Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Problemas das Corrupções na China e a Indústria do Petróleo

5 de setembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia e Política, Editoriais e Notícias | Tags: a dimensão dos interesses, outras dificuldades potenciais, tentativas de desmembramentos

Todos sabem das dimensões e dos poderes históricas das indústrias petrolíferas no mundo. Um artigo elaborado por Tetsuya Abe, publicado no site do Nikkei Asian Review trata do assunto mostrando o que está acontecendo na China, onde o Presidente Xi Jinping tenta eliminar a corrupção e onde Zhou Yongkang, um ex-membro poderoso do Politburo daquele país aparece como alvo principal, por ter acumulado uma fortuna estimada em US$ 14 bilhões. Quando em 1988 foi criada a CNPC – China National Petroleum Corp juntamente com duas outras estatais, a Sinopec – China Petrochemical Corp e a China National Offshore Oil Corp estes assuntos petrolíferos estavam sob o comando de Zhou Yongkang.

A Sinopec, de acordo com a Fortune, teve em 2013 um faturamento de US$ 457,2 bilhões, o terceiro das empresas no mundo, depois da Wal-Mart Stores e da Royal Dutch Shell, contando com o monopólio do mercado interno chinês e protegido pelos regulamentos governamentais. Mas, seu lucro líquido sobre as vendas foi de 2%, enquanto os gigantes de petróleo dos Estados Unidos e da Europa variavam entre 4% a 8%, o que levantava dúvidas sobre a sua eficiência, que permitia o dreno de parte dos seus resultados. A National Audit Office da China levantou dúvidas sobre um montante de US$ 4,24 bilhões na Sinopec entre os anos 2006 e 2013.

clip_image002


clip_image003

                                                   China Petrochemical Corp.

clip_image004

                                            China National Offshore Oil Corp.

Estas três empresas estatais chinesas contam com subsidiárias estão parcialmente listadas nas bolsas com 60% do total dos seus ativos.

O governo de Xi Jinping tenta fazer uma reforma para promover uma privatização das empresas petrolíferas, mas existem resistências. A Sinopec anuncia que irá vender 30% das suas ações em subsidiárias em postos de gasolinas para empresas privadas chinesas.

No entanto, acaba ficando a suspeita, segundo o artigo da Nikkei Asian Review que Xi Jinping estaria seguindo o exemplo russo de Vladimir Putin, acabando por criar um novo foco de corrupção.

Tudo isto estaria mostrando, também para o Brasil como outros países semelhantes como o México, que as privatização do setor de petróleo é complexo, exigindo transparências e controles democráticos e republicados, para não beneficiarem somente alguns grupos.


Nicholas Lardy Publica Livro Sobre a China

4 de setembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais e Notícias | Tags: a presença das estatais e menos importante do que imaginado, livro sobre a China, participação do setor privado

Nicholas Lardy, estudioso sobre a China, publicou um novo livro sobre a China, mostrando a importância do mercado naquele país, ele que é do importante organismo Instituto Peterson de Economia Internacional, de Washington, tendo sido entrevistado pelo The Wall Street Journal. Informa que as estatais chinesas não possuem a importância que todos lhes atribuem.

clip_image001                              Courtesy of the Peterson Institute for International Economics

Segundo o autor as empresas estatais chinesas respondem por cerca de um terço e um quarto do PIB – Produto Interno Bruto daquele país. Na indústria, representam 20% da produção nacional. Com a ampliação do setor privado, em muitos setores, as empresas privadas vem ocupando o espaço que eram das estatais.

Ele entende que a expressão “capitalismo do Estado” não se encaixa muito bem naquele país, até porque a política industrial tem sido um fracasso completo. O retorno dos ativos das estatais continua despencando, e em 2013 teria sido somente de 3,7%.

Ele entende que a China é, realmente, uma economia de mercado. O papel do Estado diminuiu drasticamente nos últimos 20 a 30 anos. O emprego no Estado na China é menor que na França. Na crise financeira mundial, a participação do Estado nos Estados Unidos e em outros países foi maior que na China para evitar os danos econômicos.

Sobre a atuação do setor financeiro, um grande percentual dos fundos chineses empresta para o setor privado, orientado pelo mercado. Ainda que não seja um sistema totalmente comercial, o sistema chinês é mais do que é notado por muitos analistas. Se o setor privado responde por dois terços e três quartos do PIB chinês, e não teriam atingido esta situação não fora os empréstimos bancários.

