Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Erotismo Japonês Mais Divulgado no Reino Unido

21 de dezembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais, Notícias | Tags: artigo no The Japan Times, erotismo japonês no ukiyo-e, explicações necessárias, exposições no Museu Britânico

Um artigo publicado por Victoria James no jornal japonês The Japan Times permite melhor entendimento do erotismo japonês constante dos trabalhos de ukiyo-e de diversos artistas, que apresentam aspectos totalmente diferentes dos ocidentais. É preciso esclarecer que nas culturas orientais, como a japonesa, que ganha uma expressão artística invejável no ukiyo-e como os de Kitagawa Utamaro, cada vez mais valorizado no mundo ocidental, acaba se diferenciando pela ausência do sentimento de pecado que é um conceito eminentemente cristão, ainda que tenha origem nas concepções judaicas. Ela se refere ao livro “Shunga: Aesthetics of Japanese Erotic Art by Ukiyo-e Masters”, publicado pelo Japan´s Pie Books e Pie International. Conta com texto dos acadêmicos japoneses Aki Ishigami, curadora para a exibição no British Museum de Uragami Mitsuru e do historiador de arte Yukari Yamamoto, tendo a parte artística sob responsabilidade de Takaoka Kazuya. A edição apresenta 600 páginas bem ilustradas em dimensão de 30 por 21 centímetros, com papel adequado e coloração de elevada qualidade, segundo o artigo.

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Ilustração constante do artigo no The Japan Times

É preciso atentar para estes detalhes culturais quando se comenta, por exemplo, as esculturas budistas hindus que apresentam as muitas posições para a prática do sexo, que seria um meio para aproximar os seres humanos do nirvana e não simplesmente do erotismo ocidental.

O primeiro estudo sobre “shunga” foi efetuado pelo livro de Timon Screech, professor da história da arte na Escola de Estudos Orientais e Africanos da Universidade de Londres. Hoje, o “shunga” figura como “mainstream” e no livro citado consta detalhes como os do livro de fotos “Warai Jogo”, que apresenta detalhes do corpo de homens e mulheres como não constam na arte ocidental.

Mas também mostram detalhes do mobiliário das salas em que estão os amantes, alguns utensílios, além do “katana”, pratos de porcelana e escritos em livros de caligrafia, mostrando toda a arte dos seus autores. São detalhes que mostram o cuidado dos trabalhos destes artistas japoneses.

Nestas últimas décadas, explica a autora do artigo, houve um avanço significativo dos estudos destas obras, pois as autorizações legais do seu uso foram liberadas, resultando nas exposições como as feitas no Museu Britânico, além de trabalhos acadêmicos sobre o assunto.

No processo, estas gravuras eróticas revelam a arte, são documentos sociais e até trabalhos chocantes, hoje examinados com muito cuidado.


Barack Obama Tenta Corrigir Erros dos Estados Unidos

21 de dezembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais, Notícias, Política | Tags: falta de colaboração externa, resistências internas, restabelecimento diplomático com Cuba, tentando corrigir Guantánamo

Existem graves erros cometidos pelos Estados Unidos nos momentos de grande emoção coletiva que aos poucos vão sendo corrigidos, exigindo tempo e trabalho, nem sempre contando com apoio interno ou de seus aliados estrangeiros. Todos sabem que os lamentáveis ataques terroristas às torres gêmeas de Nova Iorque, em 11 de setembro, simultaneamente aos ataques ao Pentágono, em Washington, provocaram fortes comoções coletivas entre os norte-americanos, ao mesmo tempo em que no mundo havia um espanto com estes acontecimentos. Os Estados Unidos nunca tinham sido atacados no seu território, e principalmente nas áreas mais cruciais que deveriam merecer a mais elevada atenção do seu serviço de informações e defesa militar. As ações visando o combate ao terrorismo acabaram autorizadas, até com o emprego de meios condenáveis na comunidade mundial, como o emprego da tortura bem como prisão de suspeitos sem a formalização de processos de suas acusações. Os presos foram encaminhados para a absurda prisão de Guantánamo, onde os Estados Unidos mantêm um absurdo enquistamento em Cuba, que agora Barack Obama pretende encerrar, como prometido em campanha eleitoral. Alguns prisioneiros foram encaminhados para países que os aceitaram em número limitado, mas ainda restam algumas centenas deles. Os preceitos mais consagrados no direito internacional foram violados, e ninguém foi responsabilizado até hoje pelos absurdos.

