Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Indícios de Uma Agricultura Diferenciada

26 de novembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias | Tags: agricultores nipo-americanos em San Diego, inovações em todo o mundo, pequena escala com elevada qualidade

Um agrônomo japonês formado em Tóquio chamado Araki, que faz sucesso no Brasil com sua família e inovações na floricultura, foi o primeiro a me falar de sua experiência de recém-formado no Japão com agricultores nipo-americanos em San Diego, Califórnia. Ele estagiou com um deles que criou o pimentão amarelo, patenteado em todo o mundo, tendo enriquecido com a sua criatividade. Um artigo publicado no The Japan Times, com base numa notícia distribuída pela agência Reuters, informa sobre um agricultor da mesma San Diego de nome Tom Chino que se tornou uma legenda por cultivar no seu Rancho Santa Fé, e vender diretamente no “Vegetable Shop”, a sua produção diferenciada que atrai famosos chefs. Ele não depende dos atacadistas como dos supermercados, fixando os seus preços para uma produção qualificada e diversificada de culturas.

clip_image002

Tom Chino produz numa horta familiar e vende diretamente no seu Vegetable Shop, conforme artigo no The Japan Times. Foto: Reuters

Este tipo de agricultura diferenciada parece uma tendência que vem se manifestando em variadas partes do mundo. No Japão, existem muitos que produzem exclusivamente para alguns restaurantes vegetais que não são os usuais encontrados nos supermercados e outros estabelecimentos que trabalham com estes produtos.

Todos estes produtos são trabalhados com grande amor, tanto no seu plantio como nas colheitas, o que resulta numa produção diferenciada que é apreciada de forma especial.

Na Europa, também se noticia que muitos produtores trabalham exclusivamente para alguns restaurantes mais famosos com chefs de renome até internacional. Como as produções comerciais normais apresentam o uso de muitos fertilizantes e defensivos químicos, os chefs mais exigentes procuram contar com ingredientes diferenciados, que também são apreciados pelas famílias que preferem produtos orgânicos.

Mas também as variedades dos produtos são diferenciadas, havendo os que trabalham com brotos que também são apresentados de forma mais atraente, junto com flores comestíveis em muitos casos. O que vem se verificando é que hoje existem muitos legumes com dimensões medianas, as mais convenientes para serem utilizadas como saladas ou apreciadas cruas, que certamente são mais saudáveis.

Hoje existem tecnologias para a produção de novos vegetais, que não se restringem as antigas técnicas de cruzamento de diferentes variedades. Existe possibilidade de uso de DNAs de algumas que apresentam qualidades diferenciadas, sem cair nos chamados transgênicos. Muitos são produzidos em vinil house não exigindo nem solos, mas fertilizantes e água para a sua produção em ambientes controlados.

Na realidade, a alimentação está sendo reenfocada de forma mais pessoal e artesanal, não se tratando de uma simples commodity, que não se diferencia de outras.


Lamentáveis Formas de Apresentações de Informações

25 de novembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias | Tags: dois exemplos de artigos do The Wall Street Journal sobre a China, formas indevidas de apresentação de informações, induzindo a erros de interpretação

É lamentável que jornalistas experientes de importantes jornais como o The Wall Street Journal escrevam artigos que induzem seus leitores a erros de interpretação. No jornal brasileiro Valor Econômico foi reproduzido em português um artigo escrito por Leslie P. Norton falando de pequenos países asiáticos que estariam colocando em risco exportações da China. Ora, a exportação chinesa na média do triênio 2011/2013 foi de US$ 2.052 bilhões enquanto os quatro países asiáticos citados no artigo, Vietnã, Camboja, Laos e Miamar, só chegaram a 6,5% desta cifra na média do mesmo triênio, ainda que estejam crescendo, enquanto a China perde algumas poucas exportações, pois os seus salários ficaram mais elevados do que de alguns seus vizinhos.

Num outro artigo, Bob Davis, do mesmo The Wall Street Journal, que trabalhou na China entre 2011 até o presente, escreveu outro artigo com o título: “O milagre econômico da China acabou?”. Todos sabem que aquela economia chegou a crescer mais de 10% ao ano, tendo sido reduzido a um patamar de 7% ao ano atual, que é ainda uma cifra impressionante, principalmente quando os Estados Unidos crescem em torno de 2% ao ano. Como muitos dos chineses ainda são pobres, vivendo no meio rural, tudo indica que o seu crescimento vai continuar dos mais elevados no mundo, mesmo reduzindo o seu ritmo, com o aumento de sua urbanização, pois o meio rural veio elevando a sua produtividade, não necessitando tanto de recursos humanos. Mas chegar a induzir que seu processo de crescimento esgotou-se parece que não seria o mais adequado.

