Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Acusações Pesadas à Direção da Petrobrás

13 de dezembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais, Notícias, Política | Tags: alegação da Petrobras que foram determinadas investigações, artigo no Valor Econômico, comunicações da gerente Venina Velosa da Fonseca, removida do cargo e transferida para Cingapura

Num extenso artigo elaborado por Juliano Basile, publicado no jornal Valor Econômico, são incluídas cópias de emails enviados pela gerente executiva Venina Velosa da Fonseca, geóloga que trabalha desde 1990 na Petrobras, tendo atuado sob o comando do diretor afastado Paulo Roberto Costa, entre novembro de 2005 e outubro de 2009. O ex-diretor está procurando reduzir suas penalidades com a delação premiada. Venina comunicou os indícios de irregularidade na área de comunicação social com pagamentos de serviços não prestados, bem como os significativos aumentos dos custos com aditivos da usina Abreu e Lima. Também comunicou suas suspeitas para José Carlos Cosenza, que substituiu Paulo Roberto Costa, como diretamente ao presidente de então, José Sérgio Gabrielli, e à atual presidente Graça Foster, desde quando ela era diretora do setor de gás e energia.

O que é inusitado em toda esta história é o desembaraço da aparentemente bem intencionada Venina em assuntos que não eram de sua área específica, comunicando diretamente aos altos executivos da Petrobras, quando nestas organizações gigantescas existem especializações e hierarquias. Ela teria sido aconselhada a utilizar os canais competentes. A Petrobras alega que as denúncias foram encaminhadas para investigações, mas o tempo decorrido e as retaliações alegadas sobre a denunciante são indícios de comportamentos no mínimo suspeitos.

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Geóloga Venina Velosa da Fonseca

As denúncias estão documentadas pelas cópias dos emails enviados por um longo período, muito antes destes fatos começarem a ser objetos de investigações do Ministério Público e referem-se às suspeitas de envolvimentos de interesse partidário. Os fatos são mencionados com muito cuidado, e acabaram recebendo uma ampla repercussão na maioria dos meios de comunicação social do Brasil. Como estas questões estão sendo discutidos de diversos angulos, existem fortes indícios que correspondem ao que veio desenrolando na Petrobras, colocando o governo na berlinda.

Alguns aspectos são relacionados mais diretamente com a área em que esta funcionária atuava dentro daquela empresa, mas também existem outros que poderiam ser do seu conhecimento, desde que ela estivesse interessada nos corretos procedimentos daquela estatal. Tudo dá a impressão de que são fatos graves e críveis, colocando os dirigentes da Petrobras, que alegaram seus desconhecimentos, em situação extremamente desconfortável, de difícil sustentação.

Estas denúncias acrescentam fatos graves observadas por um novo ângulo, de quem parece não estar envolvida nestas questões. Tudo indica que o Ministério Público deverá ouvi-la para solidificar suas acusações, que estão sendo formuladas dentro de um processo jurídico.

Estes fatos são daqueles de alto calibre, capazes de afetar até um governo recentemente reeleito pelo voto popular.


Entrevista de Francisco Dornelles para o Valor Econômico

9 de dezembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política | Tags: as limitações, lições importantes, longas experiências no Executivo e no Legislativo

Francisco Dornelles, que está deixando o Senado, é uma das personalidades brasileiras que acumularam longas e profundas experiências também pelo exercício de variadas funções no Executivo. Depois de todos estes anos de vida pública, suas experiências, inclusive frustrações como apresentado na entrevista aos jornalistas Raquel Uchôa e Ribamar Oliveira do Valor Econômico, mostram as dificuldades existentes para a administração de um país tão complexo como o Brasil. Além de não conseguir soluções para seus problemas fundamentais, ainda continua acrescentando outros que acabam ampliando mais as responsabilidade de todos, dos eleitores, dos parlamentares, dos que estão no comando do Executivo, como até dos burocratas que não conseguem proporcionar uma operacionalidade para a gigantesca máquina da administração pública.

O conhecimento dos problemas aposentados, do seu ponto de vista de um experiente ator neste cenário brasileiro por muitas e muitas décadas, mostra como eles são difíceis de serem equacionados, mas, se não se desejar condenar o Brasil a uma estagnação, os mais graves terão que ser enfrentados. Não se trata de quem está no governo ou na oposição, pois ele esteve em ambos os lados, lutou para sanar muitos, mas os que se multiplicam hoje mostram que poucos avanços foram obtidos. Se suas observações forem aproveitadas, de alguma forma pode haver um ponto de inflexão, onde as soluções superem o surgimento de outros obstáculos.

Plenário do Senado

Francisco Dornelles atuou no Executivo e no Legislativo

Ele lamenta não ter conseguido a reforma do setor financeiro, reconhecendo que o Conselho Monetário Nacional, hoje só constituido pelo ministro da Fazenda, ministro secretário do Planejamento e presidente do Banco Central, é que fixa a meta inflacionária a ser perseguida pelo Banco Central, que, em sua opinião, deve ter a plena autonomia para tanto. Todos, que possuem alguma experiência na administração pública, sabem que somente estas três autoridades não formam um verdadeiro Conselho que tenha liberdade para discutir alternativas.

