11 de dezembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais, Gastronomia, Notícias, Saúde | Tags: artigo sobre wasabi no The Japan Today, benefícios para a saúde, efeitos gastronômicos
Um interessante artigo publicado por Evie Lund no The Japan Today, com informações provenientes do wasabi.net e organicfacts.net, fornece dados sobre os efeitos medicinais do wasabi, que é uma planta da família brassicacae que inclui também a mostarda e a raiz forte, com os quais não se confunde. Lamentavelmente, no Brasil só se dispõe do chamado wasabi, uma mistura de mostarda, rábano e corante alimentar, que é vendido em tubos ou servido com o sushi ou sashimi nos restaurantes. O wasabi é uma espécie de raiz, que só pode ser cultivada em terreno com águas correntes límpidas, e deve ser usado ralado, perdendo o seu poder muito rapidamente, sendo muito caro também no Japão, e servido somente em estabelecimentos de luxo.
O verdadeiro wasaki que só pode ser cultivado em terras com águas límpidas e nada tem a ver com os vendidos com este nome que se obtêm em tubos ou em pó, lamentavelmente
Nos bons restaurantes do Japão, o wasaki é servido ralado destes tubérculos, para serem consumidos rapidamente. Provocam uma reação rápida nas narinas e possuem a qualidade de ajudar a manter os alimentos saudáveis. Podem ser um pouco forte para os que não estão acostumados com o seu consumo.
O artigo informa que o wasabi provoca alguns efeitos interessantes para a saúde. Ele evita a intoxicação alimentar, pois contém isotiocianato de alilo, um potente bactericida. Além de ser consumido com peixes crus, como o sashimi e o sushi, recomendam-se o seu uso nas caixas de bento para ajudar a manter os alimentos livres de quaisquer esporos de fungo. O gengibre também ajuda nesta função e costuma ser servido como conserva, e, ao lado da sopa de missô, ajuda a manter o aparelho digestivo em ordem.
Um segundo motivo é que o wasabi ajuda a manter os seres humanos jovens, na medida em que o sulfinito liberado por ele ralado é um antioxidante poderoso. Evita o envelhecimento precoce e reduz o oxigênio reativo do corpo. Acaba evitando o cancro, que provoca o envelhecimento natural.
O wasabi poderia ajudar a prevenir certos tipos de câncer, pois o seu composto chamado 6 MSITC tem propriedades anti-inflamatórias, e proporcionam a defesa do hospedeiro de células cancerígenas. Este componente também trabalha para inibir a agregação plaquetária em coágulos sanguíneos, reduzindo problemas cardíacos e neurológicos.
O wasabi ajuda a limpar o peito bloqueado a partir de um resfriado, gripe ou alergias. A liberação gasosa do isotiocianato de alilo ajuda a combater as bactérias nos tratos respiratórios. É preciso que se atente se estiver usando um medicamento que é metabolizado pelo fígado, pois o wasabi em excesso pode interferir nestas funções de forma imprevisível.
É lamentável que o wasabi ainda não seja cultivado no Brasil. O máximo que se consegue é a raiz forte, que é consumida muito pelas populações de origem europeia.
11 de dezembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais, Notícias | Tags: Constituição de 1988, o caso do Banestado, o funcionamento na Operação Lava-Jato
Um esclarecedor artigo foi publicado por Letícia Casado e André Guilherme Vieira no Valor Econômico mostrando como veio se formando a equipe de procuradores que está conseguindo um resultado invejável na Operação Lava-Jato. Na realidade, a Constituição de 1988 proporcionou condições para que o Ministério Público tivesse como se consolidar numa instituição independente que permitisse a investigação de complexos casos de corrupção inspirado na operação Mãos Limpas que desarticulou a máfia italiana no começo dos anos 1990. Muitos procuradores se prepararam no Brasil e no exterior, para se capacitarem a investigar complexos casos de corrupção que envolvesse uma ação internacional. O primeiro caso que resultou num importante aprendizado prático foi o do Banestado, no Estado do Paraná, quando volumosos recursos foram desviados por “doleiros” na remessa de recursos para o exterior. O artigo informa que o procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, vice-secretário de cooperação jurídica internacional da Procuradoria Geral da República, é o “cabeça” da atual equipe que está assombrando tanto grandes empreiteiras como corruptos relacionados com a Petrobras.
