23 de dezembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais, Política | Tags: café da manhã com os jornalistas credenciados, preservação da posição de chefe de Estado, uma exposição exagerada de sua figura | 2 Comentários »
Todos sabem que existem pessoas como Dilma Rousseff que confundem seus comportamentos pessoais com os cargos que ocupam transitoriamente, expondo-se de forma exagerada, não sendo capazes de entender que representam hoje o Brasil, como chefe de Estado, que nada tem a ver com a figura de chefe de Governo. Apesar das mudanças serem difíceis, seus auxiliares mais diretos contribuiriam muito se colocassem objetivamente esta questão a ela, que pela sua inteligência poderia compreendê-la.
Presidente Dilma Rousseff no café da manhã com os jornalistas
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23 de dezembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias | Tags: artigo no The Economist sobre a demanda de carne suína na China, melhoria do padrão de vida, problemas que estão ocorrendo em todo o mundo
Na edição dos feriados de fim de ano do The Economist que reúne artigos sobre assuntos variados e um pouco confusos, um deles bastante longo refere-se à crescente demanda de carne suína com a melhoria do padrão de vida dos chineses, que numa parcela muito grande é atendida pela produção local, de pequenos produtores como empresas de porte que utilizam a inseminação artificial. Estas atividades provocam a demanda de soja para rações como a fornecida pelo Brasil, pois precisam de 6 quilos para produzir um de suíno. Existem grandes variações da oferta de suínos em decorrência de pestes, que exigem a formação de estoques estratégicos. Existem indícios do uso intensivo de antibióticos nestas criações que estariam ajudando a disseminar as superbactérias em diversos locais.
A China é a maior produtora de suínos no mundo, estimando que chegue a uma produção anual de 50 milhões de toneladas
Informa-se que os chineses foram os primeiros que conseguiram domesticar o javali para a sua criação visando o fornecimento de carne há cerca de 10 mil anos. O porco é um dos símbolos zodíaco chinês e existem muitas menções sobre este animal tanto nos poemas como nas miniaturas em argila foram encontradas nos túmulos da dinastia Han (206 BC – 220 AD). Ainda que considerados no Ocidente como exagerados no colesterol, as informações científicas recentes informam que são mais saudáveis que as carnes vermelhas dos bovinos. Existem também muitos estudos históricos no Ocidente sobre os porcos.
Na época de Mao Zedong, o porco foi considerado uma fábrica de fertilizantes de quatro patas, consumindo produtos que não tinham outros destinos. Os chineses aproveitam, como outros povos, todo o porco para diversos alimentos. O suíno é considerado muito adequado para o tipo de culinária chinesa.
O tipo de porco criado na China também vem evoluindo no tempo, sendo que 95% da produção atual daquele país são de pequenos produtores, e de raças provenientes do exterior. O seu consumo de ração compromete diversas áreas florestais do mundo, inclusive a Amazônia, segundo o artigo, o que nem sempre corresponde à verdade.
Informa-se que o preço da carne de porco é importante na China, de forma que o governo destinou subsídios de US$ 22 bilhões em 2012, o que representa cerca de US$ 47 por porco, formando o estoque estratégico. A China tem adquirido empresas no exterior que trabalham com carne suína. São constantes as informações sobre contaminações provocadas pelos porcos, e até poluições que ocorrem no meio ambiente.
Na realidade, principalmente na China, o porco é o animal criado mais importante na alimentação humana, razão por que mereceu um artigo tão extenso.
22 de dezembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política | Tags: artigo no China Daily, avaliação dos chineses sobre o intercâmbio, relação entre emergentes, visita de Xi Jinping
Um artigo publicado por Yang Yao no China Daily apresenta a avaliação chinesa do intercâmbio com o Brasil em 2014. Segundo ela, o ponto alto foi a visita de Xi Jiping ao Brasil em julho, quando os dois países emergentes estabeleceram mais de 50 acordos em diversos setores mostrando que países emergentes podem contribuir para o relacionamento Sul-Sul. Destacam a cooperação na elaboração da infraestrutura, onde a ferrovia no Brasil merece registro. O intercâmbio comercial atingiu a US$ 83,3 bilhões quando era de somente US$ 3,2 bilhões em 2002, com a participação do minério de ferro, soja e óleo do Brasil e produtos manufaturados chineses. O que não foi mencionado é que no final do ano este intercâmbio mostra que está declinando, tanto pela desaceleração do crescimento chinês como pela queda de preços das exportações brasileiras.