Que construções chinesas que não estão sendo aproveitadas adequadamente todos sabem, pois a performance dos líderes daquele país eram medidos pelo crescimento de suas economias, ainda que grandes danos tenham sido causados no seu meio ambiente. Que algumas produções estrangeiras na China passaram para outros países asiáticos que apresentam recursos humanos abundantes, também parece notório. Ajustamentos estão sendo efetuados, e a China vai continuar arcando com muitos erros cometidos.

clip_image001

Algumas construções chinesas não encontram demandas

clip_image003

Algumas empresas de confecções da China estão se transferindo para países do Sudeste Asiático devido ao aumento dos salários chineses

O que parece é que mesmo jornalistas experientes de grandes jornais acabam confundindo problemas decorrentes do fator multiplicador daqueles que os economistas chamam de aceleradores. Ainda que mantendo um ritmo razoável de crescimento, a China passa por uma redução do seu ritmo de crescimento, o que provoca problemas complexos de ajustamento.

Os pobres países do Sudeste Asiático, muitos deles com salários mais baixos do que os da China, lutam para aproveitar a transferência de algumas empresas intensivas em mão de obra, conseguindo resultados interessantes. Mas, quando comparado com as dimensões chinesas, estas transferências acabam sendo insignificantes.

Estas situações são dinâmicas, e muitas atividades industriais que se encontravam nos países desenvolvidos foram transferidos para a China e agora passam para países mais pobres, justificando o que alguns chamam de fenômeno dos “gansos voadores”.

Mesmo os Estados Unidos que ainda são a maior economia do mundo, perseguida de perto pela China, muitos segmentos de tecnologia de ponta necessitam de recursos humanos de elevada qualificação, além de iniciativas nos quais os norte-americanos são reconhecidos.

O que parece mais complicado é com as economias que apresentam decréscimos populacionais com o envelhecimento de sua estrutura da população, que enfrentam dificuldades para se tornarem mais dinâmicas. Parece relevante que preferências ideológicas não interfiram nas informações a serem ofericidas aos leitores.


Qualidade dos Trabalhos da Editora Narrativa Um

25 de novembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais, Notícias | Tags: biografia de Lilly Ebstein Lownstein, trabalhos de ilustração científica, um livro de grande destaque

Existem livros que exigem pesquisas de grande profundidade, cuidado e qualidade para a sua elaboração. Quem tem o privilegio de folhear o livro “Ciência e Arte” – A Trajetória de Lilly Ebstein Lowenstein entre Berlim e São Paulo (1910-1960), elaborado pelo casal Monica Musatti e Roney Cytrynowicz, publicado pela editora Narrativa Um, São Paulo, 2013, fica impressionado que tenha sido lançado no Brasil, ainda que existam alguns outros excepcionais que honram os trabalhos das editoras no país. Já conhecíamos alguns dos trabalhos anteriores desta dupla que desperta admiração pelo trabalho sério de pesquisas envolvidas. Mas a avaliação delas fica ressaltada quando se sabe que a família da biografada não tinha documentações a respeito dos seus trabalhos que foram acumulados nas instituições em que ela trabalhou ou em revistas onde foram divulgados.

Além das pesquisas, estes livros exigem a coleta de depoimentos de pessoas que trabalharam com a biografada que, com o passar do tempo, nem sempre estão mais disponíveis. No caso, envolvem trabalhos efetuados em instituições que antecederam até mesmo a formação da Universidade de São Paulo (USP) em 1934. Como ela estudou na Escola Lette-Variem em Berlim, tendo se diplomado em 1914, também foram coletados dados na Alemanha, tendo que ser traduzidos para o português e inglês, pois se trata de uma edição bilíngue.

Lilly Ebstein estudou em Berlim na época em que ocorria uma intensificação das pesquisas científicas auxiliadas com ilustrações e o início do uso da fotografia nestas atividades. As turbulências com o final da Primeira Guerra Mundial promoviam migrações de expressivas personalidades europeias para o Novo Mundo, inclusive o Brasil. Chegando ao país, já em 1926, ela estava contratada pela Faculdade de Medicina e Cirurgia de São Paulo para ilustrar os trabalhos, inclusive com fotomicrografia para professores da instituição como o consagrado italiano Alfonso Bovero, para o que não se contava com pessoal qualificado.

lily

                     Capa do livro lançado

Os importantes trabalhos científicos, como as teses de doutoramento dos profissionais que atuavam na área da medicina, recebem ilustrações elaboradas por ela, ainda na época que em São Paulo não estava consolidada a Faculdade de Medicina de São Paulo, que viria a se instalar na Avenida Doutor Arnaldo em 1932, antes da formação da Universidade de São Paulo. Não se contava ainda com o Hospital das Clínicas, que só se instalaria em 1944.

Ela colaborou também no Instituto Biológico e o professor José Reis nos anos 1930, seguindo a tradição já existente na Europa sobre estes tipos de assuntos, como de vegetais abundantes no Brasil, que despertavam interesses entre pesquisadores consagrados. Sem as contribuições das ilustrações como as dela muitos alunos da medicina e da biologia teriam dificuldades nos seus aprendizados.

As notas referentes aos textos dos diversos capítulos do livro, bem como o minucioso levantamento de onde constam as suas ilustrações, além das fontes de pesquisa e bibliografia, fazem jus aos trabalhos mais acadêmicos publicados no Brasil. Na realidade, todo o avanço que ocorreu na medicina como na biologia neste país teria encontrado limitações não fora o importante trabalho efetuado por Lilly Ebstein Lowenstein, que fica preservado com a publicação deste importante livro.


