16 de dezembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais, Notícias | Tags: desvios chocantes do conceito sobre o Natal, o que acontece no Japão, predomínio dos interesses comerciais no Ocidente
Pode parecer utópico, mas quando se depara como uma notícia publicada no jornal The Independent e republicada no site do O Globo onde se informa que um restaurante japonês colocou um cartaz avisando que na noite de Natal não seriam aceitos casais, pois os solteiros ficariam deprimidos, observa-se a distorção assustadora que esta efeméride está sofrendo no mundo. Já postamos neste site a experiência de um Natal passado no Japão, onde a data sequer é um feriado, pois os cristãos japoneses representam uma minoria insignificante da população. Para os brasileiros acostumados com intensas atividades neste período, fica muito estranha à experiência de um Natal no Japão. Lá, no máximo, está se ampliando os interesses comerciais das lojas, com a gritante distorção que a data é comemorada no Ocidente, com uma elevada quantidade de presentes para as crianças, familiares e amigos mais chegados, quando o correto seria este hábito para o Dia dos Reis, no começo de janeiro. No Japão, o que predomina são atividades românticas, com os casais lotando os motéis.
Natividade na Cappella degli Scrovegni por Giotto, obra que teria começado em 1311 e concluída em 1320
Mesmo no Brasil, há maior difusão das promoções comerciais com a confusão do Natal com a visitação dos Magos que deveria ser concentrada no dia 6 de janeiro, como acontece em alguns países da Europa, esquecendo-se do significado do nascimento do Salvador.
Mesmo os artistas medievais deram grande importância para a esta visitação dos Magos que teriam sido orientados pelas estrelas para chegar a Maria e a José, juntamente com o menino Jesus que teria nascido numa manjedoura, somente assistido pelos animais. Os presentes que lhe teriam sido levados pelos Magos seriam as justificativas para as atuais explorações comerciais, associadas às fartas refeições regadas por bebidas.
Muitas destas distorções se observam também em países de predominância cristã e católica. Eu me encontrava na noite de Natal em Veneza, na Itália, e procurei as igrejas com a minha família certo de que encontraria uma para assistir à Missa do Galo que deveria ser interessante. Mas acabei frustrado, pois todas estavam fechadas, e o máximo que se conseguia era uma transmitida pela televisão do Vaticano, com o papa celebrando a data.
Nestes períodos difíceis para a humanidade, seria oportuno recordar o verdadeiro espírito do Natal, quando Jesus se transformou num simples homem, nascendo numa modesta manjedoura para cumprir o que estava escrito nas Escrituras. Seu sacrifício seria indispensável para expiar a culpa dos homens. A data do seu nascimento mereceria uma reflexão, não sendo distorcido como está acontecendo agora, com todo respeito às demais religiões.
15 de dezembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais, Notícias | Tags: apresentações dos compromissos de cada país, até a reunião de Paris, confiança no instinto de sobrevivência, resultados dos compromissos no Peru
Apesar dos esforços dos diplomatas e outros representantes dos países membros, que acabaram por prorrogar por dois dias a Conferência do Clima da ONU em Lima, no Peru, a maioria da mídia internacional vem considerando os resultados obtidos muito tênues. Para conseguir a adesão de todos, países industrializados como menos desenvolvidos, decidiu-se pela apresentação até março do próximo ano das metas e formas de atingi-las de cada país, sem que haja mecanismos de pressão para tanto. Somente a consciência de cada país membro poderá estabelecer estas metas com as quais estarão comprometidos, aceitando-se a tese geral que os esforços deverão ser diferenciados, onde países como os Estados Unidos e a China, considerados os mais poluidores, estabeleceram anteriormente os seus objetivos de forma bilateral as metas de cada país na última reunião que tiveram em Beijing, onde estava Barack Obama e Xi Jinping.
O fato concreto é que até hoje não se conseguiu um mecanismo adequado para o estabelecimento de compromissos com metas objetivas na maioria dos países, industrializados ou não. Pode ser que o decidido seja tênue, mas deve-se admitir que cada país possa julgar melhor o que lhe é possível assumir como responsabilidade, mesmo contando com ajudas modestas de outros países mais capacitados do ponto de vista econômico. Como nenhum país deseja ser conhecido como responsável pelas irregularidades climáticas que estão ocorrendo no mundo, ou sacrificar o próprio desenvolvimento com a poluição que está se tornando insuportável para as suas populações, notadamente dos estrangeiros expatriados que são responsáveis por muitos dos seus investimentos que proporcionam as condições para a criação do emprego e da produção desejáveis. Deve-se admitir que com compromissos mais espontâneos, seus alcances se tornem mais realistas.