Com as reformas em andamento, os financiamentos destinados ao setor privado tende a crescer ainda mais. O controle do Partido Comunista é político, e muitos executivos são designados para postos privados pelo governo, o que é uma falha naquele país. O que está se ampliando é o setor de serviços, onde o controle estatal é reduzido.

Tanto as telecomunicações, os negócios de leasing como as operações logísticas são privadas, sendo fechado para os estrangeiros. Eles impõem custos elevados para o setor industrial.

Existem reclamações do setor privado, pois o poder de bloquear as reformas ainda é elevado nas estatais. Estão ocorrendo pressões das empresas privadas para que elas continuem cada vez mais competitivas em termos internacionais.

Verificando o que ocorre na China, como mais recentemente na Índia, grandes países emergentes nota-se que também no Brasil, se não se reduzir a presença estatal, não continuaremos competitivos em termos internacionais.


Capacidade Ociosa da Indústria Pesada Chinesa

4 de setembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais e Notícias | Tags: ajustamentos difíceis, alumínio e construção naval, capacidade ociosa da indústria siderúrgica chinesa, cimento, problemas também com vidros planos

Ainda que todos os dados chineses sejam astronômicos, um artigo elaborado por Adam Minter e publicado no site da Bloomberg menciona o que está acontecendo com a siderurgia chinesa e sua capacidade ociosa, afirmando que algo semelhante estaria ocorrendo também com as indústrias de vidros planos, cimento, alumínio e construção naval. No último fim de semana 300 executivos da siderurgia da China teriam se reunido no Beijing Landmark Towers, um hotel estatal, para a oitava reunião anual da China International Forum de Reciclagem do Metal para enfrentar a nova realidade. Na versão anterior do evento tinham usado o novo e luxuoso Le Meridian de Chongqing, reunindo 500 entusiasmados executivos do setor.

De acordo com Zhu Jimin, vice-presidente da China Iron and Steel Association, a capacidade da indústria de aço daquele país cresceu de 200 milhões de toneladas de fins de 2012 para 1,1 bilhão de toneladas, todas estatais. Para comparação os Estados Unidos em 2013 produziu apenas 87 milhões de toneladas. No primeiro semestre deste ano o consumo chinês foi de 376 milhões de toneladas, o que permite estimar que pudesse chegar a 700 milhões no ano, ou mais de 30% de capacidade ociosa. O governo Xi Jinping pretende encerrar as atividades das unidades mais poluentes e menos eficientes.

clip_image002            Indústria siderúrgica chinesa, muitas estatais controladas pelas autoridades regionais.

Com esta capacidade ociosa os preços do aço continuam a despencar, e no primeiro semestre deste ano caiam 8,79%, apesar das exportações fortes, inclusive para o Brasil.

O mesmo quadro se apresenta para as demais indústrias pesadas chinesas e o Conselho de Estado da China destacou também as de vidros planos, cimento, alumínio e construção naval. No aço revelaram a disposição de corta 27 milhões de toneladas de aço, além dos 10 milhões já reduzidos em 2013. Cortes maiores de cerca de 400 milhões de toneladas visam às fábricas poluentes que estão com tecnologias defasadas.

Ainda que estas reduções estejam programadas, ainda há um crescimento descontrolado de algumas em expansão. Existem subsídios que o governo está reestudando, financiamentos do mercado paralelos, corrupções e a maior parte do setor estar sob comando das autoridades locais.

Por ironia, mesmo na reunião mencionada, contava-se com a presença de stands de fornecimento de equipamentos inclusive por leasing, alguns deles para substituir os obsoletos.

Portanto, apesar das intenções do governo Xi Jinping é mais fácil de falar sobre o assunto do que executar as medidas dentro da mesma orientação, mesmo na China cuja economia é controlada de forma centralizada.

Com tudo isto acaba ocorrendo uma guerra no mercado internacional, fazendo com que as siderurgias brasileiras sofram parte de suas consequências.


