21 de novembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política | Tags: Alexandre Tombini no Banco Central, Armando Monteiro no Desenvolvimento e Katia Abreu na Agricultura, entre outros, Joaquim Levy na Fazenda, Nelson Barbosa no Planejamento
A boa aceitação da Bolsa de Valores, com a alta das ações da Petrobras, por exemplo, e a queda da taxa de câmbio, entre outros indicadores, mostra que o chamado mercado está recebendo com aprovação as informações, ainda não confirmadas, dos principais nomes da nova equipe ministerial do governo Dilma Rousseff para o seu segundo mandato. São indicações que ela teria acabado por aceitar as mudanças do seu comportamento pessoal, que era de exagerada participação nos detalhes da fixação da política econômica, que não é o seu forte, ainda que tenha sido reeleita, aumentando as possibilidades de diálogos. Deve-se lembrar que o antigo comandante do Tesouro Nacional já teve divergências passadas com Dilma Rousseff, devendo contar com maior liberdade na sua ação no Ministério da Fazenda, com critérios mais rigorosos, não podendo ser considerado como indicação do Bradesco, onde trabalha atualmente. Nelson Barbosa, com boa experiência no governo, certamente está qualificado para a Secretaria de Planejamento da Presidência da República, sem a necessidade de excessivo desgaste de Guido Mantega. Com a confirmação da continuidade de Alexandre Tombini no Banco Central, o rigor da política monetária no combate à inflação ficaria assegurado, num melhor entrosamento com a política fiscal e demais aspectos que influem na eficiência da política econômica, sem a exagerada interferência política-partidária.
Com a indicação do ex-presidente da CNI – Confederação Nacional da Indústria, senador Armando Monteiro para o Ministério do Desenvolvimento e da senadora Katia Abreu, presidente da CNA – Confederação Nacional da Agricultura, para o Ministério da Agricultura ergue-se a possibilidade de maior acesso dos empresários aos diálogos com o governo, ponto crucial para melhora da credibilidade do governo. Ainda que todos estes nomes não possam ser as primeiras preferências pessoais de Dilma Rousseff, são indicações de que ela está se curvando às indicações da realidade, mostrando a gravidade da situação que está se enfrentando, sem os ventos de cauda do comércio internacional. Seria um pragmatismo mostrando que o governo terá negociações difíceis com a classe política, preservando as qualificações técnicas nos principais postos relevantes para a política econômica, sem se curvar também aos interesses do setor financeiro.
Joaquim Levy, qualificado economista seria indicado para o Ministério da Fazenda
Nelson Barbosa que seria indicado para a Secretaria de Planejamento
Alexande Tombini continuaria no Banco Central
Senador Armando Monteiro Neto, ex-presidente do CNI, iria para o Ministério do Desenvolvimento
Senadora Katia Abreu, presidente do CNA, iria para o Ministério da Agricultura
Se confirmadas estas indicações, sem nenhum demérito à equipe atual que obedeceu disciplinadamente ao comando de Dilma Rousseff, haveria uma evidente indicação da melhoria das qualidades, permitindo um diálogo mais profícuo tanto com os segmentos acadêmicos como empresarias e até políticos.
Todos sabem que o entrosamento de uma nova equipe apresenta dificuldades, mas se Aloisio Mercadante, que vem atuando muito junto à presidente Dilma Rousseff no seu atual cargo de ministro Chefe da Casa Civil, costurar muitos entendimentos, tudo indica que existem fortes chances para uma atitude mais realística diante dos problemas que precisam ser enfrentados.
Como também começam a surgir reajustamentos de posições, como vem ocorrendo na China com a redução da taxa de juros, pode haver uma ligeira melhora no cenário internacional, pois todos estão inseridos na economia globalizada, e somente uma recuperação nos Estados Unidos não é suficiente para alterar o panorama mundial. Mas acréscimos marginais em muitas economias podem alterar o quadro de pessimismo que se verifica neste final do ano, projetando-se para os próximos anos.
15 de novembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política | Tags: a prisão de executivos de empreiteiras e dirigentes da Petrobras, análises preliminares um pouco mais profundas, o comportamento da mídia
É mais que natural que toda a imprensa brasileira conceda espaços generosos para a divulgação das espetaculares prisões de dezenas de importantes dirigentes das empreiteiras brasileiras, da Petrobras e outros envolvidos nos fortes indícios de irregularidades. Elas surpreenderam muitos analistas pelas personalidades envolvidas que propiciaram vantagens para empresas privadas e recursos para as mais variadas finalidades, inclusive financiamentos de campanhas eleitorais. A Constituição de 1988 concedeu amplos poderes para o Ministério Público que, por meio Polícia Federal, ainda está aperfeiçoando o uso dos mesmos, e no momento ainda exagera nas divulgações das operações espetaculares que parecem visar o aumento das delações premiadas, que podem identificar outras irregularidades, que certamente devem ser punidas, mas dentro de um longo processo judicial que, lamentavelmente, demanda muito tempo para ser justo.
O processo ainda está numa fase intermediária e poderá ter maior profundidade atingindo até membros do Conselho de Administração de muitas empresas, o que é permitido hoje pela legislação brasileira, não se restringindo somente aos executivos.