O Tratamento dos Japoneses aos Trabalhadores Estrangeiros

24 de novembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política | Tags: artigo no The Japan Today, despacho da AFP, exemplo de Barack Obama, mudanças indispensáveis no Japão, tratamento dos trabalhadores estrangeiros | 2 Comentários »

Na mesma linha da nossa proposição para resolver alguns problemas graves do Japão, ainda que os japoneses sejam os melhores conhecedores do assunto, um artigo publicado pelo The Japan Times, com base num despacho da agência AFP, sugere a necessidade de uma rápida mudança do tratamento que os japoneses continuam dando aos trabalhadores estrangeiros. Todos reconhecem que a população japonesa está diminuindo e se tornando mais idosa, necessitando da ajuda de trabalhadores estrangeiros para execução dos trabalhos considerados mais duros, onde os japoneses não estão mais dispostos a atuar. São os relacionados aos cuidados dos idosos dependentes, bem como os relacionados com a manutenção de muitas de suas rodovias, para citar os casos mais frequentes. O governo de Shinzo Abe vem ampliando o chamado TTIP – Industrial Trainee and Technical Internship Program, passando de três anos de permanência no Japão para cinco anos, mas não vem combatendo os abusos que ocorrem, fazendo com que muitas pessoas sejam exploradas nas tarefas mais duras. Informa-se que cerca de 50 mil chineses estão neste programa, havendo também outros estrangeiros.

Todos sabem que no Japão sempre existiram os chamados “empreiteiros de mão de obra”, que no passado exploravam os próprios japoneses pouco qualificados. Há um tradicional sistema de subcontratações dos recursos humanos para trabalhos temporários naquele país, que sempre geraram abusos que não conseguem ser coibidos, pois algumas das organizações que atuam neste segmento aproximam-se das chamadas mafiosas, como todos sabem, mas continuam sendo lamentavelmente toleradas. Em 1985, quando eu era responsável pelo Pavilhão do Brasil na EXPO TSUKUBA 85, pensava que estava pagando condignamente aos funcionários japoneses que permitiam a sua operação. Vim a saber que, mesmo utilizando uma grande empresa japonesa de primeira linha, eles haviam subcontratado os serviços e os trabalhadores japoneses recebiam uma pequena parcela do que estávamos pagando.

cuidador

O Japão tem mais de um milhão de helpers mas necessita da ajuda de estrangeiros para cuidar dos seus idosos

Apesar das boas intenções deste programa TTIP, que visaria que estrangeiros se acostumassem ao idioma local bem como aprendessem algumas habilidades profissionais, o fato concreto é que tem sido usado para suplementar o fornecimento de recursos humanos de baixa qualificação. A ponto de existir uma organização chamada Rede de Solidariedade com Migrantes no Japão, um grupo não governamental para apoiar estes estrangeiros. Alguns japoneses chegam a admitir que existe uma espécie de trabalho escravo de estrangeiros, muitos que contraíram empréstimos para ir ao Japão.

Alguns países como os Estados Unidos, sob iniciativa do presidente Barack Obama, procuram legalizar a presença de trabalhadores estrangeiros, dentro de determinadas condições, ainda que recebam restrições dos republicanos que alegam que o executivo estaria tomando estas medidas sem consultar a maioria parlamentar.

Os principais imigrantes no Japão são oriundos da China, do Vietnã e da Indonésia, admitindo-se também vistos temporários para descendentes de japoneses até a terceira geração, que se cogita estender para outras. Diante dos problemas que estão sendo enfrentados pelo Japão, seria recomendável, para maior agressividade nestas políticas, aumentar a população e o seu rejuvenescimento. Isto ajudaria a ampliar a demanda local, pois os jovens sempre estão entre os que estão aumentando suas demandas de variados produtos, notadamente quando estão melhorando o seu padrão de vida.

Algumas autoridades alegam que não conseguem controlar os comportamentos dos intermediários, pois temem o seu poder, inclusive junto aos parlamentares. Os japoneses precisam enfrentar estas dificuldades, para sanar problemas mais graves de seu país.

Alguns japoneses entendem que estes estrangeiros necessitam se sentirem bem acolhidos ao Japão, o que parece ainda muito longe da realidade. Portanto, estes pontos de vista não são somente de observadores do exterior, mas também de alguns segmentos do Japão que precisam ser apoiados para acelerar as mudanças nas bases fundamentais daquele país.


