1 de julho de 2013
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, webtown | Tags: aspirações legítimas a serem ordenadas, Brasil atual, existência de limites, pesquisas de opinião
A Datafolha, considerada uma entidade de pesquisa de opinião confiável, divulgou um recente levantamento indicando que em três semanas a aprovação da presidente Dilma Rousseff pela população caiu de 57% para 30%, uma das maiores quedas desde a época Collor, de forma generalizada por regiões e idades. Mas, somando os que consideram ótimo/bom com os que consideram regular, 43%, ainda está com 73% que não a desaprovam, ou seja, os que consideram o seu governo ruim e péssimo está em 25%. É um retrato do momento, que ainda não indica uma tendência definida, mas dá sinais importantes.
Esta queda não se observa somente com as manifestações populares, mas um sentimento que o emprego vai cair e a inflação vai subir, segundo dirigentes da Datafolha. Oito das dez pessoas pesquisadas, numa amostra devidamente estratificada, ouvindo 4.717 habitantes do Brasil, aprovam as manifestações recentes, ainda que uma pequena parte esteja descontrolada, não se evitando violências e depredações, em que pese o policiamento. Não há sinais de que elas diminuirão, pois todos os insatisfeitos com alguma coisa estão se manifestando, sem que haja possibilidade de controle. Estes assuntos acabam dominando as preocupações de todos que se consideram responsáveis, sobrepujando até o futebol que era um dos símbolos do país. Espera-se que a vitória brilhante na Copa das Confederações ajude a elevar a autoestima dos brasileiros.
Presidente Dilma Rousseff
Esta é uma situação difícil para o governo, não somente federal, mas estaduais e municipais, assustando os empresários brasileiros e estrangeiros, que ficam conservadores nos seus investimentos. A redução de muitas tarifas atendendo algumas das reivindicações populares assustam os que pretendiam participar das licitações diversas de concessões públicas, o que pode indicar uma queda dos investimentos no futuro próximo, contribuindo para a redução do emprego e agravamento da situação, que se desejaria evitar.
A educação, no seu sentido mais amplo, fracassou no Brasil por todas as indicações. O despreparo vai das autoridades dos Executivos, Legislativo, Judiciário, acadêmicos como da população em geral, inclusive dos que pretendem efetuar as análises. Informa-se que estão programando uma greve geral, com o uso das centrais dos trabalhadores que só pode contribuir para piorar o emprego e os salários, que vinham sustentando o mercado interno, pois as exportações já estão fracas. Muitas análises que estão sendo divulgadas se restringem às questões internas, sem ver que o mundo enfrenta dificuldades como na Turquia, na China e até nos Estados Unidos, bem como em todo o resto do mundo.
A Dilma Rousseff que foi eleita por indicação do Lula é considerada muito teimosa e não conseguiu montar uma equipe de auxiliares capacitados, cedendo às pressões de políticos tradicionais. Ministros que são considerados fracos parecem ouvidos pela presidente dando opiniões sobre o que não entendem como a complexa reforma política e o processo de incorporar as forças geradas pelas manifestações públicas.
Se a presidente não se conscientizar que tem grandes dificuldades de diálogos, principalmente políticos e não é considerada boa para escolher auxiliares e seus gestores que não conseguem tocar os projetos necessários, provocando algumas mudanças de vulto na atual situação, sua reeleição está comprometida. Ela continua dependendo da base governista, composta pelos que parecem só aspirar ao atendimento dos seus interesses pessoais ou grupais.
Há pessoas sugerindo que ela anuncie o cancelamento do projeto de trem rápido no Brasil, promova fusões dos ministérios, escolha um chefe da Casa Civil que conheça a administração pública, tenha trânsito no Congresso e conte com credibilidade no setor privado. Sem decisões de grande impacto, somente com discursos e mesmo tentando ouvir agora muitos setores, não vai conseguir deter a continuidade de muitos manifestantes.