Carlos Fernando dos Santos Lima fez o mestrado na Universidade de Cornell nos Estados Unidos, especializando-se nestes assuntos. Mas outros procuradores que atuam na equipe, como Deltan Dallagnol, também concluíram o mestrado em Harvard, igualmente nos Estados Unidos, tendo se especializado em teoria das provas como de delação premiada, igualmente em colaboração jurídica internacional. Outro procurador é Diogo Castor de Mattos, ele que fez mestrado em função política do direito na Universidade do Norte do Paraná. O procurador Roberson Henrique Pozzobon é mestre em direito econômico. O procurador Paulo Roberto Galvão tem mestrado em direito na London School of Economics, no Reino Unido. Orlando Martello Junior é mestre pela FGV em direito tributário, Januário Paludo é mestre em direito do Estado na Universidade de São Paulo, Antonio Carlos Valter é mestre pela Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra em ciências jurídico-criminais, em Portugal, e Athayde Ribeiro Costa é especialista em improbidade administrativa. Ainda que estejam em unidades diferentes do Ministério Público, acabam atuando como equipe nesta Operação Lava-Jato. Parece evidente que havia uma preparação adequada destes agentes públicos para atuação em casos de grande complexidade como este Lava-Jato, não sendo um mero acaso que se venha obtendo sucesso.
Procurador Carlos Fernando dos Santos Lima
É evidente que somente esta equipe do Ministério Público não conseguiria os resultados até agora obtidos se não contassem com o respaldo de um juiz como Sergio Moro, titular da 13ª Vara Criminal da Justiça Federal do Paraná, que vem se destacando por uma atuação firme, aceitando denúncias como contra o “doleiro” Roberto Youssef e o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa que aceitaram efetuar as delações premiadas, procurando reduzir as potenciais penas pelos crimes de que estão sendo acusados.
Os advogados, notadamente das empreiteiras acusadas, estão se movimentando para defesa dos seus clientes, tentando manobras como a transferência da ação para a alçada do Supremo Tribunal Federal, visando contar com maiores flexibilidades de algum ministro. Tambem tentaram acordos judiciais que, mediante o pagamento de multas elevadas, tivessem seus clientes em melhor situação. Mas, até agora, encontraram fortes determinações dos procuradores que procuram consolidar uma situação onde as corrupções deste tipo tenham menores condições de prosperar, o que estão conseguindo obter com competência decorrente de suas preparações como experiências acumuladas no caso anterior do Banestado, quando se desviou cerca de US$ 30 bilhões em Foz do Iguaçu.
Toda esta experiência está sendo consolidada em estudos que procuram habilitar outros membros do Ministério Público, evitando-se que muitos sejam seduzidos pela grande exposição na mídia, que acabam atraindo as vaidades humanas.
Como todas as questões judiciais, estes processos são trabalhosos e demorados, envolvendo muitos intervenientes, e ainda encontra-se nos estágios iniciais até poder atingir a conclusão final que transitem em julgado, com as penalidades de todos os considerados culpados. Mas mostra que existem esperanças para que seus exemplos acabem inibindo ações criminosas em outros casos, como está sendo necessário no Brasil atual, onde a impunidade gera uma insatisfação geral da sociedade brasileira.
10 de dezembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias | Tags: artigo sobre o assunto no The Japan Times, falta de creches num país desenvolvido, falta de responsabilidade dos pais, tratamento desigual para as mulheres
Apesar do primeiro-ministro Shinzo Abe informar que o governo está tentando proporcionar as melhores condições para o trabalho das mulheres, leitores, como do artigo publicado por Rin Ichino no The Japan Times, ficam surpresos com as notícias de que uma economia desenvolvida como a japonesa não consegue fazer com que as mães, hoje responsáveis pela família, consigam se manter de forma condigna apesar dos seus empenhos, sendo condenadas à pobreza. Como no Japão a maioria dos divórcios ocorre de comum acordo e não há decisão judicial que responsabilize os homens também pelos encargos com a educação dos filhos e das ex-esposas, elas são obrigadas a trabalhar em condições bastante desiguais dadas as diferenças dos salários decorrentes do sexo. E o número de creches para seus filhos é mínimo.
As mães japonesas, hoje separadas, não conseguem manter o seu padrão de vida, pelos seus salários mais baixos e falta de creches
O artigo menciona diversos casos destas mães que hoje estão separadas, cuidam dos seus filhos e precisam trabalhar intensamente, ainda que seus salários estejam abaixo da metade do salário nacional. Poucas recebem o suporte dos seus ex-maridos e contam com creches convenientes para atender suas crianças. Esta situação coloca o Japão no último lugar entre os 34 países da OCDE, fazendo com que a maior parte dos encargos fique com as mães.
Os estudos efetuados por especialistas no assunto informam que os salários destas mães acabam ficando bem abaixo do mercado, em média 35% dos empregos de tempo integral e permanentes, por serem temporários e não de carreira. Elas possuem poucas reservas para enfrentar uma eventual aposentadoria, cerca de 5% da média dos japoneses.