Xi Jinping com Dilma Rousseff
A China se mostra satisfeita, pois com os países da América do Sul, não somente com o Brasil como o Chile e o Peru, já está superando até a União Europeia, ocupando o segundo lugar. Os bancos chineses estão se estabelecendo na região, enquanto o Banco do Brasil se instalou em Xangai, quando deveria ser mais agressivo.
Do ponto de vista brasileiro, ainda que seja verdade que o intercâmbio com a China veio crescendo substancialmente nos últimos anos, chegando até os projetos de alta tecnologia como o lançamento de um satélite para observação do desmatamento que ocorre na Amazônia, bem como entendimentos nos mais variados setores. A presença brasileira na China ainda não é de grande importância, diante da concorrência de muitos outros países.
As perspectivas futuras chegam a ser preocupantes, pois existe uma redução de exportação de minérios brasileiros como produtos agropecuários, sendo que os de maior valor tecnológico, como na aviação ou em atividades industriais, não apresentam o dinamismo desejado.
A China vem investindo pesado na formação de melhores recursos humanos, como os estudantes enviados para os Estados Unidos. É claro que a dimensão populacional da China é muito maior, o que lhe confere um potencial de crescimento econômico, ainda que sua renda per capita ainda seja modesta. O mesmo dinamismo não se constata no Brasil, mostrando que a distância entre os dois países, em muitos setores tende a se agravar.
O que parece é que o Brasil, se deseja ocupar um destaque no conjunto dos países no futuro, necessita ter a mesma orientação tanto econômica como política, traçando objetivos de longo prazo. O que parece é que o Brasil está mais avançado na disseminação do poder político, sem mais o autoritarismo que ainda impera em alguns setores da sociedade chinesa.
Há sinais que existem muitos aspectos onde o Brasil deve se sentir estimulado com o que um país gigantesco como a China, com todos os seus problemas, vem lutando para superar. São demonstrações que muitos avanços podem ser obtidos, diante dos desafios existentes.
22 de dezembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais, Notícias, Política | Tags: as pesquisas realizadas desde 1978, dura realidade difícil no mundo globalizado, sentimentos dos japoneses com relação aos vizinhos chineses e coreanos
Uma pesquisa anual de opinião da população japonesa sobre outros povos, como os seus vizinhos chineses e coreanos bem como os norte-americanos é feita anualmente desde 1978 por solicitação do Escritório do Gabinete do Governo. A notícia baseada numa matéria distribuída pela agência Kyodo foi publicada pelo jornal The Japan Times. Ainda que seus resultados possam ser chocantes para muitos analistas, trata-se de uma dura realidade que se reflete num quadro preocupante que vem piorando, segundo os dados.
A proporção de japoneses que informa que se sentem hostis com relação à China vem aumentando para preocupantes (a expressão é da notícia) 83,1%, 2,4% acima do levantamento do ano passado. Com relação à Coreia do Sul, subiu de 8,4% para chegar a 66,4%. O artigo atribui estes resultados à continuidade dos confrontos territoriais e divisões profundas sobre as histórias da Segunda Guerra Mundial entre estes países.
Foto da população japonesa na região de Shibuya, Tóquio
Outras informações foram fornecidas pelo artigo publicado. Os que se sentem amigáveis com relação à China teria baixado para 14,8%, e com relação à Coreia do Sul para 31,5%. Ainda 84,5% sentem que o relacionamento sino-japonês não é bom, e 77,2 disseram o mesmo com relação à Coreia do Sul.
A pesquisa indicou que 81,6% dos japoneses se sentem amistosos com relação aos Estados Unidos. Com relação à Coreia do Norte, 88,3% dos japoneses se mostraram interessados nos sequestros de japoneses promovidos por eles.