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Prisioneiros em Guantánamo sem processos de acusação e barbaramente torturados

Outro absurdo que começa a ser corrigido é o isolamento diplomático e o embargo econômico imposto a Cuba pelos Estados Unidos. Todos sabem que há décadas Fidel Castro derrubou o ditador Fulgencio Batista, e Cuba recebia muitos turistas norte-americanos que frequentavam inclusive seus famosos cassinos. Para receber o suporte da Rússia, Fidel Castro entendeu-se com os russos para instalar mísseis em Cuba, que fica a pouco mais de 100 quilômetros da Flórida, nos Estados Unidos. O incidente, parte da Guerra Fria, acabou sendo acomodado, pois o custo da Rússia manter a situação em Cuba era elevado do ponto de vista militar.

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Cuba muito próxima da Flórida, Estados Unidos

Mas os Estados Unidos fracassaram na tentativa de invasão de Cuba, pela Bacia dos Porcos. Como muitos cubanos não aceitam o regime socialista e ditatorial de Fidel Castro que já passou o poder para o seu irmão Raul Castro, existem muitos refugiados cubanos na Flórida.

Ainda que Barack Obama tenha poderes para restabelecer as relações diplomáticas, o fim do embargo depende do congresso norte-americano, que recebe pressões de republicanos ligados aos refugiados cubanos e que não concordam com a continuidade do regime ditatorial em Cuba. Tudo indica que os avanços dos entendimentos acabarão numa evolução como a que ocorre até na China, ainda que as diferenças ideológicas continuem existindo.

Todos podem concordar que o discurso democrático dos Estados Unidos acaba se enfraquecendo quando problemas como Guantánamo continuam existindo, mostrando que o país que deveria ser o líder mundial para a disseminação de regimes democráticos também adotam medidas que são chocantes para muitos que são a favor das liberdades, com o devido respeito aos preceitos jurídicos.

A esperança é que neste final de 2014 haja condições de avanços nestas questões que incomodam a muitos para a convivência pacífica num mundo cada vez mais globalizado.


Fim do Isolamento Diplomático de Cuba

19 de dezembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais, Notícias, Política | Tags: dificuldades de adaptação, experiência da nossa visita àquele país, restabelecimento das relações diplomáticas dos Estados Unidos com Cuba

Acredito que o restabelecimento das relações diplomáticas dos Estados Unidos com Cuba seja um avanço significativo para a eliminação de um absurdo que não se justificava mais no mundo. O Brasil já vem mantendo estas relações, ainda que do ponto de vista econômico aquele país apresente uma dimensão modesta. A nossa experiência pessoal de uma visita feita àquele país há alguns anos, na tentativa de examinar algum investimento brasileiro na área em que já foram importantes, mostraram que nestes anos todos de relativo isolamento com o embargo que sofreram provocaram uma forte deterioração na sua capacidade empresarial, que necessitará ser recuperada, mesmo que continue se adotando um sistema socialista que mesmo na China já sofreu radicais mudanças. Os brasileiros sempre adotaram uma política diplomática de relacionamento até com aqueles que nem sempre concordamos diante de algumas práticas que ainda utilizam e que poderiam ser consideradas ditatoriais. Espera-se que em alguns anos todos elas sejam eliminadas.

O governo brasileiro foi muito criticado por ter concedido o financiamento do BNDES para que uma empreiteira brasileira construísse um porto de importância em Cuba, que agora poderá ser amplamente utilizado. Neste sentido, o Brasil pode figurar entre os pioneiros nas intensas relações com os cubanos, ainda que existam os que são contrários pelas posições ideológicas que adotam. Quando até os Estados Unidos eliminam as barreiras diplomáticas e se esforçam para extinguir o absurdo da existência da prisão de Guantánamo, onde não se obedece nem sequer os mais rudimentares princípios de respeito aos direitos humanos. Existem muitas providências a serem ainda adotadas, mas espera-se que o embargo que os cubanos estão sofrendo seja totalmente eliminado, pois não podem ser mais considerados como exportadores de terrorismo que estão restritos a alguns grupos radicais ainda existentes no mundo.

