Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Raras Novidades Gastronômicas em São Paulo

21 de novembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais, Gastronomia, Notícias | Tags: Chef Benon Chamilian, cuidados pessoais, lugar difícil de ser localizado e limitado em espaço, melhor cozinha árabe, o árabe libanês

Mesmo para as pessoas que estejam acostumadas com a gastronomia nos melhores centros como Paris, Londres, Nova Iorque, Tóquio, Cingapura, Istambul e outros, sempre existem oportunidades para se conhecer em São Paulo surpreendentes novidades, ainda que localizadas fora das áreas mais badaladas. É o caso do Mocotó da Vila Medeiros, e este Chef Benon, na transição do Morumbi com a Vila Sônia. Mesmo com as indicações de mapas, não é fácil transitar pelas ruas cheias de curvas, algumas mal sinalizadas, notadamente para aqueles que se aventuram também em rotas alternativas, mesmo num feriado. Mas Chef Benon vale o sacrifício, inclusive para chegar antes das 12h, para ser acomodado em lugares simples, mas limpos, com o tumulto posterior de pessoas à espera de serem atendidas.

Trata-se de uma casa simples adaptada para um pequeno restaurante, que por ter sido destacada numa revista voltada à classificação dos restaurantes recebe um fluxo exagerado de clientes, que não permite reservas. Muitos comentários já vinham sendo publicados sobre o trabalho do Chef Benon, informando sobre a sua experiência no Líbano, Arábia Saudita, como em outros restaurantes no Brasil, uma carreira de algumas décadas. Tudo indica que o seu restaurante é uma volta à simplicidade e a sua marca pessoal, até da escolha de um pequeno local onde esperava tranquilidade que deve estar perdendo, pela invasão de clientes interessados numa cozinha diferenciada, sempre procurada por muitos paulistanos.

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Qualidade acima de tudo, mas também quantidade a preços razoáveis

Todos que moram em São Paulo sabem que a chamada cozinha árabe apresenta grandes variações, dependendo da localidade de onde se origina. Os libaneses são as bases de muitos que se espalharam e receberam novas leituras, como em Paris. Istambul, que foi a capital do Império Otomano, tem uma tradição com riqueza dos materiais que dispõe, provenientes das mais variadas partes do mundo.

O que predomina em São Paulo já são os produzidos por árabes que possuem pouco conhecimento da cozinha original, e suas amplas variedades. Por exemplo, muitos não conhecem o cuscuz marroquino, que é de ótima qualidade e que faz sucesso em Paris. Os mais populares disseminaram bons quibes e esfirras, além dos kebabs para todos os bolsos, pois os árabes que chegaram ao Brasil foram até os confins da Amazônia, e ocuparam deste o Rio Grande do Sul tendo também importância no Nordeste.

Poucos são os que conhecem os carneiros que são servidos nos grandes banquetes, onde o olho do animal é oferecido pelo anfitrião ao convidado principal, pois é considerado a parte mais saborosa da iguaria. Já se foram os períodos em que os alimentos eram levados à boca com a ajuda de verduras ou diversos tipos de pães, sem o uso de talheres.

A enorme variedade dos chamados indevidamente árabes chegam aos armênios que também contam com especificidades em São Paulo. É mais que natural que todas as regiões que foram e continuam sendo ocupados pelos chamados árabes apresentem uma riqueza de variedades que nem sempre é conhecida.

É evidente que também se processa uma evolução na cozinha árabe, como os mais tradicionais que valorizam mais o trigo que era mais utilizado, e hoje com a facilidade de acesso às carnes, muitos pratos ficaram mais ricos nestes ingredientes. Lembrando que os chamados árabes fizeram parte do início da civilização, como na Mesopotâmia, ou no Egito, pouco se distinguindo dos contatos com os persas, hindus, chineses e outras civilizações da antiguidade.

Toda esta civilização, nem sempre valorizada, resultou nesta sua culinária rica e diversificada, onde sempre existem espaços para inovações que sempre são bem-vindas.