Ainda existe tempo até as eleições para corrigir o andamento do seu governo, mesmo porque os possíveis candidatos que podem lhe fazer oposição também não estão sendo capazes de capitalizar estas manifestações a seu favor. Todos os políticos estão sendo condenados e está havendo um esforço desesperado para acelerar algumas decisões no Legislativo, que nem sempre estão consideradas com o devido cuidado. E a experiência mundial indica que os segundos mandatos costumam apresentar performances não muito positivas.
Até no Judiciário estão decidindo alguns casos à toque de caixa, como a prisão de um deputado federal condenado por corrupção, sem que seu mandato fosse cassado, ainda que seja um clamor popular, mas muda a orientação até hoje adotada pelo Legislativo. Existe outros aspectos importantes, parecendo ser relevante estabelecer as prioridades.
Muitos manifestantes não possuem uma ideia clara da democracia não respeitando os eleitos, pensando que suas opiniões são mais poderosas que os votos dos modestos que se não apoiam o governo, também não estão contra e que bem ou mal elegeram os que estão com seus mandatos. Muitos pensam que a democracia direta das ruas pode conduzir um país complexo como o Brasil, o que pode ser perigoso, e não se revelou adequado em lugar nenhum e nem em qualquer época.
Muitas aprovações recentes até da presidente e de outras autoridades atendendo algumas reivindicações populares por mais legítimas que sejam acabam estimulando novas demandas. Não há sinais ainda de cansaço com tantas manifestações, ainda que se condenem as violências que continuam se repetindo.
Lamentavelmente, banalizou-se a vida humana ou os danos físicos às pessoas no Brasil. Crimes bárbaros, como o assassinado de uma criança boliviana de uma família que entregou todo o seu dinheiro que conseguiram trabalhando nas costuras de roupas porque estava chorando durante o assalto a uma modesta residência desta família, são sinais mais gritantes, das muitas violências que proliferam no país. Muitos são assassinados ainda que entreguem seus celulares, automóveis ou outros recursos ou propriedades, por jovens que nada mais respeitam. Adolescentes são violentadas sexualmente e mortas.
É preocupante, pois muitos criminosos são menores que não podem ser condenados adequadamente no Brasil, havendo necessidade de reduzir a idade para a responsabilidade criminal, ainda que eles tenham direito ao voto aos 16 anos. Ninguém parece ter paciência para os aperfeiçoamentos que são necessários nos mais variados aspectos de uma sociedade que pretende ser democrática e desenvolvida.
As redes sociais introduziram uma nova realidade no mundo, começando pela Primavera Árabe, chegando à Turquia que apresenta semelhanças nas suas características de um país emergente e democrático como o Brasil. Há tendências que estes fenômenos se estendam para outros países, pela intensidade com que estão ocorrendo entre os brasileiros.
A esperança é que com um pouco de tempo haja divisões fortes entre os manifestantes, principalmente entre os que os desejam manifestações pacíficas e ordenadas, sem violência, como em muitos grandes movimentos. Contra as minorias radicais que promovem violências. Pode-se esperar certo cansaço com todos estes acontecimentos, e um pouco de ações racionais por parte das autoridades, pois é preciso preservar o império da Lei. Que precisamos de aperfeiçoamentos na nossa democracia, a maioria deve concordar e não com situações semelhantes aos anárquicos.
É preciso acreditar que a grande maioria dos brasileiros aspira uma melhoria e não destruir o que foi construído com muito trabalho de todos ao longo de alguns séculos, o que certamente vai acabar acontecendo, apesar das muitas dificuldades que continuarão persistindo. Não há milagres, mas de tudo pode se tirar lições, e espera-se que as prioridades levantadas pelas manifestações acabem prevalecendo. Só com a redução da corrupção, muitos recursos poderão ser economizados, sendo destinados para o atendimento de parte das aspirações de toda a população, mas com respeito à democracia e ao império da Lei.