Os que imaginam que Cuba só conta com partes deterioradas podem estar enganados. Elas existem, mas também as regiões voltadas ao turismo internacional já estão em melhores condições, como também existem partes das cidades que podem surpreender os estrangeiros visitantes.

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Aspecto deteriorado de Havana, capital de Cuba

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Praias cubanas que recebem os turistas internacionais

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Parte da cidade de Havana

Mas o que parece mais complicado são aspectos da administração pública, que passou por décadas de um socialismo pouco eficiente, que acabam por desestimular atividades produtivas como as antigas usinas de cana destinadas às produções de bebidas alcoólicas que eram famosas na época em que Cuba recebia muitos turistas estrangeiros, notadamente de norte-americanos, dada a proximidade daquele país com a Flórida.

Recuperar sua produção agrícola ou agroindustrial de forma eficiente e competitiva parece uma tarefa que vai exigir um grande esforço ao longo de muito tempo. No entanto, em muitos aspectos, apesar de sua pobreza impressionar os observadores, Cuba deve ser respeitada, como na educação básica, atendimentos de saúde para a população ou algumas especialidades esportivas.

Um médico brasileiro amigo meu já falecido, consagrado no Incor – Instituto de Cardiologia da Universidade de São Paulo, doutor Siguemituzo Arie, considerado como o profissional que mais efetuou cateterismo no mundo, que sofria de outra moléstia, dedicou-se alguns anos de trabalho em Cuba que considerava avançado em alguns aspectos.


2015 no Brasil e no Mundo

18 de dezembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política | Tags: aspectos positivos e preocupantes, comparação com 1990, no site do The Economist

A respeitada revista de circulação internacional The Economist publica uma matéria, como muitos veículos de comunicação social estão fazendo no mundo, efetuando uma comparação com o que ocorria em 1990, que lhes afigura mais semelhante com a situação atual, ainda que se possa preferir outras datas como base para comparações. Em alguns casos, talvez, o recomendável seria com comparação com 1986, logo depois do chamado Acordo de Plaza que estabelecia uma nova paridade cambiais com a participação dos países chamados desenvolvidoscomo os Estados Unidos, Alemanha, Japão, França e Reino Unido, quando o dólar foi desvalorizado, em alguns casos de forma exagerada como com relação ao yen japonês. O que parece destacável é que nestas últimas décadas, o setor financeiro ganhou maior importância no mundo com fluxos exagerados de recursos, do que com o desenvolvimento tecnológico como o provocado pela computação e uso da internet, que parece mais relevante na contribuição para a melhoria do bem-estar em todo o mundo.

O que a revista menciona é um estado de relativa fraqueza atual de economias desenvolvidas, mesmo com a recuperação da norte-americana, com a da Alemanha e do Japão, quadro que parece generalizado na Europa. Haveria problemas em países emergentes como a Rússia e Brasil, enquanto a China ganhou uma importância destacada nas últimas décadas, mas sofre também uma desaceleração no seu ritmo de crescimento como aumento da sua poluição. Parece haver um exagero, provocado pelas autoridades monetárias na tentativa de recuperar o crescimento de algumas economias, com as ampliações da disponibilidade de créditos provocadas pelo chamado “quantitative easing monetary policy”. Mais recentemente, observa-se um excesso de produção de matérias-primas, inclusive do petróleo e outras fontes de energia, mas também de minérios e produtos semielaborados como os metais que estão com seus preços em queda. Problemas políticos estão sendo enfrentados com o aumento das manifestações populares de insatisfação devido a variados problemas. A produtividade agropecuária parece generalizar-se e os problemas de fome ficaram restritos a alguns países.

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Mesmo nas economias como a norte-americana, que mostra uma recuperação respeitável, com redução dos seus problemas de emprego, um mercado de capitais com exageros de ganhos em algumas empresas, os problemas políticos se aprofundam com as divergências internas existentes. O que ainda predomina é um cenário mundial decorrente da crise de 2007-2008 que não foi totalmente superada, aumentando as diferenças nas distribuições do bem-estar no mundo.

As previsões de um painel de analistas é que, para 2015, os Estados Unidos devem continuar com um crescimento de 3%, segundo a revista, enquanto com 1,1% no Japão e na área do Euro, como um primeiro grupo de problemas. Mas a queda do preço da energia, se de um lado ajuda a maioria da economia mundial, provoca problemas até nos Estados Unidos, com as explorações de xisto, e nas empresas menos eficientes que contribuíram para este crescimento.

