Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Punição dos Bancos com as Manipulações no Mercado

12 de novembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias | Tags: informações no site da Bloomberg, manipulações das taxas de câmbio, manipulações das taxas de juros Libor, outras punições de funcionários

Os observadores do mercado financeiro ficam impressionados com as cifras iniciais das punições impostas pelos reguladores dos Estados Unidos, da Grã-Bretanha e da Suíça aos renomados bancos internacionais que chegam a US$ 3,3 bilhões, segundo as notícias divulgadas por Suzi Anel e Liam Vaughan no site da Bloomberg. Na Suíça, a UBS vai pagar mediante acordo mais de US$ 800 milhões, segundo declarações do Commodity Futures Trading Commission dos Estados Unidos, do Britain’s Financial Conduct Authority e do Swiss Financial Market Supervisory Authority. O Citigroup vai pagar US$ 668 milhões, o JPMorgan Chase US$ 662 milhões, o Royal Bank of Scothland cerca de US$ 634 milhões, o HSBC US$ 618 milhões, sendo que o Barclays que está negociando ainda não estava pronto para um acordo. São cifras assustadoras mostrando como o mundo está nas mãos de instituições privadas bancárias responsabilizadas por duvidosos comportamentos morais, que estendem suas influências sobre outras atividades econômicas.

barclayscitihsbcjpmorganrbsubs

As investigações das autoridades controladoras que já duram 13 meses ainda podem atingir indivíduos que atuaram neste mercado, pelos bancos como empresas coniventes, como gestores de fundos. As autoridades inglesas ainda estão fazendo investigações criminais que atingem o mercado de moedas, que chegam a US$ 5,3 trilhões por dia.

Como estas cifras foram estabelecidas nos acordos que foram estabelecidos visando reduções das punições, pode-se concluir que as irregularidades compreendem valores mais elevados e que as instituições e seus operadores usufruiram vantagens de valores superiores. Os reguladores estão pressionando os bancos a reverem os bonus concedidos a seus funcionários bem como seus dirigentes.

Segundo um diretor de uma das agências reguladoras, somente o Barclays está investigando suas práticas. Outros 30 bancos terão que fazer revisões de suas práticas e assinar compromissos para que elas não se repitam no futuro. Um operador do Bank of England, que já trabalhou por quase 30 anos como revendedor de câmbio, não teve provimento para ser isentado, ele que foi criticado num relatório disciplinar interno não relacionado com o câmbio.

As investigações iniciais foram no sentido de identificar se os operadores conspiraram as taxas de referência chamadas WM/Reuters para efetuar apostas não autorizadas, cobrando comissões excessivas. Mais de 30 deles foram demitidos, suspensos, colocados em licença ou renunciaram. As multas referem-se aos controles ineficazes nas margens das operações entre janeiro de 2008 a 15 de outubro de 2013.

Eles compartilharam informações sobre as atividades dos clientes que tinham confiado a manter confidencialidade e tentaram manipular taxas de câmbio em concluio com operadores de outras empresas, de forma a prejudicar os clientes e o mercado, segundo as autoridades. Uma dezena de bancos já foram multadas pelo menos em US$ 6,5 bilhões nas investigações sobre a taxa de juros Libor e seus derivados. Já provocaram revisões mais amplas nos parâmetros de avaliação utilizados nos mercados de petróleo e metais preciosos.

Lamentavelmente, os comportamentos do setor financeiro não apresentam parâmetros morais que permitam confiar em muitas de suas operações.


A Difícil Arte de Exercício da Política Econômica

10 de novembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias | Tags: artigos no Valor Econômico relacionados com o encontro sobre política fiscal, dificuldades em situações de mudanças dinâmicas, medidas de estímulos e contrações fiscais

Muito diferente de exercícios acadêmicos, os profissionais de economia que tiveram experiências de responsabilidades no exercício da política econômica acabaram aprendendo o quanto é difícil a arte de combinar os diversos instrumentos, como monetários, fiscais, controles de diversas naturezas como os salariais, nos quadros dinâmicos em que as situações vão se alterando numa economia, tanto do ponto de vista interno como condicionado pelo contexto que se encontram nos seus relacionamentos com a economia mundial. Os muitos participantes do importante encontro sobre política fiscal, com suas diferentes experiências e pontos de vista, tiveram a oportunidade de apresentar subsídios neste evento patrocinado pela FGV – Fundação Getúlio Vargas que merecerão as atenções de todos quantos se preocupam com estes assuntos. Alguns dos relatos foram registrados por Tainara Machado e Arícia Martins e constam do site do Valor Econômico.