Também lamenta não ter conseguido a reforma do sistema orçamentário, que entende deva ter a sua anualidade modificada, pois, ao seguir o ano civil, fica com a sua decisão concentrada no período mais difícil que é o final de ano. Em muitos países, reconhece-se que a função do Legislativo mais importante é a discussão deste orçamento, o que não acontece no Brasil.

Ele é também a favor do voto distrital como uma forma de ligar mais diretamente os eleitores aos eleitos, pois, no atual sistema proporcional, a responsabilidade fica diluida por uma bancada que é eleita por Estado, impossibilitando esta fiscalização mais próxima.

Entende que o problema crucial da economia brasileira é recuperar a sua capacidade de investimentos, que hoje está concentrada em algumas estatais como a Petrobras que está profundamente atingida pelas críticas. Ele entende que as pessoas responsáveis pelas irregularidades devam ser punidas e não as empresas, estatais ou privadas, que concentram os investimentos.

Como não existe uma preocupação com a eficiência da administração pública, a tendência que se observa é do continuo crescimento da máquina pública, até para o atendimento das necessidades sociais, que de alguma forma já vêm sendo contempladas, não havendo recursos tributários suficientes para a sua expansão.

Francisco Dornelles entende que deva haver uma forte desburocratização, uma privatização de muitas estatais, e que o erro cometido na Petrobras, onde ela ficou com a responsabilidade de 30% das concessões, precisa ser corrigido. Para que possa se contar com o setor privado, inclusive empresas estrangeiras para arcar de fato com os pesados investimentos indispensáveis.

A íntegra da entrevista pode ser acessado no http://www.valor.com.br/politica/3809092/temos-que-separar-empresas-das-pessoas .


Longa Entrevista de Shinzo Abe ao The Economist

8 de dezembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política | Tags: entrevista concedida em Tóquio ao The Economist

Shinzo Abe certamente será eleito nas próximas eleições japonesas de 14 de dezembro, restando saber se terá um apoio decisivo do eleitorado para o seu partido, o LDP – Liberal Democratic Party ou uma simples vitória pela falta de uma oposição mais articulada. Ele concedeu uma longa entrevista para o editor da Ásia do The Economist, Dominic Ziegler, e o chefe do escritório da revista em Tóquio, Tamzin Booth, sobre os assuntos relacionados com o papel do Japão na economia asiática e mundial, bem como assuntos internos do país, mesmo para questões que poderiam ser consideradas embaraçosas. As perguntas formuladas poderiam ser mais agudas sobre os problemas enfrentados pelo Japão.

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Shinzo Abe em campanha eleitoral para conseguir respaldo mais amplo para o prosseguimento de sua política denominada Abeconomics

Diante da intensa atividade internacional de Shinzo Abe, a revista perguntou a ele se sentia com pressa, como um homem com uma missão. Ele respondeu que acha que não tem muito tempo, pois a China continua crescendo e os demais países procuram manter a sua competitividade. O Japão está com a população reduzindo e envelhecendo, carregando uma dívida pública enorme. O país teria que recuperar a sua força econômica, de forma democrática e pacífica. Para tanto, necessitaria promover reformas.

A revista entende que todos procuram ter vertentes diferentes para problemas internos e externos, o que no caso do Japão aparecem juntos. A resposta é que, na sua juventude, o Japão crescia muito e passou agora por 20 anos de estagnação. Não haveria como separar as duas políticas.

A revista perguntou sobre as diferenças atuais com o seu primeiro mandato como primeiro-ministro em 2007. A resposta foi a emergência da China e a estagnação japonesa. Ele entende que a melhoria econômica dos chineses está aumentando o seu turismo ao Japão, que foi recorde neste ano, perto de 10 milhões, devendo continuar crescendo para 13 milhões no próximo ano.

A pergunta seguinte foi como ele vê a China, e a resposta envolveu considerações históricas de sua província de Yamaguchi, sempre com a visão para o exterior. Destacou a flexibilização monetária que introduziu e recebia restrições de muitos.

A pergunta foi como segue a Abeconomics depois da eleição. Ele afirma que pretende reformas como o da agricultura, da assistência médica, como do mercado de trabalho. À pergunta de como seria isto, ele se referiu à utilização da mão de obra feminina e a melhoria na redução dos desperdícios na medicina.

Outra pergunta foi feita sobre o TPP – Parceria Trans-Pacifica. Abe se considera o líder mais forte que pode avançar no TPP. A pergunta voltou para a China, quando Xi Jinping mostrou na foto de ambos que havia uma contrariedade. Abe informou que entendeu a posição dele, como se fora para consumo interno. A pergunta agora foi sobre Senkaku, Abe entende que todos terão que se entender sobre o Mar da China.

A pergunta seguinte foi sobre os 70 anos do término da Guerra, começando com o problema das “mulheres de conforto”. Ele respondeu sobre o seu lamento, mas, quando o Japão é difamado, precisa defender a sua honra. Acha que no século XXI o direito das mulheres precisa ser protegido. Abe acha que alguns erros foram cometidos, mas entende que as relações com a Coreia do Sul não pode se restringir somente a este item.

À pergunta sobre os fantasmas existentes nas relações asiáticas, Abe respondeu que fantasmas não existem, e que o Japão adota uma política proativa na região.

