12 de novembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política | Tags: decisões ousadas, encontro dos dois presidentes mais importantes do mundo, não podem agradar a todos, reunião de cúpula de Barack Obama e Xi Jinping, um esforço surpreendente
Ainda que Xi Jinping, o presidente da China com poder incrível, que pretende superar os Estados Unidos nas próximas décadas pela sua importância mundial, tenha obtido um grande resultado diplomático na sua reunião de cúpula com o Barack Obama, presidente dos Estados Unidos, que vem enfrentando variados problemas para consolidar a sua liderança no seu país como no mundo, há que se admitir que resultados surpreendentes para o mundo fossem obtidos. Ainda que isto não possa atender a todos, havendo observações como do site do The Economist que os Estados Unidos cederam mais que os chineses na questão das emissões dos gases de efeito estufa, não se pode negar que importantes avanços foram conquistados, como parece ter surpreendido muitos veículos de comunicaçâo importantes no mundo, inclusive agências noticiosas internacionais como o Associated Press.
O The Wall Street Journal publica no seu site um abrangente artigo escrito por Carol E.Lee, Jeremy Pagina e William Mauldin, informando que, além do entendimento sobre o clima, foram alcançados importantes acordos sobre questões militares, bem como o comércio relacionado com os produtos de informática, considerando inesperado este movimento, que certamente exigiu um grande esforço de Barack Obama e sua equipe, quando ele já era considerado um “lame duck”.
Tanto Xi Jinping como Barack Obama fizeram declarações públicas otimistas sobre o novo patamar em que colocam as relações bilaterais, que acabam provocando efeitos em todo o mundo. Apesar das diferenças existentes entre os dois países com relação a muitas questões, tudo o que é possível parece ter sido feito, mesmo considerando os compromissos existentes com seus aliados.
Quando a reunião de cúpula anterior foi realizada em Sunnyland na Califórnia num clima descontraído, os chineses capricharam para que o evento em Beijing fosse mais formal, envolvendo até uma visita pelos jardins da residência oficial, ao lado da Cidade Proibida. Os trajes utilizados eram formais e adequados ao rigoroso outono de Beijing, com paletós, gravatas e casacos.
Encontro de cúpula entre Xi Jinping e Barack Obama em Beijing
Muitos outros acordos foram estabelecidos, como o visto de negócios e de turismo de 10 anos bem como o Tratado Bilateral de Investimentos entre os dois países, mas os pontos altos referem-se aos entendimentos que permitem acelerar as providências para a redução do efeito estufa que deverá ser discutido nas Nações Unidas ainda este ano, como as medidas destinadas para evitar incidentes fortuitos que prejudiquem os avanços em direção a um entendimento relacionado com a defesa da China e dos Estados Unidos e seus aliados, notadamente nos mares que cercam os chineses.
Muitos detalhes mostram que grandes esforços foram efetuados para que os acordos fossem estabelecidos atendendo ao máximo os seus objetivos, reconhecendo as dificuldades existentes em ambas as partes. As reuniões, que estavam previstas para três horas de duração, acabaram exigindo quatro horas e quarenta minutos.
A entrevista à imprensa que se seguiu ao evento tinha a preferência dos chineses para ser algo formal, sem perguntas. Mas as pressões norte-americanas foram aceitas surpreendentemente, resultando num estilo que permitia maior flexibilidade para o trabalho da imprensa.
É preciso compreender que assuntos delicados que antecederam ao encontro de cúpula estavam frescos na memória de todos. A espionagem envolvendo escutas de personalidades, os problemas relacionados com as manifestações em Hong Kong, as tensões decorrentes das disputas territoriais com aliados dos Estados Unidos, os incidentes militares de aviões chineses e norte-americanos, os graves problemas de poluição, as tentativas de acelerar a implantação da democracia em países asiáticos, e muitos outros.
Tudo indica que os chineses entenderam que acordos na atual administração eram relevantes sobre os avanços já obtidos, tendo em consideração a possibilidade de orientações mais duras de um novo governo nos Estados Unidos.
Muitos analistas que participam de entidades que acompanham estes relacionamentos bilaterais se mostravam surpresos com os avanços que foram possíveis, mesmo com algumas concessões norte-americanas. Todos esperam que estes entendimentos favoreçam os que terão que ser submetidos à apreciação de outros países, como no caso dos problemas de poluição nas Nações Unidas, ou de maior liberalização do comércio de produtos relacionados com a informática, no âmbito da OMC – Organização Mundial de Comércio.
Neste acordo na OMC estará incluído o comércio de semicondutores, dispositivos médicos, sistemas de posicionamento global e outros produtos. Nas Nações Unidas, sobre o aquecimento global, os Estados Unidos já se comprometeram a reduzir até 2025 suas emissões de 26 a 28% sobre os níveis de 2005. A China concordou que suas emissões atingirão o pico em 2030, e que as produções de energias não fósseis atinjam 20% em 2025.