1.
Christiana Figueres, secretária executiva da Convenção e Manuel Pulgar-Vidal, ministro do meio ambiente do Peru, ao término da reunião
A decisão final deverá ocorrer numa reunião em Paris até o final de 2015, esperando-se que até lá, com os compromissos assumidos pelos países membros até março próximo, haja como obter uma posição mundial realista e objetiva, pois os problemas que já estão sendo enfrentados são muito graves.
Com as expectativas baixas, espera-se que os países membros tenham condições de cumprir os compromissos autoassumidos, que não terão sido impostos por outros organismos ou países. Ainda que não cheguem ao desejável, espera-se que ocorram avanços pragmáticos.
Mesmo os países menos desenvolvidos, que sofrem mais diretamente as consequências dos aquecimentos globais, sabem que dependerão muito dos seus esforços para contarem com suportes complementares do exterior que devem ser baixos. Todos os países deverão estar concentrados nos objetivos que mais afetam diretamente suas populações. Mas a mídia internacional está sendo eficiente na divulgação das poluições que estão sendo provocadas, que acabam exercendo uma pressão sobre as muitas autoridades dos diversos países.
O que se vem observando é que as metas mais ousadas que seriam desejáveis não encontram mecanismos de implementação, e acabam se tornando meros discursos sem aplicação prática. A esperança é que o “Second Best” acabe se tornando mais exequível, inclusive do ponto de vista político.
Países como o Brasil não necessitariam ficar com a imagem negativa, quando estão efetuando substanciais esforços, ainda que seus problemas sejam vastos, como a melhor exploração racional e sustentável de suas imensas florestas, como a Amazônica.
15 de dezembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias | Tags: artigo da Bloomberg publicado no Valor Econômico, manipulações das cotações dos títulos dos EUA, sem instrumentos para coibir estas operações
Se já eram alarmantes as manipulações das taxas de juros como o Libor e as cotações cambiais em Londres, nas quais consagradas instituições financeiras internacionais estão efetuando acordos com multas pelas irregularidades constatadas pelas autoridades, a notícia divulgada por Matthew Leising, da Bloomberg, publicada no Valor Econômico é aterradora. Além da manipulação das cotações dos títulos do Tesouro Norte-Americano, cujo mercado supera uma dezena de trilhões de dólares por ano, está se identificando a falta de regulamentações sobre o assunto. Os operadores utilizam avanços tecnológicos de altíssima velocidade para produzir uma isca enganosa conhecida como “spoofing”, segundo o artigo, estimulando o mercado e cancelando posteriormente as mesmas. Os especialistas americanos que estão identificando estas operações alegam que não existem ainda instrumentos legais para coibir tais manobras.
Os praticantes do “spoofing” fingem que estão interessados na compra ou venda a determinado preço no mercado, criando a ilusão de demanda para que outros operadores se mobilizem para atendê-la. Cancelam o interesse inicial e compram ou vendem com os novos preços para lucrarem. Estas operações são conhecidas também como “pull and hit” (ou seja, puxar e bater). Os registros existentes mostram que ocorreram em paralelo em Chicago e em Nova Jersey, entre outras plataformas, em negociações mais rápidas que a velocidade da luz, envolvendo estratégicas combinadas entre operadores.
Se os títulos do Tesouro Norte-Americano eram considerados os mais seguros no mundo, os seus volumes cresceram muito com a política monetária dos Estados Unidos chamada de “quantitative easing” que objetivava a desvalorização cambial do dólar e a ampliação dos créditos bancários, visando a recuperação da economia posterior à crise de 2007/2008.
Se suas cotações estão sendo manipuladas para proveito de alguns dos operadores mais importantes e que introduziram inovações tecnológicas sofisticadas em suas operações, são preocupantes indícios da falta de transparência no seu mercado. Demostram a total desconsideração moral nestes mercados financeiros, fugindo dos princípios como os que começaram a ser colocados por Adam Smith e outros pensadores que se seguiram, para o funcionamento adequado do capitalismo e dos mercados.
Todos hão de concordar que os títulos do Tesouro Norte-Americano estão entre os papéis mais importantes no mundo, notadamente quando se ampliou o seu uso. Se as autoridades daquele país não contam com meios para coibir eventuais comportamentos que manipulam o seu mercado, chega-se à preocupante situação que os que detêm poderosas tecnologias acabem se beneficiando, em prejuízo de todos.
