9 de dezembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política | Tags: as limitações, lições importantes, longas experiências no Executivo e no Legislativo
Francisco Dornelles, que está deixando o Senado, é uma das personalidades brasileiras que acumularam longas e profundas experiências também pelo exercício de variadas funções no Executivo. Depois de todos estes anos de vida pública, suas experiências, inclusive frustrações como apresentado na entrevista aos jornalistas Raquel Uchôa e Ribamar Oliveira do Valor Econômico, mostram as dificuldades existentes para a administração de um país tão complexo como o Brasil. Além de não conseguir soluções para seus problemas fundamentais, ainda continua acrescentando outros que acabam ampliando mais as responsabilidade de todos, dos eleitores, dos parlamentares, dos que estão no comando do Executivo, como até dos burocratas que não conseguem proporcionar uma operacionalidade para a gigantesca máquina da administração pública.
O conhecimento dos problemas aposentados, do seu ponto de vista de um experiente ator neste cenário brasileiro por muitas e muitas décadas, mostra como eles são difíceis de serem equacionados, mas, se não se desejar condenar o Brasil a uma estagnação, os mais graves terão que ser enfrentados. Não se trata de quem está no governo ou na oposição, pois ele esteve em ambos os lados, lutou para sanar muitos, mas os que se multiplicam hoje mostram que poucos avanços foram obtidos. Se suas observações forem aproveitadas, de alguma forma pode haver um ponto de inflexão, onde as soluções superem o surgimento de outros obstáculos.
Francisco Dornelles atuou no Executivo e no Legislativo
Ele lamenta não ter conseguido a reforma do setor financeiro, reconhecendo que o Conselho Monetário Nacional, hoje só constituido pelo ministro da Fazenda, ministro secretário do Planejamento e presidente do Banco Central, é que fixa a meta inflacionária a ser perseguida pelo Banco Central, que, em sua opinião, deve ter a plena autonomia para tanto. Todos, que possuem alguma experiência na administração pública, sabem que somente estas três autoridades não formam um verdadeiro Conselho que tenha liberdade para discutir alternativas.
Também lamenta não ter conseguido a reforma do sistema orçamentário, que entende deva ter a sua anualidade modificada, pois, ao seguir o ano civil, fica com a sua decisão concentrada no período mais difícil que é o final de ano. Em muitos países, reconhece-se que a função do Legislativo mais importante é a discussão deste orçamento, o que não acontece no Brasil.
Ele é também a favor do voto distrital como uma forma de ligar mais diretamente os eleitores aos eleitos, pois, no atual sistema proporcional, a responsabilidade fica diluida por uma bancada que é eleita por Estado, impossibilitando esta fiscalização mais próxima.
Entende que o problema crucial da economia brasileira é recuperar a sua capacidade de investimentos, que hoje está concentrada em algumas estatais como a Petrobras que está profundamente atingida pelas críticas. Ele entende que as pessoas responsáveis pelas irregularidades devam ser punidas e não as empresas, estatais ou privadas, que concentram os investimentos.
Como não existe uma preocupação com a eficiência da administração pública, a tendência que se observa é do continuo crescimento da máquina pública, até para o atendimento das necessidades sociais, que de alguma forma já vêm sendo contempladas, não havendo recursos tributários suficientes para a sua expansão.
Francisco Dornelles entende que deva haver uma forte desburocratização, uma privatização de muitas estatais, e que o erro cometido na Petrobras, onde ela ficou com a responsabilidade de 30% das concessões, precisa ser corrigido. Para que possa se contar com o setor privado, inclusive empresas estrangeiras para arcar de fato com os pesados investimentos indispensáveis.
A íntegra da entrevista pode ser acessado no http://www.valor.com.br/politica/3809092/temos-que-separar-empresas-das-pessoas .
8 de dezembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política | Tags: entrevista concedida em Tóquio ao The Economist
Shinzo Abe certamente será eleito nas próximas eleições japonesas de 14 de dezembro, restando saber se terá um apoio decisivo do eleitorado para o seu partido, o LDP – Liberal Democratic Party ou uma simples vitória pela falta de uma oposição mais articulada. Ele concedeu uma longa entrevista para o editor da Ásia do The Economist, Dominic Ziegler, e o chefe do escritório da revista em Tóquio, Tamzin Booth, sobre os assuntos relacionados com o papel do Japão na economia asiática e mundial, bem como assuntos internos do país, mesmo para questões que poderiam ser consideradas embaraçosas. As perguntas formuladas poderiam ser mais agudas sobre os problemas enfrentados pelo Japão.