Além de terem todas as tarefas de casa, acabam sendo obrigadas a aceitar empregos provisórios de tempo parcial, não contando com o adequado suporte para cuidar dos seus filhos. Algumas aspiram contar com serviços próprios como ensinar outras mães a cuidarem dos seus filhos, aproveitando as duras experiências que possuem. Somente 39% destas mães possuem um trabalho regular, e muitas dependem das ajudas dos seus pais.
Havia um programa subsidiado do governo no Japão para treinamento destas mães para as habilitarem a empregos, mas acabou sendo extinto, pois a falta de qualificação não se tratava do foco do problema.
Apesar de Shinzo Abe ter prometido a criação de 200 mil vagas nas creches, ele só conseguiu 9 mil, esperando chegar à meta nos próximos quatro anos. Somente 20% dos ex-maridos japoneses pagam as pensões para suas ex-esposas, inclusive seus filhos comuns, não havendo mecanismos legais para assegurar estes pagamentos. Este percentual nos Estados Unidos chega a 74%.
Ainda que estes problemas existam em muitos países, tudo indica que não são tão graves como os do Japão.
9 de dezembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política | Tags: as limitações, lições importantes, longas experiências no Executivo e no Legislativo
Francisco Dornelles, que está deixando o Senado, é uma das personalidades brasileiras que acumularam longas e profundas experiências também pelo exercício de variadas funções no Executivo. Depois de todos estes anos de vida pública, suas experiências, inclusive frustrações como apresentado na entrevista aos jornalistas Raquel Uchôa e Ribamar Oliveira do Valor Econômico, mostram as dificuldades existentes para a administração de um país tão complexo como o Brasil. Além de não conseguir soluções para seus problemas fundamentais, ainda continua acrescentando outros que acabam ampliando mais as responsabilidade de todos, dos eleitores, dos parlamentares, dos que estão no comando do Executivo, como até dos burocratas que não conseguem proporcionar uma operacionalidade para a gigantesca máquina da administração pública.
O conhecimento dos problemas aposentados, do seu ponto de vista de um experiente ator neste cenário brasileiro por muitas e muitas décadas, mostra como eles são difíceis de serem equacionados, mas, se não se desejar condenar o Brasil a uma estagnação, os mais graves terão que ser enfrentados. Não se trata de quem está no governo ou na oposição, pois ele esteve em ambos os lados, lutou para sanar muitos, mas os que se multiplicam hoje mostram que poucos avanços foram obtidos. Se suas observações forem aproveitadas, de alguma forma pode haver um ponto de inflexão, onde as soluções superem o surgimento de outros obstáculos.
Francisco Dornelles atuou no Executivo e no Legislativo
Ele lamenta não ter conseguido a reforma do setor financeiro, reconhecendo que o Conselho Monetário Nacional, hoje só constituido pelo ministro da Fazenda, ministro secretário do Planejamento e presidente do Banco Central, é que fixa a meta inflacionária a ser perseguida pelo Banco Central, que, em sua opinião, deve ter a plena autonomia para tanto. Todos, que possuem alguma experiência na administração pública, sabem que somente estas três autoridades não formam um verdadeiro Conselho que tenha liberdade para discutir alternativas.
Também lamenta não ter conseguido a reforma do sistema orçamentário, que entende deva ter a sua anualidade modificada, pois, ao seguir o ano civil, fica com a sua decisão concentrada no período mais difícil que é o final de ano. Em muitos países, reconhece-se que a função do Legislativo mais importante é a discussão deste orçamento, o que não acontece no Brasil.
Ele é também a favor do voto distrital como uma forma de ligar mais diretamente os eleitores aos eleitos, pois, no atual sistema proporcional, a responsabilidade fica diluida por uma bancada que é eleita por Estado, impossibilitando esta fiscalização mais próxima.
Entende que o problema crucial da economia brasileira é recuperar a sua capacidade de investimentos, que hoje está concentrada em algumas estatais como a Petrobras que está profundamente atingida pelas críticas. Ele entende que as pessoas responsáveis pelas irregularidades devam ser punidas e não as empresas, estatais ou privadas, que concentram os investimentos.
Como não existe uma preocupação com a eficiência da administração pública, a tendência que se observa é do continuo crescimento da máquina pública, até para o atendimento das necessidades sociais, que de alguma forma já vêm sendo contempladas, não havendo recursos tributários suficientes para a sua expansão.
