10 de novembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais, Notícias | Tags: da pobreza a um dos maiores bilionários chineses, entrevista concedida a Patti Waldmeir do Financial Times, grupo Fusun, suas bases filosóficas, um exemplo de um grande empresário chinês
Como muitos grandes empresários chineses começam a se destacar no Ocidente, parece importante conhecer parte das formações de alguns deles, seus princípios filosóficos e como encaram o sucesso que estão obtendo no mundo. Minha experiência pessoal com os chineses é que são mais francos que parecem, não sendo figurinos elaborados por equipes profissionais que facilitem formar uma imagem conveniente para o mercado.
Na entrevista de Guo Guangchang, 47 anos, um dos mais destacados bilionários que formou sua fortuna pessoal que chega a mais de US$ 8 bilhões nos últimos 25 anos, concedida a Patti Waldmeir, do Financial Times, durante um almoço em Xangai, observa-se uma franqueza que é a marca de muitos chineses. Poderia decorrer da autoconfiança no grande destino que estaria reservado ao País do Meio, que se prepara para se tornar a maior economia do mundo nas próximas décadas, gostemos ou não desta posição. A íntegra da matéria, que vale a pena ser lida, pode ser acessada em inglês no http://www.ft.com/intl/cms/s/2/262628dc-64dc-11e4-bb43-00144feabdc0.html#axzz3Ih2xwPr0
O empresário Guo Guangchang do grupo Fusun
Ele compareceu sozinho à entrevista marcada com o almoço na sede de sua organização, no Bund Shanghai, fora de qualquer área mais charmosa daquela metrópole. Foi servido um almoço vegetariano, ainda que ele não se restrinja a esta orientação, mas que costuma adotar nos almoços sem luxo especial. Ele não é o empresário mais rico da China nem o mais exuberante, tendo começado como um simples camponês que procurou estudar filosofia na Fudan University, onde começou a formar o seu grupo junto com os seus colegas que continuam até hoje com ele.
No artigo, ele é comparado com Warren Buffett, e neste ano adquiriu 80% o maior grupo segurador de Portugal, a Caixa de Seguros, por US$ 1 bilhão, tendo uma ampla carteira de investimentos em diversos setores. Inclui uma joint-venture no Pramerica Fuson Life Insurance, e participações no Minsheng Bank, o maior banco privado na China. Possui parte do Club Med, que pretende controlar, e participações em empresas farmacêuticas, além de estacas de fundação.
Ele declara uma mistura de budismo, taoismo, confucionismo e um capitalismo do tipo adotado por Warren Buffett na sua formação, e é adepto da prática do tai-chi sempre que possível, cujos ensinamentos ele procura utilizar nos seus negócios na descoberta das oportunidades e tomada de decisões.
O momento certo para atacar é importante como agir, depois de sentir a mudança do momento, que pode extravazar os limites da inteligência humana. A sua vantagem seria a sua capacidade de sentir a mudança mais rapidamente possível, e tomar uma ação decisiva o mais rápido possível.
Ele informa que o tai-chi pode ser praticado a qualquer momento e qualquer lugar, o que contribuiria para a sua saúde. Do budismo, ele aprendeu a ver as coisas através das posições de outras pessoas, sendo que o dinheiro não seria a única finalidade, mas fazer o melhor para outras pessoas, com o dinheiro vindo como consequência. Também levaria a uma posição para considerar relevante o benefício às outras pessoas, contando com ajuda de uma boa equipe. Informa que Jack Ma, que ele admira, também adota posições semelhantes.
Também se refere a um conceito de xinli, que não ficou muito claro para mim, e não parece muito explicado no artigo. Ele não dependeria da riqueza nem da inteligência, mas de não desprezar os riscos, com visões de prazo longo, entre outros aspectos.
Na alimentação, que foi o início da conversa, ele se lembra do período de pobreza quando a tigela de arroz preparado pela sua mãe recebia uma camada do chamado meigancal, uma espécie de cozido chinês rico em gordura, do qual se lembra até hoje com água na boca. Lembra-se positivamente das reformas introduzidas por Deng Xiaoping, que proporcionou terras para os agricultores, livrando a China da fome.
Sobre o futuro da China, ele se preocupa com o excesso de ganância, mas entende que a procura da riqueza é compreensível para quem era pobre. Tem uma convicção que o confucionismo, o budismo e o taoísmo tendem a conduzir para uma posição de equilíbrio, lembrando que o equilíbrio espiritual interior é mais importante que a obtenção simples da riqueza.
Poderia se acrescentar que muitos orientais adotam como filosofia de vida, inclusive empresarial, muitos dos conhecimentos como do entrevistado, que não devem ser considerados exageros de misticismo, ainda que muitos interpretem isto como meras justificativas para ações de um capitalismo radical.
