17 de dezembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política | Tags: notícia no The Japan News do Yomiuri Shimbun, reunião com empresários, sindicatos e governo, vitória eleitoral expressiva
Depois da expressiva vitória eleitoral do partido do primeiro-ministro Shinzo Abe nas eleições do último fim de semana, o The Yomiuri Shimbun, num artigo elaborado por Takeshi Kurihara e Ryosuke Yamaguchi, informa sobre a reunião realizada por ele no seu gabinete com representantes dos empresários na sua principal organização – Keidanren, os sindicalistas representados pelo Rengo – Trade Union Confederation e os participantes do governo. Shinzo Abe teria expressado o seu desejo que os setores beneficiados pela sua Abeconomics, com a desvalorização do yen, proporcionando altos lucros para as empresas exportadoras, deveriam ajudar a expansão da demanda local, mediante a transferência de parte dos seus resultados para os consumidores com aumento dos salários, bem como ajudando as pequenas e médias empresas que estão sendo prejudicadas pelos aumentos dos produtos importados.
Para analistas que observam o Japão do exterior, estes fatos são surpreendentes numa economia de mercado. Parece que os resultados eleitorais não expressam tanto a aprovação da política implementada, mas a falta de alternativas que fossem apresentadas por uma oposição desarticulada. Numa economia como a japonesa, que tem uma longa tradição de orientação sutil da economia pelo governo, os níveis salariais costumam ser estabelecidos pelo mercado. Sabe-se que afetam as grandes empresas quando os recursos humanos disponíveis estão escassos, o que não parece o caso no momento, e que funciona mais junto às grandes empresas. As pequenas e médias empresas que são importantes no Japão não guardam uma relação tão simples e estas orientações não costumam ser fáceis de ser comandadas, mesmo com o entendimento do governo, empresários e sindicatos. As milhares de relações existentes na economia dificilmente podem ser comandadas por poucos dirigentes, e o seu funcionamento é mais complexo na realidade, não podendo ser tão simplificado, pois estas entidades não possuem um poder de comando tão amplo em todo o país.
Surpreendente reunião de Shinzo Abe com empresários e sindicatos no seu gabinete depois da vitória eleitoral, foto publicado no The Yomiuri Shimbun
Como uma tentativa de informar sobre a política que está sendo perseguida, uma reunião desta natureza pode ser relevante. Mas, observando-se que nos principais meios de comunicação social não se verificam muitas notícias a respeito, o que pode ser um indício de que consideram de pouco efeito prático para gerar um ciclo virtuoso na economia daquele país.
Existem vozes que, mesmo na próxima temporada de negociações salariais as pretensões dos empregados não podem ser totalmente aprovadas, pois as empresas ainda não estão seguras quanto a evolução da economia japonesa, num contexto mundial que não aparenta ser tão favorável. Mesmo com a redução atual do custo da energia. Ainda não existem indícios que as empresas japonesas se tornaram competitivas, pois somente o câmbio não provoca tantas mudanças.
O que vem ocorrendo é uma exagerada valorização da Bolsa com o excesso de liquidez, além do aumento das atividades financeiras em todo o mundo com fluxos de recursos astronômicos, com manipulações das mais variadas formas, tanto nas taxas de juros, câmbios como até as cotações dos bônus do Tesouro Norte-Americano, sem que se consiga uma regulamentação adequada.
Num cenário mundial desta natureza, ainda que a recuperação da economia japonesa seja desejável, não se pode esperar um comportamento mecânico e muito simplificado.
16 de dezembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política | Tags: artigos no Valor Econômico sobre os problemas de mobilidade dos recursos humanos, caso dos trabalhadores brasileiros no Japão, novas adaptações, voltas dos Estados Unidos e da Europa
Muitos brasileiros migraram para os Estados Unidos, Europa e Japão nos períodos em que as remunerações naqueles países apresentavam sensíveis vantagens sobre os pagas no Brasil. Nem todos estavam em condições regulares, sendo que no Japão foram concedidos vistos para trabalhos temporários. Eles tiveram dificuldades para se ajustar às condições no exterior, onde os idiomas utilizados, os hábitos de vida e do emprego e muitas outras condições eram diferentes das brasileiras. Nem sempre se prepararam adequadamente para enfrentar estas situações, concentrados que estavam nos seus trabalhos, visando remunerações que não conseguiam no Brasil. Mas, infelizmente, estes diferenciais foram reduzidos, ou os empregos se tornaram difíceis naquelas regiões, e muitos são obrigados a voltar, estando despreparados para novas adaptações, pois as condições no Brasil também se alteraram nestes longos períodos.