Francisco Dornelles entende que deva haver uma forte desburocratização, uma privatização de muitas estatais, e que o erro cometido na Petrobras, onde ela ficou com a responsabilidade de 30% das concessões, precisa ser corrigido. Para que possa se contar com o setor privado, inclusive empresas estrangeiras para arcar de fato com os pesados investimentos indispensáveis.
A íntegra da entrevista pode ser acessado no http://www.valor.com.br/politica/3809092/temos-que-separar-empresas-das-pessoas .
8 de dezembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política | Tags: entrevista concedida em Tóquio ao The Economist
Shinzo Abe certamente será eleito nas próximas eleições japonesas de 14 de dezembro, restando saber se terá um apoio decisivo do eleitorado para o seu partido, o LDP – Liberal Democratic Party ou uma simples vitória pela falta de uma oposição mais articulada. Ele concedeu uma longa entrevista para o editor da Ásia do The Economist, Dominic Ziegler, e o chefe do escritório da revista em Tóquio, Tamzin Booth, sobre os assuntos relacionados com o papel do Japão na economia asiática e mundial, bem como assuntos internos do país, mesmo para questões que poderiam ser consideradas embaraçosas. As perguntas formuladas poderiam ser mais agudas sobre os problemas enfrentados pelo Japão.
Shinzo Abe em campanha eleitoral para conseguir respaldo mais amplo para o prosseguimento de sua política denominada Abeconomics
Diante da intensa atividade internacional de Shinzo Abe, a revista perguntou a ele se sentia com pressa, como um homem com uma missão. Ele respondeu que acha que não tem muito tempo, pois a China continua crescendo e os demais países procuram manter a sua competitividade. O Japão está com a população reduzindo e envelhecendo, carregando uma dívida pública enorme. O país teria que recuperar a sua força econômica, de forma democrática e pacífica. Para tanto, necessitaria promover reformas.
A revista entende que todos procuram ter vertentes diferentes para problemas internos e externos, o que no caso do Japão aparecem juntos. A resposta é que, na sua juventude, o Japão crescia muito e passou agora por 20 anos de estagnação. Não haveria como separar as duas políticas.
A revista perguntou sobre as diferenças atuais com o seu primeiro mandato como primeiro-ministro em 2007. A resposta foi a emergência da China e a estagnação japonesa. Ele entende que a melhoria econômica dos chineses está aumentando o seu turismo ao Japão, que foi recorde neste ano, perto de 10 milhões, devendo continuar crescendo para 13 milhões no próximo ano.
A pergunta seguinte foi como ele vê a China, e a resposta envolveu considerações históricas de sua província de Yamaguchi, sempre com a visão para o exterior. Destacou a flexibilização monetária que introduziu e recebia restrições de muitos.
A pergunta foi como segue a Abeconomics depois da eleição. Ele afirma que pretende reformas como o da agricultura, da assistência médica, como do mercado de trabalho. À pergunta de como seria isto, ele se referiu à utilização da mão de obra feminina e a melhoria na redução dos desperdícios na medicina.
Outra pergunta foi feita sobre o TPP – Parceria Trans-Pacifica. Abe se considera o líder mais forte que pode avançar no TPP. A pergunta voltou para a China, quando Xi Jinping mostrou na foto de ambos que havia uma contrariedade. Abe informou que entendeu a posição dele, como se fora para consumo interno. A pergunta agora foi sobre Senkaku, Abe entende que todos terão que se entender sobre o Mar da China.
A pergunta seguinte foi sobre os 70 anos do término da Guerra, começando com o problema das “mulheres de conforto”. Ele respondeu sobre o seu lamento, mas, quando o Japão é difamado, precisa defender a sua honra. Acha que no século XXI o direito das mulheres precisa ser protegido. Abe acha que alguns erros foram cometidos, mas entende que as relações com a Coreia do Sul não pode se restringir somente a este item.
À pergunta sobre os fantasmas existentes nas relações asiáticas, Abe respondeu que fantasmas não existem, e que o Japão adota uma política proativa na região.
Numa avaliação geral, a entrevista só poderia ser interessante se as perguntas formuladas fossem relevantes. Não foi perguntado como o Japão vai enfrentar o problema de sua redução da população e seu envelhecimento, e se isto pode provocar uma flexibilização às restrições a imigração. Também quanto ao grande problema da dívida pública, como vai se realizar o aumento da tributação indispensável.
Sem que se caminhe para as questões fundamentais do Japão, ainda que de difícil solução, parece que mesmo a prorrogação da permanência de Shinzo Abe no comando do país não vai resolver os problemas cruciais dos japoneses.