Shinzo Abe em campanha eleitoral para conseguir respaldo mais amplo para o prosseguimento de sua política denominada Abeconomics
Diante da intensa atividade internacional de Shinzo Abe, a revista perguntou a ele se sentia com pressa, como um homem com uma missão. Ele respondeu que acha que não tem muito tempo, pois a China continua crescendo e os demais países procuram manter a sua competitividade. O Japão está com a população reduzindo e envelhecendo, carregando uma dívida pública enorme. O país teria que recuperar a sua força econômica, de forma democrática e pacífica. Para tanto, necessitaria promover reformas.
A revista entende que todos procuram ter vertentes diferentes para problemas internos e externos, o que no caso do Japão aparecem juntos. A resposta é que, na sua juventude, o Japão crescia muito e passou agora por 20 anos de estagnação. Não haveria como separar as duas políticas.
A revista perguntou sobre as diferenças atuais com o seu primeiro mandato como primeiro-ministro em 2007. A resposta foi a emergência da China e a estagnação japonesa. Ele entende que a melhoria econômica dos chineses está aumentando o seu turismo ao Japão, que foi recorde neste ano, perto de 10 milhões, devendo continuar crescendo para 13 milhões no próximo ano.
A pergunta seguinte foi como ele vê a China, e a resposta envolveu considerações históricas de sua província de Yamaguchi, sempre com a visão para o exterior. Destacou a flexibilização monetária que introduziu e recebia restrições de muitos.
A pergunta foi como segue a Abeconomics depois da eleição. Ele afirma que pretende reformas como o da agricultura, da assistência médica, como do mercado de trabalho. À pergunta de como seria isto, ele se referiu à utilização da mão de obra feminina e a melhoria na redução dos desperdícios na medicina.
Outra pergunta foi feita sobre o TPP – Parceria Trans-Pacifica. Abe se considera o líder mais forte que pode avançar no TPP. A pergunta voltou para a China, quando Xi Jinping mostrou na foto de ambos que havia uma contrariedade. Abe informou que entendeu a posição dele, como se fora para consumo interno. A pergunta agora foi sobre Senkaku, Abe entende que todos terão que se entender sobre o Mar da China.
A pergunta seguinte foi sobre os 70 anos do término da Guerra, começando com o problema das “mulheres de conforto”. Ele respondeu sobre o seu lamento, mas, quando o Japão é difamado, precisa defender a sua honra. Acha que no século XXI o direito das mulheres precisa ser protegido. Abe acha que alguns erros foram cometidos, mas entende que as relações com a Coreia do Sul não pode se restringir somente a este item.
À pergunta sobre os fantasmas existentes nas relações asiáticas, Abe respondeu que fantasmas não existem, e que o Japão adota uma política proativa na região.
Numa avaliação geral, a entrevista só poderia ser interessante se as perguntas formuladas fossem relevantes. Não foi perguntado como o Japão vai enfrentar o problema de sua redução da população e seu envelhecimento, e se isto pode provocar uma flexibilização às restrições a imigração. Também quanto ao grande problema da dívida pública, como vai se realizar o aumento da tributação indispensável.
Sem que se caminhe para as questões fundamentais do Japão, ainda que de difícil solução, parece que mesmo a prorrogação da permanência de Shinzo Abe no comando do país não vai resolver os problemas cruciais dos japoneses.
8 de dezembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais, Notícias | Tags: campeão mundial em Doha, exemplo de Cesar Cielo, exemplo de trabalho duro na natação em piscina curta, trabalho de equipe
Se existe um exemplo de que um trabalho persistente por muitos anos, aproveitando o que há de melhor no mundo, pode permitir que o Brasil conquistasse uma posição de destaque mundial, este é o da natação em piscina curta. O Brasil tornou-se campeão do mundo em Doha neste ano de 2014, acumulando nada menos que sete medalhas de ouro, numa modalidade esportiva em que, apesar de alguns destaques individuais, não é considerado uma potência tradicional. Já tinha ídolos como Ricardo Prado e Gustavo Borges na natação, mas foi Cesar Cielo quem se especializou em piscina curta, acumulando uma série de prêmios e estimulando outros brasileiros a seguirem seu exemplo, consagrados agora em Doha, incluindo uma medalha de ouro feminina.