Personalidades como o professor Antonio Delfim Netto, Yoshiaki Nakano, Barry Eichengreen e Vitor Gaspar tiveram seus relatos registrados, mostrando que a situação para o aumento da taxa de crescimento econômico do Brasil apresenta dificuldades, dentro do quadro fiscal, monetário e de relacionamento com a economia mundial, tendo em vista a necessidade de manter o endividamento público em níveis controláveis, sem agravar as tensões inflacionárias. Como houve necessidade de medidas anticíclicas nos momentos em que a economia mundial entrava em recessão, hoje existem limites para o uso dos diversos instrumentos de política econômica, mas não deve haver exageros nas medidas contracionistas que acabem ampliando as dificuldades.

clip_image002nakano

Professor Antonio Delfim Netto                               Professor Yoshiaki Nakano

Visioni
MONETE FRA GENERAZIONI 
Nella foto: Barry EICHENGREEN 

Festival dell'Economia
Facoltà di Giurisprudenza Aula Magna
Trento, 1 giugno 2012
Foto Romano Magronevitor

Professor Barry Eichengreen                                      Vitor Gaspar

O professor Delfim Netto deixa claro que o Banco Central ficou sobrecarregado com o problema de combate à inflação, quando a política fiscal e outros segmentos não ajudavam no mesmo sentido, como com o exagero de contabilidades criativas e reajustamentos salariais acima do aumento da produtividade. Mas recomenda cuidado nas contrações fiscais, para não acabar matando o paciente.

O professor Toshiaki Nakano se pronunciou a favor de uma drástica contenção fiscal, enquanto o professor Barry Eichengreen informou sobre as moderações nas medidas de política econômica devidamente coordenada nos seus instrumentos. Vitor Gaspar, do FMI, enfatizou as diferenças de situações dos diversos países em suas fases diferentes.

Todas estas contribuições devem ser examinadas nas suas íntegras, além do que foram apresentados nos artigos que necessitam resumir os pontos de vista colocados. De qualquer forma, o que parece é que subsídios importantes foram apresentados, mostrando o cuidado nas revisões e reformas propostas, não se encarando que elas sejam santos milagres que possam facilmente resolver os complexos problemas que apresentam outras condicionalidades existentes.


Conturbados Relacionamentos do Japão e da China

7 de novembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política | Tags: afirmações nacionais e dificuldades decorrentes do passado, análise no Financial Times, as tentativas e os problemas políticos, dois gigantes asiáticos

Um interessante e extenso artigo foi elaborado por Demitri Sevastopulo e Jamil Anderlini e publicado no site da Financial Times sobre as conturbadas relações entre os dois maiores gigantes asiáticos, o Japão e a China. Apesar dos intensos interesses bilaterais comercias e econômicos, as dificuldades políticos militares mal resolvidas que vêm desde o final do século XIV e se agravaram durante a primeira metade do século XX até o término da Segunda Guerra Mundial não facilitam as reduções dos atuais atritos como os decorrentes das disputas das ilhas Senkaku/Diaoyu, bem como as expansões militares chinesas que estão ocorrendo pelos mares que os cercam, para garantir as rotas de suprimento da China. O artigo pode ser encontrado com detalhes no: http://www.ft.com/intl/cms/s/0/23d132ae-64d5-11e4-ab2d-00144feabdc0.html#axzz3IQVPDRgM .

Os dirigentes de ambos os países sabem, para efeito de suas políticas internas, que as afirmações nacionalistas atendem uma significativa parcela de suas populações, aproveitando variados episódios para afirmarem e demonstrarem com pequenos gestos seus empenhos na defesa destas posições. Ainda que elas tenham poucos efeitos práticos, estes problemas demonstram o quanto estas questões psicológicas coletivas acabam dificultando posições mais pragmáticas. No subconsciente de muitos japoneses e chineses, ainda que estes assuntos não sejam explicitados, existem preconceitos que alimentam o caldo de cultura sobre estes assuntos delicados, que não conseguem ser superados pelos entendimentos diplomáticos.