Numa avaliação geral, a entrevista só poderia ser interessante se as perguntas formuladas fossem relevantes. Não foi perguntado como o Japão vai enfrentar o problema de sua redução da população e seu envelhecimento, e se isto pode provocar uma flexibilização às restrições a imigração. Também quanto ao grande problema da dívida pública, como vai se realizar o aumento da tributação indispensável.

Sem que se caminhe para as questões fundamentais do Japão, ainda que de difícil solução, parece que mesmo a prorrogação da permanência de Shinzo Abe no comando do país não vai resolver os problemas cruciais dos japoneses.


Estados Unidos Contra o Resto do Mundo

5 de dezembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política | Tags: artigo no The Wall Street Journal, efeitos da política monetária americana, reações do resto do mundo

Um artigo recente publicado por Nicole Friedman no The Wall Street Journal informa que a política monetária aplicada nos Estados Unidos, inundando o mundo com dólares e crédito, está melhorando as perspectivas do seu crescimento econômico, ao mesmo tempo em que os preços das principais commodities estão desabando. Provocam reações como da Europa e do Japão, que tendem a adotar políticas semelhantes, promovendo a desvalorização dos seus câmbios. Parece até irônico que a jornalista e aquele jornal não se deem conta de que os Estados Unidos não podem estar isolados neste mundo globalizado, e que as reações que ocorrem em outras economias representa algo como uma guerra cambial, para suas sobrevivências.

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Gráfico adaptado do publicado no The Wall Street Journal, incluindo o real brasileiro

No gráfico, fica claro que, depois da crise provocada pelos bancos norte-americanos em 2007, diversos países sofreram valorizações das suas moedas, e procuram minimizar os efeitos da recessão mundial que se aprofundou em 2009. Houve uma tendência das demais moedas se valorizarem com relação ao dólar, havendo nos últimos anos uma tendência para suas desvalorizações agressivas, como defesa.

O caso brasileiro mostra que as reações das exportações como das importações não são imediatas a estes movimentos cambiais, havendo defasagens que costumam variar de 18 a 24 meses, notadamente nas exportações, dependendo ainda de outros fatores de política econômica, como a prioridade dada aos relacionamentos externos.

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Ao mesmo tempo, depois de 2009, os preços dos produtos de exportação do Brasil, como os minérios e os produtos agrícolas, melhoram sensivelmente com a demanda, principalmente dos chineses. Os das importações brasileiras não tiveram estes comportamentos, fazendo com que a chamada relação de troca pelos economistas ajudassem a gerar superávits na balança comercial. Esta tendência já se encontra agora em queda, acentuando-se em 2014.

Como consequência, os déficits comerciais se tornaram inevitáveis, obrigando que o governo permitisse a aceleração recente da desvalorização cambial, para que os problemas não se agravassem.

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Além destes problemas para os outros países no mundo, os Estados Unidos temem agora que o fluxo de turismo para aquele país tenda a reduzir-se com o dólar mais caro, deixando de contribuir para a melhoria da sua economia.

No Japão, a chamada Abeconomics não está proporcionando os resultados esperados, mesmo com a brutal expansão dos seus créditos. Os europeus também, mais cautelosamente, procuram ativar a sua economia. Parece necessário que os países economicamente poderosos se deem conta que não estão isolados no atual mundo globalizado, havendo que compatibilizar a sua recuperação também com a conveniência dos seus parceiros externos, notadamente os que não possuem moedas de circulação internacional.


Perplexidade dos Eleitores Japoneses

3 de dezembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política | Tags: a mesma perplexidade nossa, a possível continuidade de Shinzo Abe, pesquisas de opinião eleitoral da Kyodo no Japão, redução de sua bancada | 2 Comentários »

Quando o primeiro-ministro japonês Shinzo Abe dissolveu a Dieta convocando novas eleições gerais, com a alegação que desejava um respaldo para uma nova elevação inevitável do imposto sobre as vendas dos atuais 8% para 10%, quando a anterior elevação de 5% para 8% aprofundou as dificuldades japonesas, confessamos que ficamos perplexos. Apesar de admitir que ele deva entender mais da política no Japão do que analistas do exterior, nós revelamos até neste site a nossa dificuldade de sua compreensão. Na falta de uma oposição adequadamente estruturada, todos esperam que ele seja reeleito, mesmo não contando com o desejável respaldo à sua Abeconomics.

Uma pesquisa realizada pela agência Kyodo, segundo artigo publicado por Reiji Yoshida no The Japan Times, informa que o premiê conta agora com maior reprovação que chega a 47,3%, superior à aprovação estimada em 43,6%. A estimativa é que sua bancada do LDP – Liberal Democratic Party deverá reduzir de tamanho, enquanto o seu aliado na coligação Komeito deve ter um ligeiro crescimento, perdendo a maioria que permitia a ele a nomeação de todos os presidentes de comissões.

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Foto The Japan Times para mostrar os eleitores ouvindo as explicações

Informa-se que os discursos da campanha estão confusos, havendo os que são efetuados nas regiões afetadas pelas radiações, como próximas a Fukushima, onde o próprio governo afirma que esforços devem ser feitos para a sua recuperação, que até agora se mostrou insuficiente. Nos grandes centros urbanos, afirma-se que com o Abeconomics a economia deve entrar numa fase de recuperação com a injeção de surpreendentes montantes de recursos.