15 de dezembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais, Notícias, Política | Tags: a coligação governista retém a maioria absoluta, baixo comparecimento, falta de uma oposição organizada, mandato para a Abeconomics | 2 Comentários »
O primeiro-ministro Shinzo Abe obteve para a coligação governista LDP-Komeito 326 cadeiras na Câmara Baixa da Dieta japonesa, superando os 317 indispensáveis para a maioria absoluta. Conseguiu a prorrogação do seu mandato bem como o suporte para o prosseguimento de sua política chamada Abeconomics, que eram seus objetivos principais. No entanto, há que se registrar que no Japão o voto não é obrigatório, sendo que menos de 40% dos eleitores compareceram ao pleito, mostrando certo desinteresse diante do resultado esperado, sendo que o principal partido de oposição aumentou a sua bancada em 11 cadeiras, chegando a 73. Mesmo assim, diante do quadro em que se encontra a economia japonesa, o resultado deve ser interpretado como um suporte moderado para a inevitável política denominada Abeconomics, que precisará elevar o seu imposto de vendas do atual 8% para 10%, sem saber quando.
Todos sabem que, mesmo com a injeção astronômica de recursos creditícios por intermédio do Bank of Japan, o máximo que se conseguiu é uma melhoria na Bolsa de Valores, e uma desvalorização moderada do yen, para tornar as exportações japonesas mais competitivas. A recuperação da economia japonesa, que é o grande objetivo, veio sendo prejudicada pela retração dos consumidores quando o imposto de vendas subiu dos 5% anterior para 8%. As empresas ainda não se sentem estimuladas para ampliar as suas atividades, mesmo com a abundância de recursos creditícios e a desvalorização do yen, que o torna um pouco mais competitivo no mercado internacional. O resultado desta eleição não pode ser considerado estimulante para a nova etapa de elevação dos impostos, diante da dívida pública japonesa que é das mais elevadas do mundo, ainda que financiadas pelas poupanças internas.
Primeiro-ministro Shinzo Abe comemora a vitória eleitoral da coligação governista. As rosas vermelhas são colocadas junto aos nomes dos deputados eleitos, na tradição eleitoral japonesa
A imprensa japonesa avalia que o novo gabinete deve ser anunciado no próximo dia 24 de dezembro, mas não se aguarda grandes surpresas, ainda que seja desejável novas figuras que dessem um ânimo para o programa que deverá ser executado. Deve-se lembrar de que o Abeconoics prevê agora uma etapa de decisivo estímulo ao crescimento da economia japonesa, que ainda não consegue uma inflação de 2% ao ano como anunciado, e uma volta aos padrões mais razoáveis de crescimento.
Deve-se observar que o cenário internacional não se apresenta fortemente estimulante, ainda que o preço do petróleo totalmente importado pelo Japão esteja em queda significativa. O governo japonês vem acreditando muito no TPP – TransPacific Partnership, facilitando o comércio internacional. Efetua esforços para a retomada dos entendimentos com a China, que ainda caminha de forma tímida, bem como ampliação da colaboração com a Coreia do Sul. Também o Sudeste Asiático encontra-se entre suas prioridades, notadamente na implantação de projetos de infraestrutura.
Este site vem insistindo que o Japão precisa enfrentar o problema da redução de sua população, ao mesmo tempo em que se observa o seu envelhecimento. Necessita que muitos dos seus jovens se motivem para novos empreendimentos, superando o seu desânimo. Para uma economia de elevado padrão de desenvolvimento, precisa colaborar com o seu dinamismo para estimular o resto do mundo, o que nem sempre vem acontecendo. Espera-se que o resultado destas eleições ajudem a superar o atual marasmo.
15 de dezembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais, Notícias | Tags: os problemas no mundo e no Brasil, reações positivas indispensáveis, um mínimo de racionalidade com o que se dispõe
“De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça. De tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto”, foi a frase de Ruy Barbosa que se tornou famosa. No entanto, por mais que se respeite aquele nosso estadista, sempre há espaço para iniciativas, principalmente dos mais jovens, em termos mundiais como nacionais, para as correções destes quadros. Não basta a indignação com o que se enfrenta, mas tentar descobrir o que pode ser feito para reverter a situação. Com todos os pesares, a história da Humanidade comprovou que mesmo os períodos mais difíceis foram superados. E ainda que insatisfatórias, sempre existem as esperanças que muitas melhorias ainda serão conquistadas. Não somente do ponto de vista material, mas no cenário moral em que parece nos encontramos.