É preciso reconhecer que as cooperações econômicas bilaterais já passaram pelos períodos áureos, quando a transferência de tecnologia do Japão para a China era mais relevante diante das diferenças dos conhecimentos tecnológicos. Hoje, já existem muitos setores onde a China conseguiu absorver conhecimentos que vieram sendo utilizadas pelos chineses nas montagens de avançados equipamentos eletrônicos de empresas internacionais.

clip_image001clip_image002

Ainda que existam substanciais diferenças das rendas per capita, as dimensões populacionais, que são acentuadamente diferenciadas, fazem com que a amplitude dos mercados acabe sendo importante, notadamente quando a economia chinesa continua mantendo, ainda que com problemas, uma elevada taxa de crescimento, enquanto a japonesa está estagnada por duas décadas.

Muitas declarações a favor de entendimento entre os dois países ocorrem com frequência, no mínimo para o seu início. O momento parece oportuno, pois a economia chinesa continua sofrendo uma pequena redução no seu ritmo de crescimento, que ocorre com visíveis dificuldades. No Japão, efetuam-se esforços para o volta ao crescimento, inclusive com maciça injeção de recursos pelo chamado easing monetary policy, nem sempre com resultados efetivos. A cooperação entre os dois países seria de grande importância para a Ásia e para o mundo.

No entanto, parece que as preocupações políticas ainda superam as dificuldades para simples gestos, não permitindo um pragmático entendimento entre os dois países, mostrando que existem problemas que superam as conveniências econômicas. No plano individual, registra-se, no momento, o aumento do turismo de chineses, até como decorrência dos problemas que ocorrem em Hong Kong.


Interessantes Aperitivos Para Um Importante Evento

7 de novembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias | Tags: considerações baseados em longas experiências, encontro de política fiscal 2014 da FGV, entrevistas como de Vito Tanzi e Barry Eichengreen no Valor Econômico

A entrevista concedida por Vito Tanzi para Flavia Lima, publicado no Valor Econômico, é um interessante aperitivo indicando que o encontro promovido hoje pela Fundação Getúlio Vargas sobre política fiscal pode apresentar importantes subsídios para o Brasil e para o mundo. De décadas de trabalho acumulando uma rica experiência sobre problemas fiscais, Vito Tanzi, sempre considerado como um dos economistas que mais estudaram estes problemas, tendo experiências também no Fundo Monetário Internacional, mostra algumas limitações que não se restringem somente às autoridades, como das agências de rating que possuem poderes superiores à capacidade de suas análises. Algumas perigosas aplicações recentes, como as da easing monetary policy, podem acabar prejudicando mais o mundo que contribuindo para as difíceis soluções para a retomada do crescimento econômico em muitos países deste universo globalizado.

Não se pode entender que os problemas dos desequilíbrios comerciais em muitas economias do mundo podem ser resolvidos somente com a política cambial, provocando as desvalorizações de suas moedas. Ainda que isto resolva temporariamente os problemas de alguns, as reações que provocam de seus parceiros podem conduzir a perigosas guerras cambiais. E a prioridade para as exportações dependem também de um conjunto de outras medidas que tornem seus produtos competitivos no mercado internacional. Além disso, parece que fatores políticos e de novos comportamentos, como a redução da capacidade de reações aos desafios, podem criar também problemas.

clip_image002clip_image004

Vito Tanzi, autoridade mundial em assuntos fiscais, e Barry Eichengreen, da Universidade de Cambridge

Outros economistas, com larga experiência sobre a aplicação de políticas fiscais como as reformas que costumam ser cogitadas e que também participam do evento, devem mostrar que em países federativos como o Brasil apresentam dificuldades adicionais.

Também as exageradas recomendações que a política fiscal seja adotada de forma restritiva em países emergentes que apresentam problemas tanto de emprego como da necessidade de manutenção dos seus níveis salariais acabam mostrando que estes assuntos são mais complexos que parecem. Simples recomendações que podem ser formulados nos papéis encontram terríveis resistências políticas e de outras naturezas.

Espera-se que contribuições e debates que estão sendo travados mostrem o que é realmente exequível de ser adotado para contribuir na recuperação e desenvolvimento destes países.