Observa-se que se admitiu que a China, apesar de se tornar a maior economia do mundo, a renda per capita de sua população ainda é baixa, e que o seu desenvolvimento ainda implicará em problemas de poluição. Mas há indícios que a própria população chinesa e principalmente os representantes das empresas estrangeiras que atuam naquele país acabarão impondo prazos mais curtos e metas mais ousadas, pois muitos se declaram sem condições de habitarem locais de tanta poluição.
12 de novembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias | Tags: informações no site da Bloomberg, manipulações das taxas de câmbio, manipulações das taxas de juros Libor, outras punições de funcionários
Os observadores do mercado financeiro ficam impressionados com as cifras iniciais das punições impostas pelos reguladores dos Estados Unidos, da Grã-Bretanha e da Suíça aos renomados bancos internacionais que chegam a US$ 3,3 bilhões, segundo as notícias divulgadas por Suzi Anel e Liam Vaughan no site da Bloomberg. Na Suíça, a UBS vai pagar mediante acordo mais de US$ 800 milhões, segundo declarações do Commodity Futures Trading Commission dos Estados Unidos, do Britain’s Financial Conduct Authority e do Swiss Financial Market Supervisory Authority. O Citigroup vai pagar US$ 668 milhões, o JPMorgan Chase US$ 662 milhões, o Royal Bank of Scothland cerca de US$ 634 milhões, o HSBC US$ 618 milhões, sendo que o Barclays que está negociando ainda não estava pronto para um acordo. São cifras assustadoras mostrando como o mundo está nas mãos de instituições privadas bancárias responsabilizadas por duvidosos comportamentos morais, que estendem suas influências sobre outras atividades econômicas.
As investigações das autoridades controladoras que já duram 13 meses ainda podem atingir indivíduos que atuaram neste mercado, pelos bancos como empresas coniventes, como gestores de fundos. As autoridades inglesas ainda estão fazendo investigações criminais que atingem o mercado de moedas, que chegam a US$ 5,3 trilhões por dia.
Como estas cifras foram estabelecidas nos acordos que foram estabelecidos visando reduções das punições, pode-se concluir que as irregularidades compreendem valores mais elevados e que as instituições e seus operadores usufruiram vantagens de valores superiores. Os reguladores estão pressionando os bancos a reverem os bonus concedidos a seus funcionários bem como seus dirigentes.
Segundo um diretor de uma das agências reguladoras, somente o Barclays está investigando suas práticas. Outros 30 bancos terão que fazer revisões de suas práticas e assinar compromissos para que elas não se repitam no futuro. Um operador do Bank of England, que já trabalhou por quase 30 anos como revendedor de câmbio, não teve provimento para ser isentado, ele que foi criticado num relatório disciplinar interno não relacionado com o câmbio.
As investigações iniciais foram no sentido de identificar se os operadores conspiraram as taxas de referência chamadas WM/Reuters para efetuar apostas não autorizadas, cobrando comissões excessivas. Mais de 30 deles foram demitidos, suspensos, colocados em licença ou renunciaram. As multas referem-se aos controles ineficazes nas margens das operações entre janeiro de 2008 a 15 de outubro de 2013.
Eles compartilharam informações sobre as atividades dos clientes que tinham confiado a manter confidencialidade e tentaram manipular taxas de câmbio em concluio com operadores de outras empresas, de forma a prejudicar os clientes e o mercado, segundo as autoridades. Uma dezena de bancos já foram multadas pelo menos em US$ 6,5 bilhões nas investigações sobre a taxa de juros Libor e seus derivados. Já provocaram revisões mais amplas nos parâmetros de avaliação utilizados nos mercados de petróleo e metais preciosos.
Lamentavelmente, os comportamentos do setor financeiro não apresentam parâmetros morais que permitam confiar em muitas de suas operações.
11 de novembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais, Gastronomia, Notícias | Tags: culinária saudável e deliciosa, pratos do dia, preços convenientes, um restaurante de Quioto
JJ O’Donnoghue é um jornalista que vem escrevendo regularmente no The Japan Times com dicas interessantes como de um simples restaurante Kyo no Okazu (o prato do dia), que oferece legumes e verduras frescas colhidas na própria horta, a preços realmente convidativos. Apesar do Japão ter sido considerado por muito tempo um dos países onde o custo de vida era dos mais elevados no mundo, o que se constata hoje é, que seguindo a tendência atual de alimentos frescos e saudáveis, os preços são assustadoramente baixos, quando comparados principalmente com o do Brasil, que por razões que excedem os dos câmbios, os alimentos nos restaurantes estão exagerados.