Cesar Cielo, Felipe Franca, Marcos Macedo, Guilherme Guido: o revezamento 4x100m medley, campeão mundial da prova – Satiro Sodre / SSPress Publicado no site da Globo, edição de domingo 7 de dezembro
Comparando com países como os Estados Unidos e a Austrália, que nas últimas décadas se destacam na natação, considerados potenciais mundiais em qualquer competição deste esporte, dado o número limitado de atletas praticantes de alto nível, o Brasil teve que se especializar nas piscinas curtas. Mas, mesmo para tanto, teve que contar com Cesar Cielo treinando nos Estados Unidos e utilizando treinadores australianos que também atuam nas universidades norte-americanas. O Brasil conquistou:
AS MEDALHAS DO BRASIL EM DOHA-2014
Ouro – Revezamento 4x50m medley masculino
Ouro – Felipe França, 100m peito
Ouro – Revezamento 4x50m medley misto
Ouro – Cesar Cielo, 100m livre
Ouro – Etiene Medeiros, 50m costas
Ouro – Felipe França, 50m peito
Ouro – Revezamento 4x100m medley masculino (Cesar Cielo, Felipe França, Marcos Macedo, Guilherme Guido)
Prata – Nicholas Santos, 50m borboleta
Bronze – Cesar Cielo, 50m livre
Bronze – Revezamento 4x50m livre misto
Cesar Cielo começou esta epopeia em 2006 quando se transferiu para Auburn nos Estados Unidos para ser treinado pelo australiano Brett Hawke, numa bolsa para estudo de Comércio Exterior. Em 2008, ganhou sua medalha de ouro com recorde olímpico com 21s30. Antes, Ricardo Prado tinha obtido em 1984 a medalha de prata em 400 metros medley e Gustavo Borges em 1992 também medalha de prata nos 100 metros livre e medalha de prata nos 200 m livres em 1996. Cielo sofreu advertências pelo uso de produtos proibido, mas totalmente absolvido de suspeita de doping.
O que parece importante é que existe agora uma grande equipe que não se resume em poucos ídolos, mas diversos em modalidades diferentes. É evidente que para as competições futuras até chegar as Olimpíadas de 2016 existem muitas etapas e esforços que deverão ser desenvolvidos em várias frentes.
Mas parece que já ficou demonstrado que, mesmo em modalidades esportivas onde o Brasil não conta com tradição histórica, existem possibilidades de se formarem equipes competitivas, ainda que isto exija a presença no exterior e uso de treinadores de reconhecida capacidade internacional.
7 de dezembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias | Tags: estudos na CIBPU, Lucas Nogueira Garcez e Eduardo Yassuda, sugestão dos anos 1960, uso do Vale do Ribeira para abastecimento de água de São Paulo
Lamentavelmente, nem sempre os administradores públicos seguem as sugestões de especialistas de alto nível como no caso do abastecimento de água, que agora se tornou crítico. Já nos primeiros anos da década dos anos sessenta, o professor Lucas Nogueira Garcez, que foi governador do Estado de São Paulo, da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, uma das maiores autoridades em hidráulica no Brasil, apresentava na CIBPU – Comissão Interestadual da Bacia Paraná-Uruguai a sugestão que o Vale do Ribeira fosse utilizado para abastecer de água à região metropolitana de São Paulo, que carecia de outras fontes alternativas importantes. Ele e o seu assistente, professor Eduardo Yassuda, posteriormente secretário de Obras do Estado de São Paulo, já apresentavam estas sugestões, apesar das diferenças de altitudes das águas daquele Vale do Ribeira e São Paulo. Muitas gerações de administradores públicos passaram pelo Estado de São Paulo e só agora surge novamente a lembrança dos estudos efetuados.
O artigo publicado no site do Estadão, por José Maria Tomazela, informa com muitos detalhes esta atual necessidade, ainda que os custos do seu bombeamento possam ser importantes. Informa que o volume pode ser correspondente a duas Cantareiras que hoje é o reservatório mais crítico e fundamental para o atendimento da metrópole paulistana, que além da Capital abrange diversos municípios ao seu redor. Não se trata somente do abastecimento para as residências, que certamente é prioritário, mas todas as atividades econômicas da mais importante região da economia brasileira. Informa-se que se trata de um conjunto de oito represas capazes de fornecer 60 mil litros por segundo.