A Economia Japonesa no The Economist

7 de novembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias | Tags: as dificuldades fiscais, efeitos controvertidos, necessidade de outras condições, novo impulso monetário do Bank of Japan

Parece fácil ao The Economist elogiar a maciça expansão creditícia do Bank of Japan comandada pelo presidente Haruhiko Kuroda, que nem dentro daquele banco central recebeu uma aprovação unânime, pois se trata de pimenta nos olhos dos outros. Os editores da revista inglesa reconhecem que a medida foi em dose mais que cavalar, fazendo com que os ativos do Bank of Japan superassem em muito ao do Banco Central Europeu e do Sistema Federal dos Estados Unidos. É preciso compreender que uma maciça easing monetary policy para provocar uma forte desvalorização do yen como esta acaba provocando dificuldades adicionais aos seus parceiros comerciais, como ocorre com as reclamações já feitas pelas autoridades filipinas, prejudicando outras economias mais fracas. Acaba estimulando uma guerra cambial, introduzindo incertezas adicionais para a economia mundial e não se constituindo em garantia da recuperação nem da economia japonesa, como reconhecido pelo artigo publicado.

Na minha modesta opinião, nenhuma política econômica pode concentrar todo o fogo num dos seus instrumentos, o monetário, quando o fiscal se encontra em sério risco, com o elevado nível do endividamento público do Japão. A elevação do imposto de vendas de 5 para 8% derrubou a demanda da classe média japonesa, e agora o The Economist afirma que não basta elevar para os 10% como já previsto e difícil de ser efetivado, mas chegar a 20% imaginável pelos mais radicais, de forma paulatina, algo como 1% ao ano. Além disso, muitas outras condições precisariam ser preenchidas, como as reformas mal definidas pela revista. Seria interessante que estas recomendações fossem propostas para o Reino Unido, para ver como arde a pimenta no próprio corpo. Uma recomendação desta natureza coloca em dúvida a sanidade dos seus redatores, como já vêm excedendo nas considerações políticas sobre o Brasil.

clip_image002

Gráfico publicado na revista The Economist

Existem analistas experientes que reconhecem que este tipo de recomendação se encontra atualmente em voga entre determinadas correntes de economistas, propondo fortes restrições fiscais para correção de desequilíbrios que estão se observando em algumas economias. Ainda que situações equilibradas do ponto de vista macroeconômico sejam desejáveis, há que se preocupar quando os remédios podem matar os doentes, notadamente as economias emergentes.

Deve-se reconhecer que a Coreia do Sul foi uma das primeiras a resistir às recomendações do FMI – Fundo Monetário Internacional alegando que a proteção do emprego e da renda dos seus recursos humanos era mais importante que as temporárias dificuldades de suas contas fiscais. Evidentemente, situações equilibradas proporcionariam mais tranquilidade para os credores externos, mas quando as dívidas externas não são tão cruciais, nem sempre a elegância macroeconômica deve ter tanta prioridade.

Mesmo reconhecendo que cada economia tem suas características próprias, e as experiências internacionais sejam sempre importantes, a análise correta da situação interna de cada país, principalmente dentro dos seus condicionamentos políticos, parecem ser recomendáveis ouvir-se um pouco mais a opinião daqueles que sofrem cotidianamente com os seus problemas, que nem sempre são compreensíveis para analistas estrangeiros, mesmo com as supostas capacidades de suas respeitáveis bagagens de experiências.


Expansão da Indústria Farmacêutica no Brasil

5 de novembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias | Tags: a experiência japonesa, correções possíveis, expansão exagerada

Num artigo elaborado por Stella Fontes, publicado no Valor Econômico, informa-se que o faturamento da indústria farmacêutica brasileira vem crescendo de forma interrupta desde 2010 de 9 a 11% anual, segundo informações fornecidas por Antônio Brito, da Interfarma – Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa, tendência que se estima deva sofrer um ajustamento no futuro. A entidade representa 55 empresas que respondem pelo varejo de 80% dos medicamentos de referência e 33% dos genéricos, 46% dos medicamentos isentos de prescrição e 52% dos chamados tarjados, que requerem prescrição médica, segundo consta do artigo mencionado. Esta expansão é explicada pelo aumento da nova classe média e o acesso dos pacientes a estes medicamentos, o que evidentemente está acima do razoável, estimando-se que o Brasil é o quinto mercado destes produtos no mundo, segundo informações de outras fontes.