8 de dezembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais, Notícias | Tags: campeão mundial em Doha, exemplo de Cesar Cielo, exemplo de trabalho duro na natação em piscina curta, trabalho de equipe
Se existe um exemplo de que um trabalho persistente por muitos anos, aproveitando o que há de melhor no mundo, pode permitir que o Brasil conquistasse uma posição de destaque mundial, este é o da natação em piscina curta. O Brasil tornou-se campeão do mundo em Doha neste ano de 2014, acumulando nada menos que sete medalhas de ouro, numa modalidade esportiva em que, apesar de alguns destaques individuais, não é considerado uma potência tradicional. Já tinha ídolos como Ricardo Prado e Gustavo Borges na natação, mas foi Cesar Cielo quem se especializou em piscina curta, acumulando uma série de prêmios e estimulando outros brasileiros a seguirem seu exemplo, consagrados agora em Doha, incluindo uma medalha de ouro feminina.
Cesar Cielo, Felipe Franca, Marcos Macedo, Guilherme Guido: o revezamento 4x100m medley, campeão mundial da prova – Satiro Sodre / SSPress Publicado no site da Globo, edição de domingo 7 de dezembro
Comparando com países como os Estados Unidos e a Austrália, que nas últimas décadas se destacam na natação, considerados potenciais mundiais em qualquer competição deste esporte, dado o número limitado de atletas praticantes de alto nível, o Brasil teve que se especializar nas piscinas curtas. Mas, mesmo para tanto, teve que contar com Cesar Cielo treinando nos Estados Unidos e utilizando treinadores australianos que também atuam nas universidades norte-americanas. O Brasil conquistou:
AS MEDALHAS DO BRASIL EM DOHA-2014
Ouro – Revezamento 4x50m medley masculino
Ouro – Felipe França, 100m peito
Ouro – Revezamento 4x50m medley misto
Ouro – Cesar Cielo, 100m livre
Ouro – Etiene Medeiros, 50m costas
Ouro – Felipe França, 50m peito
Ouro – Revezamento 4x100m medley masculino (Cesar Cielo, Felipe França, Marcos Macedo, Guilherme Guido)
Prata – Nicholas Santos, 50m borboleta
Bronze – Cesar Cielo, 50m livre
Bronze – Revezamento 4x50m livre misto
Cesar Cielo começou esta epopeia em 2006 quando se transferiu para Auburn nos Estados Unidos para ser treinado pelo australiano Brett Hawke, numa bolsa para estudo de Comércio Exterior. Em 2008, ganhou sua medalha de ouro com recorde olímpico com 21s30. Antes, Ricardo Prado tinha obtido em 1984 a medalha de prata em 400 metros medley e Gustavo Borges em 1992 também medalha de prata nos 100 metros livre e medalha de prata nos 200 m livres em 1996. Cielo sofreu advertências pelo uso de produtos proibido, mas totalmente absolvido de suspeita de doping.
O que parece importante é que existe agora uma grande equipe que não se resume em poucos ídolos, mas diversos em modalidades diferentes. É evidente que para as competições futuras até chegar as Olimpíadas de 2016 existem muitas etapas e esforços que deverão ser desenvolvidos em várias frentes.
Mas parece que já ficou demonstrado que, mesmo em modalidades esportivas onde o Brasil não conta com tradição histórica, existem possibilidades de se formarem equipes competitivas, ainda que isto exija a presença no exterior e uso de treinadores de reconhecida capacidade internacional.
7 de dezembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias | Tags: estudos na CIBPU, Lucas Nogueira Garcez e Eduardo Yassuda, sugestão dos anos 1960, uso do Vale do Ribeira para abastecimento de água de São Paulo
Lamentavelmente, nem sempre os administradores públicos seguem as sugestões de especialistas de alto nível como no caso do abastecimento de água, que agora se tornou crítico. Já nos primeiros anos da década dos anos sessenta, o professor Lucas Nogueira Garcez, que foi governador do Estado de São Paulo, da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, uma das maiores autoridades em hidráulica no Brasil, apresentava na CIBPU – Comissão Interestadual da Bacia Paraná-Uruguai a sugestão que o Vale do Ribeira fosse utilizado para abastecer de água à região metropolitana de São Paulo, que carecia de outras fontes alternativas importantes. Ele e o seu assistente, professor Eduardo Yassuda, posteriormente secretário de Obras do Estado de São Paulo, já apresentavam estas sugestões, apesar das diferenças de altitudes das águas daquele Vale do Ribeira e São Paulo. Muitas gerações de administradores públicos passaram pelo Estado de São Paulo e só agora surge novamente a lembrança dos estudos efetuados.