O segundo grupo de problemas decorreriam do baixo crescimento tanto da Alemanha como do Japão, em decorrência de problemas que não são comuns. E o terceiro seriam o que está ocorrendo com os países emergentes, onde Rússia se encontra já em forte crise, mas que também se estende a outros países como o Brasil, e alguns países do Sudeste Asiático. Também os que se sustentavam com suas receitas decorrentes da exportação de petróleo passam agora por dificuldades.

Como o mundo está globalizado, parece evidente que os problemas existentes acabarão afetando também os Estados Unidos, talvez com algumas defasagens. Segundo a revista, ainda que o setor financeiro esteja menos alavancado, as manipulações que estão sendo identificadas como nas cotações dos títulos do Tesouro Norte-Americano, das taxas de câmbio e da taxa de juros tipo Libor, mostram que regulamentações necessitam ser introduzidas, mesmo com a resistência dos bancos.

Os problemas existentes, notadamente nos países mais pobres, acirram as dificuldades como de absorção dos imigrantes, diante das dificuldades com os desempregados locais para onde se dirigem. As manifestações políticas acabam ficando agudas, e as tendências nacionalistas se manifestam em diversos países.

Nem sempre os diagnósticos do que precisa ser feito, inclusive com reformas, não acabam recebendo o respaldo político, sendo difíceis de serem colocados em prática. Mas é preciso constatar que a Humanidade veio superando os seus problemas, e, mesmo que de forma menos brilhante, os problemas serão atacados também em 2015 e nos anos seguintes. Se não existe espaço para muito otimismo, também não se pode considerar este quadro mundial como dos mais calamitosos.


Pesquisas Brasileiras Para Aproveitamento da Biodiversidade

17 de dezembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais, Notícias | Tags: artigo sobre a evolução da biotecnologia no Brasil no Valor Econômico, as dificuldades burocráticas existentes, necessidade de sensíveis aperfeiçoamentos

Um artigo publicado por Maria Alice Rosa no Valor Econômico, no suplemento especial sobre a indústria química, ainda que concentrado no assunto das pesquisas de biotecnologia, trata também do importante assunto relacionado com o aproveitamento da biodiversidade brasileira. Já postamos neste site que o Brasil necessita diversificar as suas possibilidades de exportação, aproveitando a vasta biodiversidade de que dispõe, pois não podemos depender mais da exportação de minérios e produtos agropecuários. Mas muitas pesquisas se tornam necessárias para que os conhecimentos rudimentares que possuímos sejam transformados em patentes utilizáveis na produção, notadamente quando comparado com outros países que estão intensificando seus trabalhos neste segmento, inclusive emergentes como a China.

As informações disponíveis dão conta que os conhecimentos desenvolvidos no exterior na indústria química estão sendo aproveitadas no Brasil, mas, quando se trata da biodiversidade disponível no país, os entraves burocráticos não facilitam as pesquisas locais que estão sendo menos intensivas do que as efetuadas no exterior. Adelaide Maria de Souza Antunes, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro, informa ter efetuado um levantamento no Derwent Innovations Index que registra os depósitos de patentes. Em 2012, dos 3.611 depósitos, 2.075 eram da China e 535 dos Estados Unidos. Em produtos, do total de 11.825 pedidos, os brasileiros eram somente de 10, enquanto dos chineses eram 6.244, os Estados Unidos com 2.315, o Japão com 1.122, a Europa com 355, a Índia com 79. Evidencia que estamos muito longe do necessário.

As informações prestadas por Nelson Fujimoto, secretário de Inovação do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, dão conta que a legislação existente é um gargalo. É a MP 2186/2001 e um projeto de lei para melhorar o processo está no Congresso, tendo o número 7735/2014, depois de três anos de estudos. O pesquisador necessitaria somente de um registro para começar o seu trabalho.

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O Brasil é o país que dispõe da mais ampla biodiversidade no mundo, mas não efetua as pesquisas para transformá-la em produtos patenteados

Também um projeto estaria permitindo a concessão de patentes hoje proibidas para substâncias extraídas de seres vivos e materiais biológicos, aguardando a votação. Existe um levantamento efetuado pelo IPEA, “Propriedade Intelectual e Aspectos Regulatórios em Biotecnologia”, sobre materiais biológicos patenteáveis em diversos países, sendo que no Brasil são poucos, e não são conclusivos, necessitando de pesquisas adicionais.