Colheita diária: Com a sua própria horta ao lado, Kyo no Okazu serve refeições saudáveis e deliciosas com ingredientes sazonais. JJ O’DONOGHUE. Publicado no The Japan Times
No artigo publicado no site do The Japan Times, este autor recomenda que entre as poucas palavras em japonês que V. deve aprender devem estar oishii (delicioso) e okawari (favor repetir o prato). Citando o simples restaurante Kyo no Okazu (acompanhamento do arroz de hoje, segundo sua tradução), que fica no centro de Quioto, a antiga capital do Japão, que se destaca pela abundância de legumes e vegetais de elevada qualidade.
Dois restaurantes localizados num edifício que tem uma horta na sua cobertura que fornece as principais matérias-primas para a simples culinária, e que não conta com poluentes, pois Quioto é uma das cidades com muito verde, e baixa poluição quer seja do tráfego como de atividades industriais, que se resumem às produções de artesanatos de elevada qualidade.
Kyo no Okazu oferece duas opções para o almoço completo, cujo custo não chega a US$ 15 cada no cardápio, ficando mais em conta quando se trata de um conjunto completo, cujo menu varia diariamente. Nestes restaurantes, os jantares também simples não costumam variar muito de preços, ainda que sejam à la carte. Além dos saborosos cozidos que costumam não estar passados em exagero, contando com um tempero equilibrado e suave. Costumam vir acompanhados de um arroz temperado, uma porção de missogiru e um picles levemente conservado.
Os ingredientes costumam acompanhar as estações, e como atualmente no Japão é outono, pode se contar com bardana, ou raiz de lótus, tudo temperado com o clássico molho japonês de shoyu, mirin (um tipo de saquê para cozinha) e saquê. A sopa costuma ter o sabor característico de cada estabelecimento, e no caso destaca-se o umami, segundo o autor. A abóbora japonesa com carne de porco, muito comum, também estava deliciosa, segundo ele.
O restaurante oferecia alternativas para os três pratos servidos, havendo um vegetal cozido no vapor, além de um chawanmushi, uma espécie de legumes, e outros ingredientes cozidos com ovo batido.
Muitos no Japão terminam a refeição hoje com algum tipo de sobremesa simples, acompanhado de café. E os clientes podiam subir ao último andar do edifício para apreciar a cidade, com um tempo para o relaxamento. Que inveja daqueles que podem usufruir destes simples prazeres.
11 de novembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais, Notícias | Tags: atriz norte-americana interpreta personagem escocesa que se casou com um japonês, história real das eras Taisho e Showa (1912 a 1989), horário nobre da TV NHK do Japão | 2 Comentários »
Como o assunto está provocando uma grande polêmica no Japão, apesar de não ser um apreciador de novelas, tendo como base um artigo publicado por Louise George Kittaka no The Japan Times e uma entrevista concedida pela atriz Charlotte Kate Fox no Club dos Correspondentes Estrangeiros no Japão, que frequento por ser amigo do jornalista Kotaro Horisaka, tomo a liberdade de escrever este artigo sobre a atual novela da NHK, acrescentando alguns comentários. Os artigos citados podem ser acessados em inglês ou precariamente traduzidos para outros idiomas pela Google: http://www.japantimes.co.jp/community/2014/11/10/issues/foreign-wives-of-japan-offer-nhk-and-massan-criticism-and-kudos/#.VGEk7TpOVLM .
Inicialmente, esclareço que, como o Japão fica do outro lado do mundo, é preciso explicar para os leitores brasileiros que os noticiários mais importantes da televisão japonesa são nas primeiras horas do dia. É quando as notícias da Europa e dos Estados Unidos da noite anterior já estão disponíveis e muitos procuram se informar também sobre o clima e o trânsito local antes de saírem de casa para suas tarefas. Segue-se o horário nobre das novelas japonesas, que costumam ser veiculadas às 8 horas da manhã, e devem alcançar principalmente as donas de casa e os aposentados que estão disponíveis neste horário. Alguns da NHK obtiveram grande sucesso.
A NHK, televisão oficial do Japão que já contou com maior audiência, continua sendo importante tanto para as divulgações das notícias como das novelas, e, mesmo estando num hotel, acaba-se assistindo à sua programação para ficar atualizado sobre o que está acontecendo no Japão e no mundo, na política, economia como nos esportes, além de se preparar para os compromissos do dia, escolhendo as roupas adequadas ao clima da ocasião. Não se pode ignorar trechos das novelas que estão sendo exibidas, ainda que também interessado nos canais internacionais de televisão. Mesmo por mera curiosidade, no período de minha recente estada em Tóquio, estava no ar a novela “Massan”, apelido que a personagem Ellie Kameyama, uma escocesa, dava ao seu marido japonês, Masataka Taketsuru, que foi o pioneiro da introdução do uísque produzido no Japão, que hoje tem fama internacional. A história real sofreu adaptações adequadas às novelas, não sendo uma fiel reprodução do drama que deve ter sido uma europeia optar por morar no Japão, sem prévio conhecimento de sua cultura e dos hábitos de uma família japonesa na época.