Dos cerca de 320 mil brasileiros que foram para o Japão restam somente cerca de 120 mil naquele país, segundo estatísticas oficiais
Estes dados não são totalmente seguros, pois entre eles existiam os que possuíam dupla nacionalidade ou passaportes japoneses, que também foram para o Japão para trabalhos temporários. Para os que dominam o idioma japonês ainda existem oportunidades, como ajudar a cuidados dos idosos e enfermos, mas a mão de obra nas indústrias ficou reduzida, restando ainda os trabalhos em condições duras como na manutenção das rodovias, onde ainda existem explorações de intermediários.
Não existem dados seguros dos Estados Unidos e da Europa, pois muitos eram trabalhadores ilegais, que para lá foram como se fossem turistas. Existem ainda os que foram para países vizinhos como o Paraguai, notadamente como agricultores.
Estes patrícios passam por períodos difíceis novamente, pois, na longa ausência do Brasil, as condições mudaram por aqui. Os salários locais chegam a ser considerados irrisórios com os que obtinham no exterior, ainda que não totalmente qualificados. Esforços estão sendo feitos para as suas adaptações, mas são limitados.
Os que mais acabam sofrendo são as crianças envolvidas nestes processos, pois muitas foram obrigadas a frequentar escolas no exterior, e hoje não possuem conhecimentos como os precários proporcionados no Brasil. Mas suas capacidades de adaptações acabam sendo mais rápidas que dos adultos.
Parece que todos os que optam por estes processos migratórios necessitam estar conscientes de todas as dificuldades, quer seja quando vão para o exterior como quando são obrigados a retornarem. Há que se admitir que estes recursos humanos, como de todos os migrantes, são de elevada coragem e capacidade para enfrentar situações novas, e mesmo com sacrifícios acabarão encontrando os seus caminhos, que podem ser mais fáceis se contarem com a ajuda de todos.
16 de dezembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais, Notícias | Tags: as tentativas de relacionamento do Japão com a China, aspectos históricos a serem ressaltados, importância para o mundo
A convite do governo japonês, por intermédio do JICA – Japan Internacional Cooperation Agency, fizemos parte de um pequeno grupo que visitou muitos centros onde se praticam as apreciadas produções japonesa de diversos estilos. Começando pela região de Fukuoka, mais próxima à Coreia do Sul, foi possível constatar o importante trabalho executado pelos seus respeitáveis artesãos, alguns considerados Tesouros Nacionais Vivos por manterem as mesmas tradições por um longo período histórico. Fomos esclarecidos que estas técnicas, originalmente dos chineses, foram ensinadas aos japoneses pelos coreanos, como muitos outros aspectos dos atualmente considerados marcos da cultura japonesa. Os que visitam a Ásia sabem que a cerimônia do chá sofreu sofisticações no Japão, mas já eram conhecidos na China. Também o ikebana, muito apreciado no Japão, em seus diversos estilos, também são conhecidos na Coreia que também absorveram conhecimentos provenientes da China.
Quando o Japão ainda caminhava na consolidação de sua cultura, muitos religiosos visitaram a China para absorver conhecimentos como o do budismo. Na literatura como em muitos aspectos relevantes da cultura japonesa, todos admitem que as bases foram trazidas da China, que tinha uma tradição histórica mais longa. Foi somente depois da guerra sino-japonesa, já em fins do século XIX, que o Japão ocupou parte da China, estendendo seus domínios sobre a Coreia bem como a Mongólia. O que perdurou por pouco tempo, até o fim da Segunda Guerra Mundial, quando foram derrotados. No entanto, no período nacionalista e militarista, desenvolveu-se no Japão um forte preconceito com as antigas colônias, como se tratassem de um povo com uma cultura superior.
Quando se desenvolvem novos esforços para a convivência pacífica, não somente do Japão com a China, mas também com a Coreia do Sul, visando uma consolidação de uma região no Extremo Oriente, parece que estas realidades históricas devem ser reforçadas, relevando pequenos incidentes que possuem pequena importância ao longo da história.
Mapa da Ásia, com a China, Coreia do Sul e Japão
O mundo passa por um período de dificuldades econômicas depois da crise internacional de 2007/2008. A Ásia pode desempenhar um papel relevante na recuperação, ainda que lenta e demorada, aproveitando o desenvolvimento da China, que de um país ainda emergente caminha para ser a mais importante em dimensão no mundo, ainda que limitada em termos per capita.