Todos os que estão familiarizados com os mapas da região sabem que o Vale do Ribeira fica no extremo sul do Estado de São Paulo, contando também com uma parte no Estado do Paraná, tendo como sua principal cidade Registro. Trata-se de uma área que conta relativamente com muitas matas do Atlântico mantidas como reservas, com atividade econômica menos intensa do que o resto do Estado, onde existe uma represa importante que fornece energia para a produção de alumínio de um grupo privado. A sua altitude, praticamente ao nível do mar, diferencia-se bastante do planalto da região metropolitana de São Paulo.
Mapa dos municípios da região do Vale do Ribeira, parte no Estado de São Paulo e parte no Estado do Paraná
Bacia do Rio Ribeira do Iguape
Segundo o artigo publicado no Estadão, a região foi a menos afetada pela estiagem que atingiu São Paulo neste ano. O uso dessas águas para suprir a demanda da região metropolitana está no Plano de Aproveitamento dos Recursos Hídricos para a Macrometrópole Paulista, do governo estadual, que prevê alternativas para o abastecimento urbano até 2035. E esclarece que a concessão de uso das barragens feita pelo governo federal à empresa de alumínio vence em 2016. De acordo com o secretário executivo do Comitê de Bacia Hidrográfica Ribeira de Iguape e Litoral Sul, Ney Ikeda, a renovação terá de ser negociada tendo como foco o uso múltiplo das águas.
O artigo esclarece que a primeira obra de transposição da água do Vale do Ribeira para a Grande São Paulo deve ficar pronta em 2017. O Sistema Produtor São Lourenço, resultado de uma parceria público-privada entre a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) e o Consórcio São Lourenço, prevê a captação de 4,7 mil litros por segundo na Represa Cachoeira do França, no Rio Juquiá, no limite entre Ibiúna e Juquitiba. A água será transportada por 83 km de adutoras até uma estação de tratamento em Vargem Grande Paulista, na região metropolitana, para ser distribuída.
O estudo, continua o artigo, concluído em 2013, antes da estiagem que afetou o Estado, estima que a demanda de água na Grande São Paulo em 2035 chegará a 283 mil litros por segundo – 60 mil litros a mais do que a disponibilidade atual em períodos normais. Segundo o plano, o Vale do Ribeira é a área mais próxima com água disponível. E o artigo esclarece que, para Ikeda, o uso de um volume maior de água do Rio Juquiá requer novos estudos. Na opinião do técnico, o Vale do Ribeira tem abundância de água com qualidade porque as condições físico-geográficas do ambiente que abriga os recursos hídricos foram preservadas.
Não se trata de um projeto fácil de ser executado, mas, a esta altura da crise, o abastecimento de água exige soluções heroicas, ainda que custosas.
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6 de dezembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais, Notícias, Saúde | Tags: artigo no site da Bloomberg, consumo de peixes, Jogaeal na Índia, milhares de mortes de crianças principalmente, mineração, poluição das águas | 2 Comentários »
Um alarmante artigo elaborado por Rakteen Katakey e Rajesh Kumar Singh foi publicado no site da Bloomberg informando que milhares de crianças, principalmente, estão morrendo na Índia com agonias com sintomas semelhantes: convulsões, dores de queimação nas extremidades do corpo, náuseas, vômitos, febre e diarreia. Só até o final de 2011, 53 deles foram enterrados nas três aldeias em torno dos distritos de mineração de carvão contíguos de Singrauli e Sonbhadra, a cerca de 970 quilômetros a sudeste de Nova Delhi. As investigações concluíram que a maioria estava vinculada com o consumo de água, sem que os poluentes estejam identificados, mas testes efetuados por cientistas independentes apontam o principal culpado: o mercúrio.
O incidente mais famoso provocado pelo mercúrio ocorreu em 1956 na baía de Minamata no Japão, que teria matado mais de 1.500 pessoas. Como se sabe, o mercúrio é um produto que não desaparece diluído em outros elementos e as contaminações ocorrem com a sua acumulação ao longo do tempo, aparecendo em peixes criados em águas poluídas, que digeridos vão prejudicar os seres humanos, sendo detectáveis nos seus cabelos e outras partes do corpo.
Contaminação com mercúrio na Bacia de Minamata, Japão, provocado por atividades industriais
O alerta indiano deve mobilizar autoridades como as brasileiras, pois sabe-se que principalmente na Amazônia muitos garimpeiros inescrupulosos e ilegais utilizam o mercúrio na localização de minerais raros, como o ouro. Ele também vai ocorrer com as pesadas poluições dos rios com resíduos industriais, como nos rios junto às maiores concentrações populacionais como São Paulo, num processo de acumulação ao longo do tempo. E eles acabam sendo ingeridos pelos peixes que são utilizados como alimentos por parte, principalmente, da população mais pobre. E até peixes fluviais nobres muito apreciados pelos amazonenses.