Os Difíceis Problemas da Economia Japonesa

21 de novembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias | Tags: continuidade da deflação, convocação de eleições, elevado nível da dívida pública, injeção brutal de recursos monetários, uma economia com diminuição da população que envelhece

Lamentavelmente, quando a terceira economia do mundo não consegue sair das dificuldades que enfrenta, analistas do exterior passar a dar sugestões, ainda que se suponha que os japoneses é que devem entender melhor os seus problemas e as soluções possíveis. Willian Pesek, que expressa as opiniões da Bloomberg sediada em Tóquio, publicou seu ponto de vista num artigo publicado no The Japan Times, sugerindo créditos diretos aos consumidores e outras medidas heterodoxas. O The Economist publica no seu site, reproduzido em português no site de O Estadão, também sua apreciação sobre as dificuldades japonesas, pois o Bank of Japan começou a injetar US$ 700 bilhões anualmente, que deveria provocar uma forte desvalorização do câmbio e aumento de suas exportações, mas que só provocou a alegria dos aplicadores no mercado financeiro, sem que a demanda crescesse no Japão, e, pelo contrário, decrescesse com a elevação que ocorreu nos impostos sobre a venda que passaram de 5 para 8%. Ainda que a medida creditícia não tivesse tempo para provocar os seus efeitos.

O primeiro-ministro Shinzo Abe teve que dissolver a Dieta e convocar eleições gerais, pois pretende postergar o aumento para 10% de impostos sobre as vendas que estava programado para outubro deste ano, principalmente porque a economia japonesa registrou um decréscimo nos últimos dois trimestres, entrando tecnicamente num período de recessão. Já postamos neste site as dificuldades de uma economia onde a população está decrescendo e envelhecendo, num quadro onde o débito público já chega a 240% do PIB, não permitindo muito espaço para a utilização da política fiscal. Ao mesmo tempo, a situação da economia mundial não propicia um aumento substancial das exportações para estimular a economia japonesa.

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Premiê do Japão Shinzo Abe sem muitas alternativas

Lamentavelmente, a chamada easing monetary policy provocou uma melhora da economia brasileira, mas não tem sido suficiente na Comunidade Europeia onde o Banco Central da Europa adota posição semelhante. Também no Japão, ainda que a disponibilidade de crédito venha aumentando substancialmente, tanto os bancos não se dispõem a emprestar diante dos riscos existentes como as empresas e os consumidores não demandam estes créditos diante das incertezas futuras. A política cambial já não é um instrumento suficiente para estimular as exportações e a economia, num cenário mundial adverso.

Isto mostra que, apesar das alegações do governo brasileiro não serem totalmente justificáveis, há que se admitir que o cenário internacional não seja estimulador para qualquer economia, a ponto do The Economist sugerir que o Japão deva se concentrar na expansão do mercado interno, o que vem sendo feito pelos Estados Unidos e pelo Reino Unido. Também a China se concentra em dar prioridade ao mercado interno, ainda que tenha pretensões de ampliar suas influências no mundo.

Quando existe uma relativa paralisia, com o sistema bancário não conseguindo dar a sua contribuição em função dos riscos, entre as medidas aparentemente heterodoxas sugeridas aparentam oferecer créditos sem custos para estimular novas iniciativas empresariais, notadamente dos jovens, com o uso de novas tecnologias. No Japão, 25% dos jovens estão desestimulados, necessitando de desafios para iniciarem suas atividades. Como vantagens fiscais não podem ser cogitadas, o que se pode oferecer são créditos estimulantes, mesmo que alguns projetos não proporcionem retornos.

Ainda que o Japão ofereça resistências para imigrações de trabalhadores jovens do exterior, a dramática queda de sua população com o simultâneo envelhecimento parece sugerir a necessidade de uma ousada iniciativa para o seu estímulo, notadamente quando existe carência de recursos humanos para tarefas mais simples. Todos sabem das dificuldades dos idiomas bem como dos costumes, mas quando considerada as últimas décadas houve um significativo aumento de estrangeiros no Japão.

O Japão já veio admitindo trabalhadores temporários, descendentes de japoneses até a terceira geração. Parece chegada a hora de ampliar as facilidades sem considerar restrições de qualquer natureza, pois o padrão de vida no Japão supera em muito o de muitos outros países atraindo uma população que está procurando por novas oportunidades. Mesmo com todas as dificuldades, países como os Estados Unidos contam com expressivo contingente de imigrantes, mesmo que tenham dificuldades até no uso do inglês.