O levantamento abrangeu 3 mil adultos japoneses, dos quais 60% forneceram respostas válidas, o que mostra que os dados se referem aos interessados nestes assuntos. Mesmo que não se trate de pesquisa com o rigor desejável, tudo indica que são informações que podem ser consideradas relevantes.
Pode-se desconfiar que algumas atitudes tomadas pelo governo japonês se baseiam em informações desta natureza, pois refletem posições tendentes ao nacionalismo, acima do que seria desejável para o incremento de relações com parceiros internacionais, num mundo globalizado.
22 de dezembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política | Tags: artigo no site da Bloomberg, dilema russo, oferecimento de Li Keqiang do respaldo do Shanghai Cooperation Organization
O site da Bloomberg divulga um artigo informando que Li Keqiang, o premiê chinês, apresentou na reunião realizada em Astana, Cazaquistão, na semana passada, a possibilidade da China fornecer o respaldo para assistir à Rússia nas suas atuais dificuldades. Seria mobilizado o SCO – Shanghai Cooperation Organization, fortalecendo a posição chinesa como uma potência mundial, papel que vinha sendo exercido pelos Estados Unidos até agora. Como todos sabem, a violenta queda do preço do petróleo, e consequentemente de todas as energias, está provocando grandes problemas, inclusive para a Rússia, cuja moeda está sendo motivo de especulações, sofrendo uma significativa desvalorização, que está se procurando evitar com a brutal elevação dos juros internos russos.
Ainda que esta aliança sino-russa esteja se esboçando há tempos com o fornecimento de gás da Rússia para a China, na falta de alternativa de demanda na Europa, deve-se recordar que Vladimir Putin apresentou-se à imprensa informando que o crescimento naquele país ficará prejudicado nos próximos anos. É claro que esta rede de proteção que os chineses estão estendendo podem reduzir as especulações, mas vai depender se os russos desejam aumentar a sua dependência à ajuda da China. Apesar do volume das reservas internacionais chinesas próximo de US$ 4 trilhões permitir estes oferecimentos, deve-se recordar que também a economia da China passa por uma redução do seu crescimento, necessitando efetuar reformas que não são fáceis.
Estão sendo frequentes os encontros de Xi Jinping com Vladimir Putin
É evidente que a Rússia está sentindo as pressões dos Estados Unidos e da Europa às suas tentativas de aumento da influência na Ucrânia, inclusive a absorção da Crimeia, inaceitáveis para o Ocidente.
Todos estes movimentos são de grande importância mundial. Opiniões de acadêmicos chineses como Cheng Yijun, pesquisador sênior da Academia Chinesa de Ciências Sociais, atuando no Instituto Russo, Leste Europeu e Ásia Central, estão sendo apresentadas para enfatizar esta relevância. Mas todos admitem também que a decisão russa de depender fortemente da China é uma decisão difícil.
Mas também existem opiniões recomendando cautela da parte da China para o risco de ser arrastada para uma crise envolvendo-se tão fortemente no relacionamento com os russos. De outro lado, com o mundo tão atribulado, não se espera que o agravamento da situação russa seja algo que possa ser ignorado. Espera-se que o bom senso volte a reinar na Rússia, admitindo-se que o papel que tinham na antiga URSS – União das Repúblicas Socialistas Soviéticas já é coisa do passado.
21 de dezembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais, Notícias | Tags: artigo no The Japan Times, erotismo japonês no ukiyo-e, explicações necessárias, exposições no Museu Britânico
Um artigo publicado por Victoria James no jornal japonês The Japan Times permite melhor entendimento do erotismo japonês constante dos trabalhos de ukiyo-e de diversos artistas, que apresentam aspectos totalmente diferentes dos ocidentais. É preciso esclarecer que nas culturas orientais, como a japonesa, que ganha uma expressão artística invejável no ukiyo-e como os de Kitagawa Utamaro, cada vez mais valorizado no mundo ocidental, acaba se diferenciando pela ausência do sentimento de pecado que é um conceito eminentemente cristão, ainda que tenha origem nas concepções judaicas. Ela se refere ao livro “Shunga: Aesthetics of Japanese Erotic Art by Ukiyo-e Masters”, publicado pelo Japan´s Pie Books e Pie International. Conta com texto dos acadêmicos japoneses Aki Ishigami, curadora para a exibição no British Museum de Uragami Mitsuru e do historiador de arte Yukari Yamamoto, tendo a parte artística sob responsabilidade de Takaoka Kazuya. A edição apresenta 600 páginas bem ilustradas em dimensão de 30 por 21 centímetros, com papel adequado e coloração de elevada qualidade, segundo o artigo.