No entanto, o que está se verificando é que os bancos temem os riscos de aumentarem seus empréstimos, ao mesmo tempo em que as empresas como os consumidores não se sentem seguros para assumir responsabilidades. A oposição afirma que somente uma pequena elite se beneficiou da melhoria das bolsas, bem como a desvalorização do yen, que deve beneficiar o aumento das exportações, enquanto os assalariados tiveram comprimidos os seus poderes de compra, principalmente com a elevação dos impostos e dos preços dos produtos importados.

Acaba-se suspeitando que a eleição foi convocada para que Shinzo Abe tenha o seu governo prorrogado, ainda que sofra uma redução de sua bancada, aproveitando somente um momento em que a oposição não conta com uma organização de sua equipe para vencer o pleito. Mas o respaldo desejado pelo premiê parece difícil de ser conseguido, podendo aprofundar a crise japonesa.

O mundo globalizado está necessitando da economia japonesa mais ativa, capaz de contribuir na melhoria de todos os seus parceiros. Já afirmamos que as bases das dificuldades japonesas estão na redução de sua população e no seu relativo envelhecimento, e se estes problemas não podem ser resolvidos, as suas dificuldades tendem a persistir, o que seria extremamente lamentável.

Ainda que o tempo da campanha eleitoral seja muito curto, estas discussões devem ser intensificadas, até porque não há uma aparência que as atuais sejam capazes de proporcionar condições para a estabilidade do governo por um longo período.


Aproximações Teóricas da Realidade Econômica

1 de dezembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política | Tags: a ética na economia, a lei anticorrupção, aumento das discussões, entrevista de Dalton Sardenberg para o Valor Econômico

Ainda que a entrevista concedida pelo professor Dalton Sardenbeg da Fundação Dom Cabral sobre a sua pesquisa com relação à operacionalidade da lei anticorrupção resvale em assuntos de grande importância, novamente uma simples entrevista não parece ter a capacidade de aprofundar o assunto, fornecendo um quadro que permita uma formação de opinião a respeito, ainda que ajude na sua discussão pública. Foi concedida a Marcos de Moura e Souza e publicada no Valor Econômico. O entrevistado é doutorado em governança corporativa na Universidade de Birmingham e leciona a mesma matéria nos cursos da Fundação, estando com uma pesquisa em andamento que recebeu 286 respostas de empresas brasileiras, o que é um avanço significativo nesta discussão e mostra a elevada qualificação deste pesquisador, podendo indicar algumas tendências dos novos empresários, ainda que não possa fornecer todos os dados desejáveis.

Este complexo assunto se mistura com a difícil realidade, onde na economia nem sempre se atua somente com o que é ético, infelizmente, pois as empresas procuram obter os melhores resultados possíveis, na crença de estar com isto contribuindo para a economia do país, o que nem sempre é verdade. A legislação procura, de forma limitada, fazer com que a concorrência seja a mais intensa possível, ainda que muitos fatores conspirem contra ela.

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Onde leciona e pesquisa Dalton Sardenberg

Numa reunião de brasileiros com os japoneses, um experiente líder empresarial do Japão sussurrava aos meus ouvidos que os que lá estavam não eram verdadeiros empresários do Brasil. Estavam convidando os concorrentes do Japão a efetuarem investimentos no Brasil para disputarem os seus mercados, quando na realidade sempre existem mecanismos para a proteção do mercado para os grupos locais. Na legislação brasileira existe uma margem de no mínimo 20% mesmo para as concorrências efetuadas para projetos com financiamentos internacionais como o do Banco Mundial.

No mundo real, os empresários almejam o monopólio, se possível, e não apreciam a concorrência, e quando viável se organizam em cartéis para evitar a redução de suas margens de rentabilidade, até com a ajuda das autoridades. Pode parecer cínico, mas isto se aproxima mais da realidade, pois os empresários não são filantropos, ainda que evitem envolver-se no que é considerado criminoso, o que afeta a imagem de suas empresas.

Cada país possui uma legislação específica para tentar coibir as empresas de se envolver em atividades consideradas corruptas para conseguirem vantagens de autoridades estrangeiras. Em muitos casos, até o uso de recursos são admitidos se provados que sem estas operações se torna impossível a sua competitividade vis-à-vis com outros concorrentes.

Lamentavelmente, existem muitos paraísos fiscais historicamente onde estas operações são mais frequentes, notadamente quando envolvem aspectos financeiros. Alguns países são mais rigorosos com suas empresas que operam nestas localidades, visando a preservação de sua imagem.

No Brasil, depois da Constituição de 1988, parece que está se organizando um sistema onde estas operações tendem a ficar mais difíceis, com o desenvolvimento do Ministério Público que ainda está num processo de aperfeiçoamento, notadamente para evitar o vazamento de informações de processos que deveriam ser conduzidos em sigilo até a comprovação final das irregularidades cometidas e seus responsáveis. Muitas vezes, a vaidade pessoal de autoridades envolvidas preferem suas presenças nas mídias, ainda que isto seja inadequado.

Na entrevista, o professor Dalton Sardenberg mostra-se otimista com a evolução de uma cultura no Brasil contra a corrupção, notadamente entre os mais jovens. É uma esperança desejável, mas sem que mecanismos para tanto sejam explicitamente colocados numa discussão na sociedade brasileira, parece existir o risco de que isto acabe ficando no campo das meras aspirações, sem um respaldo mais amplo, que permita caminhar no sentido de legislações mais rigorosas de aplicação mais fácil.