O Japão como a Coreia do Sul se destacaram no período pós-Segunda Guerra Mundial, firmando-se como tigres asiáticos que ampliaram suas exportações para todo o mundo, ainda que com fortes limitações nas suas disponibilidades de recursos naturais. Eram exemplos que estão sendo copiados por outros países, notadamente do Sudeste Asiático como também latino-americanos.
Não parece conveniente que estes papéis sejam esquecidos e que suas contribuições mundiais não voltem a ser relevantes, quando o mundo passa por uma nova fase de redução dos seus custos de energia, necessitando dos exemplos de desenvolvimento tecnológico como de formas racionais de aproveitamento dos seus recursos humanos.
Tudo indica que vale a pena pensar em temos de estadistas, com um horizonte mais amplo, capaz de proporcionar melhores condições econômicas, políticas e sociais para a humanidade. Possuem longas histórias com a acumulação de culturas invejáveis, ainda que suas populações estejam diminuindo e envelhecendo. Mas, também nestas áreas, eles podem transmitir conhecimentos de como lidar com estes graves problemas, proporcionando melhores condições para os seus povos.
16 de dezembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais, Notícias | Tags: desvios chocantes do conceito sobre o Natal, o que acontece no Japão, predomínio dos interesses comerciais no Ocidente
Pode parecer utópico, mas quando se depara como uma notícia publicada no jornal The Independent e republicada no site do O Globo onde se informa que um restaurante japonês colocou um cartaz avisando que na noite de Natal não seriam aceitos casais, pois os solteiros ficariam deprimidos, observa-se a distorção assustadora que esta efeméride está sofrendo no mundo. Já postamos neste site a experiência de um Natal passado no Japão, onde a data sequer é um feriado, pois os cristãos japoneses representam uma minoria insignificante da população. Para os brasileiros acostumados com intensas atividades neste período, fica muito estranha à experiência de um Natal no Japão. Lá, no máximo, está se ampliando os interesses comerciais das lojas, com a gritante distorção que a data é comemorada no Ocidente, com uma elevada quantidade de presentes para as crianças, familiares e amigos mais chegados, quando o correto seria este hábito para o Dia dos Reis, no começo de janeiro. No Japão, o que predomina são atividades românticas, com os casais lotando os motéis.
Natividade na Cappella degli Scrovegni por Giotto, obra que teria começado em 1311 e concluída em 1320
Mesmo no Brasil, há maior difusão das promoções comerciais com a confusão do Natal com a visitação dos Magos que deveria ser concentrada no dia 6 de janeiro, como acontece em alguns países da Europa, esquecendo-se do significado do nascimento do Salvador.
Mesmo os artistas medievais deram grande importância para a esta visitação dos Magos que teriam sido orientados pelas estrelas para chegar a Maria e a José, juntamente com o menino Jesus que teria nascido numa manjedoura, somente assistido pelos animais. Os presentes que lhe teriam sido levados pelos Magos seriam as justificativas para as atuais explorações comerciais, associadas às fartas refeições regadas por bebidas.
Muitas destas distorções se observam também em países de predominância cristã e católica. Eu me encontrava na noite de Natal em Veneza, na Itália, e procurei as igrejas com a minha família certo de que encontraria uma para assistir à Missa do Galo que deveria ser interessante. Mas acabei frustrado, pois todas estavam fechadas, e o máximo que se conseguia era uma transmitida pela televisão do Vaticano, com o papa celebrando a data.
Nestes períodos difíceis para a humanidade, seria oportuno recordar o verdadeiro espírito do Natal, quando Jesus se transformou num simples homem, nascendo numa modesta manjedoura para cumprir o que estava escrito nas Escrituras. Seu sacrifício seria indispensável para expiar a culpa dos homens. A data do seu nascimento mereceria uma reflexão, não sendo distorcido como está acontecendo agora, com todo respeito às demais religiões.
15 de dezembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais, Notícias | Tags: apresentações dos compromissos de cada país, até a reunião de Paris, confiança no instinto de sobrevivência, resultados dos compromissos no Peru
Apesar dos esforços dos diplomatas e outros representantes dos países membros, que acabaram por prorrogar por dois dias a Conferência do Clima da ONU em Lima, no Peru, a maioria da mídia internacional vem considerando os resultados obtidos muito tênues. Para conseguir a adesão de todos, países industrializados como menos desenvolvidos, decidiu-se pela apresentação até março do próximo ano das metas e formas de atingi-las de cada país, sem que haja mecanismos de pressão para tanto. Somente a consciência de cada país membro poderá estabelecer estas metas com as quais estarão comprometidos, aceitando-se a tese geral que os esforços deverão ser diferenciados, onde países como os Estados Unidos e a China, considerados os mais poluidores, estabeleceram anteriormente os seus objetivos de forma bilateral as metas de cada país na última reunião que tiveram em Beijing, onde estava Barack Obama e Xi Jinping.