Ilustração constante do artigo no The Japan Times
É preciso atentar para estes detalhes culturais quando se comenta, por exemplo, as esculturas budistas hindus que apresentam as muitas posições para a prática do sexo, que seria um meio para aproximar os seres humanos do nirvana e não simplesmente do erotismo ocidental.
O primeiro estudo sobre “shunga” foi efetuado pelo livro de Timon Screech, professor da história da arte na Escola de Estudos Orientais e Africanos da Universidade de Londres. Hoje, o “shunga” figura como “mainstream” e no livro citado consta detalhes como os do livro de fotos “Warai Jogo”, que apresenta detalhes do corpo de homens e mulheres como não constam na arte ocidental.
Mas também mostram detalhes do mobiliário das salas em que estão os amantes, alguns utensílios, além do “katana”, pratos de porcelana e escritos em livros de caligrafia, mostrando toda a arte dos seus autores. São detalhes que mostram o cuidado dos trabalhos destes artistas japoneses.
Nestas últimas décadas, explica a autora do artigo, houve um avanço significativo dos estudos destas obras, pois as autorizações legais do seu uso foram liberadas, resultando nas exposições como as feitas no Museu Britânico, além de trabalhos acadêmicos sobre o assunto.
No processo, estas gravuras eróticas revelam a arte, são documentos sociais e até trabalhos chocantes, hoje examinados com muito cuidado.
21 de dezembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais, Notícias, Política | Tags: falta de colaboração externa, resistências internas, restabelecimento diplomático com Cuba, tentando corrigir Guantánamo
Existem graves erros cometidos pelos Estados Unidos nos momentos de grande emoção coletiva que aos poucos vão sendo corrigidos, exigindo tempo e trabalho, nem sempre contando com apoio interno ou de seus aliados estrangeiros. Todos sabem que os lamentáveis ataques terroristas às torres gêmeas de Nova Iorque, em 11 de setembro, simultaneamente aos ataques ao Pentágono, em Washington, provocaram fortes comoções coletivas entre os norte-americanos, ao mesmo tempo em que no mundo havia um espanto com estes acontecimentos. Os Estados Unidos nunca tinham sido atacados no seu território, e principalmente nas áreas mais cruciais que deveriam merecer a mais elevada atenção do seu serviço de informações e defesa militar. As ações visando o combate ao terrorismo acabaram autorizadas, até com o emprego de meios condenáveis na comunidade mundial, como o emprego da tortura bem como prisão de suspeitos sem a formalização de processos de suas acusações. Os presos foram encaminhados para a absurda prisão de Guantánamo, onde os Estados Unidos mantêm um absurdo enquistamento em Cuba, que agora Barack Obama pretende encerrar, como prometido em campanha eleitoral. Alguns prisioneiros foram encaminhados para países que os aceitaram em número limitado, mas ainda restam algumas centenas deles. Os preceitos mais consagrados no direito internacional foram violados, e ninguém foi responsabilizado até hoje pelos absurdos.
Prisioneiros em Guantánamo sem processos de acusação e barbaramente torturados
Outro absurdo que começa a ser corrigido é o isolamento diplomático e o embargo econômico imposto a Cuba pelos Estados Unidos. Todos sabem que há décadas Fidel Castro derrubou o ditador Fulgencio Batista, e Cuba recebia muitos turistas norte-americanos que frequentavam inclusive seus famosos cassinos. Para receber o suporte da Rússia, Fidel Castro entendeu-se com os russos para instalar mísseis em Cuba, que fica a pouco mais de 100 quilômetros da Flórida, nos Estados Unidos. O incidente, parte da Guerra Fria, acabou sendo acomodado, pois o custo da Rússia manter a situação em Cuba era elevado do ponto de vista militar.
