Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

A Lamentável Estagnação Japonesa

1 de novembro de 2010
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais | Tags: empresariais e políticas, hipóteses das causas a serem discutidas, intercâmbios com o exterior

O Japão, uma economia dinâmica que assombrou o mundo com sua rápida e acelerada recuperação no pós-Segunda Guerra Mundial, parece passar por uma fase de lamentável estagnação política e econômica, que já perdura décadas, deixando parte de sua população pouco motivada. A identificação das causas deste comportamento, ainda que incômoda e demorada, precisa ser discutida de forma a contribuir para aquele país voltar a prestar a sua importante contribuição para a convivência sadia e positiva com o resto do mundo.

É claro que o nível de bem-estar atingido pela sua população não estimula mais o empenho de esforços hercúleos que foram feitos no passado para provocar a sua aceleração. Tudo indica que houve um exagero na avaliação interna da eficiência do seu trabalho coletivo, respeitável, mas que tende a inibir as capacidades individuais que propiciam a consolidação de fortes lideranças, como já existiram no Japão no passado.

A cultura desenvolvida durante a Era Meiji, quando o Japão reconheceu a sua defasagem tecnológica com relação à evolução que ocorria no mundo de então, decorrente do longo isolamento a que se submeteu com relação ao exterior, parece ter estimulado uma formação de quadros jovens para absorverem inovações e realizarem grandes empreendimentos com uma administração pública eficiente. O mesmo espírito inspirou a formação de fortes lideranças políticas, militares e empresariais, sendo que parte acabou desabando no exagerado nacionalismo-militarista depois dos seus sucessos nas guerras com a China, ocupação da Coreia e, principalmente, com a Rússia no começo do século XX. As Eras Taisho e Showa resultaram na preparação da Segunda Guerra Mundial, sob a alegação da necessidade de suprimento de recursos para o seu desenvolvimento.

Estes quadros consolidados foram capazes de transformar a indústria destinada aos equipamentos bélicos no atendimento das necessidades do seu desenvolvimento, voltando-se novamente a integrar-se com o resto do mundo, tanto pelo suprimento das matérias-primas que necessitavam como colocação dos produtos decorrentes de sua preparada mão-de-obra. Contaram com a ajuda do Plano Marshall, mas abriram mão da segurança externa, mediante um acordo em que os Estados Unidos proporcionavam o guarda-chuva de que necessitavam.

Ficaram vulneráveis às pressões políticas provenientes do exterior. Dependentes das fontes de energia estrangeiras, os japoneses foram afetados pelas crises petrolíferas e financeiras que se seguiram, mas com redobrados esforços ampliaram o seu mercado interno, que tiveram como efeitos colaterais a formação de uma bolha, a partir do seu setor imobiliário.

Isto parece ter gerado um sistema de autoalimentação de pessimismo que vai do campo político, econômico e acadêmico incapaz de se firmar sequer regionalmente, diante dos atritos com seus vizinhos chineses e russos, só para citar exemplos. Suas iniciativas empresariais passaram a ser modestas, sem capacidade para concorrer com os tigres asiáticos que seguiram seus passos do pós-guerra. O seu patrimônio mais significativo, que eram os recursos humanos, ficou nas suas experiências de um arquipélago, incapazes de se adaptar adequadamente ao mundo globalizado, ainda que sempre existam honrosas exceções. Baseando-se exageradamente nos sistemas desenvolvidos internamente, não parecem capazes de um forte enraizamento no exterior, com intercâmbios relevantes de tecnologias. Tudo parece girar com quadros intermediários bem preparados, mas sem fortes lideranças políticas ou empresariais.

No entanto, o patrimônio de conhecimentos e capacidade de geração de recursos mantém-se elevado e fortes lideranças podem proporcionar lampejos de recuperação, que se desejam sustentáveis. Parece que os desafios que estão enfrentando são capazes de gerar líderes mais ousados, se houver uma maior compreensão cultural de que eles são indispensáveis, tanto no campo político como empresarial. Não é internamente que precisam competir, mas internacionalmente, e podem fazê-lo.


Eleição no Brasil: Além das Notícias da Imprensa

1 de novembro de 2010
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais | Tags: algumas lições possíveis, nem sempre elas constam dos noticiários, todas as eleições refletem tendências

Dilma_Rousseff_2010 Este segundo turno das eleições brasileiras, como todos os demais pleitos, apresenta algumas tendências e revelam realidades que nem sempre constam das análises usuais da imprensa. Sempre houve no Brasil uma tentativa de equilíbrio, concedendo maior poder político às regiões que não possuem poder econômico. Um sinal claro desta tendência está nos limites das bancadas no Congresso, que apresentam um máximo de 70 deputados federais para São Paulo, e um mínimo de 7 para cada Estado, por menor que seja. E pelo fato do País ser uma Federação, todos os estados possuem 3 senadores cada.