10 de novembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias | Tags: artigos no Valor Econômico relacionados com o encontro sobre política fiscal, dificuldades em situações de mudanças dinâmicas, medidas de estímulos e contrações fiscais
Muito diferente de exercícios acadêmicos, os profissionais de economia que tiveram experiências de responsabilidades no exercício da política econômica acabaram aprendendo o quanto é difícil a arte de combinar os diversos instrumentos, como monetários, fiscais, controles de diversas naturezas como os salariais, nos quadros dinâmicos em que as situações vão se alterando numa economia, tanto do ponto de vista interno como condicionado pelo contexto que se encontram nos seus relacionamentos com a economia mundial. Os muitos participantes do importante encontro sobre política fiscal, com suas diferentes experiências e pontos de vista, tiveram a oportunidade de apresentar subsídios neste evento patrocinado pela FGV – Fundação Getúlio Vargas que merecerão as atenções de todos quantos se preocupam com estes assuntos. Alguns dos relatos foram registrados por Tainara Machado e Arícia Martins e constam do site do Valor Econômico.
Personalidades como o professor Antonio Delfim Netto, Yoshiaki Nakano, Barry Eichengreen e Vitor Gaspar tiveram seus relatos registrados, mostrando que a situação para o aumento da taxa de crescimento econômico do Brasil apresenta dificuldades, dentro do quadro fiscal, monetário e de relacionamento com a economia mundial, tendo em vista a necessidade de manter o endividamento público em níveis controláveis, sem agravar as tensões inflacionárias. Como houve necessidade de medidas anticíclicas nos momentos em que a economia mundial entrava em recessão, hoje existem limites para o uso dos diversos instrumentos de política econômica, mas não deve haver exageros nas medidas contracionistas que acabem ampliando as dificuldades.
Professor Antonio Delfim Netto Professor Yoshiaki Nakano
Professor Barry Eichengreen Vitor Gaspar
O professor Delfim Netto deixa claro que o Banco Central ficou sobrecarregado com o problema de combate à inflação, quando a política fiscal e outros segmentos não ajudavam no mesmo sentido, como com o exagero de contabilidades criativas e reajustamentos salariais acima do aumento da produtividade. Mas recomenda cuidado nas contrações fiscais, para não acabar matando o paciente.
O professor Toshiaki Nakano se pronunciou a favor de uma drástica contenção fiscal, enquanto o professor Barry Eichengreen informou sobre as moderações nas medidas de política econômica devidamente coordenada nos seus instrumentos. Vitor Gaspar, do FMI, enfatizou as diferenças de situações dos diversos países em suas fases diferentes.
Todas estas contribuições devem ser examinadas nas suas íntegras, além do que foram apresentados nos artigos que necessitam resumir os pontos de vista colocados. De qualquer forma, o que parece é que subsídios importantes foram apresentados, mostrando o cuidado nas revisões e reformas propostas, não se encarando que elas sejam santos milagres que possam facilmente resolver os complexos problemas que apresentam outras condicionalidades existentes.
9 de novembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais, Notícias | Tags: dimensionamento do público, nível exageradamente elevado, suplementos dos fins de semana
Sempre fui partidário que a imprensa nacional como internacional fosse utilizada para a publicação de matérias de mais profundidade. Tanto intelectual e cultural, como espaço necessário para pesquisas mais profundas dos mais variados campos do conhecimento humano, como reflexões que fogem do atribulado cotidiano em que todos nós estamos envolvidos. Mas, observando o que vem sendo publicado por alguns jornais no Brasil semanalmente, ainda que sempre os procure folhear, mesmo para um leitor como eu, que tem um nível universitário e procure acompanhar o que ocorre com toda a humanidade, confesso que tenho limitações para me interessar pela quase totalidade deles. Parece que existe algum exagero, mesmo comparando com o que acontece na grande imprensa internacional, ou nas revistas voltadas para reflexões mais profundas do ponto de vista cultural. Como dizem muitos jovens hoje, é cabeça demais.
Seria interessante que estes jornais, que enfrentam problemas econômicos com seus elevados custos e publicidades que tendem a se reduzir, tenham uma postura pragmática com a questão, até para assegurar a sua indispensável sustentabilidade. Sempre haverá necessidade de que as vanguardas dos conhecimentos sejam apresentadas, dando oportunidade que os leitores dos jornais tenham a possibilidade de saber onde eles se encontram nas preocupações dos nossos intelectuais. Indicações resumidas poderiam ser oferecidas sobre outras fontes onde estas matérias estejam merecendo atenções, pois voltadas para um público diferente dos jornais diários. Sabemos que sempre haverá uma elite na sociedade que estará pensando sobre problemas que não se relacionam de forma direta com o cotidiano das pessoas, quase sempre de vital importância. O que se discute é o meio de trazer estes problemas para todos.