Ex-diretor de Abastecimento da Petrobrás, Paulo Roberto Costa, um dos primeiros delatores visando a redução de suas penas
Alberto Youssef, doleiro que seria um dos principais operadores de todo o sistema, que também visa a redução de suas penas com delações premiadas. Foto: Joedson Alves/Estadão Conteúdo
Em todo o mundo, os custos das campanhas eleitorais e de muitos movimentos políticos são elevados e diferentes mecanismos são utilizados para que os seus financiamentos sejam mais transparentes e justos, não havendo ainda um que seja recomendável para todas as diferentes democracias. Alguns países optam pelo financiamento com recursos públicos que já estão sobrecarregados, outros optam por pequenos financiamentos pulverizados dos eleitores, alguns permitem que empresas participem do processo. Difícil imaginar que todos os recursos sejam legais, havendo abusos dos usos de mecanismos ilegais nestes aprendizados para o aperfeiçoamento. Votações, como alguns dispositivos que interessavam a algumas correntes políticas da Constituição, exigiram no Brasil volumosos recursos em que foram usados meios suspeitamente ilegais, que tendem a se ampliar nas campanhas eleitorais.
Tudo que está ocorrendo, já com dezenas de prisões, principalmente temporárias, baseiam-se em algumas delações premiadas de criminosos confessos claramente envolvidos em irregularidades visando as reduções de suas penas. Muitos executivos, agora presos, acabarão sendo libertados pelas ações eficientes de dispendiosos trabalhos de seus advogados, mas tudo indica que este espalhafatoso processo objetiva obter novas delações premiadas, que visam a identificação de provas materiais com outros envolvidos.
Mas como consequência destas ações já pode ser especulada mudanças que deverão ocorrer na economia e na política brasileira, com efeitos de longo prazo e positivos. Historicamente, quando a Capital brasileira ainda se situava no Rio de Janeiro, havia algumas grandes empreiteiras que dominavam o cenário das grandes obras públicas no país. Quando da construção de Brasília, foram substituídas por outras que aproveitaram a oportunidade para volumosos trabalhos, com grande urgência, em regiões pioneiras de então, sem que houvesse um grande rigor nas suas fiscalizações.
Algumas novas empreiteiras se consolidaram com as grandes e numerosas obras que foram construídas intensamente durante o período de administração autoritária no país, quando os custos das campanhas políticas eram menos elevados. Muitas continuaram se expandindo até os tempos atuais. Elas sempre foram importantes nos financiamentos dos custos políticos, de formas regulares e até com mecanismos duvidosos. Mas, certamente, não são as únicas, podendo se suspeitar que instituições financeiras também tivessem um papel importante, ao lado de outras empresas que dependem dos favores da administração pública.
O atual processo deve provocar uma forte renovação nestas empreiteiras que contavam também com empresas de engenharia para a elaboração de projetos das construções pesadas, que não contam com eficientes mecanismos alternativos. Este processo poderá ser demorado até a consolidação de um novo quadro eficiente no Brasil, até que as novas tenham toda a tecnologia e dimensão econômica para poder arcar com os novos trabalhos.
Isto provocaria uma redução temporária das obras mais cruciais para sustentar um processo de recuperação do desenvolvimento, mesmo que estas adaptações contem com a colaboração de eficientes empresários. O mais natural é que haja cautelas adicionais, como algumas empresas tradicionais que já se declararam redirecionando suas atividades, evitando setores onde possam ocorrer problemas como os que estão sendo enfrentados.
Mesmo com todos estes problemas, deve-se encarar que as punições das irregularidades devam ser positivas, mostrando que a democracia continua se aperfeiçoando no Brasil, fazendo com que a concorrência tenha condições para aumentar a eficiência econômica no país.
As mudanças no quadro político acabam exigindo reconsiderações importantes, dentro do regime federativo em que o Brasil está inserido, com os políticos sendo eleitos nas eleições estaduais, não havendo os que se empenhem na defesa da União. Parece indispensável que exista alguma cláusula de barreira, permitindo que somente um número limitado de partidos tenha representação nacional. Algum mecanismo que permita uma fiscalização mais eficiente da ação dos eleitos pelos seus eleitores, como um sistema distrital misto parece indispensável. Tudo deve visar a redução dos custos das campanhas eleitorais.
A esperança é que a indignação provocada com a divulgação de tantas irregularidades seja canalizada internamente no sentido do aperfeiçoamento e não da desilusão dos eleitores com a política. Também do ponto de vista internacional, as análises desejáveis seriam às voltadas aos esforços de redução da corrupção no Brasil, de forma radical, como poucas vezes vistos na maioria dos países.
14 de novembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política | Tags: artigo do The Economist sobre a China, divergências com tratamento irônico, presença de líderes mundiais na China, reunião da APEC
Todos sabem que a posição ideológica do The Economist com a atual dominante na China apresenta uma grande diferença. Mesmo que existam aspectos em que um artigo publicado na revista possa ter suas razões, diante da impossibilidade de modificar a atual realidade, como é da tradição inglesa, abusa-se da ironia para descrever o que aconteceu nos últimos dias naquele país. É como se a Pax Americana que seria apoiada pela revista tenha que ceder à nova ordem chinesa que vai se impondo ao mundo, como a maior economia do planeta. Denomina como coreografia quase imperial o quadro em que Xi Jinping recebeu Barack Obama, símbolo poente dos Estados Unidos, no cenário da residência oficial da China ascendente, na Zhongnanhai, ao lado da Cidade Proibida, deixando o grande Salão do Povo que vinha sendo utilizado para recepções semelhantes.