Na atual situação, quase de emergência, não se justificam mais medidas de tendências nacionalistas, pois há que se admitir que o mundo esteja cada vez mais globalizado, mesmo considerando todas as dificuldades para integração de estrangeiros no Japão. São muitos os exemplos que indicam que estrangeiros com elevada iniciativa estão já contribuindo com a economia daquele país.

Mesmo não sendo um especialista em política japonesa, fica-se com a impressão que a convocação de uma nova eleição, ainda que permita que Shinzo Abe continue no poder por mais algum tempo, não seja um instrumento adequado para proporcionar novas diretrizes capazes de oferecer alternativas ousadas para o Japão sair de suas dificuldades.

O mundo necessita de uma economia japonesa ativa, que tem muito a contribuir para o resto do mundo.


Editora Estação Liberdade e Seus Lançamentos

20 de novembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais, Notícias | Tags: a evolução da vida de um estudante em Tóquio dos seus seis anos ate os vinte e um anos, diferenças com o Ocidente, intercâmbio do Japão com a Europa no início do século XX, Ogai Mori e Vita Sexualis, últimos lançamentos

A editora Estação Liberdade que teve o seu primeiro grande sucesso com a tradução do livro de Miyamoto Musashi, trabalho excepcional da minha amiga Leigo Gotoda, promove o lançamento de diversos livros escritos por autores japoneses, como este de Ogai Mori, Vita Sexualis. Uma ótima tradução de Fernando Garcia que também oferece ricas observações e explicações permitindo o melhor entendimento dos leitores sem grande familiaridade com a literatura japonesa, numa apresentação primorosa. Os que esperam encontrar descrições escandalosas de encontros sexuais podem ficar frustrados, pois naquela época mais do que hoje existiam diferenças acentuadas nas visões da cultura japonesa, que era muito reservada, e brasileira, que era mais livre sobre estes aspectos sexuais. O importante é que a editora tem a coragem de enveredar por campos que podem gerar algumas más interpretações de alguns leitores menos informados.

No Oriente, notadamente no Japão, parece que estes assuntos que podem ser delicados, como os primeiros conhecimentos sexuais de meninos japoneses, costumam diferir das visões maliciosas que já predominavam na Europa na época, onde o conceito de pecado era relevante. Minha pequena experiência pessoal é que a partir da estética como nas xilogravuras de ukiyo-e de Hokusai, que ilustra a capa do livro, as figuras femininas e masculinas japonesas estão bastante vestidas, somente sugerindo que estão se preparando para atividades sexuais, com todas as partes sensuais escondidas. No Ocidente na época, o padrão de beleza parece ter sido determinado pelas mulheres nuas que pelos critérios atuais seriam exageradas em peso, como pode ser observado em muitas fotografias da época.

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                                           Ogai Mori, autor de Vita Sexualis

O livro é autobiográfico e relata as experiências de um estudante em Tóquio no início do século XX, dos seus seis anos aos 21, quando vai para a Alemanha estudar medicina, interessando-se também por aspectos da literatura e filosofia europeia. Dá uma boa noção do que era a vida dos jovens estudantes em Tóquio naquela época, como pode ser constatado em outros livros da época.

Informa sobre o que ocorria na vida noturna de Tóquio, descrevendo como era o bairro de Yoshihara onde se concentravam os prostíbulos daquela capital na época, que podiam ser frequentados somente pelos que contavam com muitos recursos. Mas não entra nos detalhes das suas experiências, que é focado de forma muito discreta, como era na cultura japonesa de então, ainda que artistas de ukiyo-e retratassem cenas mais ousadas para os padrões japoneses, com as figuras das cortesãs .

Observa-se que estava em voga a influência filosófica europeia no Japão, que procurava reproduzir estas preocupações no texto do livro. O autor foi um médico formado na Alemanha, como era muito comum entre estudantes de famílias de posse de todo o mundo, e ele teria atuado na Guerra Nipo-Russa.