Blonde girl in the ring: Charlotte Kate Fox and Tetsuji Tamayama (second from left) play the lead couple in the NHK morning drama ‘Massan,’ which is inspired by the true story of Japanese whisky pioneer Masataka Taketsuru and his Scottish wife, Rita. | KYODO Publicado no The Japan Times
É evidente que uma adaptação desta natureza necessita levar em consideração as conveniências da novela voltada para o público japonês de hoje. Rita era morena, mas escolheu-se uma atriz norte-americana loira, que confessa ter dificuldades de decorar suas falas, pois não entende japonês, e procurava interpretar uma escocesa. Mas a maioria dos que acompanham a novela acham que esta atriz está se saindo muito bem.
Todos sabem que os dramas de casamentos não aprovados por ambas as famílias envolviam um relacionamento muito difícil da sogra japonesa com a nora, muito pior quando estrangeira. Um pouco antes do período desta história, em 1903, o brasileiro Oliveira Lima já registrava: “…o animal fero e despótico que é a sogra japonesa – a qual deve ter fundado a fama universal da espécie…”, no seu livro “No Japão”.
A reportagem publicada no The Japan Times informa que o grupo poderoso de mais de 500 membros do Association of Foreign Wives of Japanese, que reúne membros de 40 diferentes nacionalidades, interessou-se sobre a novela, que ainda hoje reflete as dificuldades das estrangeiras que se casaram com os japoneses. Fica-se com a impressão que esta entidade conta com membros não asiáticos, como coreanas, filipinas, chinesas e até indonésias, além das nikkeis descendentes de japoneses, como brasileiras e latino-americanas, que são em grande número casadas com japoneses, e que apresentam outras realidades.
Mas muitas das entrevistadas (um terço) afirmam que também enfrentaram a oposição de suas famílias, sentiram um sentimento de isolamento da comunidade (64%), lutaram para encontrar um lugar na sociedade japonesa (63%) e tiveram problemas com o realinhamento das expectativas de casamento com as normas japonesas (57%). Mostram que estas adaptações são bastante difíceis.
Como o assunto é muito importante para entender mesmo os atuais problemas do Japão, recomenda-se a cuidadosa leitura dos artigos mencionados, na sua íntegra.
10 de novembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais, Notícias | Tags: da pobreza a um dos maiores bilionários chineses, entrevista concedida a Patti Waldmeir do Financial Times, grupo Fusun, suas bases filosóficas, um exemplo de um grande empresário chinês
Como muitos grandes empresários chineses começam a se destacar no Ocidente, parece importante conhecer parte das formações de alguns deles, seus princípios filosóficos e como encaram o sucesso que estão obtendo no mundo. Minha experiência pessoal com os chineses é que são mais francos que parecem, não sendo figurinos elaborados por equipes profissionais que facilitem formar uma imagem conveniente para o mercado.
Na entrevista de Guo Guangchang, 47 anos, um dos mais destacados bilionários que formou sua fortuna pessoal que chega a mais de US$ 8 bilhões nos últimos 25 anos, concedida a Patti Waldmeir, do Financial Times, durante um almoço em Xangai, observa-se uma franqueza que é a marca de muitos chineses. Poderia decorrer da autoconfiança no grande destino que estaria reservado ao País do Meio, que se prepara para se tornar a maior economia do mundo nas próximas décadas, gostemos ou não desta posição. A íntegra da matéria, que vale a pena ser lida, pode ser acessada em inglês no http://www.ft.com/intl/cms/s/2/262628dc-64dc-11e4-bb43-00144feabdc0.html#axzz3Ih2xwPr0
O empresário Guo Guangchang do grupo Fusun
Ele compareceu sozinho à entrevista marcada com o almoço na sede de sua organização, no Bund Shanghai, fora de qualquer área mais charmosa daquela metrópole. Foi servido um almoço vegetariano, ainda que ele não se restrinja a esta orientação, mas que costuma adotar nos almoços sem luxo especial. Ele não é o empresário mais rico da China nem o mais exuberante, tendo começado como um simples camponês que procurou estudar filosofia na Fudan University, onde começou a formar o seu grupo junto com os seus colegas que continuam até hoje com ele.