Não se trata de uma questão simples de ser resolvida. Todos nós temos opiniões diferentes, o que é saudável, e as prioridades que estabelecemos costumam ser diferentes. Mas os jornais diários são importantes para o desenvolvimento da democracia, como para o desenvolvimento econômico e social. Para a sua sobrevivência, há que se estabelecer uma escala de prioridade e pode-se suspeitar que o que é lido somente por um número restritíssimo de leitores deveria encontrar formas diferentes de divulgação. Somos daqueles que sempre aplaudem as matérias de maior profundidade, sabendo que conhecimentos de humanidades dos mais variados setores são importantes para as compreensões dos problemas enfrentados por um país, tanto no campo político como econômico.
Mas tenho a impressão que pode haver um desperdício com páginas preciosas de um jornal sejam simplesmente descartadas pela quase totalidade dos seus leitores, como se fora anúncios que não interessam a eles. Estamos gastando papel, tinta e principalmente um tempo precioso dos responsáveis pelos jornais, sendo talvez interessante que o custo benefício de tudo isto seja avaliado, em função do número de leitores que se interessam por muitos deles.
Assim como assuntos de política e econômica que afetam o cotidiano da população merecem ser “traduzidos” para a compreensão dos leitores, deixando o economês ou outros idiomas estranhos, parece que os conhecimentos mais intelectualizados que envolvem a cultura no seu sentido mais amplo sejam transmitidos de forma compreensível para o público.
9 de novembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais, Notícias, Saúde | Tags: alimentações práticas, alimentos oferecidos na rua, mas menos sadias, refeições simples, tendência ao aumento dos idosos
Há uma visível tendência para a simplificação da alimentação, tanto no mundo desenvolvido como nos países emergentes, enquanto há uma nítida tendência demográfica para o aumento da população de mais idade. Estes alimentos mais simples tendem a concentrar-se no uso de derivados da farinha de trigo, como os pães e massas que são mais fáceis de serem manejados pelos cozinheiros e jovens clientes, e o aumento de carnes de baixa qualidade como os transformados em hambúrgeres e embutidos, com o intenso uso do sal e outros temperos para melhorarem os seus sabores. São adequados para estimularem o uso da bebida alcoólica. Quando procuram mostrar que existem preocupações com a saúde, utilizam uma pequena folha de um vegetal ou tomates, no máximo. Estes produtos são os práticos e de custo mais baixo, servidos até nos chamados trucks nas ruas em todo o mundo, intensificando o uso do fast food nas suas novas leituras, mas ainda precárias. As pessoas parecem contar com menos tempo para alimentações sadias ainda que elas estejam se tornando mais disponíveis, como verduras e legumes de todos os tipos sem o uso de agrotóxicos, que só são consumidos por poucos mais conscientes das necessidades de sustentabilidade.
Quando se verificam os novos guias dos locais de alimentação, como os de São Paulo, nota-se a multiplicação de estabelecimentos que oferecem alimentos simples, baratos ainda que pouco saudáveis, que podem empolgar mais os jovens. Mas, com o tempo, também estes jovens se tornarão idosos, carregando mais problemas de saúde diante dos hábitos que foram desenvolvidos. Não parece haver menções importantes sobre frutos do mar mais sadios e baratos, como uma sardinha ou uma manjuba, que podem ser preparados grelhados ou no vapor, sem os inconvenientes das frituras, que, além de proteínas importantes, também podem fornecer cálcios importantes para os ossos e dentes. Quando uma dentista observou que tenho uma dentição razoável apesar da idade, tenho que me lembrar da minha juventude pobre quando a sardinha era ingerida integralmente, inclusive com seus ossos e espinhas e dos muitos vegetais utilizados, crus, e portanto mais saudáveis. São efeitos que só podem ser observados ao longo do tempo.
Foods trucks em todo o mundo
Foods trucks em São Paulo
Na Europa parece que se generalizam alimentos como os tapas espanhóis, onde uma roda de idosos aposentados beliscam alguns alimentos, conversam com seus amigos e bebem um vinho razoável, que também fornece as calorias necessárias, acabando por resultar numa ligeira refeição barata. A bebida alcoólica no Brasil nem sempre é de qualidade quando seus preços são modestos.
No Japão, onde a população já almoçava muito rapidamente, outros alimentos, principalmente de origem estrangeira, também estão sendo oferecidos em qualquer terreno que ainda não esteja sendo utilizado para novas edificações. Pelo que observamos, não parece existir uma preocupação com a sua qualidade, notadamente com relação à saúde.