O Brasil está em foco no mundo sobre estes aspectos, pois muitas das irregularidades acabaram ficando públicas. Mas há que se observar que muitos que estão condenando facilmente do exterior, principalmente, também continuam envolvidos em muitos escândalos financeiros que chegam a bilhões de dólares, que estão sendo encerrados com meros acordos judiciais implicando em multas.

Há que se concordar que o aumento da discussão ampla deste difícil problema pode trazer novas luzes para a redução das irregularidades.


A Compreensão das Relações das Empreiteiras com o Poder

1 de dezembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política | Tags: as dificuldades de compreensão dos acadêmicos, entrevista de um historiador sobre as relações das empreiteiras com o poder, mudanças que ocorrem

Uma das maiores dificuldades para as compreensões dos processos complexos dos relacionamentos das empreiteiras com o poder é que muitas análises feitas com a maior boa vontade por acadêmicos e expressos numa simples entrevista não permitem nem sempre abarcar seus aspectos mais relevantes, ainda que sejam sempre úteis pelos seus esforços. Uma entrevista concedida pelo historiador Pedro Henrique Pedreira Campos a Carol Prado, da Folha de S.Paulo, parece ser o caso. Ele leciona na Universidade Rural do Rio de Janeiro, é autor de livros como “Estranhas Catedrais”, “Nos Caminhos da Acumulação” e “Ensaios de História Social”, e ainda que ofereça algumas pistas interessantes pode conduzir a conclusões perigosas, como a sugerida pelo título atribuído à entrevista. Todos sabem que não é de hoje e nem somente do Brasil que estas relações existem, sendo famoso o chamado complexo militar industrial dos Estados Unidos, bem como estes relacionamentos duvidosos que sempre existiram em muitos países, como o Japão.

No fundo, o custo dos processos democráticos é elevado e as empresas que fornecem materiais como serviços para o governo sempre arcaram com parte destes custos, das mais variadas formas, nem sempre de modo transparente para o público, para continuarem usufruindo das benesses dos que podem ser conduzidos ao poder. Deve-se ressaltar que isto não acontece somente no setor público, mas também nos grandes interesses privados. Limitar a análise para um determinado período no Brasil apresenta algumas dificuldades, como quando ele se refere à importância da empreiteira Metropolitana no financiamento da IPES – Instituto de Pesquisa e Estudos Sociais, pois ela é uma das que caracterizavam as empreiteiras de importância no período anterior, e que acabaram perdendo-a. Também havia outros interesses privados no regime do governo, que não se restringiam às empreiteiras.

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A construção de Brasília determinou uma nova onda de novos empreiteiros

Parece possível identificar algumas fases, como quando a capital brasileira estava sediada no Rio de Janeiro, período em que alguns organismos tinham conseguido relacionamentos com os detentores do poder de então. Eles perderam importância no processo de construção de Brasília, quando novas empreiteiras se destacaram aproveitando as urgências bem como o trabalho intensivo nas regiões pioneiras como os cerrados do Centro-Oeste, cujos custos nem sempre foram devidamente avaliados. No período autoritário, outras que já estavam com capacidades técnicas com a construção de grandes obras complexas como as hidroelétricas no Centro-Sul tiveram uma ascensão e procuraram manter a sua posição. Para ser realístico, sempre o governo teve menos capacidade de formular programas e projetos em seus detalhes, salvo poucas exceções, e os oferecimentos de estudos feitos pelas consultorias de engenharia que pertenciam às empreiteiras sempre tiveram um papel relevante no convencimento das autoridades sobre suas prioridades, como temos apontado neste site. Isto independia dos partidos que estavam no poder.

Tudo indica que, com todos os escândalos que estão sendo divulgados, haverá uma tendência de algumas que já conquistaram dimensões apreciáveis evitarem riscos futuros nestes projetos no Brasil. Com a nova legislação que envolve a responsabilidade de membros do Conselho de Administração em crimes e utiliza as delações premiadas, muitos grupos tenderão a evitar envolvimentos, abrindo espaço para uma nova geração de empreiteiras, ainda sejam pequenas e médias, que contem com dirigentes ousados e tenham acesso às novas tecnologias que estão sendo empregadas nestas obras. Por mais que o governo se aparelhe para contar com organismos que preparem programas e projetos, o setor privado tende a ser mais flexível e dinâmico para detectar novas oportunidades tanto de projetos governamentais como público-privados.

Com as acentuadas flutuações que ocorrem no Brasil, muitos grandes grupos que já possuem apreciáveis experiências internacionais podem dar prioridade para a expansão no exterior de suas atividades, e isto não deve significar o uso de corrupções.

Seria um pouco acadêmico imaginar que haveria um processo de seleção dos empreiteiros onde todas as concorrências seriam transparentes. Parece quase inevitável que haja alguns arranjos semelhantes aos cartéis e nos projetos considerados urgentes ou de emergência sempre haverá necessidade das escolhas recaírem nas empresas que apresentam, aparentemente, as melhores propostas. Infelizmente, são segmentos de grandes projetos e que exigem tecnologias, capacidade financeira, equipes técnicas que não estejam suficientemente disseminadas pelo mundo para permitirem concorrências como as que seriam desejáveis.