Parece útil fazer-se um esforço para compreender o que está provocando este forte pessimismo que não se restringe ao Brasil, pois somente entendendo os nossos problemas podemos tentar resolvê-los, ou no mínimo minorá-los. Os problemas da Petrobras, ainda que agravados pelas opções adotadas no Brasil, também são decorrentes do que já aconteceu em outros países. As indústrias internacionais que se relacionam há mais de um século com o petróleo, que veio ganhando importância exagerada, sempre utilizaram parte expressiva dos seus volumosos recursos para corromper os detentores do poder político. Ainda que em alguns aspectos tenham sido corrigidas de tempo em tempo, são conhecidos os desvios que vieram ocorrendo ao longo de décadas para ampliar o seu poder, havendo uma vasta literatura a respeito. Mesmo que constatada a sua pesada responsabilidade no aquecimento global, o petróleo continua sendo uma das mais importantes fontes de energia no mundo, ao lado do carvão mineral altamente poluente. Somos todos responsáveis por esta tolerância que acaba sendo eminentemente moral.
Plataforma para exploração do petróleo em alto mar
Há décadas, um importante empresário que atuava no setor informava-me que desde os tempos históricos nos transportes do petróleo havia uma tradição mundial de certo percentual carregado a mais, que, se era para cobrir riscos com eventuais desastres, acabavam sendo utilizados para ajudas políticas. Estas práticas acabaram se ampliando para outros setores. Também são conhecidos os negócios internacionais escusos que envolviam a produção de equipamentos utilizados na indústria de petróleo, como os que eram movimentados nos paraísos fiscais, que não são evidentemente criações brasileiras.
Que as empreiteiras, não somente as brasileiras possuem intrincados relacionamentos com os grupos políticos em muitos países são sobejamente conhecidos, não se restringindo somente a área do petróleo. A capacidade de coibir estas tendências alimentadas pela ganância humana exige das administrações públicas um aparelhamento indispensável, que só pode ocorrer com o seu constante aperfeiçoamento.
Estudando-se a história da evolução do sindicalismo no mundo, constata-se a lamentável intensidade dos relacionamentos destas entidades com organizações criminosas que procuravam manter o monopólio do controle do poder. São casos como nos Estados Unidos com as organizações da AFL – CIO American Federation of Labor – Congress of Industrial Organizations, com o controle criminoso dos transportes naquele país, sempre considerados estratégicos. Ou na Europa, com suspeitas da participação de não somente organizações mafiosas nas entidades trabalhistas sindicais, que eram avanços indispensáveis nas diversas sociedades. Sempre houve uma preocupação que houvesse uma multiplicidade de suas origens ideológicas para evitar o monopólio como das organizações de predominância marxistas, inclusive no Brasil.
Quando o setor de petróleo conta com quase com o monopólio estatal, como no caso brasileiro, ainda que a escala e o poder das multinacionais tenham que ser enfrentadas, novos cenários de potenciais distorções acabam se multiplicando. Notadamente quando os dirigentes sindicais acabam detendo uma parcela exagerada do poder político. Mas também estas distorções ocorrem em outros regimes políticos onde a alternância no poder não ocorre com a frequência desejável.
Quando um país se encontra ainda nos estágios iniciais de consolidação do regime democrático, nem sempre todos os mecanismos de controle funcionam com o equilíbrio desejável. Deve-se admitir que, se estejam sendo investigadas as distorções que ocorrem atualmente no Brasil, em parte decorre das condições criadas pelas disposições da Constituição de 1988 que permitiram o desenvolvimento do atual Ministério Público. Mas ainda existem etapas a serem percorridas em muitos setores, evitando-se que algumas personalidades que ganham notoriedade pela ação da mídia tornem-se vítimas de suas vaidades pessoais. Também o Judiciário, com os seus exageradamente longos processos, acaba dando um sentimento de impunidade até mesmo aos indiciados.
Apesar da resistência da classe política, a reforma do setor torna-se prioritária, pois os eleitores necessitam de mecanismos para controle dos eleitos de forma eficaz. Sistemas eleitorais como o distrital misto podem introduzir alguns aperfeiçoamentos como vem se observando em países que os adotam. Para que as crises posam ser resolvidas de forma mais plausível, tudo indica que o regime parlamentarista acaba sendo mais ágil do que o presidencialismo, para adequação do quadro as mudanças sempre indispensáveis.