A revista enfatiza que na televisão como nos jornais chineses, Xi Jinping foi tratado sempre ocupando uma posição de comando, com os líderes mundiais pagando respeito à magnanimidade do presidente chinês. Como fato objetivo, parece que não restou a Barack Obama senão curvar-se diante da triste realidade, como se fosse o que poderia ser feito para deixar pequenas marcas de sua tentativa de contribuição como coadjuvante nas questões relevantes no futuro próximo para o mundo, como no caso dos entendimentos visando um avanço nas negociações relacionadas com as emissões de carbono. É preciso admitir que a diplomacia chinesa tirasse o maior partido possível da participação de grandes líderes mundiais na reunião da APEC.
Na nova edição do The Economist, a capa é interpretada nos seus detalhes, mostrando que as posições foram sempre no sentido de dar um ângulo favorável a Xi Jinping, que se apresenta de frente nas fotos, enquanto Barack Obama fica com o seu braço cobrindo-o, como se fora uma posição de submissão, o que parece ser um exagero, mesmo respeitando a longa tradição da imprensa.
A capa da revista para a semana
Já postamos neste site que na reunião da APEC os líderes presentes na China deram respaldo ao prosseguimento dos entendimentos visando o acordo, enquanto a TPP, que seria um contraponto liderado pelos Estados Unidos, ainda não o conseguiu. Para conseguir tal objetivo, a China anunciou acordos de livre comércio com a Coreia do Sul e com a Austrália, bem como generosos investimentos de US$ 40 bilhões para melhoria da infraestrutura em países asiáticos, inclusive parte da Rússia, dentro do novo Silk Road, além da confirmação das aquisições de gás daquele país ao seu norte.
Ainda que existam preocupações e resistências ao avanço militares da China pelos mares que os cercam e que geram conflitos com seus vizinhos, o primeiro-ministro japonês Shinzo Abe foi recebido por Xi Jinping, ainda que a foto do evento mostre todo o desconforto existente entre os dois. A revista expressa sua pesada posição com a interpretação que o fato dá “a impressão de um proprietário de um cão obrigado a pegar o coco de outro cão (tradução da Google de “Lent the impression of a dog owner obliged to pick up another pooch’s turd”).
Outros acordos como a facilidade para o comércio de produtos de informática ainda depende da OMC e outro para evitar maus entendimentos ou confrontações militares, além de facilitar o visto de visitantes turistas ou empresariais.
Mas, segundo a revista, a maior surpresa foi o entendimento sobre os gases que provocam efeito estufa, onde os Estados Unidos se comprometeram com metas específicas que não encontram apoio unânime no país, quando os objetivos chineses ainda são vagos, o que deverá ser objeto de entendimento no próximo ano numa reunião das Nações Unidas em Paris.
Como os chineses aceitaram uma conferência com a imprensa ao término do encontro entre os dois presidentes, Xi Jinping deixou claro que o problema de Hong Kong era um assunto interno, o que foi interpretado pelo The Economist como uma posição que contraria entendimentos em que se procuram avanços nos relacionamentos com os países Ocidentais como outros aliados dos Estados Unidos.
O que parece difícil se aceito pela revista é que, apesar de pontos em que podem ser levantadas objeções, que certamente existem, o sentido geral mostra que existem possibilidades de convívio com a China, ainda que existam posições divergentes em diversos assuntos.
12 de novembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política | Tags: decisões ousadas, encontro dos dois presidentes mais importantes do mundo, não podem agradar a todos, reunião de cúpula de Barack Obama e Xi Jinping, um esforço surpreendente
Ainda que Xi Jinping, o presidente da China com poder incrível, que pretende superar os Estados Unidos nas próximas décadas pela sua importância mundial, tenha obtido um grande resultado diplomático na sua reunião de cúpula com o Barack Obama, presidente dos Estados Unidos, que vem enfrentando variados problemas para consolidar a sua liderança no seu país como no mundo, há que se admitir que resultados surpreendentes para o mundo fossem obtidos. Ainda que isto não possa atender a todos, havendo observações como do site do The Economist que os Estados Unidos cederam mais que os chineses na questão das emissões dos gases de efeito estufa, não se pode negar que importantes avanços foram conquistados, como parece ter surpreendido muitos veículos de comunicaçâo importantes no mundo, inclusive agências noticiosas internacionais como o Associated Press.
O The Wall Street Journal publica no seu site um abrangente artigo escrito por Carol E.Lee, Jeremy Pagina e William Mauldin, informando que, além do entendimento sobre o clima, foram alcançados importantes acordos sobre questões militares, bem como o comércio relacionado com os produtos de informática, considerando inesperado este movimento, que certamente exigiu um grande esforço de Barack Obama e sua equipe, quando ele já era considerado um “lame duck”.
Tanto Xi Jinping como Barack Obama fizeram declarações públicas otimistas sobre o novo patamar em que colocam as relações bilaterais, que acabam provocando efeitos em todo o mundo. Apesar das diferenças existentes entre os dois países com relação a muitas questões, tudo o que é possível parece ter sido feito, mesmo considerando os compromissos existentes com seus aliados.
Quando a reunião de cúpula anterior foi realizada em Sunnyland na Califórnia num clima descontraído, os chineses capricharam para que o evento em Beijing fosse mais formal, envolvendo até uma visita pelos jardins da residência oficial, ao lado da Cidade Proibida. Os trajes utilizados eram formais e adequados ao rigoroso outono de Beijing, com paletós, gravatas e casacos.