A China se tornou inovadora recentemente e está aumentando os seus trabalhos para o patenteamento, o que ainda não aconteceu no Brasil. Se o governo deseja superar a armadilha em que se encontra atualmente para aumentar suas exportações, terá que intensificar os trabalhos que permitam o patenteamento nesta área da biodiversidade.


Proposições Econômicas de Shinzo Abe Após as Eleições

17 de dezembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política | Tags: notícia no The Japan News do Yomiuri Shimbun, reunião com empresários, sindicatos e governo, vitória eleitoral expressiva

Depois da expressiva vitória eleitoral do partido do primeiro-ministro Shinzo Abe nas eleições do último fim de semana, o The Yomiuri Shimbun, num artigo elaborado por Takeshi Kurihara e Ryosuke Yamaguchi, informa sobre a reunião realizada por ele no seu gabinete com representantes dos empresários na sua principal organização – Keidanren, os sindicalistas representados pelo Rengo – Trade Union Confederation e os participantes do governo. Shinzo Abe teria expressado o seu desejo que os setores beneficiados pela sua Abeconomics, com a desvalorização do yen, proporcionando altos lucros para as empresas exportadoras, deveriam ajudar a expansão da demanda local, mediante a transferência de parte dos seus resultados para os consumidores com aumento dos salários, bem como ajudando as pequenas e médias empresas que estão sendo prejudicadas pelos aumentos dos produtos importados.

Para analistas que observam o Japão do exterior, estes fatos são surpreendentes numa economia de mercado. Parece que os resultados eleitorais não expressam tanto a aprovação da política implementada, mas a falta de alternativas que fossem apresentadas por uma oposição desarticulada. Numa economia como a japonesa, que tem uma longa tradição de orientação sutil da economia pelo governo, os níveis salariais costumam ser estabelecidos pelo mercado. Sabe-se que afetam as grandes empresas quando os recursos humanos disponíveis estão escassos, o que não parece o caso no momento, e que funciona mais junto às grandes empresas. As pequenas e médias empresas que são importantes no Japão não guardam uma relação tão simples e estas orientações não costumam ser fáceis de ser comandadas, mesmo com o entendimento do governo, empresários e sindicatos. As milhares de relações existentes na economia dificilmente podem ser comandadas por poucos dirigentes, e o seu funcionamento é mais complexo na realidade, não podendo ser tão simplificado, pois estas entidades não possuem um poder de comando tão amplo em todo o país.

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Surpreendente reunião de Shinzo Abe com empresários e sindicatos no seu gabinete depois da vitória eleitoral, foto publicado no The Yomiuri Shimbun

Como uma tentativa de informar sobre a política que está sendo perseguida, uma reunião desta natureza pode ser relevante. Mas, observando-se que nos principais meios de comunicação social não se verificam muitas notícias a respeito, o que pode ser um indício de que consideram de pouco efeito prático para gerar um ciclo virtuoso na economia daquele país.

Existem vozes que, mesmo na próxima temporada de negociações salariais as pretensões dos empregados não podem ser totalmente aprovadas, pois as empresas ainda não estão seguras quanto a evolução da economia japonesa, num contexto mundial que não aparenta ser tão favorável. Mesmo com a redução atual do custo da energia. Ainda não existem indícios que as empresas japonesas se tornaram competitivas, pois somente o câmbio não provoca tantas mudanças.

O que vem ocorrendo é uma exagerada valorização da Bolsa com o excesso de liquidez, além do aumento das atividades financeiras em todo o mundo com fluxos de recursos astronômicos, com manipulações das mais variadas formas, tanto nas taxas de juros, câmbios como até as cotações dos bônus do Tesouro Norte-Americano, sem que se consiga uma regulamentação adequada.

Num cenário mundial desta natureza, ainda que a recuperação da economia japonesa seja desejável, não se pode esperar um comportamento mecânico e muito simplificado.