27 de junho de 2013
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política, webtown | Tags: ajustes difíceis com a falta de consenso, influência sobre o resto do mundo, problemas políticos e econômicos dos Estados Unidos
Os que estão conscientes sobre as dificuldades brasileiras devem ter em conta os mais graves que também afetam o país que continua sendo o líder mundial atualmente. Nos Estados Unidos, parece também que há uma carência de consenso, mesmo que sua economia comece a dar sinais de uma lenta recuperação, com dificuldades políticas do desgaste do governo Barack Obama, que não beneficiam a ninguém, principalmente quando se trata de assuntos que afetam a humanidade no prazo mais longo. O seu governo anuncia um novo plano par reduzir os danos ecológicos que são gigantescos, contribuindo para o aquecimento global que dá também sinais de climas mais instáveis em todo o mundo, mesmo que não exista também uma aglutinação de todos os segmentos do povo norte americano.
Como perseguem simultaneamente diversos objetivos importantes, desejando consolidar a sua independência energética, seus danos ambientais se aprofundam com a exploração do gás e do óleo de xisto, ao mesmo tempo em que suas empresas evitam os cuidados ambientais alegando que prejudicam seus empregos e a incipiente recuperação de sua economia, como está em diversos jornais, inclusive no Valor Econômico. Ao mesmo tempo, o suplemento do The New York Times publicado em português na Folha de S.Paulo anuncia as dificuldades do pacto dos Estados Unidos com a Europa visando facilitar os seus comércios com a TTIP – Parceria Transatlântica de Comércio e Investimentos.
Presidente Barack Obama anuncia novo plano na Universidade de Georgetown,
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26 de junho de 2013
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais, Notícias, Política, webtown | Tags: a proposta para o plebiscito, conveniências para o aperfeiçoamento democrático, derrubada da PEC 37
Ainda que as expressivas pressões populares provocadas pelas manifestações populares recentes, que devem acelerar as decisões sobre reformas importantes como a política, muitas providências exigem estudos mais profundos, pois podem provocar mudanças relevantes em aspectos fundamentais da jovem democracia brasileira que está se aperfeiçoando. A ideia do plebiscito, que permitiria ampliar a participação do povo nas decisões sobre a reforma política, por exemplo, já gerou muitas controvérsias tanto sobre o seu conteúdo como a forma pela qual ela seria realizada, mostrando que o assunto não tinha merecido estudo mais amplo e profundo por parte do governo. A decisão na Câmara pela rejeição da PEC 37, pouco conhecida do grande público, também ocorreu com uma votação massacrante, ainda que haja alguns aspectos que deveriam ser examinados com maior profundidade.
A Constituição de 1988 ainda é recente e está em pleno funcionamento, ainda que tenha aspectos menores que devam ser aperfeiçoados, e representou um avanço no sonho de muitos brasileiros, com avanços no regime democrático brasileiro. Criou um ministério público independente que ainda vem aprendendo a usar o seu poderio de forma disciplinada, como um novo poder, sem que os cidadãos sejam prejudicados sem um julgamento adequado. Mas, quando alguém é acusado, mesmo injustamente por um promotor, a mídia ajuda a condená-lo ou a proporcionar um minuto de glória para os acusadores. Se as acusações se provarem injustas, os reparos possíveis são mínimos, sem que as acusações sem base mais sólida possam ser punidas, inclusive de promotores públicos ainda sem o amadurecimento desejado. O linchamento de qualquer pessoa deve ser evitado, seja físico ou moral.
Manifestações recentes ocuparam as ruas de cidades brasileiras. Fabio Motta/AE
Votação da PEC 37 na Câmara dos Deputados. Ailton de Freitas / Agência O Globo
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24 de junho de 2013
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais, Notícias, Política, webtown | Tags: cuidados no processo, plebiscito para a reforma política, proposta da presidente Dilma Rousseff, reunião com governadores e prefeitos das capitais, seu significado
Na abertura da reunião nesta segunda-feira realizada pela presidente Dilma Rousseff com os governadores e prefeitos das capitais dos Estados, ela anunciou que pretende solicitar um plebiscito popular para promover a reforma política a ser incluída na Constituição aprovada em 1988. Além de ações relacionadas com a responsabilidade fiscal, saúde, transportes públicos e educação, assuntos sobre os quais ela propôs um pacto com os participantes da reunião. Decorreria da condenação generalizada das atividades políticas nas manifestações recentes, ampliação da cidadania e condenação severa da corrupção.
