. As luzes intensas, devido a uma causa qualquer, deixam os peixes em pânico, exigindo que elas sejam mantidas acesas o tempo todo.
Hidemi Kumai tem vivido há cinco décadas próximo aos peixes, que considera como a sua família. Em 2002, a equipe foi a pioneira em conseguir produzir filhotes de pais que já haviam sido criados em cativeiro, completando todo o ciclo. Mas a taxa de sobrevivência ainda é baixa, quando comparada com a do salmão, que virou um negócio bilionário.
As pesquisas estão exigindo mais recursos, mas hoje já existem grandes grupos japoneses interessados nestes investimentos, tradings e inclusive um do grupo da indústria automobilística, pois o Japão é consumidor de 80% do total de capturas no mundo.
Já existem vendas de atum juvenis para serem engordados em fazendas de criação. Técnicas como as do kaizen, utilizadas nas indústrias automotivas, já são aplicadas na piscicultura. Muitos peixes morreram com a redução da temperatura, e rações foram criadas para os manterem quentes.
A taxa de sobrevivência está se elevando sensivelmente. As preocupações ecológicas estão aumentando, de forma que das rações de peixe que são consumidos em quantidade parte já estão sendo substituídas por rações de proteína vegetal.
Existem também preocupações com o sabor, pois os atuns selvagens são menos gordurosos, enquanto os criados são exagerados, mesmo que a gordura seja apreciada. Está se procurando corrigir sua alimentação. Também os criados são menos ágeis a evitar os perigos, como os choques entre eles. Há também preocupações com problemas de pragas, pois todos são de mesma origem, e cruzamentos estão sendo tentados com espécies selvagens. Existem, portanto, muitos problemas ainda a serem resolvidos, mas as pesquisas continuam.