Mobilidade dos Recursos Humanos

16 de dezembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política | Tags: artigos no Valor Econômico sobre os problemas de mobilidade dos recursos humanos, caso dos trabalhadores brasileiros no Japão, novas adaptações, voltas dos Estados Unidos e da Europa

Muitos brasileiros migraram para os Estados Unidos, Europa e Japão nos períodos em que as remunerações naqueles países apresentavam sensíveis vantagens sobre os pagas no Brasil. Nem todos estavam em condições regulares, sendo que no Japão foram concedidos vistos para trabalhos temporários. Eles tiveram dificuldades para se ajustar às condições no exterior, onde os idiomas utilizados, os hábitos de vida e do emprego e muitas outras condições eram diferentes das brasileiras. Nem sempre se prepararam adequadamente para enfrentar estas situações, concentrados que estavam nos seus trabalhos, visando remunerações que não conseguiam no Brasil. Mas, infelizmente, estes diferenciais foram reduzidos, ou os empregos se tornaram difíceis naquelas regiões, e muitos são obrigados a voltar, estando despreparados para novas adaptações, pois as condições no Brasil também se alteraram nestes longos períodos.

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Dos cerca de 320 mil brasileiros que foram para o Japão restam somente cerca de 120 mil naquele país, segundo estatísticas oficiais

Estes dados não são totalmente seguros, pois entre eles existiam os que possuíam dupla nacionalidade ou passaportes japoneses, que também foram para o Japão para trabalhos temporários. Para os que dominam o idioma japonês ainda existem oportunidades, como ajudar a cuidados dos idosos e enfermos, mas a mão de obra nas indústrias ficou reduzida, restando ainda os trabalhos em condições duras como na manutenção das rodovias, onde ainda existem explorações de intermediários.

Não existem dados seguros dos Estados Unidos e da Europa, pois muitos eram trabalhadores ilegais, que para lá foram como se fossem turistas. Existem ainda os que foram para países vizinhos como o Paraguai, notadamente como agricultores.

Estes patrícios passam por períodos difíceis novamente, pois, na longa ausência do Brasil, as condições mudaram por aqui. Os salários locais chegam a ser considerados irrisórios com os que obtinham no exterior, ainda que não totalmente qualificados. Esforços estão sendo feitos para as suas adaptações, mas são limitados.

Os que mais acabam sofrendo são as crianças envolvidas nestes processos, pois muitas foram obrigadas a frequentar escolas no exterior, e hoje não possuem conhecimentos como os precários proporcionados no Brasil. Mas suas capacidades de adaptações acabam sendo mais rápidas que dos adultos.

Parece que todos os que optam por estes processos migratórios necessitam estar conscientes de todas as dificuldades, quer seja quando vão para o exterior como quando são obrigados a retornarem. Há que se admitir que estes recursos humanos, como de todos os migrantes, são de elevada coragem e capacidade para enfrentar situações novas, e mesmo com sacrifícios acabarão encontrando os seus caminhos, que podem ser mais fáceis se contarem com a ajuda de todos.


Humildade Para Melhorar o Relacionamento Sino-Japonês

16 de dezembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais, Notícias | Tags: as tentativas de relacionamento do Japão com a China, aspectos históricos a serem ressaltados, importância para o mundo

A convite do governo japonês, por intermédio do JICA – Japan Internacional Cooperation Agency, fizemos parte de um pequeno grupo que visitou muitos centros onde se praticam as apreciadas produções japonesa de diversos estilos. Começando pela região de Fukuoka, mais próxima à Coreia do Sul, foi possível constatar o importante trabalho executado pelos seus respeitáveis artesãos, alguns considerados Tesouros Nacionais Vivos por manterem as mesmas tradições por um longo período histórico. Fomos esclarecidos que estas técnicas, originalmente dos chineses, foram ensinadas aos japoneses pelos coreanos, como muitos outros aspectos dos atualmente considerados marcos da cultura japonesa. Os que visitam a Ásia sabem que a cerimônia do chá sofreu sofisticações no Japão, mas já eram conhecidos na China. Também o ikebana, muito apreciado no Japão, em seus diversos estilos, também são conhecidos na Coreia que também absorveram conhecimentos provenientes da China.