Mesmo no setor privado, sempre se evita que a presidência da CNI (Confederação Nacional da Indústria) seja ocupada por um empresário paulista, tendo predominado os nordestinos, mesmo que suas empresas não sejam expressivas do ponto de vista nacional. Hoje, está ocupada por um mineiro.

Os tucanos de São Paulo são considerados, por muitas correntes do PSDB, como os que permaneceram no poder por um período demasiadamente longo, com a Presidência de Fernando Henrique Cardoso. Eles e outros paulistas encontram naturais resistências das lideranças políticas de outros Estados, não só de Minas Gerais que teve o seu máximo líder, Aécio Neves, preterido em suas pretensões. Ele solicitava uma prévia dentro do partido, para definir o candidato partidário, sabendo das tendências de tucanos de outros Estados, mas acabou atropelado por José Serra, que utilizava o argumento que estava bem cotado nos levantamentos das agências de opinião pública. Isto explica parte da baixa votação que Serra obteve naquele estado, mesmo com o esforço que foi efetuado no segundo turno.

Em política, todos sabem que os concorrentes mais próximos são sempre os que podem acabar prejudicando os candidatos, de qualquer partido. Assim como na base governista existem resistências veladas às algumas correntes do PT, também existem na oposição, pensando nas possibilidades futuras de alguns grupos.

Muitos se mostram surpresos com o discurso de agradecimento da presidenta eleita Dilma Rousseff, que entendiam que seria protocolar. No entanto, ela acabou traçando os aspectos fundamentais do programa que pretende executar. Eles definem as suas prioridades, além dos naturais acenos no sentido de um amplo entendimento, pois será a presidenta de todos. O que pode ter diferenciado foi a sua tentativa de traçar uma visão de longo prazo, importante dentro de um quadro de agentes procurando resultados imediatos.

Muitos analistas não atentaram que, como profissional que atuou na administração estadual e também na federal, no setor de minas e energia, acabou adquirindo a importante característica de pensar num prazo mais longo, como os projetos destas áreas exigem para maturar. Esta visão estratégica pode ser importante na concorrência do Brasil com outros países emergentes.

Não se pode subestimar a experiência que ela acumulou durante a sua carreira ponteada de dificuldades, sob a alegação de que somente participações em pleitos eleitorais habilitam os candidatos para as negociações políticas. Como no caso do Lula da Silva, não é a educação formal que proporciona qualificações para a liderança, principalmente quando na democracia é o voto popular das amplas camadas mais modestas que determinam os resultados.

É preciso dar um crédito de confiança a ela que chegou até o topo, pois poucos o conseguiram. Afinal, o sucesso dela vai contribuir para a melhoria da situação de todos os brasileiros.


Petrobras Fornece Etanol Para a Toyota Tsusho

30 de outubro de 2010
Por: Paulo Yokota | Seção: Notícias | Tags: alcoolquímica, fornecimento de etanol a longo prazo, Petrobras e Toyota Tsuyo | 2 Comentários »

O jornal econômico japonês Nikkei anunciou que a Petrobras – Petróleo Brasileiro S.A. assinou o primeiro contrato de fornecimento de etanol em longo prazo, em quantidade expressiva, com a Toyota Tsusho Corporation, empresa japonesa de trading que opera globalmente. Segundo a notícia, o contrato é de US$ 820 milhões, e envolve o fornecimento de 143 mil metros cúbicos anuais de etanol, que será utilizado numa planta de polímero termoplástico, instalado em Taiwan.

A possibilidade da alcoolquímica já vinha sendo apresentada pelo Brasil aos japoneses desde 1985, quando o Pavilhão Brasileiro na Expo Tsukuba tinha a tecnologia do álcool como tema, hoje mais conhecido como etanol, tanto para utilização como combustível como matéria-prima para a indústria química. No Brasil, a Braskem vem utilizando o etanol para a produção de plásticos que, além de ter origem vegetal, apresenta a possibilidade de produzir plásticos biodegradáveis e, portanto, amiga do meio ambiente.

petrobras Toyota_susho

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Notícias e Curiosidades do Japão

25 de outubro de 2010
Por: Naomi Doy | Seção: Notícias | Tags: na semana da biodiversidade, notícias da NHK

A televisão oficial japonesa NHK divulgou as seguintes notícias que constituem curiosidades:

Sininhos para afastar ursos – Turistas que vão às regiões montanhosas apreciar as cores do outono estão notando que a venda de “sininhos” para afugentar ursos estão em alta, vendendo-se quase o dobro do que no outono de anos anteriores. São sininhos para pendurar nas mochilas ou no cinto, cujo barulho assusta e afugenta ursos. Jornais e TVs alertam para o aumento de ataques de ursos nas áreas rurais, nesta época em que japoneses apreciam excursionar pelas montanhas. Lojas de conveniências de alguns locais não estão dando conta do estoque de sininhos.