Parece que o Japão Necessita Abandonar Algumas Práticas

23 de novembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias | Tags: exagero na importância do Prêmio Nobel, ironias da Bloomberg, o papel de Paul Krugman na postergação do aumento tributário

Mesmo que se possa concordar que o momento não era adequado para mais um aumento do imposto de vendas de 8 para 10% no Japão, como acabou decidindo o governo Shinzo Abe, que optou também pela dissolução da Dieta e convocação das eleições gerais, é difícil entender, para quem observa do exterior, como se pretende resolver os problemas de ativação da economia japonesa e passar da deflação para uma inflação. Um incrível artigo publicado por Toru Fujioka e Simon Kennedy no site da Bloomberg mostra o ridículo a que o Japão está sendo submetido por hábitos que já deveriam ter abandonado, como o exagero na importância da participação de um Prêmio Nobel como Paul Krugman nesta decisão, que vem ganhando com suas palestras mal preparadas pelas quais cobra fortunas que são jogadas fora pelos seus patrocinadores. A história, que inclui a jocosa expressão “limo ride” (passeio de limusine), dá uma ideia da dimensão da trapalhada em que se encontram as autoridades japonesas. Já abusaram ao copiar o easing monetary policy norte-americano, que até agora não surtiu os efeitos que esperavam no Japão. O que conseguiram foi uma desvalorização do yen, bem como o aumento das cotações das bolsas, proporcionando ganhos para alguns operadores financeiros. Sem um aumento da demanda, que proporcionaria oportunidade para aumentos das produções locais.

shinzo

Primeiro-ministro Shinzo Abe do Japão parece carecer de uma estratégia para recuperação da economia japonesa, saindo da deflação

O Japão vem abusando historicamente da utilização de personalidades que conseguiram notoriedade como se eles fossem mágicos que poderiam resolver os seus problemas. Um país que surpreendeu o mundo com o chamado milagre econômico no pós-guerra, com o eficiente funcionamento do mecanismo que ficou conhecido como o Japan Inc., e proporcionou um elevado padrão de vida para a sua população não necessitaria usar de tais artifícios. Sofreu depois os efeitos dos choques petrolíferos e algumas bolhas como as provocadas por especulações imobiliárias baseadas nas carências de espaços no país e passa agora por duas décadas de estagnação e deflação. Sofre com a redução de sua população e seu envelhecimento, como todos reconhecem e que são fatos objetivos.

O que parece relevante a ser atacado são estes problemas, ainda que seja duro para um povo que se acostumou a uma longa história dentro de uma pequena península, gerando o que eles mesmos denominam com a “Cultura de Galápagos”, que precisa ser superada. Não parece que artifícios de política econômica copiados de outras realidades sejam as adequadas para o Japão, que tem claras características próprias.

Se muitos jovens japoneses, principalmente as mulheres, não desejam se casar e gerar filhos suficientes para a manutenção da sua população, há que se socorrer da imigração, para o que abundam candidatos. Com o aumento da expectativa de vida, parece que a consequência natural é a redução de sua população que já está ocorrendo, ao mesmo tempo em que a sua estrutura etária apresenta um aumento dos idosos. São fenômenos demográficos difíceis de serem alterados, devendo se reconhecer que os idosos tendem a contar com novos consumos em níveis mais modestos do que os jovens.

Se a economia japonesa, com os seus elevados níveis salariais, torna-se menos competitiva no mercado internacional, acaba ficando difícil proporcionar condições para taxas de crescimentos positivos. Com demandas abaixo de suas capacidades produtivas, a tendência acaba sendo a de deflação, que é um fenômeno mais complexo de ser administrado que a inflação.

As medidas de easing monetary policy, apesar de aumentarem os recursos disponíveis no sistema bancário para empréstimos, não conseguem estimular o crescimento da economia japonesa. Os bancos receiam os riscos dos empréstimos para as empresas numa economia que não conta com o crescimento da demanda, as empresas temem contrair empréstimos se não contam com expectativas de retornos suficientes para honrar os encargos financeiros, e os consumidores não se sentem estimulados a aumentar suas compras quando os bens estão com preços em queda, além de não os necessitarem para a manutenção do seu padrão de vida.

Se o nível de endividamento público no Japão é o mais elevado no mundo, superando em muito o próprio PIB, em algum momento terá que elevar a sua tributação, que é mais baixa do que dos países europeus. O imposto sobre as vendas eram de 5% e passaram a 8%, o que provocou nova queda da demanda. Se tiverem que elevar para os já previstos 10% ou mais, chegando aos níveis de 20% vigentes em algumas economias europeias, tudo indica que isto se aproxima da impossibilidade política, que não seria resolvido por uma nova Dieta. Mesmo assim, o quadro levou o governo à postergação do aumento do imposto sobre as vendas, convocando uma nova eleição, esperando ter o respaldo para uma medida tão amarga.

Se não se deseja provocar a queda da demanda na economia japonesa, parece ser necessário imaginar outra forma de tributação, mesmo reconhecendo dificuldades de aplicação e resistências dos parlamentares. Os que ampliarem os seus consumos poderiam ser beneficiados, enquanto os que contam com elevados patrimônios que não desejam mobilizar para ajudar no aumento das demandas e giro dos recursos na economia poderiam arcar com maior parcela das tributações indispensáveis, como uma das alternativas possíveis.

O nacionalismo que vem sendo perseguido pelo atual governo não facilita a integração da economia japonesa na economia globalizada. Há que se admitir que o Japão faça parte de uma teia internacional, que é intensa na Ásia. Isoladamente, não terá condições de manter um crescimento diante de vizinhos emergentes que contam com condições diferentes das economias já desenvolvidas. O contraste parece ficar cada vez mais gritante em nada contribuindo para uma convivência até com os que pensam de forma diferente. Mas isto faz parte do mundo globalizado, cujas regras parece que precisam ser aceitas, mesmo que sejam dolorosas.