Disseminação de Problemas Militares Pelo Mundo

3 de setembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais e Notícias, Política | Tags: problemas com os chineses nos mares da China, problemas com os russos na região da Ucrânia, problemas no Oriente Médio

Lamentavelmente, confrontos até militares estão se multiplicando pelo mundo de forma assustadora. A Rússia que se encontra numa tendência decadente depois da dissolução da antiga URSS – União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, onde explorava os países vizinhos, torna aguda a crise na região da Ucrânia, tendo já absorvido a antiga Criméia, fomentando a dissidência das populações de origem russa que ocupam partes destes países vizinhos. Os países ocidentais que contavam no passado com o policiamento mundial dos Estados Unidos, não contam mais com mecanismos para a solução destas dificuldades, mesmo que tenha ainda alianças como a da NATO – Organização do Tratado do Atlântico Norte. Eram as forças militares norte-americanas que tinham o poder para exercerem pressões operacionais para a solução rápida destes conflitos.

A expansão da China vem se efetivando pelos mares que os cercam, incomodando vizinhos que contavam antes com forças norte-americanas para evitar estes confrontos. Os desgastes que os Estados Unidos sofrem vêm se repetindo, começando no Vietnã, estendendo-se pelo Iraque, pelo Afeganistão e por muitas partes do Oriente Médio, junto com seus aliados, não permitem mais cogitar-se de suas participações na solução destas dificuldades na Ásia. As dificuldades de Israel com a Palestina, os problemas com a Síria e com as facções terroristas em países do Oriente Médio não podem mais ser resolvidos com a participação do país que era o líder mundial. Nem as Nações Unidas, que com o Conselho de Segurança que foram criadas depois da Segunda Guerra Mundial para evitar estas dificuldades internacionais não encontram espaços para as suas soluções, que além das ações diplomáticas, necessitam de forças militares, mesmo que elas não sejam utilizadas.

clip_image002                                        Sede das Nações Unidas em Nova Iorque

Se haviam dificuldades com o policiamento mundial dos Estados Unidos, o mal sem ele parece pior. Desde 1945 quando foi criada a Organização das Nações Unidas com o seu Conselho de Segurança, as grandes potências vencedoras da Segunda Guerra Mundial contam com o poder de veto dos Estados Unidos, da Rússia, da China, da França e do Reino Unido. Não se consegue que haja uma reforma considerando a complexidade mundial que é diferente da época da sua criação.

Como as principais dificuldades mundiais atuais dividem estes países que possuem poder de veto, não se consegue que haja uma decisão que permita a sua atuação, mesmo que não se espere que ninguém deseje uma guerra aberta. O fato concreto é que os países como a Rússia e a China vão ampliando as situações de fato, para aumentarem o seu poder, inclusive de uma negociação.

Evidentemente, atrás dos problemas político-militares estão os grandes interesses econômicos, como os relacionados com a energia e o suprimento de matérias primas estratégicos. Envolvem também a proteção das rotas indispensáveis para a garantia do seu suprimento estável. Não se podem relevar também os problemas étnicos de populações que se deslocaram pelas diversas regiões, e que se acentuam com a globalização econômica.

Parece, também, que não se dispõem de líderes estadistas que sejam capazes de conduzir os diversos países para soluções que sejam convenientes para todos, de forma estável e no longo prazo. O atual quadro de incertezas acaba afetando a todos, notadamente os países emergentes e menos desenvolvidos, que necessitam fomentar suas produções para conquistar estágios superiores de padrão de vida para suas populações.


Agricultura Empresarial Japonesa

3 de setembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais e Notícias | Tags: agregando valores, artigos no Japan News, grandes grupos numa agricultura tecnificada, psicultura, substituindo uma agricultura de idosos, versão em inglês do Yomiuri Shimbun

Três artigos publicados em inglês no Japan News informa com matérias elaborados pelos jornalistas do Yomiuri Shimbun as novas facetas empresariais da agricultura japonesa. No primeiro elaborado por Katsutoshi Samata informa sobre uma empresa chamada My Vegetable, do grupo Sojitz que funciona na província de Chiba para a produção de hortaliças produzidas em estufa como rabanete, rúcula e tomate cereja, para ser vendida diretamente para os consumidores pela internet.

clip_image002    Employees of My Vegetable Corp. tend plants in Midori Ward, Chiba. Publicado no Japan News.

Chiba sofre com o problema do envelhecimento dos agricultores que estão abandonando suas pequenas propriedades agrícolas, e a trading Sojitz fez um arranjo com a JA Zenno Chiba, a cúpula da agricultura japonesa, para criar um canal para explorar a agricultura de forma altamente técnica. Os funcionários trabalham de forma mais confortável, pois atuam sem necessitarem se agacharem.

A produção é hidropônica, pois as plantas são alimentadas por água a fertilizantes líquidos sobre uma camada de areia, não necessitando de solo.