O fato concreto é que até hoje não se conseguiu um mecanismo adequado para o estabelecimento de compromissos com metas objetivas na maioria dos países, industrializados ou não. Pode ser que o decidido seja tênue, mas deve-se admitir que cada país possa julgar melhor o que lhe é possível assumir como responsabilidade, mesmo contando com ajudas modestas de outros países mais capacitados do ponto de vista econômico. Como nenhum país deseja ser conhecido como responsável pelas irregularidades climáticas que estão ocorrendo no mundo, ou sacrificar o próprio desenvolvimento com a poluição que está se tornando insuportável para as suas populações, notadamente dos estrangeiros expatriados que são responsáveis por muitos dos seus investimentos que proporcionam as condições para a criação do emprego e da produção desejáveis. Deve-se admitir que com compromissos mais espontâneos, seus alcances se tornem mais realistas.
1.
Christiana Figueres, secretária executiva da Convenção e Manuel Pulgar-Vidal, ministro do meio ambiente do Peru, ao término da reunião
A decisão final deverá ocorrer numa reunião em Paris até o final de 2015, esperando-se que até lá, com os compromissos assumidos pelos países membros até março próximo, haja como obter uma posição mundial realista e objetiva, pois os problemas que já estão sendo enfrentados são muito graves.
Com as expectativas baixas, espera-se que os países membros tenham condições de cumprir os compromissos autoassumidos, que não terão sido impostos por outros organismos ou países. Ainda que não cheguem ao desejável, espera-se que ocorram avanços pragmáticos.
Mesmo os países menos desenvolvidos, que sofrem mais diretamente as consequências dos aquecimentos globais, sabem que dependerão muito dos seus esforços para contarem com suportes complementares do exterior que devem ser baixos. Todos os países deverão estar concentrados nos objetivos que mais afetam diretamente suas populações. Mas a mídia internacional está sendo eficiente na divulgação das poluições que estão sendo provocadas, que acabam exercendo uma pressão sobre as muitas autoridades dos diversos países.
O que se vem observando é que as metas mais ousadas que seriam desejáveis não encontram mecanismos de implementação, e acabam se tornando meros discursos sem aplicação prática. A esperança é que o “Second Best” acabe se tornando mais exequível, inclusive do ponto de vista político.
Países como o Brasil não necessitariam ficar com a imagem negativa, quando estão efetuando substanciais esforços, ainda que seus problemas sejam vastos, como a melhor exploração racional e sustentável de suas imensas florestas, como a Amazônica.
15 de dezembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias | Tags: artigo da Bloomberg publicado no Valor Econômico, manipulações das cotações dos títulos dos EUA, sem instrumentos para coibir estas operações
Se já eram alarmantes as manipulações das taxas de juros como o Libor e as cotações cambiais em Londres, nas quais consagradas instituições financeiras internacionais estão efetuando acordos com multas pelas irregularidades constatadas pelas autoridades, a notícia divulgada por Matthew Leising, da Bloomberg, publicada no Valor Econômico é aterradora. Além da manipulação das cotações dos títulos do Tesouro Norte-Americano, cujo mercado supera uma dezena de trilhões de dólares por ano, está se identificando a falta de regulamentações sobre o assunto. Os operadores utilizam avanços tecnológicos de altíssima velocidade para produzir uma isca enganosa conhecida como “spoofing”, segundo o artigo, estimulando o mercado e cancelando posteriormente as mesmas. Os especialistas americanos que estão identificando estas operações alegam que não existem ainda instrumentos legais para coibir tais manobras.
Os praticantes do “spoofing” fingem que estão interessados na compra ou venda a determinado preço no mercado, criando a ilusão de demanda para que outros operadores se mobilizem para atendê-la. Cancelam o interesse inicial e compram ou vendem com os novos preços para lucrarem. Estas operações são conhecidas também como “pull and hit” (ou seja, puxar e bater). Os registros existentes mostram que ocorreram em paralelo em Chicago e em Nova Jersey, entre outras plataformas, em negociações mais rápidas que a velocidade da luz, envolvendo estratégicas combinadas entre operadores.