Muitas alternativas podem ser imaginadas pelos criativos economistas japoneses, que não necessitam de respaldos dos estrangeiros. Um pouco mais de autoconfiança, observando as características de outras economias como da japonesa, poderia ser adotada com coragem de se adotar novos hábitos, ainda que possam ser interpretados como heterodoxos.


Aceitação do Mercado ao Anúncio da Nova Equipe Econômica

21 de novembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política | Tags: Alexandre Tombini no Banco Central, Armando Monteiro no Desenvolvimento e Katia Abreu na Agricultura, entre outros, Joaquim Levy na Fazenda, Nelson Barbosa no Planejamento

A boa aceitação da Bolsa de Valores, com a alta das ações da Petrobras, por exemplo, e a queda da taxa de câmbio, entre outros indicadores, mostra que o chamado mercado está recebendo com aprovação as informações, ainda não confirmadas, dos principais nomes da nova equipe ministerial do governo Dilma Rousseff para o seu segundo mandato. São indicações que ela teria acabado por aceitar as mudanças do seu comportamento pessoal, que era de exagerada participação nos detalhes da fixação da política econômica, que não é o seu forte, ainda que tenha sido reeleita, aumentando as possibilidades de diálogos. Deve-se lembrar que o antigo comandante do Tesouro Nacional já teve divergências passadas com Dilma Rousseff, devendo contar com maior liberdade na sua ação no Ministério da Fazenda, com critérios mais rigorosos, não podendo ser considerado como indicação do Bradesco, onde trabalha atualmente. Nelson Barbosa, com boa experiência no governo, certamente está qualificado para a Secretaria de Planejamento da Presidência da República, sem a necessidade de excessivo desgaste de Guido Mantega. Com a confirmação da continuidade de Alexandre Tombini no Banco Central, o rigor da política monetária no combate à inflação ficaria assegurado, num melhor entrosamento com a política fiscal e demais aspectos que influem na eficiência da política econômica, sem a exagerada interferência política-partidária.

Com a indicação do ex-presidente da CNI – Confederação Nacional da Indústria, senador Armando Monteiro para o Ministério do Desenvolvimento e da senadora Katia Abreu, presidente da CNA – Confederação Nacional da Agricultura, para o Ministério da Agricultura ergue-se a possibilidade de maior acesso dos empresários aos diálogos com o governo, ponto crucial para melhora da credibilidade do governo. Ainda que todos estes nomes não possam ser as primeiras preferências pessoais de Dilma Rousseff, são indicações de que ela está se curvando às indicações da realidade, mostrando a gravidade da situação que está se enfrentando, sem os ventos de cauda do comércio internacional. Seria um pragmatismo mostrando que o governo terá negociações difíceis com a classe política, preservando as qualificações técnicas nos principais postos relevantes para a política econômica, sem se curvar também aos interesses do setor financeiro.

800px-Joaquim_Levy

Joaquim Levy, qualificado economista seria indicado para o Ministério da Fazenda

Nelson-Barbosa-

Nelson Barbosa que seria indicado para a Secretaria de Planejamento

alexandre-tombini-051_2

Alexande Tombini continuaria no Banco Central

senador

Senador Armando Monteiro Neto, ex-presidente do CNI, iria para o Ministério do Desenvolvimento

katia-abreu

Senadora Katia Abreu, presidente do CNA, iria para o Ministério da Agricultura

Se confirmadas estas indicações, sem nenhum demérito à equipe atual que obedeceu disciplinadamente ao comando de Dilma Rousseff, haveria uma evidente indicação da melhoria das qualidades, permitindo um diálogo mais profícuo tanto com os segmentos acadêmicos como empresarias e até políticos.

Todos sabem que o entrosamento de uma nova equipe apresenta dificuldades, mas se Aloisio Mercadante, que vem atuando muito junto à presidente Dilma Rousseff no seu atual cargo de ministro Chefe da Casa Civil, costurar muitos entendimentos, tudo indica que existem fortes chances para uma atitude mais realística diante dos problemas que precisam ser enfrentados.

Como também começam a surgir reajustamentos de posições, como vem ocorrendo na China com a redução da taxa de juros, pode haver uma ligeira melhora no cenário internacional, pois todos estão inseridos na economia globalizada, e somente uma recuperação nos Estados Unidos não é suficiente para alterar o panorama mundial. Mas acréscimos marginais em muitas economias podem alterar o quadro de pessimismo que se verifica neste final do ano, projetando-se para os próximos anos.


O Verdadeiro Papel das Mulheres no Japão

21 de novembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias | Tags: administração das finanças familiares, educação dos filhos, sobrecarga das responsabilidades

O The Japan Times publica um artigo, com base nas informações distribuídas pela agência noticiosa Jiji, segundo o qual uma pesquisa efetuada com 1.058 pessoas com idade entre 20 a 59 anos naquele país mostram que as esposas teriam poupanças mantidas secretas dos seus companheiros que excedem aos dos maridos em 3,4 vezes. Chegariam a uma média próxima de 1.200 mil yens, ou seja, em torno de US$ 10 mil, com um aumento de 70 mil yens quando comparado com a de um ano atrás. É preciso considerar que muitos japoneses ainda mantêm o costume de deixar que as esposas cuidem das finanças do casal e a elas cabe decidir como utilizam os recursos, inclusive para investimentos. Os maridos teriam escondidos uma média em torno de US$ 3 mil de suas esposas, tendo uma queda com relação ao ano passado.