Não parece que esta onda que está ocorrendo em todo o mundo seja passageira, principalmente pela necessidade de redução dos gastos com a alimentação. Chefs famosos, inclusive, também promovem o seu nome, oferecendo alguns pratos menores de preços mais convidativos. Se estes produtos tiverem as mesmas preocupações de qualidade, visando a saúde ao longo da vida, devem ser aplaudidos.
Mas as experiências passadas com o fast food só aumentaram a obesidade, inclusive entre os adolescentes, pois nem sempre ocorre uma seleção adequada, com preferência para frituras e materiais que contribuem mais para o fornecimento de calorias do que de qualidade.
Como divulgações de todos os tipos estão ocorrendo sobre a saúde, cujo custo se torna mais elevado, principalmente quando as populações vão envelhecendo, espera-se que campanhas para a sua correção venham a ocorrer, aproveitando a moda que está se disseminando em todo o mundo.
7 de novembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política | Tags: afirmações nacionais e dificuldades decorrentes do passado, análise no Financial Times, as tentativas e os problemas políticos, dois gigantes asiáticos
Um interessante e extenso artigo foi elaborado por Demitri Sevastopulo e Jamil Anderlini e publicado no site da Financial Times sobre as conturbadas relações entre os dois maiores gigantes asiáticos, o Japão e a China. Apesar dos intensos interesses bilaterais comercias e econômicos, as dificuldades políticos militares mal resolvidas que vêm desde o final do século XIV e se agravaram durante a primeira metade do século XX até o término da Segunda Guerra Mundial não facilitam as reduções dos atuais atritos como os decorrentes das disputas das ilhas Senkaku/Diaoyu, bem como as expansões militares chinesas que estão ocorrendo pelos mares que os cercam, para garantir as rotas de suprimento da China. O artigo pode ser encontrado com detalhes no: http://www.ft.com/intl/cms/s/0/23d132ae-64d5-11e4-ab2d-00144feabdc0.html#axzz3IQVPDRgM .
Os dirigentes de ambos os países sabem, para efeito de suas políticas internas, que as afirmações nacionalistas atendem uma significativa parcela de suas populações, aproveitando variados episódios para afirmarem e demonstrarem com pequenos gestos seus empenhos na defesa destas posições. Ainda que elas tenham poucos efeitos práticos, estes problemas demonstram o quanto estas questões psicológicas coletivas acabam dificultando posições mais pragmáticas. No subconsciente de muitos japoneses e chineses, ainda que estes assuntos não sejam explicitados, existem preconceitos que alimentam o caldo de cultura sobre estes assuntos delicados, que não conseguem ser superados pelos entendimentos diplomáticos.
É preciso reconhecer que as cooperações econômicas bilaterais já passaram pelos períodos áureos, quando a transferência de tecnologia do Japão para a China era mais relevante diante das diferenças dos conhecimentos tecnológicos. Hoje, já existem muitos setores onde a China conseguiu absorver conhecimentos que vieram sendo utilizadas pelos chineses nas montagens de avançados equipamentos eletrônicos de empresas internacionais.
Ainda que existam substanciais diferenças das rendas per capita, as dimensões populacionais, que são acentuadamente diferenciadas, fazem com que a amplitude dos mercados acabe sendo importante, notadamente quando a economia chinesa continua mantendo, ainda que com problemas, uma elevada taxa de crescimento, enquanto a japonesa está estagnada por duas décadas.
Muitas declarações a favor de entendimento entre os dois países ocorrem com frequência, no mínimo para o seu início. O momento parece oportuno, pois a economia chinesa continua sofrendo uma pequena redução no seu ritmo de crescimento, que ocorre com visíveis dificuldades. No Japão, efetuam-se esforços para o volta ao crescimento, inclusive com maciça injeção de recursos pelo chamado easing monetary policy, nem sempre com resultados efetivos. A cooperação entre os dois países seria de grande importância para a Ásia e para o mundo.
No entanto, parece que as preocupações políticas ainda superam as dificuldades para simples gestos, não permitindo um pragmático entendimento entre os dois países, mostrando que existem problemas que superam as conveniências econômicas. No plano individual, registra-se, no momento, o aumento do turismo de chineses, até como decorrência dos problemas que ocorrem em Hong Kong.
7 de novembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias | Tags: considerações baseados em longas experiências, encontro de política fiscal 2014 da FGV, entrevistas como de Vito Tanzi e Barry Eichengreen no Valor Econômico
A entrevista concedida por Vito Tanzi para Flavia Lima, publicado no Valor Econômico, é um interessante aperitivo indicando que o encontro promovido hoje pela Fundação Getúlio Vargas sobre política fiscal pode apresentar importantes subsídios para o Brasil e para o mundo. De décadas de trabalho acumulando uma rica experiência sobre problemas fiscais, Vito Tanzi, sempre considerado como um dos economistas que mais estudaram estes problemas, tendo experiências também no Fundo Monetário Internacional, mostra algumas limitações que não se restringem somente às autoridades, como das agências de rating que possuem poderes superiores à capacidade de suas análises. Algumas perigosas aplicações recentes, como as da easing monetary policy, podem acabar prejudicando mais o mundo que contribuindo para as difíceis soluções para a retomada do crescimento econômico em muitos países deste universo globalizado.