A reforma política já foi tentada diversas vezes, mas acaba encontrando muitas resistências tendo que ser aprovada pela maioria absoluta do Congresso, dois terços dos parlamentares, com uma tramitação complexa, em dois turnos. Ainda que a iniciativa não esteja muito clara até o momento, tudo indica que ela pretende que esta mudança constitucional, restrita à reforma política, vise ampliar a participação popular nas decisões do país que vem se obtendo com as demonstrações recentes. Ainda que considerada indispensável para o atendimento das demandas das manifestações, trata-se de uma das mais difíceis mudanças, desejando-se aproveitar a forte pressão atual das ruas.
Ela pode se tornar demasiadamente ampla na discussão se não for circunscrita a uma proposta que seja elaborada pelo Executivo, com a colaboração de alguns especialistas constitucionalistas, para ser discutida no Congresso. Foi o que aconteceu na Constituinte que resultou na Constituição atual, que é uma resultante de muitas propostas pontuais sem que o conjunto estivesse devidamente equilibrado.
Uma das distorções fragrantes atuais é que a Constituinte elaborou um projeto para um sistema parlamentarista, com a inclusão da Medida Provisória que é típica deste sistema. No caso de não aprovação pelo Congresso de uma Medida Provisória, haveria a queda do gabinete de ministros, sendo substituído por outro que também seria submetido ao Congresso, sendo necessária a obtenção da aprovação de sua maioria, sem nenhuma crise institucional.
Mas, com a vitória da tese do presidencialismo na Constituinte e preservação do mecanismo da Medida Provisória, que substituiu de forma exagerada o antigo Decreto Lei, que entra em vigor imediatamente na sua publicação antes da apreciação do Congresso, acabou-se exagerando no poder do Executivo, tendo os parlamentares que criar uma solução para o impasse. Na realidade, a Medida Provisória deveria se restringir a problemas urgentes que não poderiam aguardar uma tramitação normal de uma proposta do Executivo, mas há um abuso no seu uso, havendo muitas aguardando o exame pelo Congresso, com alguns esgotando o tempo para a sua apreciação.
A reforma política exige uma consideração cuidadosa e profunda, estabelecendo as bases do que será mudado na legislação eleitoral. Um dos objetivos pode ser a introdução do voto distrital, pleno ou misto, que permitiria uma fiscalização e controle mais de perto dos eleitos pelos eleitores, principalmente parlamentares. Quando a campanha eleitoral já está na rua, estas mudanças no calor das manifestações parecem de grande complexidade, ainda que muitas discussões anteriores já tenham sido efetuadas, mas não aprovadas. O tempo para as decisões de todos os detalhes até a eleição é extremamente apertado.
Selecionar os pontos fundamentais desta ampla reforma política não será uma tarefa fácil, pois não parece haver um razoável consenso que possa aglutinar uma grande maioria. Existem demandas regionais que não apresentam uma uniformidade, bem como aspectos ideológicos diferenciados, além das dificuldades relacionadas com a Federação com muitos municípios, desde grandes metrópoles até pequenas cidades no interior brasileiro.
O conjunto da proposta é uma resposta forte para as manifestações que ocorrem na rua, num momento em que os políticos estão pressionados. Mas, para ser realista, é preciso compreender que o Brasil é uma democracia que vem se aperfeiçoando na sua prática, e os que aprovarão ou não finalmente esta reforma política são os que foram eleitos e estão sendo criticados.
Como tratado em outros artigos já postados, os demais itens incluídos para discussão na reunião apresentam suas dificuldades, mas podem ser acelerados para atender as demandas. A reforma política é de uma complexidade técnica e não foi apresentada nas manifestações, mas já recebe algumas adesões daqueles que são obrigados a pensar com maior profundidade.
Muitas discussões terão que ser travadas pelos especialistas, até se chegar a uma proposta que represente realmente um avanço e ajude a atender parte das reivindicações das manifestações de rua e ajude a estabelecer uma das bases importantes do Novo Brasil sonhado por muitos.