O artigo publicado no site do Estadão, por José Maria Tomazela, informa com muitos detalhes esta atual necessidade, ainda que os custos do seu bombeamento possam ser importantes. Informa que o volume pode ser correspondente a duas Cantareiras que hoje é o reservatório mais crítico e fundamental para o atendimento da metrópole paulistana, que além da Capital abrange diversos municípios ao seu redor. Não se trata somente do abastecimento para as residências, que certamente é prioritário, mas todas as atividades econômicas da mais importante região da economia brasileira. Informa-se que se trata de um conjunto de oito represas capazes de fornecer 60 mil litros por segundo.
Todos os que estão familiarizados com os mapas da região sabem que o Vale do Ribeira fica no extremo sul do Estado de São Paulo, contando também com uma parte no Estado do Paraná, tendo como sua principal cidade Registro. Trata-se de uma área que conta relativamente com muitas matas do Atlântico mantidas como reservas, com atividade econômica menos intensa do que o resto do Estado, onde existe uma represa importante que fornece energia para a produção de alumínio de um grupo privado. A sua altitude, praticamente ao nível do mar, diferencia-se bastante do planalto da região metropolitana de São Paulo.
Mapa dos municípios da região do Vale do Ribeira, parte no Estado de São Paulo e parte no Estado do Paraná
Bacia do Rio Ribeira do Iguape
Segundo o artigo publicado no Estadão, a região foi a menos afetada pela estiagem que atingiu São Paulo neste ano. O uso dessas águas para suprir a demanda da região metropolitana está no Plano de Aproveitamento dos Recursos Hídricos para a Macrometrópole Paulista, do governo estadual, que prevê alternativas para o abastecimento urbano até 2035. E esclarece que a concessão de uso das barragens feita pelo governo federal à empresa de alumínio vence em 2016. De acordo com o secretário executivo do Comitê de Bacia Hidrográfica Ribeira de Iguape e Litoral Sul, Ney Ikeda, a renovação terá de ser negociada tendo como foco o uso múltiplo das águas.
O artigo esclarece que a primeira obra de transposição da água do Vale do Ribeira para a Grande São Paulo deve ficar pronta em 2017. O Sistema Produtor São Lourenço, resultado de uma parceria público-privada entre a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) e o Consórcio São Lourenço, prevê a captação de 4,7 mil litros por segundo na Represa Cachoeira do França, no Rio Juquiá, no limite entre Ibiúna e Juquitiba. A água será transportada por 83 km de adutoras até uma estação de tratamento em Vargem Grande Paulista, na região metropolitana, para ser distribuída.
O estudo, continua o artigo, concluído em 2013, antes da estiagem que afetou o Estado, estima que a demanda de água na Grande São Paulo em 2035 chegará a 283 mil litros por segundo – 60 mil litros a mais do que a disponibilidade atual em períodos normais. Segundo o plano, o Vale do Ribeira é a área mais próxima com água disponível. E o artigo esclarece que, para Ikeda, o uso de um volume maior de água do Rio Juquiá requer novos estudos. Na opinião do técnico, o Vale do Ribeira tem abundância de água com qualidade porque as condições físico-geográficas do ambiente que abriga os recursos hídricos foram preservadas.
Não se trata de um projeto fácil de ser executado, mas, a esta altura da crise, o abastecimento de água exige soluções heroicas, ainda que custosas.
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6 de dezembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais, Notícias, Saúde | Tags: artigo no site da Bloomberg, consumo de peixes, Jogaeal na Índia, milhares de mortes de crianças principalmente, mineração, poluição das águas | 2 Comentários »
Um alarmante artigo elaborado por Rakteen Katakey e Rajesh Kumar Singh foi publicado no site da Bloomberg informando que milhares de crianças, principalmente, estão morrendo na Índia com agonias com sintomas semelhantes: convulsões, dores de queimação nas extremidades do corpo, náuseas, vômitos, febre e diarreia. Só até o final de 2011, 53 deles foram enterrados nas três aldeias em torno dos distritos de mineração de carvão contíguos de Singrauli e Sonbhadra, a cerca de 970 quilômetros a sudeste de Nova Delhi. As investigações concluíram que a maioria estava vinculada com o consumo de água, sem que os poluentes estejam identificados, mas testes efetuados por cientistas independentes apontam o principal culpado: o mercúrio.
O incidente mais famoso provocado pelo mercúrio ocorreu em 1956 na baía de Minamata no Japão, que teria matado mais de 1.500 pessoas. Como se sabe, o mercúrio é um produto que não desaparece diluído em outros elementos e as contaminações ocorrem com a sua acumulação ao longo do tempo, aparecendo em peixes criados em águas poluídas, que digeridos vão prejudicar os seres humanos, sendo detectáveis nos seus cabelos e outras partes do corpo.