Encontro de cúpula entre Xi Jinping e Barack Obama em Beijing
Muitos outros acordos foram estabelecidos, como o visto de negócios e de turismo de 10 anos bem como o Tratado Bilateral de Investimentos entre os dois países, mas os pontos altos referem-se aos entendimentos que permitem acelerar as providências para a redução do efeito estufa que deverá ser discutido nas Nações Unidas ainda este ano, como as medidas destinadas para evitar incidentes fortuitos que prejudiquem os avanços em direção a um entendimento relacionado com a defesa da China e dos Estados Unidos e seus aliados, notadamente nos mares que cercam os chineses.
Muitos detalhes mostram que grandes esforços foram efetuados para que os acordos fossem estabelecidos atendendo ao máximo os seus objetivos, reconhecendo as dificuldades existentes em ambas as partes. As reuniões, que estavam previstas para três horas de duração, acabaram exigindo quatro horas e quarenta minutos.
A entrevista à imprensa que se seguiu ao evento tinha a preferência dos chineses para ser algo formal, sem perguntas. Mas as pressões norte-americanas foram aceitas surpreendentemente, resultando num estilo que permitia maior flexibilidade para o trabalho da imprensa.
É preciso compreender que assuntos delicados que antecederam ao encontro de cúpula estavam frescos na memória de todos. A espionagem envolvendo escutas de personalidades, os problemas relacionados com as manifestações em Hong Kong, as tensões decorrentes das disputas territoriais com aliados dos Estados Unidos, os incidentes militares de aviões chineses e norte-americanos, os graves problemas de poluição, as tentativas de acelerar a implantação da democracia em países asiáticos, e muitos outros.
Tudo indica que os chineses entenderam que acordos na atual administração eram relevantes sobre os avanços já obtidos, tendo em consideração a possibilidade de orientações mais duras de um novo governo nos Estados Unidos.
Muitos analistas que participam de entidades que acompanham estes relacionamentos bilaterais se mostravam surpresos com os avanços que foram possíveis, mesmo com algumas concessões norte-americanas. Todos esperam que estes entendimentos favoreçam os que terão que ser submetidos à apreciação de outros países, como no caso dos problemas de poluição nas Nações Unidas, ou de maior liberalização do comércio de produtos relacionados com a informática, no âmbito da OMC – Organização Mundial de Comércio.
Neste acordo na OMC estará incluído o comércio de semicondutores, dispositivos médicos, sistemas de posicionamento global e outros produtos. Nas Nações Unidas, sobre o aquecimento global, os Estados Unidos já se comprometeram a reduzir até 2025 suas emissões de 26 a 28% sobre os níveis de 2005. A China concordou que suas emissões atingirão o pico em 2030, e que as produções de energias não fósseis atinjam 20% em 2025.
Observa-se que se admitiu que a China, apesar de se tornar a maior economia do mundo, a renda per capita de sua população ainda é baixa, e que o seu desenvolvimento ainda implicará em problemas de poluição. Mas há indícios que a própria população chinesa e principalmente os representantes das empresas estrangeiras que atuam naquele país acabarão impondo prazos mais curtos e metas mais ousadas, pois muitos se declaram sem condições de habitarem locais de tanta poluição.
7 de novembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política | Tags: afirmações nacionais e dificuldades decorrentes do passado, análise no Financial Times, as tentativas e os problemas políticos, dois gigantes asiáticos
Um interessante e extenso artigo foi elaborado por Demitri Sevastopulo e Jamil Anderlini e publicado no site da Financial Times sobre as conturbadas relações entre os dois maiores gigantes asiáticos, o Japão e a China. Apesar dos intensos interesses bilaterais comercias e econômicos, as dificuldades políticos militares mal resolvidas que vêm desde o final do século XIV e se agravaram durante a primeira metade do século XX até o término da Segunda Guerra Mundial não facilitam as reduções dos atuais atritos como os decorrentes das disputas das ilhas Senkaku/Diaoyu, bem como as expansões militares chinesas que estão ocorrendo pelos mares que os cercam, para garantir as rotas de suprimento da China. O artigo pode ser encontrado com detalhes no: http://www.ft.com/intl/cms/s/0/23d132ae-64d5-11e4-ab2d-00144feabdc0.html#axzz3IQVPDRgM .
Os dirigentes de ambos os países sabem, para efeito de suas políticas internas, que as afirmações nacionalistas atendem uma significativa parcela de suas populações, aproveitando variados episódios para afirmarem e demonstrarem com pequenos gestos seus empenhos na defesa destas posições. Ainda que elas tenham poucos efeitos práticos, estes problemas demonstram o quanto estas questões psicológicas coletivas acabam dificultando posições mais pragmáticas. No subconsciente de muitos japoneses e chineses, ainda que estes assuntos não sejam explicitados, existem preconceitos que alimentam o caldo de cultura sobre estes assuntos delicados, que não conseguem ser superados pelos entendimentos diplomáticos.
É preciso reconhecer que as cooperações econômicas bilaterais já passaram pelos períodos áureos, quando a transferência de tecnologia do Japão para a China era mais relevante diante das diferenças dos conhecimentos tecnológicos. Hoje, já existem muitos setores onde a China conseguiu absorver conhecimentos que vieram sendo utilizadas pelos chineses nas montagens de avançados equipamentos eletrônicos de empresas internacionais.