Quando o Japão ainda caminhava na consolidação de sua cultura, muitos religiosos visitaram a China para absorver conhecimentos como o do budismo. Na literatura como em muitos aspectos relevantes da cultura japonesa, todos admitem que as bases foram trazidas da China, que tinha uma tradição histórica mais longa. Foi somente depois da guerra sino-japonesa, já em fins do século XIX, que o Japão ocupou parte da China, estendendo seus domínios sobre a Coreia bem como a Mongólia. O que perdurou por pouco tempo, até o fim da Segunda Guerra Mundial, quando foram derrotados. No entanto, no período nacionalista e militarista, desenvolveu-se no Japão um forte preconceito com as antigas colônias, como se tratassem de um povo com uma cultura superior.

Quando se desenvolvem novos esforços para a convivência pacífica, não somente do Japão com a China, mas também com a Coreia do Sul, visando uma consolidação de uma região no Extremo Oriente, parece que estas realidades históricas devem ser reforçadas, relevando pequenos incidentes que possuem pequena importância ao longo da história.

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Mapa da Ásia, com a China, Coreia do Sul e Japão

O mundo passa por um período de dificuldades econômicas depois da crise internacional de 2007/2008. A Ásia pode desempenhar um papel relevante na recuperação, ainda que lenta e demorada, aproveitando o desenvolvimento da China, que de um país ainda emergente caminha para ser a mais importante em dimensão no mundo, ainda que limitada em termos per capita.

O Japão como a Coreia do Sul se destacaram no período pós-Segunda Guerra Mundial, firmando-se como tigres asiáticos que ampliaram suas exportações para todo o mundo, ainda que com fortes limitações nas suas disponibilidades de recursos naturais. Eram exemplos que estão sendo copiados por outros países, notadamente do Sudeste Asiático como também latino-americanos.

Não parece conveniente que estes papéis sejam esquecidos e que suas contribuições mundiais não voltem a ser relevantes, quando o mundo passa por uma nova fase de redução dos seus custos de energia, necessitando dos exemplos de desenvolvimento tecnológico como de formas racionais de aproveitamento dos seus recursos humanos.

Tudo indica que vale a pena pensar em temos de estadistas, com um horizonte mais amplo, capaz de proporcionar melhores condições econômicas, políticas e sociais para a humanidade. Possuem longas histórias com a acumulação de culturas invejáveis, ainda que suas populações estejam diminuindo e envelhecendo. Mas, também nestas áreas, eles podem transmitir conhecimentos de como lidar com estes graves problemas, proporcionando melhores condições para os seus povos.


É Preciso Recuperar o Verdadeiro Significado do Natal

16 de dezembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais, Notícias | Tags: desvios chocantes do conceito sobre o Natal, o que acontece no Japão, predomínio dos interesses comerciais no Ocidente

Pode parecer utópico, mas quando se depara como uma notícia publicada no jornal The Independent e republicada no site do O Globo onde se informa que um restaurante japonês colocou um cartaz avisando que na noite de Natal não seriam aceitos casais, pois os solteiros ficariam deprimidos, observa-se a distorção assustadora que esta efeméride está sofrendo no mundo. Já postamos neste site a experiência de um Natal passado no Japão, onde a data sequer é um feriado, pois os cristãos japoneses representam uma minoria insignificante da população. Para os brasileiros acostumados com intensas atividades neste período, fica muito estranha à experiência de um Natal no Japão. Lá, no máximo, está se ampliando os interesses comerciais das lojas, com a gritante distorção que a data é comemorada no Ocidente, com uma elevada quantidade de presentes para as crianças, familiares e amigos mais chegados, quando o correto seria este hábito para o Dia dos Reis, no começo de janeiro. No Japão, o que predomina são atividades românticas, com os casais lotando os motéis.

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Natividade na Cappella degli Scrovegni por Giotto, obra que teria começado em 1311 e concluída em 1320

Mesmo no Brasil, há maior difusão das promoções comerciais com a confusão do Natal com a visitação dos Magos que deveria ser concentrada no dia 6 de janeiro, como acontece em alguns países da Europa, esquecendo-se do significado do nascimento do Salvador.

Mesmo os artistas medievais deram grande importância para a esta visitação dos Magos que teriam sido orientados pelas estrelas para chegar a Maria e a José, juntamente com o menino Jesus que teria nascido numa manjedoura, somente assistido pelos animais. Os presentes que lhe teriam sido levados pelos Magos seriam as justificativas para as atuais explorações comerciais, associadas às fartas refeições regadas por bebidas.