O exagerado agigantamento do setor público parece propiciar também muitas distorções. Tudo indica que um equilíbrio maior com o setor privado, onde as tendências monopolísticas sejam regulamentadas parece reduzir as potencialidades das irregularidades. Existe um conceito em inglês denominado “check and balance”, que vem sendo perseguido em muitas sociedades, de forma que haja um equilíbrio mais razoável.
O Brasil já passou e continuará passando por muitos aperfeiçoamentos, mas parece que os jovens poderiam se dedicar com maior profundidade aos estudos das experiências que estão sendo repetidas em todo o mundo, de forma que algumas delas tenham condições de adaptação às particulares condições brasileiras.
Há que ampliar as esperanças para a melhoria do quadro moral, não se entregando a um pessimismo exagerado, quase uma depressão psicológica coletiva, pois o Brasil ainda é um país jovem com elevadas potencialidades para aperfeiçoamentos.
14 de dezembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais, Notícias | Tags: artigo no suplemento do The New York Times Internacional da Folha de S.Paulo, especialista em organização, forma de se descartas das coisas dispensáveis
Um interessante artigo de Penepole Green, originalmente publicado no The New York Times Internacional e reproduzido em português no suplemento semanal da Folha de S.Paulo, informa sobre a Marie Kondo que teria se tornado uma celebridade no Japão por estar ensinando a organizar a guarda de materiais que proporcionam alegria, e descartar as já usadas com um agradecimento. É preciso entender algumas coisas da cultura japonesa que podem estar influenciando nestes hábitos. De um lado, por influência da religião shintoista, todas as coisas podem ser consideradas sagradas, e merecem agradecimento na medida em que ajudam os seres humanos. Muitos japoneses, na virada do ano, fazem a revisão dos equipamentos que permitiram o trabalho durante os 12 meses que descansem alguns dias, cobertas e até com alimentos simbólicos, como um bolinho de arroz. De outro lado, com a tradição de um povo que foi pobre e tendo passado por necessidades, desenvolveu-se esta mania de guardar tudo, para uma remota possibilidade do seu uso futuro. Isto tende a acumular um depósito desorganizado, considerando “motainai” (um desperdício) livrar-se mesmo dos que tenham mínimas possibilidades de serem utilizados no futuro.
A técnica que estaria sendo disseminada por Marie Kondo parece pressupor que qualquer material dispõe de vida, como no xintoísmo, devendo-se descartar delas com um agradecimento pela ajuda que já deu a alguém. Haveria uma ordem para o armazenamento dos produtos necessários, de forma organizada, usando conhecimentos como o do origami ou do “furoshiki”, que é um simples pano que se torna uma embalagem, de forma a economizar o espaço e permitir que estes produtos mantenham a sua “alegria” de continuar existindo. Ela acumulou estes conhecimentos de forma prática ajudando a organizar as bagunças dos seus irmãos, bem como simples bibliotecas nas suas escolas, percebendo que poderiam ser dispostos em determinadas ordens, que acabariam sendo mais racionalmente usados.
Sou pessoalmente dos que precisam aprender estas técnicas, pois sou desorganizado e tendo a guardar quase tudo, o que vai acumulando materiais desnecessários até por décadas. Mas concordo que há um momento em que é preciso descartar muito do que é desnecessário, ou poderia ser útil para outros. Estou determinado a adotar estes novos hábitos, mesmo admitindo que no Japão, onde as estações do ano são mais definidas, isto seja mais fácil que no Brasil, onde é até possível ter quatro estações num mesmo dia, o que não permite descartar roupas, por exemplo, que estejam fora da estação. Mas as ideias básicas poderiam ser adaptadas para as realidades locais.
Marie Kondo organizando os depósitos
Armários organizados por Marie Kondo
Marie Kondo estava sendo procurada por pessoas que desejavam a sua ajuda profissional. Hoje, prefere dar aulas ou escrever sobre o assunto para preparação de outras pessoas que acabem organizando os seus depósitos.
Tratando se as coisas inanimadas como se estivessem vivas, elas acabam sendo melhores cuidadas, permitindo a sua melhor preservação como aproveitamento. Poderia se acrescentar que muitos dos produtos que se tornaram inúteis podem ser melhores utilizadas por outras. O hábito de doar de tempos em tempo o que se dispõe pode se tornar mais racional, na medida que possa ser aproveitada mais intensivamente por outras. Existem muitas instituições que possuem serviços de coleta, visando gerar até algumas rendas com suas vendas, depois de revisadas, tirando melhor proveito das suas utilidades.
Estas medidas se tornaram importantes no Japão pelas limitações dos espaços. Na proporção em que muitas residências também no Brasil estão se resumindo em espaços menores, estas medidas se tornam mais convenientes.