O mercúrio é utilizado no garimpo clandestino do ouro principalmente na Amazônia
As grandes minas de carvão acabam atraindo indústrias que utilizando energias geradas acabam provocando poluições, que vão se acumulando nos rios e lagos, cujas águas são ingeridas pelos seres humanos, que acabam ficando com sintomas como os apontados. O artigo cita diversos casos concretos onde as vítimas não tinham outras alternativas que utilizar estas águas, sendo de conhecimento dos profissionais médicos. Também as cinzas das usinas que utilizam carvão mineral acabam provocando a poluição das águas, por conterem vestígios de arsênicos e radiação de baixo nível, mas que estão degradando o meio ambiente.
Poluição, principalmente industrial, em rios como o Tietê
Já existem populações indianas que temem o que está acontecendo, procurando imigrar das regiões mais críticas, mas outros não possuem alternativas de vida. O Brasil deve adotar um programa sistemático de combate a estas poluições e garimpos ilegais com o uso do mercúrio, pois estão colocando em risco populações, principalmente nas suas camadas mais pobres. Antes que ocorram desastres de grandes proporções.
6 de dezembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais, Gastronomia, Notícias | Tags: a concorrência com o café e o suco de laranja, artigo sobre o chá na Folha de S.Paulo, os diversos tipos de chá e formas do seu consumo
Mauro Zafalon, na sua coluna sobre commodities na Folha de S.Paulo, publica um artigo interessante informando que a demanda mundial de chá (camellia sinesis) está se expandindo 6% ao ano, enquanto a do café cresce 2%, e a de suco de laranja está se reduzindo. Ele atribui este comportamento às formas variadas em que o chá está sendo consumido, inclusive gelado ou apresentado em latas como nas máquinas automáticas de sua venda que existem em muitos lugares do mundo, substituindo água e refrigerantes. Poderia ainda ser acrescentado que existem muitos tipos de chá, começando com os mais consumidos na Ásia que são os verdes, passando pelos mais fermentados e torrados consumidos na Europa e até os de frutas e flores que existem em muitos lugares do mundo. Suas qualidades são muitas, até os mais finos, como os utilizados em pó, nas cerimônias de chá, que são rituais.
Horário Sabino Coimbra, fundador do Café Solúvel Cacique, que também utiliza a marca Pelé, afirmava que quando os chineses passassem a tomar uma xícara de café por dia, não haveria produção brasileira para atender a esta demanda. Ainda que houvesse um mito que quem consome chá não toma café, ele demonstrou na prática que isto não existe e que os povos que possuem o hábito consumir chá também podem ser conquistados para o consumo do café, o que vem acontecendo na Ásia e parte da Europa. Certamente, aqui no Ocidente ainda não existe muito costume do consumo do café frio ou gelado, inclusive na forma de refrigerantes, o que já é bastante apreciado na Ásia, notadamente no Japão.
Também existem diversos tipos de café, sendo que o mais comum é a chamado arábico, e o robusta ou conilon mais utilizado para a produção de café solúvel. Estão se diversificando as formas dos seus consumos, principalmente com a disseminação de cápsulas que facilitam a elaboração do famoso cafezinho, já com os sabores adaptados pelo chamado blend com a mistura de muitos, para se adjustar às preferências dos consumidores, podendo vir misturados até com o leite e outros ingredientes.
Plantação de chá, camellia simesis
Plantação de café para colheita mecânica
As colheitas de chá começam com as folhas tenras, sendo manuais, enquanto as do café estão passando a ser mecânicas diante dos elevados custos dos recursos humanos e desenvolvimento das máquinas adequadas para tanto. O plantio do café também vem evoluindo, e no passado as plantas chegaram começavam a produzir depois de quatro anos, tendo alturas de até seis metros, exigindo o uso de escadas para a sua colheita. Hoje, os chamados de renque confinados passam a produzir no segundo ano, com alturas mínimas para facilitarem as colheitas mecânicas. Mas continuam existindo também os cafés considerados finos, ainda colhidos manualmente.
Em países tropicais, entre os sucos concorrentes como bebidas ou refrigerantes, destaca-se o de laranja, mas, considenrado mundialmente, o de maçã supera em quantidade. Não são diretamente concorrentes do chá nem do café, que são considerados estimulantes por conterem cafeína.