Todos os leitores que possam estar interessados nestes livros de autores japoneses encontram muitos deles editados em português pela Editora Estação Liberdade, com apresentações de qualidade, com uma seleção respeitável. A editora normalmente me contempla com exemplares dos seus lançamentos, que costumam ser muito interessante, ainda que nem sempre se conte com o tempo desejável para um exame mais acurado.


Fracionamento na Venda dos Medicamentos

19 de novembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais, Notícias, Saúde | Tags: artigo de Mario Russo no site de O Globo, economia, medida da Anvisa que necessita ser implementada, poder da indústria farmacêutica

Apesar de uma regulamentação da ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária em vigor há oito anos, a chamada Resolução 80, publicada em 11 de maio de 2006, que permite a venda de remédios fracionados de acordo com as prescrições dos médicos as farmácias e drogarias em todo o país, não há empenho para se implantar esta medida que seria de vital importância para a economia popular. A medida, além de permitir uma economia dos consumidores, evitaria as sobras que apresentam riscos de serem consumidos pelos menos avisados, inclusive fora de suas validades, ou por crianças que não têm a noção dos seus riscos. Também os descartes inadequados provocam a contaminação ambiental. Como a medida não prevê nenhuma punição, todos ignoram a sua utilização.

Um exemplo japonês, já postado neste site, mostra como no Japão existe um cuidado maior sobre o assunto. Mesmo com a prescrição médica, o paciente ao chegar à drogaria necessita preencher um questionário sobre as doenças que ele sofreu e as possíveis alergias, para que os farmacêuticos, que conhecem o assunto muitas vezes melhor que os médicos, saibam a compatibilidade do medicamento com o paciente. Eles explicam a finalidade de cada medicamento, e como devem ser consumidos, pelo período prescrito e os cuidados do seu uso durante os dias, por exemplo, se antes ou depois das refeições. As drogarias só vendem a quantidade prescrita, para evitar todos os inconvenientes acima descritos.

As informações disponíveis mostram que o Brasil é o quinto consumidor de remédios no mundo, apesar de contar com uma população menor, menos renda e demais fatores que devem ser considerados. Existe um evidente desperdício de medicamentos, que costumam custar bastante, apesar da disseminação dos atuais genéricos. Também deve se notar que os hospitais vendem a caixa dos medicamentos, e quando não utilizados durante a estada do paciente nos estabelecimentos, como já estão pagos, suas sobras acabam sendo levadas para casa, ainda que desnecessárias.

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Diversas drogarias, uma ao lado de outras, ocupam a mesma rua de São Paulo

Percorrendo muitas cidades em todo o mundo, o que se observa com facilidade é o exagerado número de drogarias no Brasil, de forma muito desproporcional. Na medida em que algumas sejam aglomeradas, haveria a possibilidade da prestação de melhores serviços, com local adequado para o armazenamento de medicamentos fracionados.

São medidas urgentes de aperfeiçoamento, pois os custos dos tratamentos de saúde estão se tornando insuportáveis no Brasil, com o aumento atual dos idosos, e é preciso que as autoridades tomem medidas para a sua redução, de forma que mais pessoas possam ser atendidas com as limitações dos recursos.


Ramen Adaptado Faz Sucesso nos EUA e a Europa

19 de novembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais, Gastronomia, Notícias | Tags: alimentação barata faz sucesso com clientes estrangeiros, artigo sobre ramen no exterior no The Japan News, sabores e ingredientes locais

Um artigo publicado por Jin Kiyokawa, do Yomiuri Shimbun, divulgado pelo site do The Japan News, informa que, além do sushi e sashimi que são dispendiosos, está havendo um verdadeiro boom de interesse dos norte-americanos e europeus sobre variações do ramen, devidamente adaptado aos sabores e ingredientes de preferências locais, surpreendendo até os japoneses responsáveis pelas cadeias de lojas. Informa-se que já se dispõe de 650 estabelecimentos que estão satisfeitos com o sucesso. Como é sabido de muitos, existe um Museu de Ramen em Shin-Yokohama, que vem efetuando estes levantamentos, que hoje não se restringem ao Japão, selecionando os considerados melhores.