13 de dezembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais, Notícias, Política | Tags: alegação da Petrobras que foram determinadas investigações, artigo no Valor Econômico, comunicações da gerente Venina Velosa da Fonseca, removida do cargo e transferida para Cingapura
Num extenso artigo elaborado por Juliano Basile, publicado no jornal Valor Econômico, são incluídas cópias de emails enviados pela gerente executiva Venina Velosa da Fonseca, geóloga que trabalha desde 1990 na Petrobras, tendo atuado sob o comando do diretor afastado Paulo Roberto Costa, entre novembro de 2005 e outubro de 2009. O ex-diretor está procurando reduzir suas penalidades com a delação premiada. Venina comunicou os indícios de irregularidade na área de comunicação social com pagamentos de serviços não prestados, bem como os significativos aumentos dos custos com aditivos da usina Abreu e Lima. Também comunicou suas suspeitas para José Carlos Cosenza, que substituiu Paulo Roberto Costa, como diretamente ao presidente de então, José Sérgio Gabrielli, e à atual presidente Graça Foster, desde quando ela era diretora do setor de gás e energia.
O que é inusitado em toda esta história é o desembaraço da aparentemente bem intencionada Venina em assuntos que não eram de sua área específica, comunicando diretamente aos altos executivos da Petrobras, quando nestas organizações gigantescas existem especializações e hierarquias. Ela teria sido aconselhada a utilizar os canais competentes. A Petrobras alega que as denúncias foram encaminhadas para investigações, mas o tempo decorrido e as retaliações alegadas sobre a denunciante são indícios de comportamentos no mínimo suspeitos.
Geóloga Venina Velosa da Fonseca
As denúncias estão documentadas pelas cópias dos emails enviados por um longo período, muito antes destes fatos começarem a ser objetos de investigações do Ministério Público e referem-se às suspeitas de envolvimentos de interesse partidário. Os fatos são mencionados com muito cuidado, e acabaram recebendo uma ampla repercussão na maioria dos meios de comunicação social do Brasil. Como estas questões estão sendo discutidos de diversos angulos, existem fortes indícios que correspondem ao que veio desenrolando na Petrobras, colocando o governo na berlinda.
Alguns aspectos são relacionados mais diretamente com a área em que esta funcionária atuava dentro daquela empresa, mas também existem outros que poderiam ser do seu conhecimento, desde que ela estivesse interessada nos corretos procedimentos daquela estatal. Tudo dá a impressão de que são fatos graves e críveis, colocando os dirigentes da Petrobras, que alegaram seus desconhecimentos, em situação extremamente desconfortável, de difícil sustentação.
Estas denúncias acrescentam fatos graves observadas por um novo ângulo, de quem parece não estar envolvida nestas questões. Tudo indica que o Ministério Público deverá ouvi-la para solidificar suas acusações, que estão sendo formuladas dentro de um processo jurídico.
Estes fatos são daqueles de alto calibre, capazes de afetar até um governo recentemente reeleito pelo voto popular.
11 de dezembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais, Gastronomia, Notícias, Saúde | Tags: artigo sobre wasabi no The Japan Today, benefícios para a saúde, efeitos gastronômicos
Um interessante artigo publicado por Evie Lund no The Japan Today, com informações provenientes do wasabi.net e organicfacts.net, fornece dados sobre os efeitos medicinais do wasabi, que é uma planta da família brassicacae que inclui também a mostarda e a raiz forte, com os quais não se confunde. Lamentavelmente, no Brasil só se dispõe do chamado wasabi, uma mistura de mostarda, rábano e corante alimentar, que é vendido em tubos ou servido com o sushi ou sashimi nos restaurantes. O wasabi é uma espécie de raiz, que só pode ser cultivada em terreno com águas correntes límpidas, e deve ser usado ralado, perdendo o seu poder muito rapidamente, sendo muito caro também no Japão, e servido somente em estabelecimentos de luxo.
O verdadeiro wasaki que só pode ser cultivado em terras com águas límpidas e nada tem a ver com os vendidos com este nome que se obtêm em tubos ou em pó, lamentavelmente
Nos bons restaurantes do Japão, o wasaki é servido ralado destes tubérculos, para serem consumidos rapidamente. Provocam uma reação rápida nas narinas e possuem a qualidade de ajudar a manter os alimentos saudáveis. Podem ser um pouco forte para os que não estão acostumados com o seu consumo.