Chuvas em Amami-Ôshima – Chuvas torrenciais têm castigado o sul de Kyushû, mais duramente a Ilha de Amami-Ôshima, causando desmoronamentos e inundações que desabrigaram centenas de pessoas. A NHK informa que o mar de coral de Amami foi coberto pela lama que as águas da chuva levaram mais de 100 metros mar adentro. Corais necessitam de muita claridade e luz solar para se desenvolver e sobreviver. Mergulhadores constataram que lama e areia, de 10 a 20 centímetros de espessura, cobriram os corais. Teme-se pela integridade dos mesmos.

A noção de furusato/satoyama – Furusato/satoyama (torrão natal) são palavras que trazem à memória a imagem nostálgica da proximidade do homem com a natureza. A topologia peculiar do Japão, aliada à herança agrocultural, proporcionou uma coexistência equilibrada entre homem e natureza que muito contribuiu para que o nível da biodiversidade tivesse sido protegido. Autoridades japonesas querem aproveitar essa herança cultural e promover o que eles denominaram Iniciativa Satoyama, durante o COP10 em Nagóia. A NHK pretende acompanhar o papel desta iniciativa, e como ela poderá ser usada, até internacionalmente, para promover a biodiversidade.


Estímulos Externos Para a Índia

25 de outubro de 2010
Por: Paulo Yokota | Seção: Notícias | Tags: estímulos dos Estados Unidos, papel da China na Ásia, receios do papel da China

Parece claro que alguns países ocidentais entendem que a Índia, por contar com um sistema democrático, deve ser estimulada a um desenvolvimento mais rápido, para exercer um papel estratégico na Ásia contrapondo-se à China. Num artigo constante do site do Financial Times, os jornalistas James Lamond e Anjli Raval, de Nova Delhi, e Michiyo Nakamoto, de Tóquio, publicam um artigo informando que os Estados Unidos estimulam a Índia a ter um papel mais importante na Ásia.

Eles entendem que a próxima visita do presidente Barack Obama visa um papel mais importante na Ásia, tanto do ponto de vista comercial, político como de segurança internacional conjunta. Informam que países asiáticos ficam mais ansiosos com as pretensões chinesas. Reportam ao estabelecimento do acordo de livre comércio estabelecido com o Japão na atual visita do primeiro-mnistro hindu a aquele país, como primeiro passo da viagem que envolve o Vietnã a Malásia.

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Primeiro-ministro hindu Manmohan Singh durante entrevista coletiva a jornalistas japoneses

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Contrastes Entre Consumidores de Diferentes Países

25 de outubro de 2010
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais | Tags: aquecimento do consumo brasileiro, reticências dos consumidores japoneses, viagens internacionais

O jornal Folha de S.Paulo reproduz um artigo do jornalista Martin Fackler no seu suplemento do The New York Times mostrando que os jovens no Japão não compram, dificultando a recuperação da economia daquele país que passa por um processo de deflação e dificuldades na recuperação econômica. Diferem de alguns europeus que continuam desejando um nível de bem-estar acima do possível com a sua produção, e dos consumidores dos países emergentes como o Brasil, que exageram nas suas viagens internacionais.

Entre os brasileiros, o presidente Lula da Silva, com seu carisma, conseguiu que os consumidores continuassem a comprar, quando o mundo foi atingido pela última crise. Explicou que se retraíssem o seu consumo, o impacto da crise seria mais profundo, e acabou colhendo um resultado que surpreendeu todos os demais países, com uma recessão mínima, e uma recuperação vigorosa.

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Viagens dos Jovens Brasileiros

24 de outubro de 2010
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais | Tags: constrangimentos para os pais, prioridades diferentes, viagens dos jovens brasileiros para o exterior

A jornalista Talita Bernelli publica seu artigo, Excursões ao exterior constrangem pais de alunos, na Folha de S.Paulo, mostrando que muitas escolas promovem viagens dos seus estudantes ao exterior, implicando em custos razoáveis para seus pais. O constrangimento ocorreria na medida em que eles não podem arcar com estas despesas adicionais, criando uma situação de desconforto no relacionamento com seus filhos, e destes com seus colegas.