Ainda que existam substanciais diferenças das rendas per capita, as dimensões populacionais, que são acentuadamente diferenciadas, fazem com que a amplitude dos mercados acabe sendo importante, notadamente quando a economia chinesa continua mantendo, ainda que com problemas, uma elevada taxa de crescimento, enquanto a japonesa está estagnada por duas décadas.
Muitas declarações a favor de entendimento entre os dois países ocorrem com frequência, no mínimo para o seu início. O momento parece oportuno, pois a economia chinesa continua sofrendo uma pequena redução no seu ritmo de crescimento, que ocorre com visíveis dificuldades. No Japão, efetuam-se esforços para o volta ao crescimento, inclusive com maciça injeção de recursos pelo chamado easing monetary policy, nem sempre com resultados efetivos. A cooperação entre os dois países seria de grande importância para a Ásia e para o mundo.
No entanto, parece que as preocupações políticas ainda superam as dificuldades para simples gestos, não permitindo um pragmático entendimento entre os dois países, mostrando que existem problemas que superam as conveniências econômicas. No plano individual, registra-se, no momento, o aumento do turismo de chineses, até como decorrência dos problemas que ocorrem em Hong Kong.
31 de outubro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Política | Tags: análises distorcidas pelos desejos, necessidade de uma maior isenção nas análises dos dados, os dados divulgados pela Folha de S.Paulo
Como resultado de uma eleição democrática, algumas pessoas estão disseminando a impressão de uma profunda divisão da sociedade brasileira do ponto de vista ideológico, regional ou de situações econômicas. Os dados que estão sendo publicados pelo jornal A Folha de S.Paulo mostram que os votos para a reeleição da presidente Dilma Rousseff que algumas destas ideias podem ser distorcidas, pois ela conseguiu resultados favoráveis para a reeleição em muitos segmentos onde os votos poderiam beneficiar a oposição. Na realidade, os partidos políticos não parecem refletir posições ideológicas, nem existem confrontos entre os mais privilegiados e os menos favorecidos, mostrando que até os programas sociais não tiveram a influência atribuída por muitos analistas.
O resultado mais difícil de ser explicado pelo candidato opositor é sua derrota no Estado em que governou por dois mandatos, procurando disseminar a ideia de que se tratava de um grupo de diferenciada capacidade de gestão pública. Na realidade, os eleitores brasileiros parecem votar nas pessoas que supõe conhecerem mais profundamente e nem a imprensa consegue ter a influência que julgam possuir, tanto a escrita, que conta com número limitado de leitores, como a televisiva, que reflete somente uma forma de vida que não é a do cotidiano dos brasileiros. Todos sabem que existem muitos aperfeiçoamentos políticos e eleitorais indispensáveis, mas que não aparentam ser possíveis de serem introduzidas com facilidade.
Editoria de Arte Folhapress
No fundo, muitos analistas parecem refletir mais seus desejos do que conhecimentos que são decorrentes dos dados objetivos da eleição. Não parece que as posições ideológicas estejam tão claras, pois a maioria dos partidos conta com facções que se relacionam com seus interesses mais imediatos e nem sempre do país. É preciso compreender que o atual regime vigente no Brasil não é exatamente o que estava cogitado na época da elaboração da Constituição de 1988, que era basicamente parlamentarista, mas que acabou virando presidencialista, pelo desejo de alguns dirigentes influentes da época, sem que todas as mudanças necessárias fossem feitas. A principal dificuldade consiste na Medida Provisória, instrumento eminentemente parlamentarista que se não aprovada pelo Congresso determinaria a mudança do governo, sem grandes traumas, como acontece em muitos países de regime parlamentarista.
É evidente que qualquer regime tem dificuldades para ser administrado com tantos partidos, pois não fica claro quem possui a maioria que deve governar o país, sendo que os eleitores brasileiros votam no candidato e não no partido. Também no sistema eleitoral, haveria conveniência de um sistema de barreira, pois os partidos que não conseguissem um mínimo de representantes no Congresso só poderiam ter vida regional, talvez em alguns Estados.
Temos evidentes dificuldades com o sistema federativo, que se procura atender todas as diferenças regionais que existem no país, mas o poder existente na União é grande, não havendo ninguém que é eleito para a sua defesa, tirando-se o presidente da República. Os congressistas são eleitos nos Estados.
Se existem classes econômicas que se diferenciam no país, tudo indica que os mais privilegiados são em número mais limitado, e os que elegem seus representantes são os menos favorecidos, que habitam também as periferias das grandes metrópoles. A simples introdução do sistema eleitoral distrital não parece capaz de corrigir a relação entre os eleitores e seus representantes, havendo necessidade de um sistema misto que permita que alguns representantes reflitam os pensamentos do partido, criando condições de defesa dos interesses da União.
Tudo aparenta que existem muitos aperfeiçoamentos a serem introduzidos, o que não parece refletir os interesses dos recém-eleitos parlamentares.
Análises muito simplificadas não aparentam ajudar na melhor compreensão de uma situação que parece muito mais complexa.