Contaminação com mercúrio na Bacia de Minamata, Japão, provocado por atividades industriais
O alerta indiano deve mobilizar autoridades como as brasileiras, pois sabe-se que principalmente na Amazônia muitos garimpeiros inescrupulosos e ilegais utilizam o mercúrio na localização de minerais raros, como o ouro. Ele também vai ocorrer com as pesadas poluições dos rios com resíduos industriais, como nos rios junto às maiores concentrações populacionais como São Paulo, num processo de acumulação ao longo do tempo. E eles acabam sendo ingeridos pelos peixes que são utilizados como alimentos por parte, principalmente, da população mais pobre. E até peixes fluviais nobres muito apreciados pelos amazonenses.
O mercúrio é utilizado no garimpo clandestino do ouro principalmente na Amazônia
As grandes minas de carvão acabam atraindo indústrias que utilizando energias geradas acabam provocando poluições, que vão se acumulando nos rios e lagos, cujas águas são ingeridas pelos seres humanos, que acabam ficando com sintomas como os apontados. O artigo cita diversos casos concretos onde as vítimas não tinham outras alternativas que utilizar estas águas, sendo de conhecimento dos profissionais médicos. Também as cinzas das usinas que utilizam carvão mineral acabam provocando a poluição das águas, por conterem vestígios de arsênicos e radiação de baixo nível, mas que estão degradando o meio ambiente.
Poluição, principalmente industrial, em rios como o Tietê
Já existem populações indianas que temem o que está acontecendo, procurando imigrar das regiões mais críticas, mas outros não possuem alternativas de vida. O Brasil deve adotar um programa sistemático de combate a estas poluições e garimpos ilegais com o uso do mercúrio, pois estão colocando em risco populações, principalmente nas suas camadas mais pobres. Antes que ocorram desastres de grandes proporções.
6 de dezembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais, Gastronomia, Notícias | Tags: a concorrência com o café e o suco de laranja, artigo sobre o chá na Folha de S.Paulo, os diversos tipos de chá e formas do seu consumo
Mauro Zafalon, na sua coluna sobre commodities na Folha de S.Paulo, publica um artigo interessante informando que a demanda mundial de chá (camellia sinesis) está se expandindo 6% ao ano, enquanto a do café cresce 2%, e a de suco de laranja está se reduzindo. Ele atribui este comportamento às formas variadas em que o chá está sendo consumido, inclusive gelado ou apresentado em latas como nas máquinas automáticas de sua venda que existem em muitos lugares do mundo, substituindo água e refrigerantes. Poderia ainda ser acrescentado que existem muitos tipos de chá, começando com os mais consumidos na Ásia que são os verdes, passando pelos mais fermentados e torrados consumidos na Europa e até os de frutas e flores que existem em muitos lugares do mundo. Suas qualidades são muitas, até os mais finos, como os utilizados em pó, nas cerimônias de chá, que são rituais.
Horário Sabino Coimbra, fundador do Café Solúvel Cacique, que também utiliza a marca Pelé, afirmava que quando os chineses passassem a tomar uma xícara de café por dia, não haveria produção brasileira para atender a esta demanda. Ainda que houvesse um mito que quem consome chá não toma café, ele demonstrou na prática que isto não existe e que os povos que possuem o hábito consumir chá também podem ser conquistados para o consumo do café, o que vem acontecendo na Ásia e parte da Europa. Certamente, aqui no Ocidente ainda não existe muito costume do consumo do café frio ou gelado, inclusive na forma de refrigerantes, o que já é bastante apreciado na Ásia, notadamente no Japão.
Também existem diversos tipos de café, sendo que o mais comum é a chamado arábico, e o robusta ou conilon mais utilizado para a produção de café solúvel. Estão se diversificando as formas dos seus consumos, principalmente com a disseminação de cápsulas que facilitam a elaboração do famoso cafezinho, já com os sabores adaptados pelo chamado blend com a mistura de muitos, para se adjustar às preferências dos consumidores, podendo vir misturados até com o leite e outros ingredientes.
Plantação de chá, camellia simesis
Plantação de café para colheita mecânica
As colheitas de chá começam com as folhas tenras, sendo manuais, enquanto as do café estão passando a ser mecânicas diante dos elevados custos dos recursos humanos e desenvolvimento das máquinas adequadas para tanto. O plantio do café também vem evoluindo, e no passado as plantas chegaram começavam a produzir depois de quatro anos, tendo alturas de até seis metros, exigindo o uso de escadas para a sua colheita. Hoje, os chamados de renque confinados passam a produzir no segundo ano, com alturas mínimas para facilitarem as colheitas mecânicas. Mas continuam existindo também os cafés considerados finos, ainda colhidos manualmente.