Não se duvida que tais viagens são sempre boas, pois proporcionam oportunidades para os aprendizados in loco do que é difícil de serem efetivados somente por meio de livros, aulas e mesmo de material audiovisual. Além do convívio com os colegas e orientadores, eles terão suas visões de outras formas de viver, abrindo os seus horizontes. Mas isto está parecendo mais uma lucrativa atividade econômica de agências de turismos, que tiram partido da atual situação cambial do que de atividades educacionais.

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Montagem com fotos de Marcos Corazza Campos e divulgação (Veja Jovens). Catálogo de agência

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Notícias que se Destacam

24 de outubro de 2010
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais | Tags: notícias de destaque, o drama dos mineiros chilenos e suas famílias, Pelé, permanência nos veículos de comunicação

Só se percebe claramente a importância de uma notícia para o mundo quando ela se sustenta por um bom período nos veículos de comunicação. O drama dos mineiros chilenos e seus familiares, além de conquistar uma audiência recorde em muitas televisões de todo o mundo, continua contando com desdobramentos que dão a dimensão de sua importância. Acabou provocando uma solidariedade universal, além de mostrar os esforços que foram feitos, utilizando tecnologias avançadas. E mais importante, resultou em sucesso, ainda que suas sequelas possam se prolongar por muito tempo.

Os 70 anos de Pelé, considerado o atleta do século, é outra notícia que vem ocupando um espaço importante em muitas partes do mundo. Sou testemunha do conhecimento de suas façanhas nos confins da Ásia. Ao informar que eu era um brasileiro, a primeira imagem que surgia nos meus interlocutores era: Pelé! Nenhum outro brasileiro se identificou com o Brasil como ele, sendo reconhecido por todo o mundo. Recentemente, na Expo Xangai 2010, quando no Pavilhão Brasileiro se exibia um gigantesco vídeo com o futebol brasileiro, notei que muitos chineses que assistiam à exibição exclamavam: Pelé!

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Resgate dos mineiros soterrados no Chile e os 70 anos de Pelé: eventos que marcam

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A Reunião Ministerial do G-20 na Coreia do Sul

24 de outubro de 2010
Por: Paulo Yokota | Seção: Notícias | Tags: ausência brasileira, decisões tomadas, reunião ministerial e de presidentes dos bancos centrais

Os veículos de comunicação de todo o mundo noticiaram sobre as reuniões do G20 na Coreia do Sul, reunindo ministros e presidentes dos bancos centrais. Ainda que as expectativas de resultados concretos fossem pequenas, pode-se afirmar que o que era possível foi alcançado. Obteve-se uma declaração de que adicionais desvalorizações cambiais devem ser evitadas, perseguidos maiores equilíbrios comerciais mundiais, e uma redivisão do poder junto ao FMI, com europeus cedendo alguns cargos para países emergentes.

As grandes ausências foram as do Brasil, quer seja do ministro da Fazenda quer seja do presidente do Banco Central. Sabia-se que o alvo principal seria a exagerada desvalorização do câmbio chinês, que provocavam reações como a desvalorização do dólar norte-americano sem que houvesse um consenso razoável sobre estes assuntos, que permitissem tomadas de posições práticas. Mas seria a preparação da reunião em nível presidencial do G20, em novembro próximo na mesma Coreia do Sul.

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Ministros e presidentes de bancos centrais na reunião do G20 na Coreia do Sul

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Perspectivas Futuras da Índia

24 de outubro de 2010
Por: Paulo Yokota | Seção: Notícias | Tags: diferenças com o Brasil, dinâmica democrática, grande população em crescimento, incorporação da classe E

Alguns artigos são publicados em jornais importantes indicando que a Índia continua crescendo rapidamente, tendo até possibilidades de ultrapassar a China nas próximas décadas. Um dos elementos utilizados nestas análises é a sua demografia. Além de apresentar um crescimento populacional mais elevado, sua estrutura é bem mais jovem, contando com mais mão de obra ativa, e menos idosos dependentes. Chama atenção, também, pelo seu sistema democrático, que atrai muitos que possuem ideologias que dão grande importância às liberdades de iniciativa, fazendo com que o seu setor privado seja mais expressivo.

O jornal Folha de S.Paulo traz hoje um interessante artigo do jornalista Toni Sciarretta com o título Índia recria economia com capital privado forte, mostrando a sua diferença com outro BRIC, o Brasil. Lá, informa o jornalista, a classe E está sendo incorporada ao mercado pela iniciativa privada, que cria produtos acessíveis, enquanto aqui é o governo que induz a melhoria da distribuição de renda, acrescentando novos consumidores. Ambos os países apresentam trânsitos caóticos, que também se encontram em algumas partes da China.

mapa da india

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