Outro projeto é da Toyo Reizo do grupo Mitsubishi, cultivando o atum mais apreciado no mercado, o chamado blue fin na Província de Nagasaki, onde possuem duas unidades além de outra na Província de Wakayama. Visam atender as demandas internas e até voltadas para a exportação para a China. A matéria consta do artigo elaborado por Ayuhiko Sasaki do Yomiuri Shimbun.

clip_image004         Farmed blue fin tuna in the Goto Islands, Nagasaki Prefecture. Publicado no Japan News.

A Toyo Reizo produz os avelinos e cultiva o atum até atingir cerca de 30 quilos, o que leva de dois a três anos. Hoje os peixes cultivados chegam a representar metade dos consumidos no mundo.

Outro projeto na Província de Hokkaido é relatado por Ryo Nakamura, também do Yomiuri Shimbun e conta com a participação da Mitsui. Cultiva uma espécie de cebola que é considerada como auxiliar na prevenção da arterosclerose, bem como aliviar os sintomas da diabete.

O projeto está ligado com a Escola de Agricultura da Universidade de Hokkaido e produz a cebola Sarasara Red, que começou a ser produzida em 2005. Ela é mais doce e picante que as normais, sendo muito apreciada pelos consumidores. Já existe uma nova variedade chamada Sarasara Gold, que deverá ser exportada para os Estados Unidos e Hong Kong a partir de 2018.

A Mitsui planeja também desenvolver produtos processados como sopas e temperos para acrescentar valor agregado à cebola. Estas tentativas de aumentar o valor da produção decorrem dos custos elevados dos cultivos hidropônicos, com energia e os chamados vinil house, criando um clima adequado para o desenvolvimento das plantas.

O cultivo do atum já é efetuado em diversas partes do mundo, e os efetuados no Japão certamente contam com custos mais elevados. Mas, os mesmos contam com maior teor de gordura, propiciando os chamados toro, ou seja, partes que são mais apreciados e de valor mais alto.

clip_image005                                                         The Yomiuri Shimbun
                             Sarasara Red onions await harvesting in Kuriyama, Hokkaido.


Assumindo Riscos com Cautela

2 de setembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais e Notícias | Tags: compondo uma equipe competente, exposição de Jorge Paulo Lehmann, lições importantes, ousadia nos riscos

Com a credencial de ter acumulado em algumas décadas uma fortuna estimada em R$ 52 bilhões segundo a Forbes, o empresário e filantropo brasileiro Jorge Paulo Lehmann apresentou uma aula magna para os alunos da EBAPE – Escola de Administração Pública e de Empresas da FGV – Fundação Getúlio Vargas no Rio de Janeiro. Ele relatou a sua trajetória, que começou com algumas dificuldades, mas conseguiu consolidar-se com uma equipe competente formando o Banco Garantia, expandindo pela aquisição das Lojas Americanas, e a compra da Brahma, formando a AB InBev, o maior grupo cervejeiro do mundo, alem de controlar agora o Burger King, entre outros empreendimentos internacionais. Ele ressalta que não é um professor, não é um intelectual e não têm teorias complicadas, mas expôs o que acha importante na vida econômica e que não é discutido nas escolas, segundo um artigo publicado no site do jornal O Globo, segundo um artigo escrito por Maíra Amorim.

clip_image002
                     Caricatura do empresário bilionário e filantropo Jorge Paulo Lehmann –
                                       Arte/Igor Machado, publicado no O Globo

Ele considera, como primeiro aspecto, que o risco é importante, tanto na vida comercial como individual. Acredita que com muitos estudos, profissionais tentam transformar os riscos em formuletas matemáticas acabando por não tomar decisões. Segundo ele, a única maneira de aprender é ir treinando aos poucos. Quem não arrisca acaba ficando com a mediocridade igual a dos outros, e todo o mundo deve tentar ser excepcional fazendo algo diferente e especial, segundo o artigo.

Nascido em 1939, em 1960 com 26 anos ele estava com o nome sujo na praça. Ele optou por ficar no mercado financeiro profissionalmente. Ao invés de tentar um emprego numa grande organização, ele escolheu por começar com um pequeno empreendimento, que se transformou no Banco Garantia, onde foi capaz de reunir uma equipe competente, que entende como um ensinamento relevante.