Não se pode entender que os problemas dos desequilíbrios comerciais em muitas economias do mundo podem ser resolvidos somente com a política cambial, provocando as desvalorizações de suas moedas. Ainda que isto resolva temporariamente os problemas de alguns, as reações que provocam de seus parceiros podem conduzir a perigosas guerras cambiais. E a prioridade para as exportações dependem também de um conjunto de outras medidas que tornem seus produtos competitivos no mercado internacional. Além disso, parece que fatores políticos e de novos comportamentos, como a redução da capacidade de reações aos desafios, podem criar também problemas.
Vito Tanzi, autoridade mundial em assuntos fiscais, e Barry Eichengreen, da Universidade de Cambridge
Outros economistas, com larga experiência sobre a aplicação de políticas fiscais como as reformas que costumam ser cogitadas e que também participam do evento, devem mostrar que em países federativos como o Brasil apresentam dificuldades adicionais.
Também as exageradas recomendações que a política fiscal seja adotada de forma restritiva em países emergentes que apresentam problemas tanto de emprego como da necessidade de manutenção dos seus níveis salariais acabam mostrando que estes assuntos são mais complexos que parecem. Simples recomendações que podem ser formulados nos papéis encontram terríveis resistências políticas e de outras naturezas.
Espera-se que contribuições e debates que estão sendo travados mostrem o que é realmente exequível de ser adotado para contribuir na recuperação e desenvolvimento destes países.
7 de novembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias | Tags: as dificuldades fiscais, efeitos controvertidos, necessidade de outras condições, novo impulso monetário do Bank of Japan
Parece fácil ao The Economist elogiar a maciça expansão creditícia do Bank of Japan comandada pelo presidente Haruhiko Kuroda, que nem dentro daquele banco central recebeu uma aprovação unânime, pois se trata de pimenta nos olhos dos outros. Os editores da revista inglesa reconhecem que a medida foi em dose mais que cavalar, fazendo com que os ativos do Bank of Japan superassem em muito ao do Banco Central Europeu e do Sistema Federal dos Estados Unidos. É preciso compreender que uma maciça easing monetary policy para provocar uma forte desvalorização do yen como esta acaba provocando dificuldades adicionais aos seus parceiros comerciais, como ocorre com as reclamações já feitas pelas autoridades filipinas, prejudicando outras economias mais fracas. Acaba estimulando uma guerra cambial, introduzindo incertezas adicionais para a economia mundial e não se constituindo em garantia da recuperação nem da economia japonesa, como reconhecido pelo artigo publicado.
Na minha modesta opinião, nenhuma política econômica pode concentrar todo o fogo num dos seus instrumentos, o monetário, quando o fiscal se encontra em sério risco, com o elevado nível do endividamento público do Japão. A elevação do imposto de vendas de 5 para 8% derrubou a demanda da classe média japonesa, e agora o The Economist afirma que não basta elevar para os 10% como já previsto e difícil de ser efetivado, mas chegar a 20% imaginável pelos mais radicais, de forma paulatina, algo como 1% ao ano. Além disso, muitas outras condições precisariam ser preenchidas, como as reformas mal definidas pela revista. Seria interessante que estas recomendações fossem propostas para o Reino Unido, para ver como arde a pimenta no próprio corpo. Uma recomendação desta natureza coloca em dúvida a sanidade dos seus redatores, como já vêm excedendo nas considerações políticas sobre o Brasil.
Gráfico publicado na revista The Economist
Existem analistas experientes que reconhecem que este tipo de recomendação se encontra atualmente em voga entre determinadas correntes de economistas, propondo fortes restrições fiscais para correção de desequilíbrios que estão se observando em algumas economias. Ainda que situações equilibradas do ponto de vista macroeconômico sejam desejáveis, há que se preocupar quando os remédios podem matar os doentes, notadamente as economias emergentes.
Deve-se reconhecer que a Coreia do Sul foi uma das primeiras a resistir às recomendações do FMI – Fundo Monetário Internacional alegando que a proteção do emprego e da renda dos seus recursos humanos era mais importante que as temporárias dificuldades de suas contas fiscais. Evidentemente, situações equilibradas proporcionariam mais tranquilidade para os credores externos, mas quando as dívidas externas não são tão cruciais, nem sempre a elegância macroeconômica deve ter tanta prioridade.