Se os títulos do Tesouro Norte-Americano eram considerados os mais seguros no mundo, os seus volumes cresceram muito com a política monetária dos Estados Unidos chamada de “quantitative easing” que objetivava a desvalorização cambial do dólar e a ampliação dos créditos bancários, visando a recuperação da economia posterior à crise de 2007/2008.
Se suas cotações estão sendo manipuladas para proveito de alguns dos operadores mais importantes e que introduziram inovações tecnológicas sofisticadas em suas operações, são preocupantes indícios da falta de transparência no seu mercado. Demostram a total desconsideração moral nestes mercados financeiros, fugindo dos princípios como os que começaram a ser colocados por Adam Smith e outros pensadores que se seguiram, para o funcionamento adequado do capitalismo e dos mercados.
Todos hão de concordar que os títulos do Tesouro Norte-Americano estão entre os papéis mais importantes no mundo, notadamente quando se ampliou o seu uso. Se as autoridades daquele país não contam com meios para coibir eventuais comportamentos que manipulam o seu mercado, chega-se à preocupante situação que os que detêm poderosas tecnologias acabem se beneficiando, em prejuízo de todos.
15 de dezembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais, Notícias, Política | Tags: a coligação governista retém a maioria absoluta, baixo comparecimento, falta de uma oposição organizada, mandato para a Abeconomics | 2 Comentários »
O primeiro-ministro Shinzo Abe obteve para a coligação governista LDP-Komeito 326 cadeiras na Câmara Baixa da Dieta japonesa, superando os 317 indispensáveis para a maioria absoluta. Conseguiu a prorrogação do seu mandato bem como o suporte para o prosseguimento de sua política chamada Abeconomics, que eram seus objetivos principais. No entanto, há que se registrar que no Japão o voto não é obrigatório, sendo que menos de 40% dos eleitores compareceram ao pleito, mostrando certo desinteresse diante do resultado esperado, sendo que o principal partido de oposição aumentou a sua bancada em 11 cadeiras, chegando a 73. Mesmo assim, diante do quadro em que se encontra a economia japonesa, o resultado deve ser interpretado como um suporte moderado para a inevitável política denominada Abeconomics, que precisará elevar o seu imposto de vendas do atual 8% para 10%, sem saber quando.
Todos sabem que, mesmo com a injeção astronômica de recursos creditícios por intermédio do Bank of Japan, o máximo que se conseguiu é uma melhoria na Bolsa de Valores, e uma desvalorização moderada do yen, para tornar as exportações japonesas mais competitivas. A recuperação da economia japonesa, que é o grande objetivo, veio sendo prejudicada pela retração dos consumidores quando o imposto de vendas subiu dos 5% anterior para 8%. As empresas ainda não se sentem estimuladas para ampliar as suas atividades, mesmo com a abundância de recursos creditícios e a desvalorização do yen, que o torna um pouco mais competitivo no mercado internacional. O resultado desta eleição não pode ser considerado estimulante para a nova etapa de elevação dos impostos, diante da dívida pública japonesa que é das mais elevadas do mundo, ainda que financiadas pelas poupanças internas.
Primeiro-ministro Shinzo Abe comemora a vitória eleitoral da coligação governista. As rosas vermelhas são colocadas junto aos nomes dos deputados eleitos, na tradição eleitoral japonesa
A imprensa japonesa avalia que o novo gabinete deve ser anunciado no próximo dia 24 de dezembro, mas não se aguarda grandes surpresas, ainda que seja desejável novas figuras que dessem um ânimo para o programa que deverá ser executado. Deve-se lembrar de que o Abeconoics prevê agora uma etapa de decisivo estímulo ao crescimento da economia japonesa, que ainda não consegue uma inflação de 2% ao ano como anunciado, e uma volta aos padrões mais razoáveis de crescimento.
Deve-se observar que o cenário internacional não se apresenta fortemente estimulante, ainda que o preço do petróleo totalmente importado pelo Japão esteja em queda significativa. O governo japonês vem acreditando muito no TPP – TransPacific Partnership, facilitando o comércio internacional. Efetua esforços para a retomada dos entendimentos com a China, que ainda caminha de forma tímida, bem como ampliação da colaboração com a Coreia do Sul. Também o Sudeste Asiático encontra-se entre suas prioridades, notadamente na implantação de projetos de infraestrutura.