Além de tomar riscos, com a devida cautela, ele entende que as pessoas de sucesso costumam serem fanáticos pelos focos, e ele cita Sam Walton que construiu o Walmart e até o Warren Buffet que é sócio dele em alguns empreendimentos. Outra lição é ter sonhos grandes, para conseguir sempre as melhores empresas, o que vem perseguindo na sua carreira.

Finalmente ele destaca a eficiência, sempre procurando melhorar o que for possível. Com o sucesso e a fortuna que acumulou tornou-se um filantropo, fundando o Instituto Lehmann que se dedica a proporcionar condições para a melhoria do conhecimento, como a tradução para o português das melhores aulas dadas nas universidades norte-americanas, que podem ser acessadas gratuitamente no Brasil.

Temos muito que aprender de suas preciosas lições.


Experiência de Raghuram Rajan no Banco Central da Índia

1 de setembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais e Notícias | Tags: experiência no FMI, na prática na Índia, ntrevista de Raghuram Rajan para o Financial Times no suplemento do Valor Econômico, sólida formação acadêmica

Uma interessantíssima entrevista concedida por Raghuram Rajan, presidente do RBI – Reserve Bank of India, a autoridade monetária daquele país, a James Crabtree do Financial Times foi publicado em português no suplemento Eu & Fim de Semana do Valor Econômico. Como a Índia é um grande país emergente que passa por uma tentativa de implantação de uma nova política econômica voltada ao mercado, vinda de um regime fortemente socialista, com o comando do Primeiro Ministro Narendra Modi, sua experiência pode dar boas indicações para o Brasil. Ele, como muitos economistas brasileiros estudou engenharia no Indian Institute of Technology, mas passou para a área da economia pelos seus trabalhos no Booth School of Business da Universidade de Chicago, e o doutorado no Instituto de Tecnologia de Massachusetts com uma tese “Essays on banking”. Trabalhou por um tempo no FMI – Fundo Monetário Internacional, tendo antecipado a crise mundial de 2007/2008.

                     clip_image002
                           Raghuram Rajan, presidente do Reserve Bank of India

Reconhece que a implantação da nova política pelo Primeiro Ministro Nerendra Modi vem ocorrendo de forma mais pausada do que se esperava com sua ascensão ao poder. A Índia também estava infestada pela corrupção, pois se tratando de uma economia ainda pobre, os empresários necessitavam da assistência das autoridades governamentais, o que propiciava um clima de favorecimento a aqueles que contribuíam para determinadas pessoas que ocupavam posições estratégicas.

Raghuram Rajan também reconhece que todas as grandes organizações, como o FMI ou o RBI contam com muitos grupos que ocupam posições estratégicas e possuem suas formas de expressarem seus interesses, não se recomendando mudanças bruscas nas suas formas de atuação.

Também se mostra realista, admitindo que ainda existam muitas dúvidas como se processará as mudanças no sistema financeiro internacional, que utilizou muito as facilidades monetárias, e necessitam começar reduzi-las, de forma cautelosa, não se sabendo exatamente o que vai acontecer. Como os fluxos financeiros internacionais são elevados, uma mudança brusca da política do FED – Sistema Federal de Reservas dos Estados Unidos pode alterar o quadro global.

Como o quadro que ele coloca apresenta uma grande similaridade com o que ocorre no Brasil, suas observações podem alertar sobre os cuidados que devem ser tomados por aqueles que assumirem o poder no Brasil, notadamente na área das autoridades monetárias. Ainda que se pretendam mudanças, sempre um pouco de cautela parece recomendável.


Atualidades Políticas Brasileiras

28 de agosto de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais e Notícias, Política | Tags: a consolidação da situação da Marina Silva, aspirações por mudanças dos eleitores brasileiros, influência do setor financeiro, o novo não muito novo

Ainda que o quadro sucessório brasileiro não esteja totalmente definido as pesquisas de opinião como as demais informações disponíveis indicam uma nítida tendência para a vitória da candidata Marina Silva para a Presidência da República na eleição de outubro próximo, que poderá se consolidar politicamente nas próximas semanas com as novas adesões populares que possam ser esperadas. A ideia de uma terceira via alem do PT – Partido dos Trabalhadores e do PSDB –Partido Social Democrata Brasileiro, que vem sendo proposta pela coligação do PSB – Partido Socialista Brasileiro e a Rede da Solidariedade parece atender a aspiração da renovação política de parcela importante do eleitorado brasileiro, ainda que seja somente uma esperança vaga acrescentada de forte emoção com o desastre que vitimou Eduardo Campos. O acidente provocou a sua substituição por uma nova chapa tendo Marina Silva como cabeça, secundada por Beto Albuquerque que se diferencia dela em muitos pontos, como vice-presidente. A falta de experiência administrativa parece menos relevante para os eleitores que a vontade que se acredita suficiente para superar obstáculos concretos e reais.