24 de outubro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais, Notícias, Política | Tags: a favor da renovação política no Brasil, os problemas existentes, posições contra o governo atual
No passado, notava-se um cuidado dos meios de comunicação do exterior, mesmo de circulação internacional, evitando-se tomar posições sobre problemas que poderiam ser considerados de âmbito interno dos diversos países. Atualmente, nota-se que os veículos que costumavam expressar suas posições com candidatos no próprio país passaram a divulgar também suas posições em países que possuem alguma importância no cenário internacional. São casos como da revista inglesa The Economist, de circulação mundial, do jornal inglês Financial Times, dos jornais norte-americanos The New York Times e Washington Post que expressam suas posições, sem nenhum constrangimento, com a pretensão de se referirem a assuntos que podem ter consequências internacionais. Tenho a posição pessoal que devemos nos abstrair de tomar posições eleitorais do que pode ocorrer nos Estados Unidos, no Reino Unido e outros países, respeitando o direito dos seus eleitores.
A tendência geral que pode ser detectada é uma saturação com a linha política que veio sendo adotada pelos recentes governos de Lula da Silva e da Dilma Rousseff, que consideraram prioritária a melhoria da distribuição de renda no Brasil, preservando o emprego e melhorando o salário real no país. Medidas assistenciais a favor de um mínimo de renda para os mais desfavorecidos, ainda que contrariando uma pequena elite que vive dos elevados retornos financeiros nas aplicações, tanto em títulos públicos ou privados, além de ganhos com as liberdades exagerada dos fluxos financeiros internacionais. Ninguém de sã consciência poderia dizer que os governos recentes não cometeram muitos erros que só permitiram um crescimento modesto da economia, muitos erros de gestão foram cometidos, fazendo com que a inflação persistisse em níveis elevados. As comparações internacionais mostram que o desempenho brasileiro foi modestíssimo. Mas criou-se uma nova classe média que prefere manter a atual orientação, ainda que não satisfaça totalmente a grande maioria. Há que se respeitar a opinião eleitoral da população brasileira, ainda que muitos não concordem com ela.
O que fica difícil é para os jornalistas estrangeiros, por mais competentes que sejam, entender profundamente o que vem acontecendo no Brasil. Se o crescimento econômico vem se mostrando modesto deve-se, em grande parte, à baixa prioridade que veio sendo adotada nas administrações anteriores que desconsideram as atividades voltadas para as exportações, dando maior importância à estabilidade monetária. Muitos podem considerar que isto estava correto, mas certamente não são consensuais, havendo que se respeitar às opiniões contrárias.
Também medidas como a flexibilidade monetária, com a política denominada easing monetary policy, que depois da crise mundial de 2007/2008 iniciada pelas autoridades norte-americanas, para assistir aos bancos daquele país que provocaram muitos problemas. Acabou tendo como consequência o criminoso influxo de recursos para países como o Brasil. Isto valorizou a moeda brasileira, dificultando as exportações e favorecendo as importações, bem como os gastos dos brasileiros com turismos internacionais, como na Flórida.
Provocou-se uma verdadeira guerra cambial no mundo, fazendo com que o Japão e a Europa também desvalorizassem suas moedas, na tentativa de preservar suas contas internacionais. No Brasil, que não tem uma moeda de aceitação internacional como em outros países emergentes, passou-se uma conta que não era da responsabilidade dos brasileiros.
A experiência de dar maior prioridade para os problemas internos começou na Coreia do Sul, que, contrariando o FMI, se negou a adotar uma política monetária e fiscal restritiva para receber a assistência daquela organização internacional. Consideraram o emprego e os salários internos de maior importância, enquanto o Brasil nas administrações anteriores “quebrou” três vezes, o que passou a ser evitado pelos governos mais recentes.
O que nem sempre estas administrações não entenderam totalmente foi que o mundo estava crescendo na década anterior, com o desenvolvimento da China, que beneficiou as exportações brasileiras com preços convenientes dos minérios e dos produtos agropecuários. Ajudou a economia brasileira e isto se deveu pouco à política interna.
Todos admitem que se o governo for reeleito, o que as pesquisas estão indicando, haverá necessidade de ajustes fortes que não serão fáceis, e as dificuldades pelas quais o país está passando não são de recuperação fácil. As empreiteiras e as consultorias que elaboram projetos e as executam estão sendo atingidas nas saudáveis medidas anticorrupção, que afetam àqueles que estão nos seus conselhos de administração, ainda que a responsabilidade seja dos executivos. Fica difícil de aceitar que criminosos que concordaram em efetuar as delações premiadas, que devem ser aplaudidas, fiquem totalmente isentos de responsabilidades criminais.
As correções serão difíceis num cenário internacional que não deve ser favorável nos próximos anos. Mas há que se respeitar a opinião dos eleitores brasileiros, que consideram o emprego que possuem e as melhorias que conquistaram. O que parece interessante é que, apesar dos problemas macroeconômicos do Brasil, os jovens atuais estão mais convencidos que a educação é o mecanismo para a conquista de melhorias de vida, o que permite visualizar que o crescimento da nova classe média vai continuar persistindo no Brasil.
Haverá necessidade de uma adequada incorporação da colaboração do setor privado nos projetos de infraestrutura, pois o governo não contará com os recursos para a sua execução, o que se espera que seja feito com um mínimo de inteligência, como expressou o professor Delfim Neto na sua coluna da Folha de S.Paulo.