Mesmo no Ocidente, começa a aparecer alguns costumes de uso do café como refrigerante, consumido normalmente gelado e com teor mais suave. Na medida em que estes costumes se generalizem, há possibilidades de aumento do seu consumo em outras faixas, como os mais jovens.
Os chás costumam ser consumidos de forma tranquila, enquanto o café é normalmente mais ligeiro, inclusive de pé como para muitos brasileiros, ainda que estejam se disseminando formas mais demoradas de apreciação também no Ocidente, com pessoas sentadas à mesa e o café sendo acompanhado de alguns doces ou biscoitos.
O que parece difícil é afirmar que estes produtos são concorrentes entre sí, dependendo muito mais das formas do seu marketing, havendo casos de sucessos de redes que estão se implantando tanto no Ocidente como no Oriente.
6 de dezembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais, Notícias | Tags: artigos de peso sobre Antonio Carlos Jobim, digno deste grande compositor brasileiro, observações de renomados especialistas, uma coleção fora de série
Por mais que se admita que todas as avaliações, inclusive esta, sejam influenciadas pelas preferências pessoais, se existe quase uma unanimidade nacional e internacional é que o compositor brasileiro Antonio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim está entre os mais destacados no mundo recente. Com uma sólida formação em música erudita, ele tinha um ouvido absoluto, como ressalta sua irmã Helena Jobim, capaz de perceber nos sons da natureza a magia que o inspirou a contribuir numa das fases mais ricas da musica popular que não é só brasileira, mas se inseria também numa brilhante do que há de melhor no jazz, contando com parcerias nacionais e internacionais da mais elevada qualidade. Captar todo este fenômeno em alguns poucos artigos é uma rara felicidade que conseguiu o suplemento Eu & Fim de Semana, do Valor Econômico, tão bem dirigido por Robinson Borges. Tornou-se um documento para ser guardado para a posteridade, de leitura obrigatória de todos quando se interessam pelo assunto.
O suplemento começa com um artigo competente de Tárik de Souza que faz um apanhado geral da obra de Jobim, que está no http://www.valor.com.br/cultura/3805234/nao-e-o-fim-do-caminho. O site do Valor Econômico recomenda ainda no mínimo a leitura de:
"A fonte de criação dele era a mata" (breve entrevista de sua irmã Helena Jobim a Tom Cardoso);
‘Tom não gostava de ser bajulado’, diz Cabral (depoimento de Sérgio Cabral);
Orquestrações sobre uma estátua (também de Tárik de Souza);
Uma frutífera aliança com o jazz (artigo de Fabricio Vieira);
À Mesa com o Valor: Jaques Morelenbaum – Por causa de você (entrevista de Robinson Borges);
Mas, eu ouso recomendar também a leitura do artigo de Carlos Calado sobre Eumir Deodato e o seu dom de arranjar, que Jobim elogiou pela orquestração de 12 de suas canções, ainda quando tinha somente 22 anos.
80 milhões de americanos presenciaram o encontro musical entre Antonio Carlos Jobim e Frank Sinatra pela NBC
São destacadas as parcerias de Antonio Carlos Jobim com monstros sagrados como João Gilberto, Vinicius de Moraes, Frank Sinatra, Ella Fitzgerald, Stan Getz, Sarah Vaughan, Chico Buarque, Benny Goodman, Count Basie e de tantos outros, os já estavam consagrados como outros ainda desconhecidos em ascensão.
Suas músicas estão entre as mais tocadas no mundo, competindo com as dos Beatles, como a sua Garota de Ipanema, com arranjos dos mais sofisticados executados pelos mais consagrados músicos. Seu papel na consolidação da Bossa Nova bem como a sua divulgação universal não tem paralelo com nenhum outro artista brasileiro.
Nestes 20 anos após a sua morte, todos os brasileiros têm motivos de sobra para se orgulhar ao contar com um patrício deste naipe, reconhecido pelos músicos mais consagrados, como os apreciadores de bons momentos.
Se a música brasileira é respeitada no mundo, uma boa parte deve-se à qualidade de músicos como Antonio Carlos Jobim, motivo de orgulho para todos nós.