O que se pode esperar é um processo que evite gritantes abusos com o avanço do processo democrático. Os grupos que estejam na oposição necessitam se aparelhar tecnicamente para apontar as tendências de distorções, por mais que estejam, aparentemente, sendo desenvolvidos sistemas de controle público. Também não parece conveniente que todas as empreiteiras sejam generalizadas, pois sempre existem alhos como bugalhos.

A primeira hipótese é que estas sociedades todas são de seres humanos e não de anjos, e por mais que se deseje que haja uma redução da ganância, parece mais produtivo que se desenvolvam sistemas que coíbam os abusos, na medida do possível.


Preocupante Transição da Imprensa

30 de novembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política | Tags: as mudanças provocadas pela internet, efeitos das economias com baixos crescimentos, o papel da consolidação da democracia, observações no Brasil e no mundo, tendências monopolísticas

Todos reconhecem a importância da imprensa independente e livre para a consolidação e preservação da democracia, mesmo que ela, por ser uma atividade humana, também esteja sujeita a erros, que muitos veículos reconhecem quando detectados. Há indícios de uma difícil transição por que ela está passando, tanto pelo baixo crescimento econômico mundial como pelas mudanças de alguns comportamentos dos seus usuários em decorrência da internet. O que aparenta estar acontecendo, na grande maioria dos veículos e grupos da imprensa, é a queda de suas receitas, indispensável para a manutenção de sua qualidade, com um corpo de jornalistas competentes. Ao mesmo tempo, parece que parte de muitos que utilizam seus serviços tem hoje uma preferência pela velocidade na sua obtenção, ainda que haja alguma superficialidade nas matérias veiculadas. Este quadro acaba provocando também uma tendência a maior concentração econômica dos grupos envolvidos com as comunicações, gerando situações monopolísticas indesejáveis que aproveitam variados veículos para usar as vantagens da aglomeração, funcionando como uma central de informações.

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Isto não parece uma tendência que se observa somente em determinados países, mas por todo o mundo que está cada vez mais globalizado. Vivemos numa aldeia cada vez mais global, onde o que acontece em determinado lugar acaba tendo repercussões em outros, quer seja do ponto de vista econômico, político ou social. Todos passam a depender dos outros, queiramos ou não. Isto fica evidente como no caso da preservação do meio ambiente, onde o aquecimento global torna mais agudo os fenômenos climáticos, afetando a todos. Ao mesmo tempo, não temos ainda a capacidade de um razoável consenso das medidas e metas que precisamos perseguir de forma coletiva. Os meios de comunicação social são vitais nestes complexos processos de decisão coletiva, ainda que a ganância humana não facilitem as tomadas de medidas razoáveis para todos.

Medidas vieram sendo tomadas por alguns veículos para aumentar as suas receitas preservando a qualidade das matérias publicadas. Muitos passaram a promover eventos patrocinados por setores ou empresas interessados na discussão e divulgação de determinados assuntos, que gerariam o material de qualidade com palestras de especialistas para a edição de suplementos ou sua veiculação normal. No entanto, a concorrência por este mercado tornou-se acirrada, e nem sempre se conta com anúncios e patrocínios que permitam a rentabilidade destes pacotes nos períodos recessivos.

A grande maioria dos grupos está ampliando o número dos seus veículos, que, além dos jornais impressos, envolvem revistas, rádios e televisões, inclusive para os mais ágeis e rápidos como os que utilizam a internet, alguns com assinaturas. Ainda que o mercado de publicidade para estes meios estejam se ampliando, eles exigem volumes que necessitam concorrer com outras organizações especializadas nestas áreas.

Todos os profissionais especializados em comunicações sabem que precisam atender as preferências dos seus usuários como dos patrocinadores. A maioria dos seres humanos parece tender a apreciar fatos mais positivos que existem na realidade que os deixam otimistas, do que a intensidade de destaque dos aspectos negativos que tendem a criar um clima depressivo. Mas também sabem que um dos papéis da imprensa é ser crítica. Um razoável equilíbrio difícil de ser definido parece o mais recomendável, ainda que muitos veículos mantenham posições ideológicas contrárias aos que se encontram no poder, confundindo as divulgações com campanhas políticas.

Alguns analistas entendem que existem muitos aspectos nos países emergentes, como o Brasil, que podem ser enfocados com um prisma mais construtivo, mesmo quando se referem às dificuldades existentes. Muitos estão lutando para superar as limitações, ou podem ser oferecidas sugestões para as possibilidades de superá-las, informando sobre o que tem sido feito em outras localidades neste sentido.

De outro lado, existem situações em que o poder político acaba relevante no mercado publicitário, mesmo que muitos órgãos de imprensa evitem ser identificados como “chapas brancas”. Há que se reconhecer também que em muitos países existem entidades públicas atuando na imprensa, muitas concentradas em assuntos de interesses culturais, educacionais ou interesse público. Parte dos seus recursos é originário dos orçamentos públicos.

Nas entidades totalmente privadas, em setores que no Brasil funciona sob o sistema de concessão, alguns horários podem ser requisitados pelo poder público. Como elas vivem das audiências, também existem programas que são consideradas mais populares, inclusive tipo novelas, que apresentam elevados níveis de interesse popular.