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Yumeya, um estabelecimento popular de ramen em Frankfurt. Foto de cortesia do Shin-Yokohama Ramen Museum.

As adaptações que estão ocorrendo com o ramen são impressionantes, como o Zweite Ramen que inclui chucrute para complementar o rico caldo de carne, bem com pequenos pedaços de bacon, e uma especiaria conhecida como seiben para criar um sabor diferenciado.

Na França, está se servindo um ramen com um caldo de uma mistura de carne francesa com o dashi japonês. Existem estabelecimentos que servem o ramen com uma pasta elaborada com uma farinha de trigo usada nas massas de pizza e farinha de trigo dura para dar um sabor e uma textura diferentes.

Uma cadeia em Nova Iorque de nome Ippudo foi criada em 2008 e já conta com estabelecimentos até em Londres, todos apresentando algumas adaptações locais, tanto nos sabores como nos tipos distintos. Estão tentando desenvolver o que seria o padrão mundial.

A Ramen Setagaya opera restaurantes no Estado de Nova Jérsei e também no exterior. Muitos estabelecimentos foram instalados pelos expatriados japoneses que atuam no exterior, havendo casos de utensílios distintos. Um seria uma colher chamada Renge, que são maiores para os clientes poderem sorver o ramen junto com o molho, pois nem todos os estrangeiros conseguem consumir os caldos com as massas. Até vídeos estão sendo oferecidos para ensinar como os japoneses sorvem, fazendo um barulho característico.

No Brasil, também o ramen está muito popular como num estabelecimento chamado ASKA, no bairro da Liberdade. Existem dias em que os clientes necessitam aguardar por quase uma hora na rua, pois além do ramen ser saboroso, e vendido por um preço módico que atrai inclusive as famílias, além dos jovens que aprenderam a consumi-los quando trabalhavam temporariamente no Japão.

Todos sabem que o ramen é originário da China, onde pode ser apreciado em estabelecimentos na rua, que apresentam elevada qualidade. No entanto, no Japão sofreu mudanças e aperfeiçoamentos, principalmente nas variedades que são oferecidas, com diferentes ingredientes. Por ser barato acaba ficando acessível a uma ampla camada da população.


A Família Unida Nos Climas Frios e Nas Dificuldades

18 de novembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais, Gastronomia, Notícias | Tags: nas dificuldades o último apoio da família, no frio as comidas coletivas das famílias, uma cultura que valoriza a família

Quando se encontra no The Japan Times um artigo da Makiko Itoh falando de uma culinária em torno de um nabe (tipo de panela) com uma família compartilhando o seu sabor e calor neste outono/inverno japonês, me vem a lembrança de São Paulo da época da garoa, quando todos nos reuníamos em torno do hibachi (pote de fogo) para apreciar um prato que estava sendo cozido e de onde apanhávamos pequenas porções, ao mesmo tempo em que o calor era aproveitado para aquecer a todos e ao ambiente. Hoje existem fogareiros portáteis à gás, mas nos tempos como da Segunda Guerra Mundial o carvão proporcionava o fogo, e todos utilizavam até os cobertores para melhor aproveitar o calor para se aquecer. Era a forma de uma alimentação que reunia a família, numa refeição coletiva, que poderia ser de um sukiyaki (cozido de carne com legumes e outros ingredientes) ou um tirinabe (cozido que aproveitava os restos dos peixes). Que saudades destas coisas simples e importantes que ficarão sempre nas nossas gratas lembranças.

Hoje, fico triste vendo um casal num restaurante em São Paulo, mulher e homem (nem sempre), com seus sofisticados aparelhos eletrônicos, atentos às informações atualizadas, mas irrelevantes, ou até aos jogos que estão praticando, sem conversar quanto mais se comunicar. A refeição não é compartilhada, dando a impressão que não são seres humanos, mas robôs. Parece que perderam a humanidade, suscitando-nos vontade de interferir onde não somos chamados, para informar que em muitos lugares os celulares são proibidos nas mesas, tanto por incomodarem os vizinhos como para evitar estas tendências ao isolamento. Podemos chamar isto de avanço? Então vamos voltar ao que era bom no passado, que não podemos abandonar.