Ainda que se preveja um arrefecimento deste crescimento no futuro, atribui-se a sua razão ao aumento de doenças de alta complexidade que exigem medicamentos de alto custo nem sempre acessíveis aos pacientes brasileiros. Ao lado destas informações, poderiam ser esboçadas algumas hipóteses que levam a este exagero. De um lado, uma parte da publicidade desta indústria volta-se aos médicos que prescrevem os medicamentos para os seus pacientes, e existem informações de algumas distorções neste processo. E o sistema de venda em pacotes, contendo mais medicamentos que os necessários durante o período prescrito pelos médicos, cujas sobras acabam virando problemas, com a necessidade de que sejam agora eliminados com critérios, de forma que não sejam consumidos indevidamente por desavisados.

clip_image002

Dados publicados no Valor Econômico

Uma experiência com as farmácias no Japão poderia ajudar a sanar parte dos exageros. Mesmo com as prescrições médicas, os pacientes naquele país são obrigados a preencherem informações médicas adicionais nas farmácias, para verificar a possibilidade de algumas reações ou incompatibilidades, o que é de responsabilidade de uma farmacêutica habilitada.

Os fornecimentos dos medicamentos são por unidades, dentro da quantidade indispensável para a prescrição médica com detalhes das dosagens e de quando devem ser utilizados, pelos dias prescritos. As farmacêuticas esclarecem as finalidades perseguidas por estes medicamentos, bem como individualizando cada um deles, quando são mais de um. Com isto, não há possibilidade de haver sobras que não sejam utilizadas, fazendo com que os custos sejam menores do que os dos pacotes. As farmácias contam com uma dependência para estes controles, como costumam ocorrer nos hospitais.

Ainda que haja uma pequena demora, todos estes detalhes deixam os pacientes mais tranquilos, esclarecidos devidamente, e com a possibilidade de uma economia, quando as dosagens prescritas não atingem o conteúdo de um pacote. Tudo indica que para estes aperfeiçoamentos seriam necessárias algumas medidas adicionais da ANVISA, mas estabeleceu-se entre os governos brasileiro e japonês um acordo de cooperação, que poderia ajudar na introdução de um aperfeiçoamento desta natureza, que beneficiaria toda a população.


O Custo das Refeições Fora de Casa em São Paulo

4 de novembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias | Tags: comparação com as alimentações em Tóquio, indicação de algo errado na economia brasileira, média dos restaurantes do Roppongi Hills

Atualmente em São Paulo, para um almoço chamado executivo nos restaurantes de média qualidade, compreendendo uma entrada, um prato principal e uma sobremesa, acompanhado de água mineral, café e os serviços, a conta fica no mínimo em R$ 70 por pessoa que ao câmbio atual em torno de R$ 2,50 por dólar norte-americano representaria algo em torno de US$ 28. Para um jantar normal, o seu custo chegaria a algo em torno do seu dobro, pois não costuma existir jantares executivos. Ocorrem muitas queixas dos estrangeiros sobre estes custos, e, para efeito de uma simples comparação grosseira, vamos utilizar os preços de jantares dos restaurantes constantes de um guia para gourmet no luxuoso Roppongi Hills, um dos melhores conjuntos existentes em Tóquio, que costumava ser considerada a capital de custo elevado no mundo e hoje figura como bastante razoável.

Os preços mais frequentes começam em yen 2.000 e chegam a yen 4.000 que, ao câmbio atual em torno de 115 yens por dólar norte- americano, chega-se a menos de US$ 24,00 até US$ 48,00 por pessoa, compreendendo entradas mais ricas, prato principal mais sofisticado e uma sobremesa simples, que é uma refeição completa, pois no Japão não existem almoços ou jantares executivos, mas conjuntos completos. Evidentemente existem exceções nos restaurantes considerados de alto luxo que superam estes custos, mas, mesmo assim, poucos chegam ao seu dobro. Os restaurantes que frequentei numa viagem recente, tanto neste Roppongi Hills como em Omotesando, considerado a localidade de mais alto luxo muito frequentado pelos estrangeiros, apresentavam padrões de qualidade bem elevados comparados com os de São Paulo, mal chegando ao preço de US$ 50 por pessoa, sem bebidas alcoólicas cujo preço, em qualquer lugar, depende de suas qualidades, variando de forma substancial.

clip_image001

Alguns exemplos de restaurantes no Roppongi Hills

O que utilizei no Roppongi Hills foi o Sakanaya Rokuzo que por ser especializado em peixes e outros frutos do mar costumava ser mais dispendioso em qualquer lugar do mundo. Hoje, salvo os de elevadíssima culinária japonesa, os estrangeiros como os franceses estão com preços mais elevados, notando-se a elevação do consumo de carnes, que aumentaram no Japão e cujos preços se tornaram razoáveis, possivelmente diante da redução das tarifas de importação de outros países.