Muitas destas distorções se observam também em países de predominância cristã e católica. Eu me encontrava na noite de Natal em Veneza, na Itália, e procurei as igrejas com a minha família certo de que encontraria uma para assistir à Missa do Galo que deveria ser interessante. Mas acabei frustrado, pois todas estavam fechadas, e o máximo que se conseguia era uma transmitida pela televisão do Vaticano, com o papa celebrando a data.

Nestes períodos difíceis para a humanidade, seria oportuno recordar o verdadeiro espírito do Natal, quando Jesus se transformou num simples homem, nascendo numa modesta manjedoura para cumprir o que estava escrito nas Escrituras. Seu sacrifício seria indispensável para expiar a culpa dos homens. A data do seu nascimento mereceria uma reflexão, não sendo distorcido como está acontecendo agora, com todo respeito às demais religiões.


Baixas Expectativas e Resultados Mais Realistas

15 de dezembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais, Notícias | Tags: apresentações dos compromissos de cada país, até a reunião de Paris, confiança no instinto de sobrevivência, resultados dos compromissos no Peru

Apesar dos esforços dos diplomatas e outros representantes dos países membros, que acabaram por prorrogar por dois dias a Conferência do Clima da ONU em Lima, no Peru, a maioria da mídia internacional vem considerando os resultados obtidos muito tênues. Para conseguir a adesão de todos, países industrializados como menos desenvolvidos, decidiu-se pela apresentação até março do próximo ano das metas e formas de atingi-las de cada país, sem que haja mecanismos de pressão para tanto. Somente a consciência de cada país membro poderá estabelecer estas metas com as quais estarão comprometidos, aceitando-se a tese geral que os esforços deverão ser diferenciados, onde países como os Estados Unidos e a China, considerados os mais poluidores, estabeleceram anteriormente os seus objetivos de forma bilateral as metas de cada país na última reunião que tiveram em Beijing, onde estava Barack Obama e Xi Jinping.

O fato concreto é que até hoje não se conseguiu um mecanismo adequado para o estabelecimento de compromissos com metas objetivas na maioria dos países, industrializados ou não. Pode ser que o decidido seja tênue, mas deve-se admitir que cada país possa julgar melhor o que lhe é possível assumir como responsabilidade, mesmo contando com ajudas modestas de outros países mais capacitados do ponto de vista econômico. Como nenhum país deseja ser conhecido como responsável pelas irregularidades climáticas que estão ocorrendo no mundo, ou sacrificar o próprio desenvolvimento com a poluição que está se tornando insuportável para as suas populações, notadamente dos estrangeiros expatriados que são responsáveis por muitos dos seus investimentos que proporcionam as condições para a criação do emprego e da produção desejáveis. Deve-se admitir que com compromissos mais espontâneos, seus alcances se tornem mais realistas.

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Christiana Figueres, secretária executiva da Convenção e Manuel Pulgar-Vidal, ministro do meio ambiente do Peru, ao término da reunião

A decisão final deverá ocorrer numa reunião em Paris até o final de 2015, esperando-se que até lá, com os compromissos assumidos pelos países membros até março próximo, haja como obter uma posição mundial realista e objetiva, pois os problemas que já estão sendo enfrentados são muito graves.

Com as expectativas baixas, espera-se que os países membros tenham condições de cumprir os compromissos autoassumidos, que não terão sido impostos por outros organismos ou países. Ainda que não cheguem ao desejável, espera-se que ocorram avanços pragmáticos.

Mesmo os países menos desenvolvidos, que sofrem mais diretamente as consequências dos aquecimentos globais, sabem que dependerão muito dos seus esforços para contarem com suportes complementares do exterior que devem ser baixos. Todos os países deverão estar concentrados nos objetivos que mais afetam diretamente suas populações. Mas a mídia internacional está sendo eficiente na divulgação das poluições que estão sendo provocadas, que acabam exercendo uma pressão sobre as muitas autoridades dos diversos países.

O que se vem observando é que as metas mais ousadas que seriam desejáveis não encontram mecanismos de implementação, e acabam se tornando meros discursos sem aplicação prática. A esperança é que o “Second Best” acabe se tornando mais exequível, inclusive do ponto de vista político.

Países como o Brasil não necessitariam ficar com a imagem negativa, quando estão efetuando substanciais esforços, ainda que seus problemas sejam vastos, como a melhor exploração racional e sustentável de suas imensas florestas, como a Amazônica.