23 de outubro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais, Notícias, Política | Tags: adesões ao Estado Islâmico, melhoria econômica e aspirações políticas, problemas com o sistema financeiro, problemas em escala mundial | 2 Comentários »
O professor Delfim Netto sempre ensinou que a melhoria na situação econômica tende a ampliar as aspirações de liberdades políticas. Parece que acontece atualmente de forma expressiva em Hong Kong, mas também se registram aumentos de adesões ao Estado Islâmico em muitos países no mundo, como nos Estados Unidos, na Europa e até no Japão. As decisões de bombardeios indiscriminados utilizando drones e aviões militares, atingindo também a população civil, parecem acirrar a discordância de muitas pessoas que acabam tomando atitudes inusitadas para expressar a sua insatisfação. Também os abusos do sistema financeiro mundial provocaram o chamado Occupy Wall Street e as flagrantes manipulações do chamado Liber e das taxas de câmbio, como constatado em Londres, além das resistências às medidas restritivas das especulações financeiras, acabam por contrariar os mais informados.
Ainda que exista uma melhora significativa no padrão econômico da população mundial ao longo das últimas décadas, os abusos daqueles que estão no topo dos sistemas, usufruindo de lucros absurdos de formas duvidosas, acabam por disseminar estas insatisfações. Quando não podem ser resolvidos pelos sistemas democráticos, alguns acabam extravasando seus protestos de formas até violentas, lamentavelmente. Isto deveria servir de alerta para os que continuam abusando, até de formas ilegais, manipulando taxas de juros e de câmbio, bem como evitando restrições para controle dos fluxos financeiros exagerados, que, mesmo dando a desejável liquidez mundial, sempre dão margens às especulações danosas. Se regulamentações razoáveis que evitem abusos não forem implementadas, estes protestos continuarão a se multiplicar de formas variadas.
Occupy Wall Street
Protest in Hong Kong
Basta abrir os jornais em qualquer parte do mundo para constatar que as manifestações coletivas ou de indivíduos se multiplicam, de forma desesperada com as decisões tomadas pelas autoridades, incapazes de atender às aspirações de todos. Isto ocorre tanto em países de tradição democrática como aqueles em que o autoritarismo continua sendo preservado. Sempre é preciso atender a maioria, mas também vozes de minorias devem ser ouvidas, pois todos temos que conviver até com os que pensam de forma contrária.
O desejável é que tudo fosse acomodado de forma democrática, mas algumas decisões acabam revoltando algumas pessoas, quando injustiças flagrantes acabam ocorrendo, como a morte indiscriminada de não combatentes, inclusive crianças. Quando os abusos são de pessoas que se aproveitam de forma econômica e financeira com as irregularidades enriquecendo de forma exagerada, as revoltas acabam sendo justas, mas nem sempre canalizáveis de formas adequadas.
São aspectos que devem preocupar a todos, minimizando as injustiças que são aquelas que geram protestos mais agudos, que surpreendem a todos. Os casos de adesão ao Estado Islâmico acabam transferindo os confrontos tradicionais a situações como os das guerilhas, quando fica difícil identificar quem são os inimigos.
Isto gera inseguranças que levam a novos abusos. Autoridades, como dos países desenvolvidos, não contam com mecanismos legais para coibir ações violentas de alguns individuos de formas convenientes e aceitáveis por todos. As mesmas injustiças que geram manifestações populares em paises emergentes ou menos desenvolvidos acabam afetando a todos.
Evidentemente, com o contínuo aprendizado das diversas sociedades, a grande maioria das situações acaba se enquadrando no sistema legal, e os casos isolados devem ser examinados pela Justiça, que necessita evoluir de forma que nem sempre agrada a todos. Mas, espera-se que as novas situações possam permitir a convivência de pessoas que pensam de formas diferentes dentro da mesma coletividade, com um mínimo de tolerância.
21 de outubro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política | Tags: assuntos políticos, impressões atualizadas sobre o Japão, problemas da economia | 2 Comentários »
Tendo voltado a visitar o Japão com alguma frequência desde fins dos anos sessenta, posso observar a evolução que continua ocorrendo neste país, onde residi por um ano em 1985. No atual governo do primeiro-ministro Shinzo Abe, depois de duas décadas de deflação com baixo crescimento econômico, tenta-se fazer com que a economia volte a ganhar o dinamismo que tinha no passado, quando impressionou o mundo com um crescimento acentuado depois da Segunda Guerra Mundial. Mas isto não é fácil. Todos sabem que o Japão está com uma redução de sua população que envelheceu muito, contando com mais idosos percentualmente do que a maioria dos países. Hoje, pretende-se o aumento da natalidade, mas nota-se que o número de lojas com produtos voltados às crianças continua abaixo do que se observa em outros países. Mas muitas mães andam com os carrinhos de bebê tanto para as compras como na frequência dos restaurantes.
Como consequência, apesar do baixo crescimento da economia como um todo, o nível de bem-estar da população continua elevado, mas sem o entusiasmo de um crescimento rápido, como se observa em outros países emergentes, com destaque para a vizinha China. Algo que impressiona é o volume de obras no país, pois a construção civil sempre veio sendo utilizado pelos diversos governos para ativar a economia. Mesmo prédios que seriam considerados novos pelos padrões brasileiros, são derrubados para dar lugar a novas torres de impressionante qualidade. Os consumos de produtos de luxo continuam altos, e mesmo a economia de energia que se observava nos últimos anos parece não mais ocorrer no Japão.
Uma das vistas atuais de Tóquio
Para superar as dificuldades com recursos humanos, o governo vem incentivando as mulheres a ocuparem os mais variados empregos. O primeiro-ministro selecionou muitas ministras, como símbolo desta tentativa, mas duas acabaram sendo demitidas, depois de curtos mandatos. Uma delas é Yuko Obuchi, da Economia, Comércio e Indústria, que era filha de um antigo primeiro-ministro. A outra foi a ministra da Justiça Midori Matsushima. Ambas foram acusadas de usos indevidos dos fundos políticos.