O artigo informa que o wasabi provoca alguns efeitos interessantes para a saúde. Ele evita a intoxicação alimentar, pois contém isotiocianato de alilo, um potente bactericida. Além de ser consumido com peixes crus, como o sashimi e o sushi, recomendam-se o seu uso nas caixas de bento para ajudar a manter os alimentos livres de quaisquer esporos de fungo. O gengibre também ajuda nesta função e costuma ser servido como conserva, e, ao lado da sopa de missô, ajuda a manter o aparelho digestivo em ordem.
Um segundo motivo é que o wasabi ajuda a manter os seres humanos jovens, na medida em que o sulfinito liberado por ele ralado é um antioxidante poderoso. Evita o envelhecimento precoce e reduz o oxigênio reativo do corpo. Acaba evitando o cancro, que provoca o envelhecimento natural.
O wasabi poderia ajudar a prevenir certos tipos de câncer, pois o seu composto chamado 6 MSITC tem propriedades anti-inflamatórias, e proporcionam a defesa do hospedeiro de células cancerígenas. Este componente também trabalha para inibir a agregação plaquetária em coágulos sanguíneos, reduzindo problemas cardíacos e neurológicos.
O wasabi ajuda a limpar o peito bloqueado a partir de um resfriado, gripe ou alergias. A liberação gasosa do isotiocianato de alilo ajuda a combater as bactérias nos tratos respiratórios. É preciso que se atente se estiver usando um medicamento que é metabolizado pelo fígado, pois o wasabi em excesso pode interferir nestas funções de forma imprevisível.
É lamentável que o wasabi ainda não seja cultivado no Brasil. O máximo que se consegue é a raiz forte, que é consumida muito pelas populações de origem europeia.
11 de dezembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais, Notícias | Tags: Constituição de 1988, o caso do Banestado, o funcionamento na Operação Lava-Jato
Um esclarecedor artigo foi publicado por Letícia Casado e André Guilherme Vieira no Valor Econômico mostrando como veio se formando a equipe de procuradores que está conseguindo um resultado invejável na Operação Lava-Jato. Na realidade, a Constituição de 1988 proporcionou condições para que o Ministério Público tivesse como se consolidar numa instituição independente que permitisse a investigação de complexos casos de corrupção inspirado na operação Mãos Limpas que desarticulou a máfia italiana no começo dos anos 1990. Muitos procuradores se prepararam no Brasil e no exterior, para se capacitarem a investigar complexos casos de corrupção que envolvesse uma ação internacional. O primeiro caso que resultou num importante aprendizado prático foi o do Banestado, no Estado do Paraná, quando volumosos recursos foram desviados por “doleiros” na remessa de recursos para o exterior. O artigo informa que o procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, vice-secretário de cooperação jurídica internacional da Procuradoria Geral da República, é o “cabeça” da atual equipe que está assombrando tanto grandes empreiteiras como corruptos relacionados com a Petrobras.
Carlos Fernando dos Santos Lima fez o mestrado na Universidade de Cornell nos Estados Unidos, especializando-se nestes assuntos. Mas outros procuradores que atuam na equipe, como Deltan Dallagnol, também concluíram o mestrado em Harvard, igualmente nos Estados Unidos, tendo se especializado em teoria das provas como de delação premiada, igualmente em colaboração jurídica internacional. Outro procurador é Diogo Castor de Mattos, ele que fez mestrado em função política do direito na Universidade do Norte do Paraná. O procurador Roberson Henrique Pozzobon é mestre em direito econômico. O procurador Paulo Roberto Galvão tem mestrado em direito na London School of Economics, no Reino Unido. Orlando Martello Junior é mestre pela FGV em direito tributário, Januário Paludo é mestre em direito do Estado na Universidade de São Paulo, Antonio Carlos Valter é mestre pela Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra em ciências jurídico-criminais, em Portugal, e Athayde Ribeiro Costa é especialista em improbidade administrativa. Ainda que estejam em unidades diferentes do Ministério Público, acabam atuando como equipe nesta Operação Lava-Jato. Parece evidente que havia uma preparação adequada destes agentes públicos para atuação em casos de grande complexidade como este Lava-Jato, não sendo um mero acaso que se venha obtendo sucesso.
Procurador Carlos Fernando dos Santos Lima
É evidente que somente esta equipe do Ministério Público não conseguiria os resultados até agora obtidos se não contassem com o respaldo de um juiz como Sergio Moro, titular da 13ª Vara Criminal da Justiça Federal do Paraná, que vem se destacando por uma atuação firme, aceitando denúncias como contra o “doleiro” Roberto Youssef e o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa que aceitaram efetuar as delações premiadas, procurando reduzir as potenciais penas pelos crimes de que estão sendo acusados.