No artigo, ele é comparado com Warren Buffett, e neste ano adquiriu 80% o maior grupo segurador de Portugal, a Caixa de Seguros, por US$ 1 bilhão, tendo uma ampla carteira de investimentos em diversos setores. Inclui uma joint-venture no Pramerica Fuson Life Insurance, e participações no Minsheng Bank, o maior banco privado na China. Possui parte do Club Med, que pretende controlar, e participações em empresas farmacêuticas, além de estacas de fundação.
Ele declara uma mistura de budismo, taoismo, confucionismo e um capitalismo do tipo adotado por Warren Buffett na sua formação, e é adepto da prática do tai-chi sempre que possível, cujos ensinamentos ele procura utilizar nos seus negócios na descoberta das oportunidades e tomada de decisões.
O momento certo para atacar é importante como agir, depois de sentir a mudança do momento, que pode extravazar os limites da inteligência humana. A sua vantagem seria a sua capacidade de sentir a mudança mais rapidamente possível, e tomar uma ação decisiva o mais rápido possível.
Ele informa que o tai-chi pode ser praticado a qualquer momento e qualquer lugar, o que contribuiria para a sua saúde. Do budismo, ele aprendeu a ver as coisas através das posições de outras pessoas, sendo que o dinheiro não seria a única finalidade, mas fazer o melhor para outras pessoas, com o dinheiro vindo como consequência. Também levaria a uma posição para considerar relevante o benefício às outras pessoas, contando com ajuda de uma boa equipe. Informa que Jack Ma, que ele admira, também adota posições semelhantes.
Também se refere a um conceito de xinli, que não ficou muito claro para mim, e não parece muito explicado no artigo. Ele não dependeria da riqueza nem da inteligência, mas de não desprezar os riscos, com visões de prazo longo, entre outros aspectos.
Na alimentação, que foi o início da conversa, ele se lembra do período de pobreza quando a tigela de arroz preparado pela sua mãe recebia uma camada do chamado meigancal, uma espécie de cozido chinês rico em gordura, do qual se lembra até hoje com água na boca. Lembra-se positivamente das reformas introduzidas por Deng Xiaoping, que proporcionou terras para os agricultores, livrando a China da fome.
Sobre o futuro da China, ele se preocupa com o excesso de ganância, mas entende que a procura da riqueza é compreensível para quem era pobre. Tem uma convicção que o confucionismo, o budismo e o taoísmo tendem a conduzir para uma posição de equilíbrio, lembrando que o equilíbrio espiritual interior é mais importante que a obtenção simples da riqueza.
Poderia se acrescentar que muitos orientais adotam como filosofia de vida, inclusive empresarial, muitos dos conhecimentos como do entrevistado, que não devem ser considerados exageros de misticismo, ainda que muitos interpretem isto como meras justificativas para ações de um capitalismo radical.
10 de novembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias | Tags: artigos no Valor Econômico relacionados com o encontro sobre política fiscal, dificuldades em situações de mudanças dinâmicas, medidas de estímulos e contrações fiscais
Muito diferente de exercícios acadêmicos, os profissionais de economia que tiveram experiências de responsabilidades no exercício da política econômica acabaram aprendendo o quanto é difícil a arte de combinar os diversos instrumentos, como monetários, fiscais, controles de diversas naturezas como os salariais, nos quadros dinâmicos em que as situações vão se alterando numa economia, tanto do ponto de vista interno como condicionado pelo contexto que se encontram nos seus relacionamentos com a economia mundial. Os muitos participantes do importante encontro sobre política fiscal, com suas diferentes experiências e pontos de vista, tiveram a oportunidade de apresentar subsídios neste evento patrocinado pela FGV – Fundação Getúlio Vargas que merecerão as atenções de todos quantos se preocupam com estes assuntos. Alguns dos relatos foram registrados por Tainara Machado e Arícia Martins e constam do site do Valor Econômico.
Personalidades como o professor Antonio Delfim Netto, Yoshiaki Nakano, Barry Eichengreen e Vitor Gaspar tiveram seus relatos registrados, mostrando que a situação para o aumento da taxa de crescimento econômico do Brasil apresenta dificuldades, dentro do quadro fiscal, monetário e de relacionamento com a economia mundial, tendo em vista a necessidade de manter o endividamento público em níveis controláveis, sem agravar as tensões inflacionárias. Como houve necessidade de medidas anticíclicas nos momentos em que a economia mundial entrava em recessão, hoje existem limites para o uso dos diversos instrumentos de política econômica, mas não deve haver exageros nas medidas contracionistas que acabem ampliando as dificuldades.