Em alguns países, como no Brasil, parece haver um exagero de interesse religioso nos órgãos de comunicação social que são utilizados para finalidades de ampliação do número dos seus adeptos. Como entidades religiosas costumam estar isentas de tributações, acaba se criando, em alguns casos, uma situação esdrúxula, principalmente quando existe uma separação entre o Estado e a Igreja na legislação. Como também existem programas não religiosos nestes veículos, suas receitas publicitárias acabam concorrendo com os demais meios de comunicação social, privados ou públicos.

No Brasil, parece que a maioria das entidades envolvidas com as comunicações está procurando caminhos para se adaptar a estas novas situações, tentando combinar os veículos que utilizam a internet com os mais tradicionais, utilizando as economias de aglomeração. Para que não ocorra um exagero de concentração, existem agências reguladoras, mas estas sofrem pressões daqueles que já são poderosos. São transições difíceis, mas as criatividades vêm permitindo encontrar caminhos razoáveis. É preciso manter o otimismo.


A Difícil Compreensão da Arte de Governar o Brasil

28 de novembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política | Tags: a difícil compreensão do Brasil, artigo no The Economist, mesmo para os brasileiros

Uma das grandes dificuldades de compreensão para quem nunca teve a responsabilidade de governar é de que um país como o Brasil é mais complexo do que parece, onde nem sempre a lógica dos que possuem boas formações acadêmicas consegue compreender todas as restrições existentes, pois não se trata de algo científico, mas que exige muita arte. Entre os muitos princípios que costumam orientar os políticos que chegam ao poder, costuma existir um que seria continuar nele mesmo que indiretamente, que quase sempre não agrada aos opositores ou os que têm a responsabilidade de analisar esta dura realidade. Outro é que sempre se tenta fazer o melhor o que se pode, que nem sempre é o que se quer.

O Brasil é uma federação em que a quase totalidade dos eleitos na sua incipiente democracia o são pelos Estados, de cujos eleitores eles dependem e desejam recursos e só o presidente da República e o seu vice são eleitos para defender os interesses da União, com seus auxiliares nomeados. Mesmo na Constituição Brasileira de 1988, que a rege, existem incongruências que estão consagradas, não sendo fácil os seus aperfeiçoamentos políticos para se chegar a algo razoável para o país.

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Dilma Rousseff reeleita num quadro de duras limitações

Se admitida esta dura realidade, já seria um passo importante para se entender algo sobre o Brasil, mas pouco se discute a respeito internamente, tanto mais no exterior. Se os brasileiros contam com dificuldade para entender as limitações deste país, parece compreensível que mesmo os mais qualificados estrangeiros tenham a capacidade de entender muitas de suas complexidades, como os competentes jornalistas do The Economist, que possuem as suas claras preferências ideológicas. Os problemas brasileiros acabam sendo tratados com as compreensíveis superficialidades de suas aparências, inclusive por alguns que tenham experiências do poder, pensando que suas vontades sejam suficientes para superar os obstáculos existentes para atingir muitos dos objetivos que todos gostariam que fossem alcançados.

Lamentavelmente, o artigo desta semana daquela revista que entende que Dilma Rousseff está mudando o rumo de sua política e parece contar com muitas limitações. Mesmo que se admita que ela mesma, com toda a experiência que acumulou até com seus erros, ainda deixe transparecer algumas de suas características pessoais. Tudo indica que Antonio Palocci, mencionado no artigo, que foi o ministro da Fazenda de Luiz Inácio Lula da Silva, deixou o governo, não pela divergência com a então ministra Dilma Rousseff que viria a suceder Lula, mas diante das atrapalhadas em que ele acabou se envolvendo. Talvez Dilma até tivesse preferência em contar com Palocci para comandar o seu setor de economia no novo mandato, mas ele, conhecendo as características pessoais da presidente reeleita, evitaria a possibilidade de potenciais atritos.

Os que entendem que os escolhidos Joaquim Levy, Nelson Barbosa e Alexandre Tombini seriam mais flexíveis no relacionamento com Dilma podem estar enganados. Estes e outros auxiliares que estão cogitados para posições chaves do governo, como a Secretaria do Tesouro, além de melhores aparelhados nas suas formações, parece que estão sendo designados porque não resta ao novo governo senão efetuar as duras correções, que diferem das cogitadas pelo candidato oposicionista à Presidência de República. O que parece evidente é que não restam alternativas e todos terão entender esta dura realidade.

Os relacionamentos internos da Presidência da República com os principais componentes do governo nem sempre ficam claros, principalmente num gigantesco grupamento com diferentes tendências entre seus componentes. As informações mais estapafúrdias são veiculadas pela imprensa, semeadas por diferentes interessados, que quase sempre não correspondem à realidade que apresenta facetas variadas para os diversos ângulos de onde são observados.

Que as dificuldades objetivas aumentaram não se pode duvidar, o que não se restringe somente ao Brasil, ainda que possam ser mais graves para o atual cenário brasileiro. Qualquer que fossem os eleitos, muitos deles existiriam, o que está sendo considerado como o novo normal. O que parece que deve ser considerado é que as variações nas margens são relevantes, devendo se distinguir os multiplicadores dos aceleradores, o que costuma ser difícil até para os especialistas.