Em Omotesando utilizei um restaurante pertencente a pequena rede de culinária veggie, que também incluía alguns pescados e seus ovos, de extrema criatividade, chamado Creat Restaurante que conta com muitos agricultores fornecedores exclusivos. Para os brasileiros seriam novidades difíceis de serem obtidas para jantares, e ainda assim os preços estavam nas faixas citadas. Já postei um artigo neste site sobre este restaurante.

Os câmbios nos dois países estão muito voláteis como em todo o mundo, sendo que no Brasil o real está ainda muito valorizado, enquanto no Japão o yen está desvalorizado, mesmo com as correções que estão se observando recentemente. Até a algumas semanas atrás as comparações seriam piores para os restaurantes brasileiros.

Os indícios que se devem parcialmente aos câmbios decorrem da comparação de outros preços, como de táxi, e outros serviços. Ainda que a carência de recursos humanos no Japão esteja limitando as qualidades dos serviços, ainda estão melhores que no Brasil ou na Europa, o que era mais acentuado tradicionalmente.

Os japoneses sempre contaram com culinárias de boa qualidade, tanto japonesa como estrangeiras, sendo que mesmo que no Brasil haja uma tendência para a sua melhora, ainda não podem ser consideradas boas do ponto de vista internacional, mesmo contando com ingredientes invejáveis.

Tudo isto mostra que existem reformas substanciais a serem introduzidas, que não só limitam somente aos câmbios e as possibilidades de competitividade dos produtos industriais como de muitos serviços básicos.


Mercado Externo de Tsukiji

4 de novembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Economia, Editoriais, Notícias | Tags: 365 dias ao ano, a região do mercado de Tsukiji, além dos tradicionais sushi e sashimis, operam atualmente 24 horas por dia, tudo para culinária

Apesar de ter sofrido alguns problemas com determinadas matérias que afetaram a sua credibilidade, o Asahi Shimbun continua sendo considerado um dos mais importantes jornais japoneses. Vem publicando uma série imperdível de artigos sobre o que chamam Tsukiji exterior, ou seja, cerca de 400 estabelecimentos que ficam em redor do mais famoso mercado de peixes do mundo. São especializados em sushi ou “kaisendon”, uma tigela de arroz coberto de frutos do mar. Hoje, já existem cadeias destes estabelecimentos como o “Sushizunmai”, que opera nada menos que 53 estabelecimentos no Japão, sendo nove da área de Tsukiji, segundo o artigo elaborado por Noriyuki Shigemasa, do site do Asahi. Os que oferecem estes “kaisendon” representam cerca de 20% destes 400 estabelecimentos da região.

O artigo informa que existem algumas reações a estas redes, mas os mais conscientes concorrentes informam que eles estão atraindo mais turistas, até estrangeiros, para a região, introduzindo o hábito de operarem 24 horas por dia, inclusive feriados e fins de semana. Para os que não conhecem a região, além destes restaurantes que aproveitam os frutos do mar frescos adquiridos no famoso mercado, encontram-se milhares de estabelecimentos que vendem tudo que se possa imaginar para ser utilizado na culinária japonesa. Desde ingredientes, dos mais caros aos mais populares, como panelas, facas, e outros produtos difíceis de serem imaginados. Existem estabelecimentos especializados somente nos enfeites dos pratos da culinária japonesa, que variam de acordo com as características da época, como galhos de cerejeiras em botão, para servirem de descanso para os hashis.

Existe um site oficial sobre este mercado externo de Tsukiji no: http://www.tsukiji.or.jp/english/index.html que está em inglês, mas pode ser traduzido eletronicamente, ainda que não seja perfeito, mas compreensível até em português. Quase tudo que se desejar saber sobre este mercado pode ser encontrado neste site. Eu costumo visitar os mercados em todas as localidades que visito, pois dão uma ideia de como se alimentam as populações das mais variadas partes do mundo. Mas, toda esta região de Tsukiji é uma das mais impressionantes que se possa encontrar no nosso universo.

clip_image001

Uma das muitas ruelas em torno do Mercado de Tsukiji, numa hora excepcionalmente tranquila

O jornal publica histórias pessoais de personagens importantes da região, como da evolução ao longo do tempo desta região, que já passou por crises e hoje está plenamente recuperada, ainda que a economia japonesa não esteja muito bem. Além dos turistas, muitos executivos que trabalham na região de Ginza, que é próxima, costumam almoçar nestes estabelecimentos, que contam com produtos frescos de boa qualidade. Os preços das redes são mais elevados, mas também existem pequenos estabelecimentos que atuam com preços razoáveis.