Cuba muito próxima da Flórida, Estados Unidos
Mas os Estados Unidos fracassaram na tentativa de invasão de Cuba, pela Bacia dos Porcos. Como muitos cubanos não aceitam o regime socialista e ditatorial de Fidel Castro que já passou o poder para o seu irmão Raul Castro, existem muitos refugiados cubanos na Flórida.
Ainda que Barack Obama tenha poderes para restabelecer as relações diplomáticas, o fim do embargo depende do congresso norte-americano, que recebe pressões de republicanos ligados aos refugiados cubanos e que não concordam com a continuidade do regime ditatorial em Cuba. Tudo indica que os avanços dos entendimentos acabarão numa evolução como a que ocorre até na China, ainda que as diferenças ideológicas continuem existindo.
Todos podem concordar que o discurso democrático dos Estados Unidos acaba se enfraquecendo quando problemas como Guantánamo continuam existindo, mostrando que o país que deveria ser o líder mundial para a disseminação de regimes democráticos também adotam medidas que são chocantes para muitos que são a favor das liberdades, com o devido respeito aos preceitos jurídicos.
A esperança é que neste final de 2014 haja condições de avanços nestas questões que incomodam a muitos para a convivência pacífica num mundo cada vez mais globalizado.
19 de dezembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais, Notícias, Política | Tags: dificuldades de adaptação, experiência da nossa visita àquele país, restabelecimento das relações diplomáticas dos Estados Unidos com Cuba
Acredito que o restabelecimento das relações diplomáticas dos Estados Unidos com Cuba seja um avanço significativo para a eliminação de um absurdo que não se justificava mais no mundo. O Brasil já vem mantendo estas relações, ainda que do ponto de vista econômico aquele país apresente uma dimensão modesta. A nossa experiência pessoal de uma visita feita àquele país há alguns anos, na tentativa de examinar algum investimento brasileiro na área em que já foram importantes, mostraram que nestes anos todos de relativo isolamento com o embargo que sofreram provocaram uma forte deterioração na sua capacidade empresarial, que necessitará ser recuperada, mesmo que continue se adotando um sistema socialista que mesmo na China já sofreu radicais mudanças. Os brasileiros sempre adotaram uma política diplomática de relacionamento até com aqueles que nem sempre concordamos diante de algumas práticas que ainda utilizam e que poderiam ser consideradas ditatoriais. Espera-se que em alguns anos todos elas sejam eliminadas.
O governo brasileiro foi muito criticado por ter concedido o financiamento do BNDES para que uma empreiteira brasileira construísse um porto de importância em Cuba, que agora poderá ser amplamente utilizado. Neste sentido, o Brasil pode figurar entre os pioneiros nas intensas relações com os cubanos, ainda que existam os que são contrários pelas posições ideológicas que adotam. Quando até os Estados Unidos eliminam as barreiras diplomáticas e se esforçam para extinguir o absurdo da existência da prisão de Guantánamo, onde não se obedece nem sequer os mais rudimentares princípios de respeito aos direitos humanos. Existem muitas providências a serem ainda adotadas, mas espera-se que o embargo que os cubanos estão sofrendo seja totalmente eliminado, pois não podem ser mais considerados como exportadores de terrorismo que estão restritos a alguns grupos radicais ainda existentes no mundo.
Os que imaginam que Cuba só conta com partes deterioradas podem estar enganados. Elas existem, mas também as regiões voltadas ao turismo internacional já estão em melhores condições, como também existem partes das cidades que podem surpreender os estrangeiros visitantes.
Aspecto deteriorado de Havana, capital de Cuba
Praias cubanas que recebem os turistas internacionais
Parte da cidade de Havana
Mas o que parece mais complicado são aspectos da administração pública, que passou por décadas de um socialismo pouco eficiente, que acabam por desestimular atividades produtivas como as antigas usinas de cana destinadas às produções de bebidas alcoólicas que eram famosas na época em que Cuba recebia muitos turistas estrangeiros, notadamente de norte-americanos, dada a proximidade daquele país com a Flórida.