As ineficiências existentes, por incrível que pareça, acabam gerando espaços para melhoras, mesmo que muitas gestões estejam lamentáveis. O que parece evidente é que as escolhas das linhas mestres das ações prioritárias acabam sendo relevantes, mesmo num quadro onde as incompreensões continuarão se multiplicando. Há que se admitir, na primeira impressão, é que o quadro de auxiliares com que Dilma Rousseff contará apresenta qualificações superiores quando comparados com que estão sendo substituídos, sendo que sua responsabilidade é maior do que ela gostaria de admitir. Ela será forçada a engolir mais sapos do que deseja, se não deseja perder bons auxiliares, que são aqueles que dizem a ela o que ela não gostaria de ouvir, como acontece em qualquer governo decente.

Existem todas as condições para o restabelecimento da credibilidade do governo, que é um fator subjetivo que pode sofrer rápidas mudanças. Há que se admitir que a situação brasileira não seja ímpar no mundo, ainda que por aqui ela esteja mais dramática.


O Tratamento dos Japoneses aos Trabalhadores Estrangeiros

24 de novembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política | Tags: artigo no The Japan Today, despacho da AFP, exemplo de Barack Obama, mudanças indispensáveis no Japão, tratamento dos trabalhadores estrangeiros | 2 Comentários »

Na mesma linha da nossa proposição para resolver alguns problemas graves do Japão, ainda que os japoneses sejam os melhores conhecedores do assunto, um artigo publicado pelo The Japan Times, com base num despacho da agência AFP, sugere a necessidade de uma rápida mudança do tratamento que os japoneses continuam dando aos trabalhadores estrangeiros. Todos reconhecem que a população japonesa está diminuindo e se tornando mais idosa, necessitando da ajuda de trabalhadores estrangeiros para execução dos trabalhos considerados mais duros, onde os japoneses não estão mais dispostos a atuar. São os relacionados aos cuidados dos idosos dependentes, bem como os relacionados com a manutenção de muitas de suas rodovias, para citar os casos mais frequentes. O governo de Shinzo Abe vem ampliando o chamado TTIP – Industrial Trainee and Technical Internship Program, passando de três anos de permanência no Japão para cinco anos, mas não vem combatendo os abusos que ocorrem, fazendo com que muitas pessoas sejam exploradas nas tarefas mais duras. Informa-se que cerca de 50 mil chineses estão neste programa, havendo também outros estrangeiros.

Todos sabem que no Japão sempre existiram os chamados “empreiteiros de mão de obra”, que no passado exploravam os próprios japoneses pouco qualificados. Há um tradicional sistema de subcontratações dos recursos humanos para trabalhos temporários naquele país, que sempre geraram abusos que não conseguem ser coibidos, pois algumas das organizações que atuam neste segmento aproximam-se das chamadas mafiosas, como todos sabem, mas continuam sendo lamentavelmente toleradas. Em 1985, quando eu era responsável pelo Pavilhão do Brasil na EXPO TSUKUBA 85, pensava que estava pagando condignamente aos funcionários japoneses que permitiam a sua operação. Vim a saber que, mesmo utilizando uma grande empresa japonesa de primeira linha, eles haviam subcontratado os serviços e os trabalhadores japoneses recebiam uma pequena parcela do que estávamos pagando.

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O Japão tem mais de um milhão de helpers mas necessita da ajuda de estrangeiros para cuidar dos seus idosos

Apesar das boas intenções deste programa TTIP, que visaria que estrangeiros se acostumassem ao idioma local bem como aprendessem algumas habilidades profissionais, o fato concreto é que tem sido usado para suplementar o fornecimento de recursos humanos de baixa qualificação. A ponto de existir uma organização chamada Rede de Solidariedade com Migrantes no Japão, um grupo não governamental para apoiar estes estrangeiros. Alguns japoneses chegam a admitir que existe uma espécie de trabalho escravo de estrangeiros, muitos que contraíram empréstimos para ir ao Japão.

Alguns países como os Estados Unidos, sob iniciativa do presidente Barack Obama, procuram legalizar a presença de trabalhadores estrangeiros, dentro de determinadas condições, ainda que recebam restrições dos republicanos que alegam que o executivo estaria tomando estas medidas sem consultar a maioria parlamentar.

Os principais imigrantes no Japão são oriundos da China, do Vietnã e da Indonésia, admitindo-se também vistos temporários para descendentes de japoneses até a terceira geração, que se cogita estender para outras. Diante dos problemas que estão sendo enfrentados pelo Japão, seria recomendável, para maior agressividade nestas políticas, aumentar a população e o seu rejuvenescimento. Isto ajudaria a ampliar a demanda local, pois os jovens sempre estão entre os que estão aumentando suas demandas de variados produtos, notadamente quando estão melhorando o seu padrão de vida.

Algumas autoridades alegam que não conseguem controlar os comportamentos dos intermediários, pois temem o seu poder, inclusive junto aos parlamentares. Os japoneses precisam enfrentar estas dificuldades, para sanar problemas mais graves de seu país.

Alguns japoneses entendem que estes estrangeiros necessitam se sentirem bem acolhidos ao Japão, o que parece ainda muito longe da realidade. Portanto, estes pontos de vista não são somente de observadores do exterior, mas também de alguns segmentos do Japão que precisam ser apoiados para acelerar as mudanças nas bases fundamentais daquele país.