Muitos funcionários das empresas e compradores que visitam as lojas de departamentos que existem em Ginza também aproveitam o fato de estarem na região para fazer suas refeições antes de voltar para suas casas. Existem redes que ficaram conhecidos pelo aproveitamento de pequenos espaços, becos nas entradas de alguns pequenos edifícios da região.

Muitos consideram que o principal estabelecimento da região seria o Tsukiji Sushisay, que foi criado na região de Nihombashi, considerado o centro de Tóquio, em 1889. Depois do grande terremoto de 1923, foi transferido para o local atual, próximo ao mercado. Existem algumas preocupações, pois o mercado de peixe está programado para ser transferido em 2016, mas muitos acreditam que a marca Tsukiji é muito forte, e que vai se encontrar algumas soluções para que este distrito continue sendo importante para a continuidade da maioria dos estabelecimentos que atraem compradores profissionais, clientes habituais como turistas de todo o mundo.


A Falsa Impressão da Divisão Política do Brasil

31 de outubro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Política | Tags: análises distorcidas pelos desejos, necessidade de uma maior isenção nas análises dos dados, os dados divulgados pela Folha de S.Paulo

Como resultado de uma eleição democrática, algumas pessoas estão disseminando a impressão de uma profunda divisão da sociedade brasileira do ponto de vista ideológico, regional ou de situações econômicas. Os dados que estão sendo publicados pelo jornal A Folha de S.Paulo mostram que os votos para a reeleição da presidente Dilma Rousseff que algumas destas ideias podem ser distorcidas, pois ela conseguiu resultados favoráveis para a reeleição em muitos segmentos onde os votos poderiam beneficiar a oposição. Na realidade, os partidos políticos não parecem refletir posições ideológicas, nem existem confrontos entre os mais privilegiados e os menos favorecidos, mostrando que até os programas sociais não tiveram a influência atribuída por muitos analistas.

O resultado mais difícil de ser explicado pelo candidato opositor é sua derrota no Estado em que governou por dois mandatos, procurando disseminar a ideia de que se tratava de um grupo de diferenciada capacidade de gestão pública. Na realidade, os eleitores brasileiros parecem votar nas pessoas que supõe conhecerem mais profundamente e nem a imprensa consegue ter a influência que julgam possuir, tanto a escrita, que conta com número limitado de leitores, como a televisiva, que reflete somente uma forma de vida que não é a do cotidiano dos brasileiros. Todos sabem que existem muitos aperfeiçoamentos políticos e eleitorais indispensáveis, mas que não aparentam ser possíveis de serem introduzidas com facilidade.

14300582

Editoria de Arte Folhapress

No fundo, muitos analistas parecem refletir mais seus desejos do que conhecimentos que são decorrentes dos dados objetivos da eleição. Não parece que as posições ideológicas estejam tão claras, pois a maioria dos partidos conta com facções que se relacionam com seus interesses mais imediatos e nem sempre do país. É preciso compreender que o atual regime vigente no Brasil não é exatamente o que estava cogitado na época da elaboração da Constituição de 1988, que era basicamente parlamentarista, mas que acabou virando presidencialista, pelo desejo de alguns dirigentes influentes da época, sem que todas as mudanças necessárias fossem feitas. A principal dificuldade consiste na Medida Provisória, instrumento eminentemente parlamentarista que se não aprovada pelo Congresso determinaria a mudança do governo, sem grandes traumas, como acontece em muitos países de regime parlamentarista.

É evidente que qualquer regime tem dificuldades para ser administrado com tantos partidos, pois não fica claro quem possui a maioria que deve governar o país, sendo que os eleitores brasileiros votam no candidato e não no partido. Também no sistema eleitoral, haveria conveniência de um sistema de barreira, pois os partidos que não conseguissem um mínimo de representantes no Congresso só poderiam ter vida regional, talvez em alguns Estados.