Este site vem insistindo que o Japão precisa enfrentar o problema da redução de sua população, ao mesmo tempo em que se observa o seu envelhecimento. Necessita que muitos dos seus jovens se motivem para novos empreendimentos, superando o seu desânimo. Para uma economia de elevado padrão de desenvolvimento, precisa colaborar com o seu dinamismo para estimular o resto do mundo, o que nem sempre vem acontecendo. Espera-se que o resultado destas eleições ajudem a superar o atual marasmo.
15 de dezembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais, Notícias | Tags: os problemas no mundo e no Brasil, reações positivas indispensáveis, um mínimo de racionalidade com o que se dispõe
“De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça. De tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto”, foi a frase de Ruy Barbosa que se tornou famosa. No entanto, por mais que se respeite aquele nosso estadista, sempre há espaço para iniciativas, principalmente dos mais jovens, em termos mundiais como nacionais, para as correções destes quadros. Não basta a indignação com o que se enfrenta, mas tentar descobrir o que pode ser feito para reverter a situação. Com todos os pesares, a história da Humanidade comprovou que mesmo os períodos mais difíceis foram superados. E ainda que insatisfatórias, sempre existem as esperanças que muitas melhorias ainda serão conquistadas. Não somente do ponto de vista material, mas no cenário moral em que parece nos encontramos.
Parece útil fazer-se um esforço para compreender o que está provocando este forte pessimismo que não se restringe ao Brasil, pois somente entendendo os nossos problemas podemos tentar resolvê-los, ou no mínimo minorá-los. Os problemas da Petrobras, ainda que agravados pelas opções adotadas no Brasil, também são decorrentes do que já aconteceu em outros países. As indústrias internacionais que se relacionam há mais de um século com o petróleo, que veio ganhando importância exagerada, sempre utilizaram parte expressiva dos seus volumosos recursos para corromper os detentores do poder político. Ainda que em alguns aspectos tenham sido corrigidas de tempo em tempo, são conhecidos os desvios que vieram ocorrendo ao longo de décadas para ampliar o seu poder, havendo uma vasta literatura a respeito. Mesmo que constatada a sua pesada responsabilidade no aquecimento global, o petróleo continua sendo uma das mais importantes fontes de energia no mundo, ao lado do carvão mineral altamente poluente. Somos todos responsáveis por esta tolerância que acaba sendo eminentemente moral.
Plataforma para exploração do petróleo em alto mar
Há décadas, um importante empresário que atuava no setor informava-me que desde os tempos históricos nos transportes do petróleo havia uma tradição mundial de certo percentual carregado a mais, que, se era para cobrir riscos com eventuais desastres, acabavam sendo utilizados para ajudas políticas. Estas práticas acabaram se ampliando para outros setores. Também são conhecidos os negócios internacionais escusos que envolviam a produção de equipamentos utilizados na indústria de petróleo, como os que eram movimentados nos paraísos fiscais, que não são evidentemente criações brasileiras.
Que as empreiteiras, não somente as brasileiras possuem intrincados relacionamentos com os grupos políticos em muitos países são sobejamente conhecidos, não se restringindo somente a área do petróleo. A capacidade de coibir estas tendências alimentadas pela ganância humana exige das administrações públicas um aparelhamento indispensável, que só pode ocorrer com o seu constante aperfeiçoamento.
Estudando-se a história da evolução do sindicalismo no mundo, constata-se a lamentável intensidade dos relacionamentos destas entidades com organizações criminosas que procuravam manter o monopólio do controle do poder. São casos como nos Estados Unidos com as organizações da AFL – CIO American Federation of Labor – Congress of Industrial Organizations, com o controle criminoso dos transportes naquele país, sempre considerados estratégicos. Ou na Europa, com suspeitas da participação de não somente organizações mafiosas nas entidades trabalhistas sindicais, que eram avanços indispensáveis nas diversas sociedades. Sempre houve uma preocupação que houvesse uma multiplicidade de suas origens ideológicas para evitar o monopólio como das organizações de predominância marxistas, inclusive no Brasil.
Quando o setor de petróleo conta com quase com o monopólio estatal, como no caso brasileiro, ainda que a escala e o poder das multinacionais tenham que ser enfrentadas, novos cenários de potenciais distorções acabam se multiplicando. Notadamente quando os dirigentes sindicais acabam detendo uma parcela exagerada do poder político. Mas também estas distorções ocorrem em outros regimes políticos onde a alternância no poder não ocorre com a frequência desejável.