Numa opção de múltiplas escolhas da pesquisa para as esposas, cerca de 75% delas esperam que estas reservas secretas fossem destinadas para as emergências, enquanto para os maridos 65% teriam a mesma possibilidade. Para cerca de 35% das esposas seriam destinadas para o futuro, enquanto 50% dos maridos seriam para seus hobbies. Deve se explicar também que muitos maridos japoneses temem ser contrariados pelas esposas quando pretendem gastar com lazer, como o golfe ou alguns jogos com seus amigos, que fazem sem o conhecimento das suas esposas, que fingem não saber destes programas.

clip_image001

                             As famílias japonesas em mudança

O mesmo acontece com a responsabilidade da educação dos filhos, onde os homens se omitem destas funções, imaginando que cuidam do sustento da família, para a qual muitas mulheres já contam até com empregos fixos, além de trabalhos eventuais ainda que em tempo parcial. Existe, infelizmente, uma forte pressão social para que os filhos frequentem boas escolas que os possibilitem alcançar também as melhores em níveis superiores, a ponto de o assunto tornar-se até motivo para um forte estresse que até leva ao suicídio de alguns estudantes. Ainda que esteja havendo algumas alterações, a imagem é que as mulheres no Japão desempenham papel secundário, diante do hábito de muitas caminharem atrás dos seus maridos, o que já está mudando. Há um aumento de situações onde as mulheres evitam se casar e ter filhos, por causa destas pressões.

As decisões das famílias sobre os grandes investimentos também recebem uma forte influência da opinião das esposas. Isto determina até os caminhos que são percorridos pela economia japonesa.

No passado, havia uma maior integração destas famílias até com os avós, principalmente do marido. As sogras exerciam uma forte pressão sobre as noras, o que já não é aceito, fazendo com que haja mais independência dos jovens casais, com melhor relacionamento com as gerações anteriores que tendem a permanecer nas regiões de origem, quando os jovens aumentam suas migrações para as grandes cidades. As famílias maiores e as noções semelhantes aos clãs chineses são menos frequentes.

No entanto, o que parece prevalecer é a forte influência das mulheres nas decisões fundamentais da sociedade japonesa, o que parece um excesso de responsabilidade, onde os homens também deveriam partilhar, sem deixar estes encargos para elas. São aspectos que parecem estar em mudanças, talvez de forma mais tênue que no Ocidente.


Raras Novidades Gastronômicas em São Paulo

21 de novembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais, Gastronomia, Notícias | Tags: Chef Benon Chamilian, cuidados pessoais, lugar difícil de ser localizado e limitado em espaço, melhor cozinha árabe, o árabe libanês

Mesmo para as pessoas que estejam acostumadas com a gastronomia nos melhores centros como Paris, Londres, Nova Iorque, Tóquio, Cingapura, Istambul e outros, sempre existem oportunidades para se conhecer em São Paulo surpreendentes novidades, ainda que localizadas fora das áreas mais badaladas. É o caso do Mocotó da Vila Medeiros, e este Chef Benon, na transição do Morumbi com a Vila Sônia. Mesmo com as indicações de mapas, não é fácil transitar pelas ruas cheias de curvas, algumas mal sinalizadas, notadamente para aqueles que se aventuram também em rotas alternativas, mesmo num feriado. Mas Chef Benon vale o sacrifício, inclusive para chegar antes das 12h, para ser acomodado em lugares simples, mas limpos, com o tumulto posterior de pessoas à espera de serem atendidas.

Trata-se de uma casa simples adaptada para um pequeno restaurante, que por ter sido destacada numa revista voltada à classificação dos restaurantes recebe um fluxo exagerado de clientes, que não permite reservas. Muitos comentários já vinham sendo publicados sobre o trabalho do Chef Benon, informando sobre a sua experiência no Líbano, Arábia Saudita, como em outros restaurantes no Brasil, uma carreira de algumas décadas. Tudo indica que o seu restaurante é uma volta à simplicidade e a sua marca pessoal, até da escolha de um pequeno local onde esperava tranquilidade que deve estar perdendo, pela invasão de clientes interessados numa cozinha diferenciada, sempre procurada por muitos paulistanos.

clip_image001

Qualidade acima de tudo, mas também quantidade a preços razoáveis

Todos que moram em São Paulo sabem que a chamada cozinha árabe apresenta grandes variações, dependendo da localidade de onde se origina. Os libaneses são as bases de muitos que se espalharam e receberam novas leituras, como em Paris. Istambul, que foi a capital do Império Otomano, tem uma tradição com riqueza dos materiais que dispõe, provenientes das mais variadas partes do mundo.