Mesmo reconhecendo que cada economia tem suas características próprias, e as experiências internacionais sejam sempre importantes, a análise correta da situação interna de cada país, principalmente dentro dos seus condicionamentos políticos, parecem ser recomendáveis ouvir-se um pouco mais a opinião daqueles que sofrem cotidianamente com os seus problemas, que nem sempre são compreensíveis para analistas estrangeiros, mesmo com as supostas capacidades de suas respeitáveis bagagens de experiências.
6 de novembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais, Gastronomia, Notícias | Tags: a prática no mercado, aceleração das inovações e divulgações com Ferran Adrià, o G11 do Conselho de Culinária Basca
Nada como uma viagem por algumas cidades do mundo como Tóquio, Barcelona e Cingapura para constatar a aplicação prática dos princípios que estão sendo destacados nas reuniões como o do G11 da culinária, representado pelos membros do Conselho do Centro da Culinária Basca, chefiada por Ferran Adrià, que acaba influenciando as intensas inovações que estão ocorrendo na culinária cotidiana do mundo, que aparenta ser muito mais do que estão sendo destacados. Todos enfatizam a valorização dos ingredientes locais, o uso de inovações aproveitando a biodiversidade existente e o respeito às lições das tradições que vieram sendo acumuladas por séculos. Não há necessidade de se experimentar restaurantes badalados e caros, pois, no atual processo de disseminação das inovações, o que parece indispensável é que eles cheguem à massa de consumidores nos muitos estabelecimentos que utilizam parte dos princípios que estão sendo destacados.
É evidente que quando um grupo seleto de conhecidos chefs com prestígio mundial se reúne em São Paulo, como ocorreu nos últimos dias, a imprensa destaque o que eles estão pensando e constatando. Mas seus restaurantes acabam sendo limitados ao acesso de poucos privilegiados. Parece que há um processo mais amplo onde parte das inovações está sendo utilizada até em estabelecimentos modestos, fazendo com que haja uma verdadeira revolução de outros anônimos que estão contribuindo com o que impressiona até mesmo os observadores menos especializados. Parece que são deles que os grandes chefs retiram parte dos aprendizados que ajuda a absorver, sofisticar e a divulgar para alegria e prazer de todos quantos procuram se alimentar de forma mais saudável e prazerosa em qualquer parte do mundo.
Componentes do G11 da culinária, de pé: Alex Attala, Michel Bras, Gastón Acurio, Kamilla Seidter e Rodolfo Guzán; sentados: Yukio Hattori, Enrique Oliveira, Ferran Adrià, Joxe Alzega e Joan Roca, que se reuniram em São Paulo
Como muitos sabem, Cingapura exerce o papel de capital de toda a região do Sudeste Asiático, incluindo a gigantesca Indonésia, esta muito rica na sua variada cozinha que recebeu influências múltiplas, aproveitando a ampla diversidade dos produtos disponíveis no país. Fomos convidados pela família do professor Chong Tow Chong, reitor da Singapore University of Technology and Design, para jantar num agradável restaurante ao ar livre de cozinha indonésia, evitando os pratos que eram exageradamente apimentados. Algumas informações sobre estes restaurantes podem ser obtidos no: http://www.thebestsingapore.com/eat-and-drink/the-best-5-indonesian-restaurants-in-singapore/ .
Um exemplo da diversificada cozinha da Indonésia que pode ser apreciada em Cingapura
De Tóquio, tradicional centro de uma das melhores culinárias do mundo, até a japonesa reconhecida neste ano pela Unesco, vamos destacar dois exemplos que muito me impressionaram pela criatividade. Um seria o Sakanaya Rokuzo, no luxuoso Roppongi Hills, onde fui surpreendido por um jantar de preço modesto, que entre outras delícias leves apresentava um excepcional e inovador cozido no vapor de legumes e peixes em fatias, que podiam ser apreciadas com um molho suave. Estas informações podem ser obtidas também pelo http://www.sakanaya-rokuzo.com/english.html .
Cozido de legumes e fatias de peixe no vapor, a que se seguia um udon aproveitando a calda da água deles
Como pratos introdutórios foram consumidos ostras frescas, grelhados de peixe e outros produtos, tudo acompanhado por dois tipos de chás, e fechando com uma sobremesa de gelatina do tipo japonês. O incrível é que este lauto jantar não chegava a uma conta por pessoa correspondente a US$ 40.