Quando um país se encontra ainda nos estágios iniciais de consolidação do regime democrático, nem sempre todos os mecanismos de controle funcionam com o equilíbrio desejável. Deve-se admitir que, se estejam sendo investigadas as distorções que ocorrem atualmente no Brasil, em parte decorre das condições criadas pelas disposições da Constituição de 1988 que permitiram o desenvolvimento do atual Ministério Público. Mas ainda existem etapas a serem percorridas em muitos setores, evitando-se que algumas personalidades que ganham notoriedade pela ação da mídia tornem-se vítimas de suas vaidades pessoais. Também o Judiciário, com os seus exageradamente longos processos, acaba dando um sentimento de impunidade até mesmo aos indiciados.
Apesar da resistência da classe política, a reforma do setor torna-se prioritária, pois os eleitores necessitam de mecanismos para controle dos eleitos de forma eficaz. Sistemas eleitorais como o distrital misto podem introduzir alguns aperfeiçoamentos como vem se observando em países que os adotam. Para que as crises posam ser resolvidas de forma mais plausível, tudo indica que o regime parlamentarista acaba sendo mais ágil do que o presidencialismo, para adequação do quadro as mudanças sempre indispensáveis.
O exagerado agigantamento do setor público parece propiciar também muitas distorções. Tudo indica que um equilíbrio maior com o setor privado, onde as tendências monopolísticas sejam regulamentadas parece reduzir as potencialidades das irregularidades. Existe um conceito em inglês denominado “check and balance”, que vem sendo perseguido em muitas sociedades, de forma que haja um equilíbrio mais razoável.
O Brasil já passou e continuará passando por muitos aperfeiçoamentos, mas parece que os jovens poderiam se dedicar com maior profundidade aos estudos das experiências que estão sendo repetidas em todo o mundo, de forma que algumas delas tenham condições de adaptação às particulares condições brasileiras.
Há que ampliar as esperanças para a melhoria do quadro moral, não se entregando a um pessimismo exagerado, quase uma depressão psicológica coletiva, pois o Brasil ainda é um país jovem com elevadas potencialidades para aperfeiçoamentos.
14 de dezembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais, Notícias | Tags: artigo no suplemento do The New York Times Internacional da Folha de S.Paulo, especialista em organização, forma de se descartas das coisas dispensáveis
Um interessante artigo de Penepole Green, originalmente publicado no The New York Times Internacional e reproduzido em português no suplemento semanal da Folha de S.Paulo, informa sobre a Marie Kondo que teria se tornado uma celebridade no Japão por estar ensinando a organizar a guarda de materiais que proporcionam alegria, e descartar as já usadas com um agradecimento. É preciso entender algumas coisas da cultura japonesa que podem estar influenciando nestes hábitos. De um lado, por influência da religião shintoista, todas as coisas podem ser consideradas sagradas, e merecem agradecimento na medida em que ajudam os seres humanos. Muitos japoneses, na virada do ano, fazem a revisão dos equipamentos que permitiram o trabalho durante os 12 meses que descansem alguns dias, cobertas e até com alimentos simbólicos, como um bolinho de arroz. De outro lado, com a tradição de um povo que foi pobre e tendo passado por necessidades, desenvolveu-se esta mania de guardar tudo, para uma remota possibilidade do seu uso futuro. Isto tende a acumular um depósito desorganizado, considerando “motainai” (um desperdício) livrar-se mesmo dos que tenham mínimas possibilidades de serem utilizados no futuro.
A técnica que estaria sendo disseminada por Marie Kondo parece pressupor que qualquer material dispõe de vida, como no xintoísmo, devendo-se descartar delas com um agradecimento pela ajuda que já deu a alguém. Haveria uma ordem para o armazenamento dos produtos necessários, de forma organizada, usando conhecimentos como o do origami ou do “furoshiki”, que é um simples pano que se torna uma embalagem, de forma a economizar o espaço e permitir que estes produtos mantenham a sua “alegria” de continuar existindo. Ela acumulou estes conhecimentos de forma prática ajudando a organizar as bagunças dos seus irmãos, bem como simples bibliotecas nas suas escolas, percebendo que poderiam ser dispostos em determinadas ordens, que acabariam sendo mais racionalmente usados.