Recuperar sua produção agrícola ou agroindustrial de forma eficiente e competitiva parece uma tarefa que vai exigir um grande esforço ao longo de muito tempo. No entanto, em muitos aspectos, apesar de sua pobreza impressionar os observadores, Cuba deve ser respeitada, como na educação básica, atendimentos de saúde para a população ou algumas especialidades esportivas.
Um médico brasileiro amigo meu já falecido, consagrado no Incor – Instituto de Cardiologia da Universidade de São Paulo, doutor Siguemituzo Arie, considerado como o profissional que mais efetuou cateterismo no mundo, que sofria de outra moléstia, dedicou-se alguns anos de trabalho em Cuba que considerava avançado em alguns aspectos.
18 de dezembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política | Tags: aspectos positivos e preocupantes, comparação com 1990, no site do The Economist
A respeitada revista de circulação internacional The Economist publica uma matéria, como muitos veículos de comunicação social estão fazendo no mundo, efetuando uma comparação com o que ocorria em 1990, que lhes afigura mais semelhante com a situação atual, ainda que se possa preferir outras datas como base para comparações. Em alguns casos, talvez, o recomendável seria com comparação com 1986, logo depois do chamado Acordo de Plaza que estabelecia uma nova paridade cambiais com a participação dos países chamados desenvolvidoscomo os Estados Unidos, Alemanha, Japão, França e Reino Unido, quando o dólar foi desvalorizado, em alguns casos de forma exagerada como com relação ao yen japonês. O que parece destacável é que nestas últimas décadas, o setor financeiro ganhou maior importância no mundo com fluxos exagerados de recursos, do que com o desenvolvimento tecnológico como o provocado pela computação e uso da internet, que parece mais relevante na contribuição para a melhoria do bem-estar em todo o mundo.
O que a revista menciona é um estado de relativa fraqueza atual de economias desenvolvidas, mesmo com a recuperação da norte-americana, com a da Alemanha e do Japão, quadro que parece generalizado na Europa. Haveria problemas em países emergentes como a Rússia e Brasil, enquanto a China ganhou uma importância destacada nas últimas décadas, mas sofre também uma desaceleração no seu ritmo de crescimento como aumento da sua poluição. Parece haver um exagero, provocado pelas autoridades monetárias na tentativa de recuperar o crescimento de algumas economias, com as ampliações da disponibilidade de créditos provocadas pelo chamado “quantitative easing monetary policy”. Mais recentemente, observa-se um excesso de produção de matérias-primas, inclusive do petróleo e outras fontes de energia, mas também de minérios e produtos semielaborados como os metais que estão com seus preços em queda. Problemas políticos estão sendo enfrentados com o aumento das manifestações populares de insatisfação devido a variados problemas. A produtividade agropecuária parece generalizar-se e os problemas de fome ficaram restritos a alguns países.
Mesmo nas economias como a norte-americana, que mostra uma recuperação respeitável, com redução dos seus problemas de emprego, um mercado de capitais com exageros de ganhos em algumas empresas, os problemas políticos se aprofundam com as divergências internas existentes. O que ainda predomina é um cenário mundial decorrente da crise de 2007-2008 que não foi totalmente superada, aumentando as diferenças nas distribuições do bem-estar no mundo.
As previsões de um painel de analistas é que, para 2015, os Estados Unidos devem continuar com um crescimento de 3%, segundo a revista, enquanto com 1,1% no Japão e na área do Euro, como um primeiro grupo de problemas. Mas a queda do preço da energia, se de um lado ajuda a maioria da economia mundial, provoca problemas até nos Estados Unidos, com as explorações de xisto, e nas empresas menos eficientes que contribuíram para este crescimento.
O segundo grupo de problemas decorreriam do baixo crescimento tanto da Alemanha como do Japão, em decorrência de problemas que não são comuns. E o terceiro seriam o que está ocorrendo com os países emergentes, onde Rússia se encontra já em forte crise, mas que também se estende a outros países como o Brasil, e alguns países do Sudeste Asiático. Também os que se sustentavam com suas receitas decorrentes da exportação de petróleo passam agora por dificuldades.