Outro estabelecimento na mais famosa rua de Tóquio, a Omotesando, muito frequentada por estrangeiros como jovens inovadoras em fashion, foi o Yasai Yamei, que foi até objeto de uma reportagem do The Japan Times, que apresenta uma criativa culinária veggie, ainda que utilizando alguns peixes e suas ovas. Ele está no http://www.japantimes.co.jp/life/2008/06/20/food/yasaiya-mei-bespoke-veggies-in-omotesando/#.VFtwBv9OVLN .
Um exemplo de um prato do Yasai Yamei
O jantar completo e impressionante, também a um custo inferior a US$ 40 por pessoa, referia-se aos ingredientes típicos de outono, pois a culinária japonesa enfatiza os de cada estação. Começava por uma emocionante salada com cerca de 15 produtos crus, crocantes e apresentados num vasilhame de gelo picado, acompanhado de um molho mantido quente numa espécie de espiriteira. Todos estes vegetais, muitos desconhecidos dos brasileiros, tinham sabores destacados, sendo produzidos especialmente pelos agricultores que mantinham um acordo com esta rede de restaurantes. Destaco uma fatia de abóbora para também ser consumida cru, de sabor muito agradável e diferente.
Seguia-se um grande vasilhame com pequenos recipientes onde legumes cozidos, com molhos diferenciados, alguns com peixes e suas ovas, algo emocionante para qualquer comensal, todos para serem apreciados como slow foods. Seguia-se a refeição propriamente dita (os japoneses consideram o arroz ou o udon acompanhado de conservas e um caldo, como a refeição, sendo todos os pratos anteriores como aperitivos, para preparar a boca para o prato principal), era uma espécie de risoto de um arroz especial, com pequenos pedaços de peixes e cogumelos, algo fora de série e leve.
Seguia-se uma sobremesa tipicamente japonesa, com leituras novas, algo como feito de pasta de arroz, de delicado sabor, muito leve. Tudo acompanhado de variados tipos de chás. Todos os ingredientes deste jantar eram locais e frescos, muitos ainda desconhecidos até de apreciadores da boa culinária. Uma inovação surpreendente e acessível a qualquer bolso.
Em Barcelona, considerado hoje um dos centros mais inovadores da cozinha mundial, já postamos que fomos jantar no restaurante Bravo, no hotel W, do chef Carles Abellan que nasceu nesta cidade e hoje conta com fama internacional, rivalizando com Ferran Adrià, com quem trabalhou por longo tempo. Entre os muitos pratos que apreciamos estava um cordeiro cuja receita original girava em torno do ano de 1500, evidentemente com leituras novas, notadamente no excepcional molho com base em vinhos de boa qualidade, como especiarias difíceis de serem diferenciadas. Começava com o perfume deste prato, que valia a pena ser apreciado.
Restaurant Bravo onde Carles Abellan apresenta pratos com novas leituras sobre receias que vem desde o século XV
O que parece possível constatar-se é que está havendo uma fase de inusitadas inovações nas culinárias de todo o mundo, o que deve ser saudado, pois, além de contribuir para a saúde de todos, proporciona um elevado nível de satisfação, para compensar todas as notícias negativas que continuam sendo disseminadas pelo mundo.
5 de novembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais, Gastronomia, Notícias | Tags: adequado para dietas, artigo de Kate Bratskeir no The Huffington Post, origem na China, uso na cozinha
Um interessante artigo, publicado por Kate Bratskeir no site The Huffington Post, esclarece a origem do hashi, este genial e simples conjunto de dois palitos que começou a ser utilizado na China, inicialmente na cozinha quando se permitia controlar os alimentos que estavam sendo cozidos, evitando-se machucar com a alta temperatura. Evidencias do seu uso foram localizados nas tumbas na província de Henan, na parte central da China. Inicialmente eram de bronze e eram utilizados nos vasilhames e nas águas quentes, no preparo de alimentos, segundo o artigo. No ano 400 houve uma expansão da população, pois o hashi permitia alimentar-se em pequenas porções de alimentos, tendência que se espalhou pela Ásia.
O uso do hashi permite que os alimentos sejam levados à boca em pequenas porções. Shutterstock / HLPhoto
Existem, segundo o artigo, versões que atribuem a Confúcio esta possibilidade, ele que era vegetariano, e apresentava a alternativa de ser um utensílio que desestimulava a violência, ao contrário de uma faca. Assim, o hashi seria um símbolo de paz.
Hoje, o hashi é recomendado àqueles que desejam manter ou reduzir o peso, pois ao contrário do garfo que estimula se alimentar em grande quantidade, o hashi obrigaria a pequenas porções. É preciso constatar que esta é uma versão Ocidental, pois se verifica que existem orientais que são capazes de ingerir uma grande quantidade de alimentos com o uso do hashi, pois se costuma também levar a tigela à boca, ajudando com o hashi a empurrar os alimentos para dentro.