Temos evidentes dificuldades com o sistema federativo, que se procura atender todas as diferenças regionais que existem no país, mas o poder existente na União é grande, não havendo ninguém que é eleito para a sua defesa, tirando-se o presidente da República. Os congressistas são eleitos nos Estados.

Se existem classes econômicas que se diferenciam no país, tudo indica que os mais privilegiados são em número mais limitado, e os que elegem seus representantes são os menos favorecidos, que habitam também as periferias das grandes metrópoles. A simples introdução do sistema eleitoral distrital não parece capaz de corrigir a relação entre os eleitores e seus representantes, havendo necessidade de um sistema misto que permita que alguns representantes reflitam os pensamentos do partido, criando condições de defesa dos interesses da União.

Tudo aparenta que existem muitos aperfeiçoamentos a serem introduzidos, o que não parece refletir os interesses dos recém-eleitos parlamentares.

Análises muito simplificadas não aparentam ajudar na melhor compreensão de uma situação que parece muito mais complexa.


O Boom dos Investimentos Imobiliários no Japão Atual

25 de outubro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias | Tags: a construção civil no Japão, construção como medida de ativação das economias, excessos difíceis de serem controlados

O que vem acontecendo em diversas economias do mundo é o uso abusivo do setor de construção civil procurando ativar as economias pelos seus impactos variados por diversos setores. Isto se observa tanto nas economias industrializadas como nas emergentes. Na China, todos sabem que o setor de construção, tanto dos edifícios comerciais como residenciais, além dos projetos de melhoria da infraestrutura, principalmente de transportes, vieram sendo utilizados com substanciais incentivos tanto nacionais como locais, inclusive financiamentos do mercado paralelo. Como as performances dos dirigentes públicos sempre foram avaliados para promoções no Partido Comunista pelo crescimento econômico, muitos utilizaram a construção para obter ascensões desejadas. Muitos destas construções estão hoje subutilizadas, pois houve um excesso de investimentos visando ganhos de capital até pelas famílias, mas como alguns não apresentam a adequada viabilidade econômica ou possibilidade de aluguel ou revenda, e os tomadores de empréstimos não têm condições de honrar os empréstimos contraídos. Hoje, fica claro que parte do crescimento econômico chinês só pode ser mantida, pois alguns destes empréstimos eram, na realidade, subsídios governamentais, não apresentando condições de serem honrados.

O mesmo acontece nas economias de mercado do tipo capitalista. Costumam existir períodos em que há uma generalizada ideia de que espaços adicionais são necessários para atender as economias projetadas com crescimentos que nem sempre se verificam. No Japão atual, depois da implantação da chamada Abeconomics do atual governo, tentando sair de um longo período de deflação e sem crescimento econômico ao que se acrescenta um decréscimo populacional, a construção civil passou por um verdadeiro boom recente e atual com investimentos privados. Mas, como a economia não vem crescendo como se esperava, ao mesmo tempo em que a mundial apresenta um crescimento modesto, tudo indica que o volume das novas construções acabou sendo exagerado para as necessidades. Muitos imóveis não tão velhos acabaram sendo derrubados para a construção de empreendimentos ousados de grandes dimensões, como pode ser observado nos mais variados lugares, inclusive na capital Tóquio.

clip_image002

Centenas destas novas construções podem ser vistas em Tóquio

Até analistas japoneses conscientes estão veificando que estas novas construções em Tóquio e outras cidades japonesas podem gerar problemas, quando estiverem prontas, o que ocorre com grande velocidade. As tecnologias japonesas disponíveis, além de resistentes aos terremotos, utilizam estruturas pré-fabricadas que permitem que grandes edifícios sejam concluidos num prazo curto quando comparado com outras partes do mundo, notadamente no Brasil.

Como o custo da mão de obra no Japão é elevado, a construção civil, além dos materiais pré-fabricados, é intensiva em equipamentos. Por toda a parte, os visitantes de Tóquio notam construções gigantescas, quando já existem espaços abundantes, e ao mesmo tempo nota-se que o número de compradores das lojas já diminuiram. Sente-se que podem ocorrer dificuldades com esta bolha imobiliária, difícil de ser absorvida por uma economia que cresce modestamente, com redução da população. Mas, estas tecnologias poderiam ser aplicadas em países emergentes, que ainda contam com espaços para o desenvolvimento, como no caso brasileiro, com grande eficiência, custos baixos, economia de energia e de recursos humanos.