Os advogados, notadamente das empreiteiras acusadas, estão se movimentando para defesa dos seus clientes, tentando manobras como a transferência da ação para a alçada do Supremo Tribunal Federal, visando contar com maiores flexibilidades de algum ministro. Tambem tentaram acordos judiciais que, mediante o pagamento de multas elevadas, tivessem seus clientes em melhor situação. Mas, até agora, encontraram fortes determinações dos procuradores que procuram consolidar uma situação onde as corrupções deste tipo tenham menores condições de prosperar, o que estão conseguindo obter com competência decorrente de suas preparações como experiências acumuladas no caso anterior do Banestado, quando se desviou cerca de US$ 30 bilhões em Foz do Iguaçu.
Toda esta experiência está sendo consolidada em estudos que procuram habilitar outros membros do Ministério Público, evitando-se que muitos sejam seduzidos pela grande exposição na mídia, que acabam atraindo as vaidades humanas.
Como todas as questões judiciais, estes processos são trabalhosos e demorados, envolvendo muitos intervenientes, e ainda encontra-se nos estágios iniciais até poder atingir a conclusão final que transitem em julgado, com as penalidades de todos os considerados culpados. Mas mostra que existem esperanças para que seus exemplos acabem inibindo ações criminosas em outros casos, como está sendo necessário no Brasil atual, onde a impunidade gera uma insatisfação geral da sociedade brasileira.
10 de dezembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias | Tags: artigo sobre o assunto no The Japan Times, falta de creches num país desenvolvido, falta de responsabilidade dos pais, tratamento desigual para as mulheres
Apesar do primeiro-ministro Shinzo Abe informar que o governo está tentando proporcionar as melhores condições para o trabalho das mulheres, leitores, como do artigo publicado por Rin Ichino no The Japan Times, ficam surpresos com as notícias de que uma economia desenvolvida como a japonesa não consegue fazer com que as mães, hoje responsáveis pela família, consigam se manter de forma condigna apesar dos seus empenhos, sendo condenadas à pobreza. Como no Japão a maioria dos divórcios ocorre de comum acordo e não há decisão judicial que responsabilize os homens também pelos encargos com a educação dos filhos e das ex-esposas, elas são obrigadas a trabalhar em condições bastante desiguais dadas as diferenças dos salários decorrentes do sexo. E o número de creches para seus filhos é mínimo.
As mães japonesas, hoje separadas, não conseguem manter o seu padrão de vida, pelos seus salários mais baixos e falta de creches
O artigo menciona diversos casos destas mães que hoje estão separadas, cuidam dos seus filhos e precisam trabalhar intensamente, ainda que seus salários estejam abaixo da metade do salário nacional. Poucas recebem o suporte dos seus ex-maridos e contam com creches convenientes para atender suas crianças. Esta situação coloca o Japão no último lugar entre os 34 países da OCDE, fazendo com que a maior parte dos encargos fique com as mães.
Os estudos efetuados por especialistas no assunto informam que os salários destas mães acabam ficando bem abaixo do mercado, em média 35% dos empregos de tempo integral e permanentes, por serem temporários e não de carreira. Elas possuem poucas reservas para enfrentar uma eventual aposentadoria, cerca de 5% da média dos japoneses.
Além de terem todas as tarefas de casa, acabam sendo obrigadas a aceitar empregos provisórios de tempo parcial, não contando com o adequado suporte para cuidar dos seus filhos. Algumas aspiram contar com serviços próprios como ensinar outras mães a cuidarem dos seus filhos, aproveitando as duras experiências que possuem. Somente 39% destas mães possuem um trabalho regular, e muitas dependem das ajudas dos seus pais.
Havia um programa subsidiado do governo no Japão para treinamento destas mães para as habilitarem a empregos, mas acabou sendo extinto, pois a falta de qualificação não se tratava do foco do problema.
Apesar de Shinzo Abe ter prometido a criação de 200 mil vagas nas creches, ele só conseguiu 9 mil, esperando chegar à meta nos próximos quatro anos. Somente 20% dos ex-maridos japoneses pagam as pensões para suas ex-esposas, inclusive seus filhos comuns, não havendo mecanismos legais para assegurar estes pagamentos. Este percentual nos Estados Unidos chega a 74%.
Ainda que estes problemas existam em muitos países, tudo indica que não são tão graves como os do Japão.