24 de junho de 2013
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, webtown | Tags: aproveitamento dos patrimônios da União, desburocratizações, economias indispensáveis, necessidade de apontar a origem dos recursos
As legítimas reivindicações que estão sendo apresentadas pelas manifestações populares exigem muita imaginação para geração dos recursos indispensáveis. O Brasil não tem condições para a elevação da carga tributária, bem como os endividamentos externos ou internos públicos encontram limitações. Também nesta localização dos recursos, é preciso utilizar as experiências colhidas no exterior, como o melhor aproveitamento dos patrimônios públicos acumulados ao longo do tempo, que estão sendo pouco utilizados ou com baixa eficiência. No projeto do trem rápido, cogitado entre Campinas, São Paulo e o Rio de Janeiro, o presidente da EPL – Empresa de Planejamento Logístico, Bernardo Figueiredo, mencionou a provável utilização do Campo de Marte da capital paulista para a construção da estação de São Paulo, e o aproveitamento imobiliário desta vasta área já foi cogitado para muitas outras finalidades.
O cancelamento do projeto bilionário deste trem rápido, de prazo longo de construção e difícil viabilidade econômica, poderia gerar parte dos recursos mobilizáveis para melhorar a mobilidade urbana em diversas metrópoles brasileiras, como já mencionado em outro artigo postado neste site. A experiência japonesa por ocasião da privatização de sua rede ferroviária foi a criação de uma empresa para cuidar especialmente do patrimônio imobiliário, para gerar recursos para as operações do seu sistema de trem rápido, onde somente o trecho em Tóquio e Osaka é rentável. Muitos pátios ferroviários tornaram-se verdadeiras cidades, com muitos altos edifícios em áreas urbanas muito valorizadas na proximidade da estação de Shimbashi, no centro de Tóquio, que transformou um pátio ferroviário numa verdadeira cidade. O mesmo aconteceu nos arredores das principais estações, que se tornaram os pontos de vendas mais importantes do Japão.
Região da estação de Shimbashi, que é uma verdadeira cidade
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24 de junho de 2013
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, webtown | Tags: alternativas disponíveis, fonte de recursos, melhoria da mobilidade urbana no Brasil
As manifestações populares estão indicando que o problema dos transportes nos grandes centros urbanos brasileiros é uma questão prioritária. Mas poucos estão apresentando suas sugestões para uma melhoria racional dos meios disponíveis para a sua melhoria. O suplemento Mobilidade Urbana do jornal Valor Econômico se mostra oportuno para uma discussão do que pode ser feito, tanto em termos de metrô, subterrâneos e elevados, aproveitamento das linhas férreas urbanas já existentes, bem como as demais alternativas disponíveis, experimentadas em muitos lugares do mundo, que estão atrasadas no Brasil.
Na ânsia de manter o nível de emprego nos últimos anos, acabou-se estimulando a indústria automobilística, com a redução de tributos para os veículos. É uma cadeia que provoca diversos impactos entre os seus muitos fornecedores, e os créditos aumentaram rapidamente os veículos nos centros urbanos, infelizmente muitos de uso individual. Os transportes coletivos que deveriam ser mais importantes acabaram ficando com organizações que sempre contribuíram para as campanhas eleitorais, diante dos muitos pagamentos em dinheiro, que são difíceis de serem controlados. Para que o seu trânsito fosse mais rápido, poucas vias foram reservadas, começando com os projetos em Curitiba.
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21 de junho de 2013
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, webtown | Tags: artigo no Valor Econômico, café sombreado, noticia sobre o grupo Monteiro Tavares, pioneiros
Os especialistas informam que o café plantado em áreas sombreadas proporciona uma bebida de qualidade porque seus frutos amadurecem de forma mais uniforme. O jornal Valor Econômico noticiou há alguns dias que o grupo mineiro Monteiro Tavares está plantando café à sombra do mogno, num projeto que visa associar uma produção mais rápida com a extração do mogno que demanda uma espera de 12 a 16 anos até o primeiro corte. Como todos sabem, o mogno é uma madeira nobre muito utilizada em mobiliários de alta qualidade desde séculos, quando era disponível em matas naturais.