Professor Antonio Delfim Netto Professor Yoshiaki Nakano
Professor Barry Eichengreen Vitor Gaspar
O professor Delfim Netto deixa claro que o Banco Central ficou sobrecarregado com o problema de combate à inflação, quando a política fiscal e outros segmentos não ajudavam no mesmo sentido, como com o exagero de contabilidades criativas e reajustamentos salariais acima do aumento da produtividade. Mas recomenda cuidado nas contrações fiscais, para não acabar matando o paciente.
O professor Toshiaki Nakano se pronunciou a favor de uma drástica contenção fiscal, enquanto o professor Barry Eichengreen informou sobre as moderações nas medidas de política econômica devidamente coordenada nos seus instrumentos. Vitor Gaspar, do FMI, enfatizou as diferenças de situações dos diversos países em suas fases diferentes.
Todas estas contribuições devem ser examinadas nas suas íntegras, além do que foram apresentados nos artigos que necessitam resumir os pontos de vista colocados. De qualquer forma, o que parece é que subsídios importantes foram apresentados, mostrando o cuidado nas revisões e reformas propostas, não se encarando que elas sejam santos milagres que possam facilmente resolver os complexos problemas que apresentam outras condicionalidades existentes.
9 de novembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais, Notícias | Tags: dimensionamento do público, nível exageradamente elevado, suplementos dos fins de semana
Sempre fui partidário que a imprensa nacional como internacional fosse utilizada para a publicação de matérias de mais profundidade. Tanto intelectual e cultural, como espaço necessário para pesquisas mais profundas dos mais variados campos do conhecimento humano, como reflexões que fogem do atribulado cotidiano em que todos nós estamos envolvidos. Mas, observando o que vem sendo publicado por alguns jornais no Brasil semanalmente, ainda que sempre os procure folhear, mesmo para um leitor como eu, que tem um nível universitário e procure acompanhar o que ocorre com toda a humanidade, confesso que tenho limitações para me interessar pela quase totalidade deles. Parece que existe algum exagero, mesmo comparando com o que acontece na grande imprensa internacional, ou nas revistas voltadas para reflexões mais profundas do ponto de vista cultural. Como dizem muitos jovens hoje, é cabeça demais.
Seria interessante que estes jornais, que enfrentam problemas econômicos com seus elevados custos e publicidades que tendem a se reduzir, tenham uma postura pragmática com a questão, até para assegurar a sua indispensável sustentabilidade. Sempre haverá necessidade de que as vanguardas dos conhecimentos sejam apresentadas, dando oportunidade que os leitores dos jornais tenham a possibilidade de saber onde eles se encontram nas preocupações dos nossos intelectuais. Indicações resumidas poderiam ser oferecidas sobre outras fontes onde estas matérias estejam merecendo atenções, pois voltadas para um público diferente dos jornais diários. Sabemos que sempre haverá uma elite na sociedade que estará pensando sobre problemas que não se relacionam de forma direta com o cotidiano das pessoas, quase sempre de vital importância. O que se discute é o meio de trazer estes problemas para todos.
Não se trata de uma questão simples de ser resolvida. Todos nós temos opiniões diferentes, o que é saudável, e as prioridades que estabelecemos costumam ser diferentes. Mas os jornais diários são importantes para o desenvolvimento da democracia, como para o desenvolvimento econômico e social. Para a sua sobrevivência, há que se estabelecer uma escala de prioridade e pode-se suspeitar que o que é lido somente por um número restritíssimo de leitores deveria encontrar formas diferentes de divulgação. Somos daqueles que sempre aplaudem as matérias de maior profundidade, sabendo que conhecimentos de humanidades dos mais variados setores são importantes para as compreensões dos problemas enfrentados por um país, tanto no campo político como econômico.
Mas tenho a impressão que pode haver um desperdício com páginas preciosas de um jornal sejam simplesmente descartadas pela quase totalidade dos seus leitores, como se fora anúncios que não interessam a eles. Estamos gastando papel, tinta e principalmente um tempo precioso dos responsáveis pelos jornais, sendo talvez interessante que o custo benefício de tudo isto seja avaliado, em função do número de leitores que se interessam por muitos deles.
Assim como assuntos de política e econômica que afetam o cotidiano da população merecem ser “traduzidos” para a compreensão dos leitores, deixando o economês ou outros idiomas estranhos, parece que os conhecimentos mais intelectualizados que envolvem a cultura no seu sentido mais amplo sejam transmitidos de forma compreensível para o público.