O que vem se notando é o exagero de políticos descendentes de antigos líderes, começando com o primeiro-ministro Shinzo Abe. Yuko Obuchi foi substituído por Yoichi Miyazawa, também filho de um ex-primeiro-ministro, ainda que formado em Harvard. Tudo indica que o regime distrital de votos favorece a força local das famílias de políticos tradicionais. Na realidade, o sexo dos políticos não assegura que sejam competentes, como também a tradição familiar.
Como em outras economias desenvolvidas, nota-se a carência de pessoal de modesta qualificação para os trabalhos mais simples. Assim, os restaurantes trabalham com poucos empregados, bem como os hotéis, limitando a qualidade dos serviços prestados, que já foram melhores. O número de idosos que despendem seus tempos com os amigos parece bastante elevado.
Mas existem hábitos que não são facilmente substituídos em função da falta de recursos humanos. Assim, não parecem frequentes os restaurantes com bufês que existem em recepções, ainda que em muitos lugares os fregueses sejam obrigados a se servirem de bebidas ou cafés por sua própria conta.
Para os brasileiros, o que mais impressiona são os preços, pois se pode tomar uma boa refeição pela metade do preço pago em São Paulo, na maioria dos casos. Também os táxis acabam tendo tarifas baixas, para deslocamentos razoáveis, não havendo problemas graves de trânsito, pois os metrôs são eficientes e utilizados por multidões.
Nota-se, também, que o número de estrangeiros, tanto residentes como turistas, está aumentando. Também existe uma globalização com culinárias das mais variadas partes do mundo sendo oferecidas em restaurantes simples. Com o problema que está ocorrendo em Hong Kong, o número de turistas chineses é muito alto, e eles compram malas para transportarem suas compras, mesmos nas mais famosas lojas de departamento. A globalização pode ser notada no Japão.
3 de outubro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais e Notícias, Política | Tags: artigo no The Economist, as manifestações populares em Hong Kong, grandes repercussões no mundo, um problema não só da China | 3 Comentários »
Um problema complexo como o que está ocorrendo em Hong Kong com as manifestações populares exige que apreciações experientes sejam consideradas na sua análise, como a do The Economist que lhe dedica a capa da edição que deve circular neste fim de semana, bem como artigos de profundidade inseridos na edição impressa. Quando Hong Kong acabou sendo absorvido pela China em 1997, saindo do controle inglês, admitindo-se um país e dois sistemas econômicos, eram previsíveis as dificuldades que surgiriam com o passar do tempo. Na ocasião pretendia-se manter Hong Kong como uma abertura chinesa para o resto do mundo.
Visão geral de Hong Kong
A revista considera que o atual problema tem a importância do desafio ocorrido em 1989 na Praça Tiananmen na Capital Beijing. Mais de 100 mil manifestantes, liderados pelos estudantes, exigem a ampliação do seu regime democrático neste território, permitindo que seja eleito seu governador aqueles que desejarem se candidatar, independentemente da indicação do Partido Comunista Chinês comandando por Beijing. No dia 1º de outubro zombou-se do líder do território, Leung Chun-ying que hasteou a bandeira nacional.
As manifestações em marcha estão sendo chamadas de “revolução do guarda chuva”, tanto pelas chuvas que estão precipitando sobre a cidade como por serem meios de proteção contra os gases sprey lacrimogentes que estão sendo lançados pelas forças policiais para conter os manifestantes.
Protestos em Hong Kong
Mesmo com o controle que se exerce na China sobre as informações para a população, variados meios acabam transmitindo para todo o país o que está ocorrendo em Hong Kong. As possibilidades que estes tipos de reivindicações acabem se espalhando são elevadas, o que seria difícil de ser admitindo pelo poderoso Presidente Xi Jinping e o Partido Comunista que não pretendem a implantação do regime político vigente nos países considerados democráticos.
As autoridades estão revelando a possibilidade de uma repressão mais dura, afirmando que podem chegar a situações extremas pelas quais os manifestantes seriam os responsáveis. Algumas organizações como o Occupy Central Love and Peace parece sugerir que seriam semelhantes ao que ocorreu em Wall Street, havendo também os que agrupam estudantes com líderes que estão se tornando conhecidos.
O centro das reivindicações são pelo aumento das liberdades políticas, mas existem protestos de insatisfações econômicas, e veem envolvimentos de milionários chineses manifestando simpatia pela repressão aos manifestantes.
O que se sente é que as autoridades nada podem oferecer para a redução da reivindicações. Há os que pedem a renuncia do atual responsável por Hong Kong, mas o que haveria seria somente a sua substituição por outro que seria indicado pelo governo central.
O fato apontado pelo The Economist é que a situação não apresenta uma saída do impasse. No entanto, a volta das atividades normais em Hong Kong em áreas estratégicas mostram que o pico das manifestações pode ter sido superado, podendo haver um esvaziamento gradual. Mas, parece que há alguns grupos de estudantes que procuram intensificar as pressões, como ocupando edifícios governamentais, forçando uma repressão mais forte que poderia provocar o agravamento da situação. Pode haver uma tendência que resíduos das dificuldades continuem sendo mantidos, com a disseminação destas notícias pelo China e pelo exterior, acabando por fomentar outros centros de insatisfações.