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Um saboroso cozido como você quer que seja: o interessante sobre o nabe caseiro (panela quente) é que os ingredientes são os de sua preferência e é fácil de fazer (tradução livre). Makiko ITOH, publicado no The Japan Times

Os ingredientes destes pratos podem ser os de preferência dos consumidores, quer sejam carnes, peixes ou frangos, junto com verduras, legumes e quase sempre com tofu (queijo de soja), cogumelos e outros ingredientes. Os pontos de cozimentos podem ser também de suas preferência, havendo possibilidade dos temperos serem incluídos ou apreciados em separado.

A autora informa que este tipo de culinária já era utilizado no Japão no século XIX e se tornou mais conhecido no Período Edo, quando passaram a ser utilizados os hibachi. Os potes usados e mais recomendados são os donabe (de cerâmica) que conservam melhor o calor, mas também podem ser de ferro, havendo recentemente os de aço inoxidável ou de esmalte.

O gyo-nabe (de carne) foi utilizado na Restauração Meiji, quando os japoneses absorveram costumes ocidentais, como o consumo de carne bovina. Também existiu um período em que o bacalhau fresco era muito utilizado, por se tratar de um peixe com consistência mais firme. Hoje se utiliza também ostras, carne de porco em fatias finas.

Esta culinária é recomendada também para as crianças, pois muitas delas evitam verduras e legumes, que, quando preparado desta forma junto com carnes, acabam sendo melhor apreciados. A possibilidade de alternativas parece ser o forte deste tipo de preparo dos pratos, que sempre são mais apreciados no outono ou no inverno.


Alguns Desafios Atuais da Economia Brasileira

17 de novembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias | Tags: características dos países emergentes, comparação com economias desenvolvidas, desafios existentes

Quando se compara a economia brasileira com alguns países como o Japão, a Espanha ou alguns outros países europeus, verifica-se que existem desafios decorrentes de uma população que ainda cresce, contando relativamente com jovens que estão se preparando para desempenhar o seu papel como adultos. Há um visível reconhecimento atual que a educação é um mecanismo para a ascensão social, tanto pelo aumento de estudantes modestos nos cursos noturnos, como o uso de cursos proporcionados pela internet, adaptando para a língua portuguesa aulas de excelente qualidade proporcionadas pelas grandes universidades como as norte-americanas, graças ao patrocínio da Fundação Lehman. Também se observam a formação de grandes universidades privadas, que atuam de forma nacional, como as que proliferam nas periferias das grandes metrópoles.

Trair e Coçar - Fotos Fábio Teberga14

Auditório da Universidade de Taubaté numa apresentação teatral

As necessidades de diversificação da economia brasileira, forçada pelas dificuldades de continuidade das exportações de minerais como de produtos agrícolas que estão sofrendo uma nova revolução verde na Ásia, o Brasil apresenta um desafio de melhor aproveitamento de sua biodiversidade. Tanto na Amazônia como em todo o amplo território brasileiro, existem muitos produtos que são conhecidos localmente, que sendo saudáveis contam com mercados crescendo no Brasil como no resto do mundo. Nota-se uma tendência de aumento das preocupações com a manutenção da saúde que determina crescimentos elevados de muitos destes produtos, que apresentam boas oportunidades para exploração no país. A ampla diversidade das condições de solo e clima do Brasil permitem também produções locais de tradicionais produtos saudáveis, como os que já contam com consumo em outras partes do mundo, como no Oriente.

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Produção de Açaí na Amazônia

Estas atividades potenciais apresentam alguns desafios como pesquisas que estão sendo efetuadas para o seu melhor aproveitamento, algumas industrializações, bem como o aperfeiçoamento de embalagens para serem colocadas no mercado local como para as exportações. Necessitam contar com todas as condições para a sua melhor aparência, como evitar-se suas contaminações, podendo ser aceitas pelas autoridades de vigilância sanitária dos países desenvolvidos.

Nem todos observam os novos desafios que se apresentam também no Brasil, como a elevação de todos os custos dos recursos humanos, que geram oportunidades para a automação e até o uso de robôs para muitas tarefas repetitivas. Também veio ocorrendo um aumento do custo de energia bem como outras utilidades no país, exigindo o uso de tecnologias que promovam sua economia, tradicionalmente existentes nos países onde estes custos já são elevados por um longo período.