Mesmo que esquema atualmente existente, procurando conseguir credibilidade e maioria no Congresso que dê sustentação ao novo governo pouco tenha de novo, parece que isto está se tornando irrelevante pela enxurrada que está ocorrendo na procura de mudanças. Como o PSB não é um partido expressivo, estando preso aos esquemas tradicionais da política brasileira, a candidata Marina Silva acena para alvos preferências de novas incorporações até como de Lula da Silva e José Serra que contariam com quadros experientes do ponto de vista político partidário. Exatamente parte política do que se desejaria substituir na nova colocação, mas o desejo de mudanças parece atropelar a tudo, mesmo a razão. Também nos quadros técnicos acena-se para a participação de profissionais ligados ao setor financeiro e empresarial, inclusive com capacitação operacional, que resulta numa solução tradicional, sem correspondência nos aspectos reais. Ainda que resolvendo os problemas de curto prazo, parecem apresentar dificuldades para o desenvolvimento no longo prazo, que exige setores engajados com as inovações tecnológicas.

clip_image002                                    Marina Silva, candidata à Presidência da República

Marina Silva conta com uma capacidade de se expressar como uma batalhadora que vem lutando pelos seus ideais, mesmo diante de obstáculos dos mais difíceis, chegando até a convencer segmentos que normalmente adotam posturas mais conservadoras. Mesmo tendo fortes convicções pessoais, coloca-se na posição para entendimentos pragmáticos com correntes de diferentes, surpreendendo a muitos.

Diante de adversários desgastados procura convencer o eleitorado que suas fortes determinações são capazes de superar os obstáculos hoje existentes no Brasil, promovendo a união de forças relevantes com suportes populares. As experiências que se repetem pelo mundo recentemente demonstram que estas mudanças expressivas nem sempre são fáceis, principalmente num período curto como o de um mandato de quatro anos.

Marina Silva expressa que é contra a reeleição, que vem se mostrando com um mecanismo com muitas dificuldades e se compromete que a reforma política ampliando o período do mandato será aplicado somente a quem a venha a suceder, caso seja eleita.

Ainda que a eleição confirme estas tendências, tudo indica que governar bem o Brasil pode ser algo com mais complexidade que exige outras condições que ainda não estão equacionadas.


Sugestões de Delfim Netto no Valor Econômico

26 de agosto de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais e Notícias | Tags: a baixa prioridade dada à exportação, redução do crescimento e dificuldades do setor industrial, velhos problemas brasileiros

Muitas análises superficiais nem sempre conseguem, de forma simples, identificar os grandes problemas brasileiros que nos afetam, lamentavelmente, resultando num baixo crescimento econômico, pressões inflacionárias e dificuldades no setor externo. O professor Delfim Netto na sua coluna semanal no Valor Econômico com uma tabela muito singela, mostra que há muito tempo o Brasil perdeu a consciência que o setor externo é fundamental para manter um desenvolvimento sustentável. O problema vem ocorrendo desde antes do período analisado, que ficou restringido ao início da crise de 2007/2008, quando a estabilização inflacionária bem obtida no Plano Real “esqueceu-se” a prioridade das exportações, para sustentar o desenvolvimento.

Do artigo citado do Valor Econômico consta a tabela abaixo:

clip_image002

Na realidade, a crise de 2007/2008 agravou os problemas do setor externo, resultando na redução do ritmo de crescimento da economia brasileira e aumento das pressões inflacionárias. A situação piorou no período 2011 a 2014. Mas esta situação que hoje está dramática vinha já indicando antes que o Brasil estava reduzindo a prioridade do seu setor exportador, com o congelamento do câmbio por três vezes, retirando a competitividade do setor industrial que antes se encontrava numa situação razoável.

Muitos criticam que as autoridades não efetuaram as correções necessárias depois da crise de 2007/2008 contentando-se com uma redução do ritmo de crescimento que foi menos acentuada que no resto do mundo. Também indicam que problemas de muitas décadas passadas continuam sendo desenterradas.