O que predomina em São Paulo já são os produzidos por árabes que possuem pouco conhecimento da cozinha original, e suas amplas variedades. Por exemplo, muitos não conhecem o cuscuz marroquino, que é de ótima qualidade e que faz sucesso em Paris. Os mais populares disseminaram bons quibes e esfirras, além dos kebabs para todos os bolsos, pois os árabes que chegaram ao Brasil foram até os confins da Amazônia, e ocuparam deste o Rio Grande do Sul tendo também importância no Nordeste.

Poucos são os que conhecem os carneiros que são servidos nos grandes banquetes, onde o olho do animal é oferecido pelo anfitrião ao convidado principal, pois é considerado a parte mais saborosa da iguaria. Já se foram os períodos em que os alimentos eram levados à boca com a ajuda de verduras ou diversos tipos de pães, sem o uso de talheres.

A enorme variedade dos chamados indevidamente árabes chegam aos armênios que também contam com especificidades em São Paulo. É mais que natural que todas as regiões que foram e continuam sendo ocupados pelos chamados árabes apresentem uma riqueza de variedades que nem sempre é conhecida.

É evidente que também se processa uma evolução na cozinha árabe, como os mais tradicionais que valorizam mais o trigo que era mais utilizado, e hoje com a facilidade de acesso às carnes, muitos pratos ficaram mais ricos nestes ingredientes. Lembrando que os chamados árabes fizeram parte do início da civilização, como na Mesopotâmia, ou no Egito, pouco se distinguindo dos contatos com os persas, hindus, chineses e outras civilizações da antiguidade.

Toda esta civilização, nem sempre valorizada, resultou nesta sua culinária rica e diversificada, onde sempre existem espaços para inovações que sempre são bem-vindas.


Os Difíceis Problemas da Economia Japonesa

21 de novembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias | Tags: continuidade da deflação, convocação de eleições, elevado nível da dívida pública, injeção brutal de recursos monetários, uma economia com diminuição da população que envelhece

Lamentavelmente, quando a terceira economia do mundo não consegue sair das dificuldades que enfrenta, analistas do exterior passar a dar sugestões, ainda que se suponha que os japoneses é que devem entender melhor os seus problemas e as soluções possíveis. Willian Pesek, que expressa as opiniões da Bloomberg sediada em Tóquio, publicou seu ponto de vista num artigo publicado no The Japan Times, sugerindo créditos diretos aos consumidores e outras medidas heterodoxas. O The Economist publica no seu site, reproduzido em português no site de O Estadão, também sua apreciação sobre as dificuldades japonesas, pois o Bank of Japan começou a injetar US$ 700 bilhões anualmente, que deveria provocar uma forte desvalorização do câmbio e aumento de suas exportações, mas que só provocou a alegria dos aplicadores no mercado financeiro, sem que a demanda crescesse no Japão, e, pelo contrário, decrescesse com a elevação que ocorreu nos impostos sobre a venda que passaram de 5 para 8%. Ainda que a medida creditícia não tivesse tempo para provocar os seus efeitos.

O primeiro-ministro Shinzo Abe teve que dissolver a Dieta e convocar eleições gerais, pois pretende postergar o aumento para 10% de impostos sobre as vendas que estava programado para outubro deste ano, principalmente porque a economia japonesa registrou um decréscimo nos últimos dois trimestres, entrando tecnicamente num período de recessão. Já postamos neste site as dificuldades de uma economia onde a população está decrescendo e envelhecendo, num quadro onde o débito público já chega a 240% do PIB, não permitindo muito espaço para a utilização da política fiscal. Ao mesmo tempo, a situação da economia mundial não propicia um aumento substancial das exportações para estimular a economia japonesa.

clip_image001

Premiê do Japão Shinzo Abe sem muitas alternativas

Lamentavelmente, a chamada easing monetary policy provocou uma melhora da economia brasileira, mas não tem sido suficiente na Comunidade Europeia onde o Banco Central da Europa adota posição semelhante. Também no Japão, ainda que a disponibilidade de crédito venha aumentando substancialmente, tanto os bancos não se dispõem a emprestar diante dos riscos existentes como as empresas e os consumidores não demandam estes créditos diante das incertezas futuras. A política cambial já não é um instrumento suficiente para estimular as exportações e a economia, num cenário mundial adverso.

Isto mostra que, apesar das alegações do governo brasileiro não serem totalmente justificáveis, há que se admitir que o cenário internacional não seja estimulador para qualquer economia, a ponto do The Economist sugerir que o Japão deva se concentrar na expansão do mercado interno, o que vem sendo feito pelos Estados Unidos e pelo Reino Unido. Também a China se concentra em dar prioridade ao mercado interno, ainda que tenha pretensões de ampliar suas influências no mundo.

Quando existe uma relativa paralisia, com o sistema bancário não conseguindo dar a sua contribuição em função dos riscos, entre as medidas aparentemente heterodoxas sugeridas aparentam oferecer créditos sem custos para estimular novas iniciativas empresariais, notadamente dos jovens, com o uso de novas tecnologias. No Japão, 25% dos jovens estão desestimulados, necessitando de desafios para iniciarem suas atividades. Como vantagens fiscais não podem ser cogitadas, o que se pode oferecer são créditos estimulantes, mesmo que alguns projetos não proporcionem retornos.