9 de novembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais, Notícias, Saúde | Tags: alimentações práticas, alimentos oferecidos na rua, mas menos sadias, refeições simples, tendência ao aumento dos idosos
Há uma visível tendência para a simplificação da alimentação, tanto no mundo desenvolvido como nos países emergentes, enquanto há uma nítida tendência demográfica para o aumento da população de mais idade. Estes alimentos mais simples tendem a concentrar-se no uso de derivados da farinha de trigo, como os pães e massas que são mais fáceis de serem manejados pelos cozinheiros e jovens clientes, e o aumento de carnes de baixa qualidade como os transformados em hambúrgeres e embutidos, com o intenso uso do sal e outros temperos para melhorarem os seus sabores. São adequados para estimularem o uso da bebida alcoólica. Quando procuram mostrar que existem preocupações com a saúde, utilizam uma pequena folha de um vegetal ou tomates, no máximo. Estes produtos são os práticos e de custo mais baixo, servidos até nos chamados trucks nas ruas em todo o mundo, intensificando o uso do fast food nas suas novas leituras, mas ainda precárias. As pessoas parecem contar com menos tempo para alimentações sadias ainda que elas estejam se tornando mais disponíveis, como verduras e legumes de todos os tipos sem o uso de agrotóxicos, que só são consumidos por poucos mais conscientes das necessidades de sustentabilidade.
Quando se verificam os novos guias dos locais de alimentação, como os de São Paulo, nota-se a multiplicação de estabelecimentos que oferecem alimentos simples, baratos ainda que pouco saudáveis, que podem empolgar mais os jovens. Mas, com o tempo, também estes jovens se tornarão idosos, carregando mais problemas de saúde diante dos hábitos que foram desenvolvidos. Não parece haver menções importantes sobre frutos do mar mais sadios e baratos, como uma sardinha ou uma manjuba, que podem ser preparados grelhados ou no vapor, sem os inconvenientes das frituras, que, além de proteínas importantes, também podem fornecer cálcios importantes para os ossos e dentes. Quando uma dentista observou que tenho uma dentição razoável apesar da idade, tenho que me lembrar da minha juventude pobre quando a sardinha era ingerida integralmente, inclusive com seus ossos e espinhas e dos muitos vegetais utilizados, crus, e portanto mais saudáveis. São efeitos que só podem ser observados ao longo do tempo.
Foods trucks em todo o mundo
Foods trucks em São Paulo
Na Europa parece que se generalizam alimentos como os tapas espanhóis, onde uma roda de idosos aposentados beliscam alguns alimentos, conversam com seus amigos e bebem um vinho razoável, que também fornece as calorias necessárias, acabando por resultar numa ligeira refeição barata. A bebida alcoólica no Brasil nem sempre é de qualidade quando seus preços são modestos.
No Japão, onde a população já almoçava muito rapidamente, outros alimentos, principalmente de origem estrangeira, também estão sendo oferecidos em qualquer terreno que ainda não esteja sendo utilizado para novas edificações. Pelo que observamos, não parece existir uma preocupação com a sua qualidade, notadamente com relação à saúde.
Não parece que esta onda que está ocorrendo em todo o mundo seja passageira, principalmente pela necessidade de redução dos gastos com a alimentação. Chefs famosos, inclusive, também promovem o seu nome, oferecendo alguns pratos menores de preços mais convidativos. Se estes produtos tiverem as mesmas preocupações de qualidade, visando a saúde ao longo da vida, devem ser aplaudidos.
Mas as experiências passadas com o fast food só aumentaram a obesidade, inclusive entre os adolescentes, pois nem sempre ocorre uma seleção adequada, com preferência para frituras e materiais que contribuem mais para o fornecimento de calorias do que de qualidade.
Como divulgações de todos os tipos estão ocorrendo sobre a saúde, cujo custo se torna mais elevado, principalmente quando as populações vão envelhecendo, espera-se que campanhas para a sua correção venham a ocorrer, aproveitando a moda que está se disseminando em todo o mundo.
7 de novembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política | Tags: afirmações nacionais e dificuldades decorrentes do passado, análise no Financial Times, as tentativas e os problemas políticos, dois gigantes asiáticos
Um interessante e extenso artigo foi elaborado por Demitri Sevastopulo e Jamil Anderlini e publicado no site da Financial Times sobre as conturbadas relações entre os dois maiores gigantes asiáticos, o Japão e a China. Apesar dos intensos interesses bilaterais comercias e econômicos, as dificuldades políticos militares mal resolvidas que vêm desde o final do século XIV e se agravaram durante a primeira metade do século XX até o término da Segunda Guerra Mundial não facilitam as reduções dos atuais atritos como os decorrentes das disputas das ilhas Senkaku/Diaoyu, bem como as expansões militares chinesas que estão ocorrendo pelos mares que os cercam, para garantir as rotas de suprimento da China. O artigo pode ser encontrado com detalhes no: http://www.ft.com/intl/cms/s/0/23d132ae-64d5-11e4-ab2d-00144feabdc0.html#axzz3IQVPDRgM .