O café plantado com outras associações sempre foi comum, mas porque o café até ser planado em renques confinados levava anos para começar a produzir, e culturas intercalares de diversos tipos eram comuns. Agora, com as exigências de madeiras certificadas, as plantações de mogno também se tornaram necessárias, havendo culturas de alto valor comercial como o café para sustentar o período de sua maturação. Estas variadas técnicas não são recentes, havendo exemplos pioneiros do começo do século XX.
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21 de junho de 2013
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, webtown | Tags: a expansão dos tubos nos Estados Unidos, o desaquecimento chinês e suas consequências, os problemas para os brasileiros
A indústria siderúrgica continua sendo um dos pilares de qualquer econômica, tanto que os Estados Unidos sempre o ligou com a sua independência militar, além dos alimentos e de suprimento de energia, como o tripé que assegura o seu poderio. A China, que desenvolveu a maior capacidade siderúrgica do mundo, com o seu consumo de minério acabou beneficiando o Brasil e outros fornecedores. Conta com a Wuhan Iron & Steel e seus oito alto- fornos, que impressiona a todos mesmo considerando as dimensões chinesas, sendo hoje o sexto maior grupo do mundo no setor como empresa, ao lado de outras gigantes chinesas. Com a desaceleração do crescimento da economia chinesa, ela que mais cresceu nos últimos cinco anos, está já com 20% de capacidade ociosa, tanto pela queda do consumo do aço nos Estados Unidos como na China, segundo artigo publicado no Financial Times.
Num outro artigo publicado pelo mesmo jornal, informa-se que nos Estados Unidos a indústria siderúrgica voltada para os tubos passa por um período excelente, pois a produção de óleo e gás do xisto está provocando uma explosão de sua demanda. A Vallourec de origem francesa está se beneficiando como outras também especializadas em tubos, que são intensamente utilizados para a exploração do xisto. Na indústria siderúrgica brasileira, sempre se contou que poderia ser prejudicada, principalmente no comércio internacional, se os chineses desacelerassem o seu crescimento econômico, tanto pela guerra de preços que provocariam com seus produtos como pela redução da demanda de minérios.
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21 de junho de 2013
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais, Notícias, Política, webtown | Tags: avaliações internacionais, muitos países ainda não entendem, paralelos com outros movimentos
Partilho da opinião de que se não temos parâmetros para comparar o que está acontecendo no Brasil com as manifestações de rua, ficamos sempre que somos muito diferenciados. Um importante artigo publicado hoje no The New York Times, elaborado por Simon Romero e Willian Neuman, ajudados por Taylor Barnes e Lucy Jordan, traz informações atualizadas até ontem à noite. Informam que até mesmo os dirigentes do Movimento Passe Livre estão perplexos com as repercussões, que já provocou o cancelamento da viagem de Dilma Rousseff ao Japão, convocando uma reunião de emergência do seu governo. O artigo faz alguns paralelos com o Occupy Wall Street que ocorreu nos Estados Unidos e pouco mudou aquele país no que há de fundamental. Tanto como outros que ocorreram na Índia, em Israel, nos países europeus como a Grécia e eles parecem alimentados por enfrentar estruturas políticas consideradas tradicionais, desafiando o partido do governo e até das oposições da mesma forma. As demandas são difusas deixando todos perplexos.
Entrevistaram Mayara Vivian que tentava desde 2005 por os brasileiros na rua com apenas 15 anos, e que confessa que também desta vez esperava algumas centenas de pessoas nas manifestações convocadas, visando ridicularizar o aumento das tarifas dos transportes coletivos, que agora se transformou na total isenção de pagamento, com as catracas livres. Ela estava aturdida quando dezenas de milhares de manifestantes lotaram as ruas, sacudindo cidades de todo o País. Afirma que é como a tomada da Bastilha, devendo lembrar-se de que os primeiros líderes acabaram sendo atropelados pelos acontecimentos que se seguiram. O fato concreto é que encontraram um clima geral de insatisfações.