As cargas culturais nem sempre são possíveis de serem entendidas pelos que não estão acostumadas com elas. Os japoneses ficam chocados quando alguém simplesmente enterra o hashi, por exemplo, sobre uma porção de arroz, deixando-os em pé, durante uma refeição com amigos. Na realidade, tanto no budismo como no xintoísmo, que possuem o hábito de oferecerem pequenas porções de alimentos aos falecidos, os hashis são usados nestas formas junto aos pequenos altares. Se isto é feito numa refeição, acaba dando a chocante impressão que se deseja a morte de um dos participantes. O costume correto é depositar os hashis nos seus descansos.
Para quem não está acostumado ao uso dos hashis, existem hoje algumas pequenas peças que ajudam a mantê-los juntos, facilitando o seu uso, inclusive para as crianças. Na sua ausência, os restaurantes costumam oferecer um elástico que exerça esta função.
Fala-se também sobre outras etiquetas para o uso dos hashis, mas o que se constata é que, mesmo entre os povos que os utilizam, existem variações pessoais no seu uso, não se devendo importar com algumas imperfeições. É preciso entender, também, que não se utilizando o garfo e a faca os alimentos devem ser servidos cortados em porções pequenas, e os japoneses não se constrangem em cortá-los com os dentes quando isto não ocorre.
Entre os chineses aparecem também hashis de plásticos (originalmente eram de marfim), mais longos, principalmente para se servir das apresentações coletivas para pratos individuais. Como são flexíveis, pode haver algumas dificuldades para o seu manejo. Este instrumento tornou-se tão popular em todo o mundo, que se verifica no Ocidente crianças manejando-os com grande habilidade.
5 de novembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias | Tags: a experiência japonesa, correções possíveis, expansão exagerada
Num artigo elaborado por Stella Fontes, publicado no Valor Econômico, informa-se que o faturamento da indústria farmacêutica brasileira vem crescendo de forma interrupta desde 2010 de 9 a 11% anual, segundo informações fornecidas por Antônio Brito, da Interfarma – Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa, tendência que se estima deva sofrer um ajustamento no futuro. A entidade representa 55 empresas que respondem pelo varejo de 80% dos medicamentos de referência e 33% dos genéricos, 46% dos medicamentos isentos de prescrição e 52% dos chamados tarjados, que requerem prescrição médica, segundo consta do artigo mencionado. Esta expansão é explicada pelo aumento da nova classe média e o acesso dos pacientes a estes medicamentos, o que evidentemente está acima do razoável, estimando-se que o Brasil é o quinto mercado destes produtos no mundo, segundo informações de outras fontes.
Ainda que se preveja um arrefecimento deste crescimento no futuro, atribui-se a sua razão ao aumento de doenças de alta complexidade que exigem medicamentos de alto custo nem sempre acessíveis aos pacientes brasileiros. Ao lado destas informações, poderiam ser esboçadas algumas hipóteses que levam a este exagero. De um lado, uma parte da publicidade desta indústria volta-se aos médicos que prescrevem os medicamentos para os seus pacientes, e existem informações de algumas distorções neste processo. E o sistema de venda em pacotes, contendo mais medicamentos que os necessários durante o período prescrito pelos médicos, cujas sobras acabam virando problemas, com a necessidade de que sejam agora eliminados com critérios, de forma que não sejam consumidos indevidamente por desavisados.
Dados publicados no Valor Econômico
Uma experiência com as farmácias no Japão poderia ajudar a sanar parte dos exageros. Mesmo com as prescrições médicas, os pacientes naquele país são obrigados a preencherem informações médicas adicionais nas farmácias, para verificar a possibilidade de algumas reações ou incompatibilidades, o que é de responsabilidade de uma farmacêutica habilitada.
Os fornecimentos dos medicamentos são por unidades, dentro da quantidade indispensável para a prescrição médica com detalhes das dosagens e de quando devem ser utilizados, pelos dias prescritos. As farmacêuticas esclarecem as finalidades perseguidas por estes medicamentos, bem como individualizando cada um deles, quando são mais de um. Com isto, não há possibilidade de haver sobras que não sejam utilizadas, fazendo com que os custos sejam menores do que os dos pacotes. As farmácias contam com uma dependência para estes controles, como costumam ocorrer nos hospitais.
Ainda que haja uma pequena demora, todos estes detalhes deixam os pacientes mais tranquilos, esclarecidos devidamente, e com a possibilidade de uma economia, quando as dosagens prescritas não atingem o conteúdo de um pacote. Tudo indica que para estes aperfeiçoamentos seriam necessárias algumas medidas adicionais da ANVISA, mas estabeleceu-se entre os governos brasileiro e japonês um acordo de cooperação, que poderia ajudar na introdução de um aperfeiçoamento desta natureza, que beneficiaria toda a população.