Sou pessoalmente dos que precisam aprender estas técnicas, pois sou desorganizado e tendo a guardar quase tudo, o que vai acumulando materiais desnecessários até por décadas. Mas concordo que há um momento em que é preciso descartar muito do que é desnecessário, ou poderia ser útil para outros. Estou determinado a adotar estes novos hábitos, mesmo admitindo que no Japão, onde as estações do ano são mais definidas, isto seja mais fácil que no Brasil, onde é até possível ter quatro estações num mesmo dia, o que não permite descartar roupas, por exemplo, que estejam fora da estação. Mas as ideias básicas poderiam ser adaptadas para as realidades locais.
Marie Kondo organizando os depósitos
Armários organizados por Marie Kondo
Marie Kondo estava sendo procurada por pessoas que desejavam a sua ajuda profissional. Hoje, prefere dar aulas ou escrever sobre o assunto para preparação de outras pessoas que acabem organizando os seus depósitos.
Tratando se as coisas inanimadas como se estivessem vivas, elas acabam sendo melhores cuidadas, permitindo a sua melhor preservação como aproveitamento. Poderia se acrescentar que muitos dos produtos que se tornaram inúteis podem ser melhores utilizadas por outras. O hábito de doar de tempos em tempo o que se dispõe pode se tornar mais racional, na medida que possa ser aproveitada mais intensivamente por outras. Existem muitas instituições que possuem serviços de coleta, visando gerar até algumas rendas com suas vendas, depois de revisadas, tirando melhor proveito das suas utilidades.
Estas medidas se tornaram importantes no Japão pelas limitações dos espaços. Na proporção em que muitas residências também no Brasil estão se resumindo em espaços menores, estas medidas se tornam mais convenientes.
13 de dezembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais, Notícias, Política | Tags: alegação da Petrobras que foram determinadas investigações, artigo no Valor Econômico, comunicações da gerente Venina Velosa da Fonseca, removida do cargo e transferida para Cingapura
Num extenso artigo elaborado por Juliano Basile, publicado no jornal Valor Econômico, são incluídas cópias de emails enviados pela gerente executiva Venina Velosa da Fonseca, geóloga que trabalha desde 1990 na Petrobras, tendo atuado sob o comando do diretor afastado Paulo Roberto Costa, entre novembro de 2005 e outubro de 2009. O ex-diretor está procurando reduzir suas penalidades com a delação premiada. Venina comunicou os indícios de irregularidade na área de comunicação social com pagamentos de serviços não prestados, bem como os significativos aumentos dos custos com aditivos da usina Abreu e Lima. Também comunicou suas suspeitas para José Carlos Cosenza, que substituiu Paulo Roberto Costa, como diretamente ao presidente de então, José Sérgio Gabrielli, e à atual presidente Graça Foster, desde quando ela era diretora do setor de gás e energia.
O que é inusitado em toda esta história é o desembaraço da aparentemente bem intencionada Venina em assuntos que não eram de sua área específica, comunicando diretamente aos altos executivos da Petrobras, quando nestas organizações gigantescas existem especializações e hierarquias. Ela teria sido aconselhada a utilizar os canais competentes. A Petrobras alega que as denúncias foram encaminhadas para investigações, mas o tempo decorrido e as retaliações alegadas sobre a denunciante são indícios de comportamentos no mínimo suspeitos.
Geóloga Venina Velosa da Fonseca
As denúncias estão documentadas pelas cópias dos emails enviados por um longo período, muito antes destes fatos começarem a ser objetos de investigações do Ministério Público e referem-se às suspeitas de envolvimentos de interesse partidário. Os fatos são mencionados com muito cuidado, e acabaram recebendo uma ampla repercussão na maioria dos meios de comunicação social do Brasil. Como estas questões estão sendo discutidos de diversos angulos, existem fortes indícios que correspondem ao que veio desenrolando na Petrobras, colocando o governo na berlinda.
Alguns aspectos são relacionados mais diretamente com a área em que esta funcionária atuava dentro daquela empresa, mas também existem outros que poderiam ser do seu conhecimento, desde que ela estivesse interessada nos corretos procedimentos daquela estatal. Tudo dá a impressão de que são fatos graves e críveis, colocando os dirigentes da Petrobras, que alegaram seus desconhecimentos, em situação extremamente desconfortável, de difícil sustentação.
Estas denúncias acrescentam fatos graves observadas por um novo ângulo, de quem parece não estar envolvida nestas questões. Tudo indica que o Ministério Público deverá ouvi-la para solidificar suas acusações, que estão sendo formuladas dentro de um processo jurídico.
Estes fatos são daqueles de alto calibre, capazes de afetar até um governo recentemente reeleito pelo voto popular.