5 de dezembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política | Tags: artigo no The Wall Street Journal, efeitos da política monetária americana, reações do resto do mundo
Um artigo recente publicado por Nicole Friedman no The Wall Street Journal informa que a política monetária aplicada nos Estados Unidos, inundando o mundo com dólares e crédito, está melhorando as perspectivas do seu crescimento econômico, ao mesmo tempo em que os preços das principais commodities estão desabando. Provocam reações como da Europa e do Japão, que tendem a adotar políticas semelhantes, promovendo a desvalorização dos seus câmbios. Parece até irônico que a jornalista e aquele jornal não se deem conta de que os Estados Unidos não podem estar isolados neste mundo globalizado, e que as reações que ocorrem em outras economias representa algo como uma guerra cambial, para suas sobrevivências.
Gráfico adaptado do publicado no The Wall Street Journal, incluindo o real brasileiro
No gráfico, fica claro que, depois da crise provocada pelos bancos norte-americanos em 2007, diversos países sofreram valorizações das suas moedas, e procuram minimizar os efeitos da recessão mundial que se aprofundou em 2009. Houve uma tendência das demais moedas se valorizarem com relação ao dólar, havendo nos últimos anos uma tendência para suas desvalorizações agressivas, como defesa.
O caso brasileiro mostra que as reações das exportações como das importações não são imediatas a estes movimentos cambiais, havendo defasagens que costumam variar de 18 a 24 meses, notadamente nas exportações, dependendo ainda de outros fatores de política econômica, como a prioridade dada aos relacionamentos externos.
Ao mesmo tempo, depois de 2009, os preços dos produtos de exportação do Brasil, como os minérios e os produtos agrícolas, melhoram sensivelmente com a demanda, principalmente dos chineses. Os das importações brasileiras não tiveram estes comportamentos, fazendo com que a chamada relação de troca pelos economistas ajudassem a gerar superávits na balança comercial. Esta tendência já se encontra agora em queda, acentuando-se em 2014.
Como consequência, os déficits comerciais se tornaram inevitáveis, obrigando que o governo permitisse a aceleração recente da desvalorização cambial, para que os problemas não se agravassem.
Além destes problemas para os outros países no mundo, os Estados Unidos temem agora que o fluxo de turismo para aquele país tenda a reduzir-se com o dólar mais caro, deixando de contribuir para a melhoria da sua economia.
No Japão, a chamada Abeconomics não está proporcionando os resultados esperados, mesmo com a brutal expansão dos seus créditos. Os europeus também, mais cautelosamente, procuram ativar a sua economia. Parece necessário que os países economicamente poderosos se deem conta que não estão isolados no atual mundo globalizado, havendo que compatibilizar a sua recuperação também com a conveniência dos seus parceiros externos, notadamente os que não possuem moedas de circulação internacional.
5 de dezembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias | Tags: a fonte original na revista Nature, artigo em português sobre o gás do xisto na Folha de S.Paulo, os problemas existentes, possibilidade de superestimação das reservas
Disseminou-se um exagerado otimismo com o gás do xisto nos Estados Unidos a ponto de influenciar fortemente na atual queda de preços dos combustíveis no mundo, pois se acreditava que seria uma tendência de longo prazo. No entanto, estudos mais acurados, como os mencionados na revista científica Nature, que costuma ser cuidadosa, com matérias elaboradas por Mason Inman, informam que especialistas da Universidade de Texas discordam dos organismos oficiais como a US Energy Information Administration – EIA, mostrando que pode ter ocorrido um exagero nas projeções. Os estudos mais detalhados estão mostrando as diferenças nas características de muitas reservas nos Estados Unidos, o que ocorre também em outros países como a China, tida como a que detém a maior reserva mundial, mas não se empenhou na sua exploração, também devido limitações de sua disponibilidade de águas.
Produção de gás de xisto na reserva de Marcellus nos Estados Unidos
O otimismo foi provocado pela formação da reserva chamada de Marcellus, que se estende da West Virgínia, Pensilvânia e Nova Iorque, onde já funcionam 8 mil poços, que continuam aumentando. Cada poço chega até a 2 quilômetros de profundidade, e serpenteia por mais um quilômetro através da reserva que não é uniforme. Somente ela abastece a metade do consumo de gás dos Estados Unidos. As outras grandes reservas são o Barnett, no Texas, o Fauetteville, no Arkansas, e Haynesville, que fica na fronteira de Louisiana e Texas. Todos somam 30 mil poços, produzindo dois terços da produção do gás de xisto dos Estados Unidos. Evidentemente, os produtores se concentraram nas localidades que apresentam maiores disponibilidades de gás, devendo encaminhar para outras menos produtivas.