Os dirigentes de ambos os países sabem, para efeito de suas políticas internas, que as afirmações nacionalistas atendem uma significativa parcela de suas populações, aproveitando variados episódios para afirmarem e demonstrarem com pequenos gestos seus empenhos na defesa destas posições. Ainda que elas tenham poucos efeitos práticos, estes problemas demonstram o quanto estas questões psicológicas coletivas acabam dificultando posições mais pragmáticas. No subconsciente de muitos japoneses e chineses, ainda que estes assuntos não sejam explicitados, existem preconceitos que alimentam o caldo de cultura sobre estes assuntos delicados, que não conseguem ser superados pelos entendimentos diplomáticos.
É preciso reconhecer que as cooperações econômicas bilaterais já passaram pelos períodos áureos, quando a transferência de tecnologia do Japão para a China era mais relevante diante das diferenças dos conhecimentos tecnológicos. Hoje, já existem muitos setores onde a China conseguiu absorver conhecimentos que vieram sendo utilizadas pelos chineses nas montagens de avançados equipamentos eletrônicos de empresas internacionais.
Ainda que existam substanciais diferenças das rendas per capita, as dimensões populacionais, que são acentuadamente diferenciadas, fazem com que a amplitude dos mercados acabe sendo importante, notadamente quando a economia chinesa continua mantendo, ainda que com problemas, uma elevada taxa de crescimento, enquanto a japonesa está estagnada por duas décadas.
Muitas declarações a favor de entendimento entre os dois países ocorrem com frequência, no mínimo para o seu início. O momento parece oportuno, pois a economia chinesa continua sofrendo uma pequena redução no seu ritmo de crescimento, que ocorre com visíveis dificuldades. No Japão, efetuam-se esforços para o volta ao crescimento, inclusive com maciça injeção de recursos pelo chamado easing monetary policy, nem sempre com resultados efetivos. A cooperação entre os dois países seria de grande importância para a Ásia e para o mundo.
No entanto, parece que as preocupações políticas ainda superam as dificuldades para simples gestos, não permitindo um pragmático entendimento entre os dois países, mostrando que existem problemas que superam as conveniências econômicas. No plano individual, registra-se, no momento, o aumento do turismo de chineses, até como decorrência dos problemas que ocorrem em Hong Kong.
7 de novembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias | Tags: considerações baseados em longas experiências, encontro de política fiscal 2014 da FGV, entrevistas como de Vito Tanzi e Barry Eichengreen no Valor Econômico
A entrevista concedida por Vito Tanzi para Flavia Lima, publicado no Valor Econômico, é um interessante aperitivo indicando que o encontro promovido hoje pela Fundação Getúlio Vargas sobre política fiscal pode apresentar importantes subsídios para o Brasil e para o mundo. De décadas de trabalho acumulando uma rica experiência sobre problemas fiscais, Vito Tanzi, sempre considerado como um dos economistas que mais estudaram estes problemas, tendo experiências também no Fundo Monetário Internacional, mostra algumas limitações que não se restringem somente às autoridades, como das agências de rating que possuem poderes superiores à capacidade de suas análises. Algumas perigosas aplicações recentes, como as da easing monetary policy, podem acabar prejudicando mais o mundo que contribuindo para as difíceis soluções para a retomada do crescimento econômico em muitos países deste universo globalizado.
Não se pode entender que os problemas dos desequilíbrios comerciais em muitas economias do mundo podem ser resolvidos somente com a política cambial, provocando as desvalorizações de suas moedas. Ainda que isto resolva temporariamente os problemas de alguns, as reações que provocam de seus parceiros podem conduzir a perigosas guerras cambiais. E a prioridade para as exportações dependem também de um conjunto de outras medidas que tornem seus produtos competitivos no mercado internacional. Além disso, parece que fatores políticos e de novos comportamentos, como a redução da capacidade de reações aos desafios, podem criar também problemas.
Vito Tanzi, autoridade mundial em assuntos fiscais, e Barry Eichengreen, da Universidade de Cambridge
Outros economistas, com larga experiência sobre a aplicação de políticas fiscais como as reformas que costumam ser cogitadas e que também participam do evento, devem mostrar que em países federativos como o Brasil apresentam dificuldades adicionais.
Também as exageradas recomendações que a política fiscal seja adotada de forma restritiva em países emergentes que apresentam problemas tanto de emprego como da necessidade de manutenção dos seus níveis salariais acabam mostrando que estes assuntos são mais complexos que parecem. Simples recomendações que podem ser formulados nos papéis encontram terríveis resistências políticas e de outras naturezas.
Espera-se que contribuições e debates que estão sendo travados mostrem o que é realmente exequível de ser adotado para contribuir na recuperação e desenvolvimento destes países.