O artigo ressalta que os protestos das massas que foram acordadas têm se alastrado por outros temas – estádios caros, políticos corruptos, altos impostos e escolas de má qualidade – e se espalhou por centenas de cidades ontem à noite, com o aumento da sua ferocidade.
Segundo o artigo, um país que foi visto como uma potência em ascensão e democrático encontra-se abalado por uma revolta popular sem lideranças com um tema unificador: uma brava rejeição à política e aos costumes, às vezes de forma violenta.
A força e a intensidade das ruas surpreendem alguns entrevistados, admitindo que não seja um movimento que podem controlar, ou até um que desejem controlar. A violência pode representar um ponto de virada nos protestos, pois muitos acabarão se afastando.
O artigo relata a violência do que ocorreu em Brasília, chegando ao Congresso, atingindo o Itamaraty. Em Ribeirão Preto, um manifestante de 18 anos acabou morto, atingido por um carro que estava parado com as manifestações, o primeiro cadáver desde estes movimentos de massa, que só registravam prejuízos nos patrimônios públicos e privados.
No Rio de Janeiro, centenas de milhares de pessoas manifestavam dirigindo-se à Prefeitura até tomando cervejas. A reação policial foi utilizar gás lacrimogêneo e obrigando muitos a se refugiarem nos canais. Alguns afirmavam que a cidade estava sendo maquiada para a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016, havendo os que pedem os seus cancelamentos, para atender as necessidades populares com os mesmos recursos. Alguns ajustamentos acabarão sendo efetuados.
Muitas manifestações estão ocorrendo em cidades que sediam a atual Copa das Confederações, com críticas aos altos custos dos estádios, afirmando-se até que os impostos estão beneficiando astros como Neymar e Ronaldinho. Um manifestante segurava um cartaz afirmando que não teremos a Copa do Mundo, pois o gigante despertou.
Até a mídia tem sido atingida, com carros queimados e jornalistas atingidos. Uma imprensa alternativa está sendo alimentada pelo grupo chamado NINJA – um jornalismo independente e de ação narrativa, que filmam cenas dos movimentos com meios improvisados, divulgando pelas redes sociais. O artigo afirma que o termo Occupy é utilizado por alguns, rejeitados por outros para não confundir com as ocupações policiais das favelas dominadas pelos traficantes de drogas.
Os gastos com as competições internacionais, segundo os manifestantes, são sinais da existência de recursos para o atendimento de suas reivindicações, o que deixam as autoridades sem uma resposta adequada.
Mesmo as reduções das tarifas dos transportes já efetuadas não aplacam os manifestantes. Um professor da USP afirma que o movimento é extremamente difuso e não canalizada pelas instituições tradicionais. Todd Gitlin, professor de jornalismo da Universidade de Columbia, que estudou movimentos sociais, inclusive o Occupy e a Primavera Árabe, afirmou que é difícil saber exatamente o que detona o movimento mais amplo. Não existe ainda uma teoria para tanto.
Os ativistas brasileiros que estão no centro do movimento insistem que o que está acontecendo no Brasil não explodiu do nada. Ele teria sido decorrente de um duro trabalho como o Movimento do Passe Livre que começou em 2005, que atraiu cerca de 200 ativistas de todo o país. Mas, sem dúvida, contaram com o clima de insatisfação de parte importante da sociedade brasileira, principalmente da classe média alta.
Mayara Vivian afirma que foram aprendendo como organizar estas manifestações desde 2005, e sem a experiência acumulada não saberiam como definir o palco dos protestos, que conta com uma organização. Mas não podem explicar como um movimento modesto acabou provocando o fenômeno atual. “As pessoas finalmente acordaram”.
Ainda que este quadro ainda não seja completo, ajuda a compreender parte do que está acontecendo. Espera-se que as autoridades e os políticos brasileiros aprendam com as duras lições que estão sendo dadas pelas ruas.