A agência EIA, no seu relatório anual de 2014, estimava que com a expectativa de aumento gradativo dos preços do gás natural haveria um aumento da produção até 2040, quando poderia deixar de crescer. Nas últimas previsões, o aumento chega somente até 2020 e deve se manter no mesmo patamar até 2040. Muitos efetuam previsões diferentes, usando dados que não são os mesmos, mas o que se sabe é que as reservas são irregulares em conteúdo de gás explorável do ponto de vista econômico, tanto na mesma área que é gigantesca como nas outras regiões.
No mínimo, os estudos mais detalhados estão resultando na possibilidade de riscos mais elevados, principalmente se o preço do gás não continuar subindo, como já vem acontecendo com o petróleo. Também se observam que nem todos contam com água em volume que possam ser poluídos. O caso da Polônia, a mais promissora na Europa, parece estar sugerindo maior cautela.
Existem problemas metodológicos sobre as estimativas, e o entusiasmo geral parece ter induzido a um otimismo exagerado, mas também existem opiniões divergentes. Os detalhamentos acabam melhorando as estimativas que estavam sendo feitos de forma geral, quando não se comprovam as uniformidades desejadas.
O artigo publicado levanta a hipótese de ocorrer um fiasco com o exagerado otimismo que acabou prevalecendo nos Estados Unidos.
3 de dezembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política | Tags: a mesma perplexidade nossa, a possível continuidade de Shinzo Abe, pesquisas de opinião eleitoral da Kyodo no Japão, redução de sua bancada | 2 Comentários »
Quando o primeiro-ministro japonês Shinzo Abe dissolveu a Dieta convocando novas eleições gerais, com a alegação que desejava um respaldo para uma nova elevação inevitável do imposto sobre as vendas dos atuais 8% para 10%, quando a anterior elevação de 5% para 8% aprofundou as dificuldades japonesas, confessamos que ficamos perplexos. Apesar de admitir que ele deva entender mais da política no Japão do que analistas do exterior, nós revelamos até neste site a nossa dificuldade de sua compreensão. Na falta de uma oposição adequadamente estruturada, todos esperam que ele seja reeleito, mesmo não contando com o desejável respaldo à sua Abeconomics.
Uma pesquisa realizada pela agência Kyodo, segundo artigo publicado por Reiji Yoshida no The Japan Times, informa que o premiê conta agora com maior reprovação que chega a 47,3%, superior à aprovação estimada em 43,6%. A estimativa é que sua bancada do LDP – Liberal Democratic Party deverá reduzir de tamanho, enquanto o seu aliado na coligação Komeito deve ter um ligeiro crescimento, perdendo a maioria que permitia a ele a nomeação de todos os presidentes de comissões.
Foto The Japan Times para mostrar os eleitores ouvindo as explicações
Informa-se que os discursos da campanha estão confusos, havendo os que são efetuados nas regiões afetadas pelas radiações, como próximas a Fukushima, onde o próprio governo afirma que esforços devem ser feitos para a sua recuperação, que até agora se mostrou insuficiente. Nos grandes centros urbanos, afirma-se que com o Abeconomics a economia deve entrar numa fase de recuperação com a injeção de surpreendentes montantes de recursos.
No entanto, o que está se verificando é que os bancos temem os riscos de aumentarem seus empréstimos, ao mesmo tempo em que as empresas como os consumidores não se sentem seguros para assumir responsabilidades. A oposição afirma que somente uma pequena elite se beneficiou da melhoria das bolsas, bem como a desvalorização do yen, que deve beneficiar o aumento das exportações, enquanto os assalariados tiveram comprimidos os seus poderes de compra, principalmente com a elevação dos impostos e dos preços dos produtos importados.
Acaba-se suspeitando que a eleição foi convocada para que Shinzo Abe tenha o seu governo prorrogado, ainda que sofra uma redução de sua bancada, aproveitando somente um momento em que a oposição não conta com uma organização de sua equipe para vencer o pleito. Mas o respaldo desejado pelo premiê parece difícil de ser conseguido, podendo aprofundar a crise japonesa.
O mundo globalizado está necessitando da economia japonesa mais ativa, capaz de contribuir na melhoria de todos os seus parceiros. Já afirmamos que as bases das dificuldades japonesas estão na redução de sua população e no seu relativo envelhecimento, e se estes problemas não podem ser resolvidos, as suas dificuldades tendem a persistir, o que seria extremamente lamentável.
Ainda que o tempo da campanha eleitoral seja muito curto, estas discussões devem ser intensificadas, até porque não há uma aparência que as atuais sejam capazes de proporcionar condições para a estabilidade do governo por um longo período.