Ainda que o Japão ofereça resistências para imigrações de trabalhadores jovens do exterior, a dramática queda de sua população com o simultâneo envelhecimento parece sugerir a necessidade de uma ousada iniciativa para o seu estímulo, notadamente quando existe carência de recursos humanos para tarefas mais simples. Todos sabem das dificuldades dos idiomas bem como dos costumes, mas quando considerada as últimas décadas houve um significativo aumento de estrangeiros no Japão.

O Japão já veio admitindo trabalhadores temporários, descendentes de japoneses até a terceira geração. Parece chegada a hora de ampliar as facilidades sem considerar restrições de qualquer natureza, pois o padrão de vida no Japão supera em muito o de muitos outros países atraindo uma população que está procurando por novas oportunidades. Mesmo com todas as dificuldades, países como os Estados Unidos contam com expressivo contingente de imigrantes, mesmo que tenham dificuldades até no uso do inglês.

Na atual situação, quase de emergência, não se justificam mais medidas de tendências nacionalistas, pois há que se admitir que o mundo esteja cada vez mais globalizado, mesmo considerando todas as dificuldades para integração de estrangeiros no Japão. São muitos os exemplos que indicam que estrangeiros com elevada iniciativa estão já contribuindo com a economia daquele país.

Mesmo não sendo um especialista em política japonesa, fica-se com a impressão que a convocação de uma nova eleição, ainda que permita que Shinzo Abe continue no poder por mais algum tempo, não seja um instrumento adequado para proporcionar novas diretrizes capazes de oferecer alternativas ousadas para o Japão sair de suas dificuldades.

O mundo necessita de uma economia japonesa ativa, que tem muito a contribuir para o resto do mundo.


Editora Estação Liberdade e Seus Lançamentos

20 de novembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais, Notícias | Tags: a evolução da vida de um estudante em Tóquio dos seus seis anos ate os vinte e um anos, diferenças com o Ocidente, intercâmbio do Japão com a Europa no início do século XX, Ogai Mori e Vita Sexualis, últimos lançamentos

A editora Estação Liberdade que teve o seu primeiro grande sucesso com a tradução do livro de Miyamoto Musashi, trabalho excepcional da minha amiga Leigo Gotoda, promove o lançamento de diversos livros escritos por autores japoneses, como este de Ogai Mori, Vita Sexualis. Uma ótima tradução de Fernando Garcia que também oferece ricas observações e explicações permitindo o melhor entendimento dos leitores sem grande familiaridade com a literatura japonesa, numa apresentação primorosa. Os que esperam encontrar descrições escandalosas de encontros sexuais podem ficar frustrados, pois naquela época mais do que hoje existiam diferenças acentuadas nas visões da cultura japonesa, que era muito reservada, e brasileira, que era mais livre sobre estes aspectos sexuais. O importante é que a editora tem a coragem de enveredar por campos que podem gerar algumas más interpretações de alguns leitores menos informados.

No Oriente, notadamente no Japão, parece que estes assuntos que podem ser delicados, como os primeiros conhecimentos sexuais de meninos japoneses, costumam diferir das visões maliciosas que já predominavam na Europa na época, onde o conceito de pecado era relevante. Minha pequena experiência pessoal é que a partir da estética como nas xilogravuras de ukiyo-e de Hokusai, que ilustra a capa do livro, as figuras femininas e masculinas japonesas estão bastante vestidas, somente sugerindo que estão se preparando para atividades sexuais, com todas as partes sensuais escondidas. No Ocidente na época, o padrão de beleza parece ter sido determinado pelas mulheres nuas que pelos critérios atuais seriam exageradas em peso, como pode ser observado em muitas fotografias da época.

clip_image002

                                           Ogai Mori, autor de Vita Sexualis

O livro é autobiográfico e relata as experiências de um estudante em Tóquio no início do século XX, dos seus seis anos aos 21, quando vai para a Alemanha estudar medicina, interessando-se também por aspectos da literatura e filosofia europeia. Dá uma boa noção do que era a vida dos jovens estudantes em Tóquio naquela época, como pode ser constatado em outros livros da época.

Informa sobre o que ocorria na vida noturna de Tóquio, descrevendo como era o bairro de Yoshihara onde se concentravam os prostíbulos daquela capital na época, que podiam ser frequentados somente pelos que contavam com muitos recursos. Mas não entra nos detalhes das suas experiências, que é focado de forma muito discreta, como era na cultura japonesa de então, ainda que artistas de ukiyo-e retratassem cenas mais ousadas para os padrões japoneses, com as figuras das cortesãs .

Observa-se que estava em voga a influência filosófica europeia no Japão, que procurava reproduzir estas preocupações no texto do livro. O autor foi um médico formado na Alemanha, como era muito comum entre estudantes de famílias de posse de todo o mundo, e ele teria atuado na Guerra Nipo-Russa.

Todos os leitores que possam estar interessados nestes livros de autores japoneses encontram muitos deles editados em português pela Editora Estação Liberdade, com apresentações de qualidade, com uma seleção respeitável. A editora normalmente me contempla com exemplares dos seus lançamentos, que costumam ser muito interessante, ainda que nem sempre se conte com o tempo desejável para um exame mais acurado.