Em países tropicais, entre os sucos concorrentes como bebidas ou refrigerantes, destaca-se o de laranja, mas, considenrado mundialmente, o de maçã supera em quantidade. Não são diretamente concorrentes do chá nem do café, que são considerados estimulantes por conterem cafeína.
Mesmo no Ocidente, começa a aparecer alguns costumes de uso do café como refrigerante, consumido normalmente gelado e com teor mais suave. Na medida em que estes costumes se generalizem, há possibilidades de aumento do seu consumo em outras faixas, como os mais jovens.
Os chás costumam ser consumidos de forma tranquila, enquanto o café é normalmente mais ligeiro, inclusive de pé como para muitos brasileiros, ainda que estejam se disseminando formas mais demoradas de apreciação também no Ocidente, com pessoas sentadas à mesa e o café sendo acompanhado de alguns doces ou biscoitos.
O que parece difícil é afirmar que estes produtos são concorrentes entre sí, dependendo muito mais das formas do seu marketing, havendo casos de sucessos de redes que estão se implantando tanto no Ocidente como no Oriente.
6 de dezembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais, Notícias | Tags: artigos de peso sobre Antonio Carlos Jobim, digno deste grande compositor brasileiro, observações de renomados especialistas, uma coleção fora de série
Por mais que se admita que todas as avaliações, inclusive esta, sejam influenciadas pelas preferências pessoais, se existe quase uma unanimidade nacional e internacional é que o compositor brasileiro Antonio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim está entre os mais destacados no mundo recente. Com uma sólida formação em música erudita, ele tinha um ouvido absoluto, como ressalta sua irmã Helena Jobim, capaz de perceber nos sons da natureza a magia que o inspirou a contribuir numa das fases mais ricas da musica popular que não é só brasileira, mas se inseria também numa brilhante do que há de melhor no jazz, contando com parcerias nacionais e internacionais da mais elevada qualidade. Captar todo este fenômeno em alguns poucos artigos é uma rara felicidade que conseguiu o suplemento Eu & Fim de Semana, do Valor Econômico, tão bem dirigido por Robinson Borges. Tornou-se um documento para ser guardado para a posteridade, de leitura obrigatória de todos quando se interessam pelo assunto.
O suplemento começa com um artigo competente de Tárik de Souza que faz um apanhado geral da obra de Jobim, que está no http://www.valor.com.br/cultura/3805234/nao-e-o-fim-do-caminho. O site do Valor Econômico recomenda ainda no mínimo a leitura de:
"A fonte de criação dele era a mata" (breve entrevista de sua irmã Helena Jobim a Tom Cardoso);
‘Tom não gostava de ser bajulado’, diz Cabral (depoimento de Sérgio Cabral);
Orquestrações sobre uma estátua (também de Tárik de Souza);
Uma frutífera aliança com o jazz (artigo de Fabricio Vieira);
À Mesa com o Valor: Jaques Morelenbaum – Por causa de você (entrevista de Robinson Borges);
Mas, eu ouso recomendar também a leitura do artigo de Carlos Calado sobre Eumir Deodato e o seu dom de arranjar, que Jobim elogiou pela orquestração de 12 de suas canções, ainda quando tinha somente 22 anos.
80 milhões de americanos presenciaram o encontro musical entre Antonio Carlos Jobim e Frank Sinatra pela NBC
São destacadas as parcerias de Antonio Carlos Jobim com monstros sagrados como João Gilberto, Vinicius de Moraes, Frank Sinatra, Ella Fitzgerald, Stan Getz, Sarah Vaughan, Chico Buarque, Benny Goodman, Count Basie e de tantos outros, os já estavam consagrados como outros ainda desconhecidos em ascensão.
Suas músicas estão entre as mais tocadas no mundo, competindo com as dos Beatles, como a sua Garota de Ipanema, com arranjos dos mais sofisticados executados pelos mais consagrados músicos. Seu papel na consolidação da Bossa Nova bem como a sua divulgação universal não tem paralelo com nenhum outro artista brasileiro.
Nestes 20 anos após a sua morte, todos os brasileiros têm motivos de sobra para se orgulhar ao contar com um patrício deste naipe, reconhecido pelos músicos mais consagrados, como os apreciadores de bons momentos.
Se a música brasileira é respeitada no mundo, uma boa parte deve-se à qualidade de músicos como Antonio Carlos Jobim, motivo de orgulho para todos nós.