21 de junho de 2013
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política, webtown | Tags: artigo do Prêmio Nobel Amartya Sen, comparações da Índia com a China, o problema da educação
Quando um Prêmio Nobel como Amartya Sen, ele que é professor de economia e filosofia de Harvard, falando do seu país, a Índia, escreve um artigo publicado pelo The New York Times, é preciso prestar a devida atenção, pois a compara com a China, quando o Brasil pretende ser um país emergente que fique no mesmo grupo daqueles dois países. Principalmente quando ele trata de assuntos como os que as manifestações populares dos jovens brasileiros hoje estão procurando evidenciar. Ele afirma que a Índia moderna é, em muitos aspectos, um sucesso, e sua pretensão de ser a maior democracia do mundo não é algo irresponsável. A comunicação social na Índia é livre e vibrante e os hindus são os que mais leem jornais no mundo.
Em 1947, a expectativa de vida ao nascer na Índia era de 32 anos e passou para 66 anos, e sua renda per capita cresceu cinco vezes, cerca de 8 por cento ao ano, ficando somente abaixo da China. Sofreu uma desaceleração recente como todos os países. Mas ele indica que a prestação de serviços públicos essenciais no seu país deprime os padrões de vida e é limitante do seu desenvolvimento.
Amartya Sen, que faz uma comparação da Índia com a China
A desigualdade nos dois países é elevada, mas a China vem fazendo muito mais que a Índia para aumentar a expectativa de vida, expandir a educação geral e de saúde. Segundo ele, a Índia dispõe de escolas de elite de diversos graus de excelência para os privilegiados, mas entre os hindus de 7 anos ou mais, quase um de cada cinco homens e uma em cada três mulheres são analfabetos. A maioria das escolas é de baixa qualidade e menos da metade das crianças sabem o mínimo de aritmética.
A Índia é o maior produtor de remédicos genéricos no mundo, mas o seu sistema de saúde é confuso. Os pobres precisam confiar na baixa qualidade da assistência medica privada, não havendo atendimento público para todos. Enquanto a China dedica 2,7% do seu PIB para os gastos do governo em saúde, a Índia somente 1,2%. Qualquer semelhança com o Brasil não pode ser considerada mera coincidência.
Segundo o autor, o fraco desempenho da Índia pode ser atribuído a sua incapacidade de aprender com os exemplos do chamado desenvolvimento econômico da Ásia, em que a rápida expansão da capacidade humana é tanto um objetivo em si mesmo e um elemento do crescimento rápido. Onde o Japão é um exemplo desde a Revolução Meiji em 1868, quando se objetivou extinguir o analfabetismo em poucas décadas. Certamente no Japão, os ensinamentos de Confúcio foram importantes.
Segundo o autor, apesar dos problemas de Segunda Guerra Mundial, o Japão deu exemplos de desenvolvimento que depois foram reproduzidos pela Coreia do Sul, por Taiwan, por Cingapura e outros países asiáticos. Mesmo no período de Mao, a China avançou a reforma agrária, educação básica e saúde, o que permitiu depois de 1980 uma enorme melhoria na sua posição na economia mundial.
Nesta comparação, a Índia, segundo o autor, tem se destacado na participação democrática, na liberdade de expressão e o Estado de direito, que ainda são aspirações dos chineses. A Índia não sofreu a fome desde a sua independência, mas a China sofreu a maior fome que matou cerca de 30 milhões de pessoas durante o desastroso Grande Salto de Mao, entre 1958-1961.
Segundo ele, os problemas das carências da Índia devem ser resolvidos com mais democracia, pois os sistemas não democráticos apresentam fragilidades inevitáveis, cujos erros são difíceis de serem corrigidos. O combate à desigualdade debilitante na Índia não se trata somente de uma questão de justiça social, mas dos retornos proporcionados pelos recursos humanos que vêm da melhoria das camadas inferiores da pirâmide socioeconômicas. As exportações da Índia de produtos de alguns setores dependem de recursos humanos bem preparados, em todas as classes.
Como os assuntos abordados são relevantes para as reflexões sobre o Brasil, a íntegra desse artigo do Prêmio Nobel Amartya Sen que é muito mais rico que este resumo pode ser acessado no: http://www.nytimes.com/2013/06/20/opinion/why-india-trails-china.html