O que parece conveniente que fique claro é que as deteriorações como do setor industrial brasileiro, que limitam o crescimento da economia brasileira são fenômenos de longo prazo. Antes do Plano Real, que teve o mérito de estancar o processo inflacionário de forma imaginativa, o Brasil registrava expansões das exportações superiores à coreana ou a chinesa. Se tivessem continuado o quadro atual seria totalmente diferente.

O que estas reflexões sugerem é que muitos dos grandes problemas brasileiros não podem ser resumidos aos períodos de gestões curtas no comando da economia brasileira. Sem uma visão estratégica de longo prazo só será possível tapar buracos que vão surgindo, não havendo como detectar problemas que só serão sentidos décadas depois.

A responsabilidade por esta consciência não é somente do governo cujos mandatos são curtos. Os acadêmicos e outros que deveriam ter a função de pensar nos problemas brasileiros no longo prazo necessitam proporcionar subsídios para que todos tenham consciência destas considerações estratégicas.

A administração pública necessita, também, de setores que estejam pensando os grandes problemas com enfoques mais longos, pois tanto os pesados investimentos em infraestrutura, como a maturação das pesquisas destinadas às inovações demandam prazos longos.


As Dificuldades de Execução dos Projetos

25 de agosto de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais e Notícias | Tags: as potencialidades do pré-sal, o balanço comercial externo do setor, o problema do pré-sal, suplemento especial do Valor Econômico

Administrar um país com a complexidade do Brasil é certamente um desafio que nem todos podem compreender facilmente. Além de um comando que seja capaz de estabelecer as diretrizes é necessário que se tenha a capacidade de escolher e coordenar uma equipe para o seu funcionamento, para o qual seria desejável uma habilidade política invejável. Tantos são os postos que necessitam serem preenchidos, talvez dezenas e milhares, não somente nos ministérios, como nas mais variadas agências, estatais e institutos que compõem o governo federal, em seus diversos escalões. Escolher as pessoas mais adequadas para cada cargo exige uma especial capacidade, e por melhores que sejam as escolhas, sempre haverá necessidades posteriores de ajustamentos, pois é preciso que sejam respeitadas as restrições políticas, além de permitir que o governo funcione como uma razoável equipe.

Coordenar uma maioria estável no Senado Federal e na Câmara dos Deputados acaba exigindo um prestígio capaz de aglutinar correntes que pensam de formas diferentes, pois dificilmente numa eleição se conseguiria que uma coligação seja capaz de obtê-la, pois mesmo dentro dos partidos existem facções com interesses divergentes. E o Executivo, no caso brasileiro, necessita contar com maioria parlamentar para aprovar suas diversas proposições. Imaginar que estas tarefas são fáceis beira a uma ingenuidade perigosa. Incorporar recursos humanos de outros partidos, ainda que possível, não é uma tarefa fácil.

No suplemento especial publicado pelo jornal Valor Econômico que trata do petróleo e gás no Brasil um artigo dá uma pequena noção da dimensão das tarefas envolvidas pela exploração do pré-sal. (http://www.valor.com.br/empresas/3665746/novo-patamar) Os dados do IEA – International Energy Agency estima que em 2012 o Brasil produzir 2,1 milhões de barris dias de petróleo, sendo a 13ª no mundo, deve chegar a 4,4 milhões em 2020, passando para 6ª no mundo e poderá chegar a 6 milhões em 2035. Só na Bacia de Santos poderá estar produzindo mais que a média do Golfo do México e do Mar do Norte somados. Ainda assim, o Brasil importa 12% da gasolina que consome e 17% do diesel, com uma balança comercial negativa de US$ 13,7 bilhões em 2012, piorando para US$ 27,9 bilhões no ano passado, devendo chegar a US$ 22,5 bilhões neste ano, dada a sua incapacidade de refino local.

clip_image002

Muitas razões contribuem para tanto. A gigantesca Petrobrás não contou com resultados para contar com recursos indispensáveis para tanto, não só financeiros como humanos, além dos fornecimentos de todos os componentes para tanto, inclusive tecnologia. Ainda terá que continuar a importar muitas destas condições mesmo não desejando, contando com a ajuda de empresas estrangeiras mesmo com as restrições existentes para tanto no Brasil.

Este é somente um segmento, ainda que importante. Muitos outros envolvem complexidades semelhantes. São tarefas gigantescas até para países desenvolvidos, quando mais para um emergente como o Brasil.