Como o mundo está globalizado, parece evidente que os problemas existentes acabarão afetando também os Estados Unidos, talvez com algumas defasagens. Segundo a revista, ainda que o setor financeiro esteja menos alavancado, as manipulações que estão sendo identificadas como nas cotações dos títulos do Tesouro Norte-Americano, das taxas de câmbio e da taxa de juros tipo Libor, mostram que regulamentações necessitam ser introduzidas, mesmo com a resistência dos bancos.
Os problemas existentes, notadamente nos países mais pobres, acirram as dificuldades como de absorção dos imigrantes, diante das dificuldades com os desempregados locais para onde se dirigem. As manifestações políticas acabam ficando agudas, e as tendências nacionalistas se manifestam em diversos países.
Nem sempre os diagnósticos do que precisa ser feito, inclusive com reformas, não acabam recebendo o respaldo político, sendo difíceis de serem colocados em prática. Mas é preciso constatar que a Humanidade veio superando os seus problemas, e, mesmo que de forma menos brilhante, os problemas serão atacados também em 2015 e nos anos seguintes. Se não existe espaço para muito otimismo, também não se pode considerar este quadro mundial como dos mais calamitosos.
17 de dezembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais, Notícias | Tags: artigo sobre a evolução da biotecnologia no Brasil no Valor Econômico, as dificuldades burocráticas existentes, necessidade de sensíveis aperfeiçoamentos
Um artigo publicado por Maria Alice Rosa no Valor Econômico, no suplemento especial sobre a indústria química, ainda que concentrado no assunto das pesquisas de biotecnologia, trata também do importante assunto relacionado com o aproveitamento da biodiversidade brasileira. Já postamos neste site que o Brasil necessita diversificar as suas possibilidades de exportação, aproveitando a vasta biodiversidade de que dispõe, pois não podemos depender mais da exportação de minérios e produtos agropecuários. Mas muitas pesquisas se tornam necessárias para que os conhecimentos rudimentares que possuímos sejam transformados em patentes utilizáveis na produção, notadamente quando comparado com outros países que estão intensificando seus trabalhos neste segmento, inclusive emergentes como a China.
As informações disponíveis dão conta que os conhecimentos desenvolvidos no exterior na indústria química estão sendo aproveitadas no Brasil, mas, quando se trata da biodiversidade disponível no país, os entraves burocráticos não facilitam as pesquisas locais que estão sendo menos intensivas do que as efetuadas no exterior. Adelaide Maria de Souza Antunes, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro, informa ter efetuado um levantamento no Derwent Innovations Index que registra os depósitos de patentes. Em 2012, dos 3.611 depósitos, 2.075 eram da China e 535 dos Estados Unidos. Em produtos, do total de 11.825 pedidos, os brasileiros eram somente de 10, enquanto dos chineses eram 6.244, os Estados Unidos com 2.315, o Japão com 1.122, a Europa com 355, a Índia com 79. Evidencia que estamos muito longe do necessário.
As informações prestadas por Nelson Fujimoto, secretário de Inovação do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, dão conta que a legislação existente é um gargalo. É a MP 2186/2001 e um projeto de lei para melhorar o processo está no Congresso, tendo o número 7735/2014, depois de três anos de estudos. O pesquisador necessitaria somente de um registro para começar o seu trabalho.
O Brasil é o país que dispõe da mais ampla biodiversidade no mundo, mas não efetua as pesquisas para transformá-la em produtos patenteados
Também um projeto estaria permitindo a concessão de patentes hoje proibidas para substâncias extraídas de seres vivos e materiais biológicos, aguardando a votação. Existe um levantamento efetuado pelo IPEA, “Propriedade Intelectual e Aspectos Regulatórios em Biotecnologia”, sobre materiais biológicos patenteáveis em diversos países, sendo que no Brasil são poucos, e não são conclusivos, necessitando de pesquisas adicionais.
A China se tornou inovadora recentemente e está aumentando os seus trabalhos para o patenteamento, o que ainda não aconteceu no Brasil. Se o governo deseja superar a armadilha em que se encontra atualmente para aumentar suas exportações, terá que intensificar os trabalhos que permitam o patenteamento nesta área da biodiversidade.