O Brasil e o Japão vêm utilizando submergíveis japoneses para a exploração conjunta das potencialidades da chamada Elevação Rio Grande, que se estende pelo Atlântico por milhares de quilômetros, com uma lâmina de água de somente cerca de 1.000 metros. Há indícios de elevadas potencialidades de metais raros, hoje quase monopolizados pelos chineses, bem como matérias-primas para fertilizantes, sempre necessários para as atividades agrícolas brasileiras.

Muitos não observam as condições dos transportes para o comércio internacional do Brasil, que sofreram modificações. As exportações ainda utilizam muitos navios graneleiros, tanto para os minérios como os produtos agrícolas como os cereais. As importações utilizam, quase sempre, contêineres e cargas para o seu retorno e contam com condições favoráveis, competitivas com as localidades mais próximas dos mercados consumidores.

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Terminal de contêineres utilizáveis como carga de retorno

O câmbio brasileiro que estava defasado está sendo corrigido pelo mercado, e as atividades exportadoras contam com juros e tributações mais convenientes, principalmente quando combinado com algumas importações que permitem utilizar os créditos fiscais acumulados. Ainda que existam outros fatores considerados custo Brasil a continuarem a ser corrigidos, as autoridades se mostram sensíveis para suas revisões, até porque as exportações acabam sendo prioritárias para a sustentação do crescimento da economia brasileira.

Como estes, existem uma série de desafios que enfrentados podem proporcionar bons negócios e ajudam a elevar o crescimento da economia brasileira.


Para Que Não Digam Que Não Falei das Flores

17 de novembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais, Notícias | Tags: avaliação internacional, importância mundial, música popular brasileira, novo lançamento do disco de Francis Hime

Não tenho a qualificação de um Zuza Homem de Mello para comentar sobre a MPB – Música Popular Brasileira e sua evolução, mas como simples consumidor desejo expressar a minha opinião sobre o assunto. Nos idos dos anos sessenta do século passado, quando o Brasil passava por grandes mudanças políticas, econômicas, sociais e artísticas, um grupo de brasileiros com a maior sensibilidade, inclusive poética, que não tinha o poder da força, impunha com sua arte uma revolução de criatividade. Retomava o que Heitor Villa-Lobos já iniciara, descobrindo nas coisas simples do povo brasileiro, com muita felicidade, uma nova visão do mundo. Uma releitura das mais caras tradições musicais do Brasil, como o samba com uma nova batida que se chamou Bossa Nova. Jovens da classe média se misturavam com o que tinha de mais popular no país, com o respaldo da estrutura musical de alta qualidade, inclusive a clássica, onde se destacavam músicos como Antonio Carlos Jobim, Francis Hime, Carlos Lyra e alguns outros que conheciam as bases do que se utilizava no que se chamava música erudita, que também se socorria sempre do folclore e das canções populares em muitos países.

Numa recente viagem por localidades como Cingapura ou Tóquio, observamos que em lojas de departamento, hotéis, restaurantes finos e outras localidades frequentadas por pessoas de bom nível intelectual de todo o mundo, o que mais se ouvia no ambiente era a música popular brasileira que reconhecíamos com alegria, ainda que com nova roupagem. Depois que a Bossa Nova foi buscar a contribuição do jazz que já era internacional, os brasileiros levaram para o mundo, notadamente via Estados Unidos, uma nova música popular que impressionava até consagradas personalidades como Frank Sinatra, como foi o intenso intercâmbio com Antonio Carlos Jobim. Eventos importantes de brasileiros foram improvisados e empolgaram nas salas consagradas como a da Carnegie Hall.

Muitos cantores populares, como Sérgio Mendes, descobriram o mercado norte-americano e começaram a divulgar pelo mundo, a ponto de eu ter ouvido em fins dos anos sessenta em Quioto, no Japão, um grupo que cantava imitando-o em português, imaginando que era em inglês, sem mesmo saber que se tratava de música brasileira.

A evolução continuou e continua a ocorrer por décadas, tanto no Brasil como no mundo. Hoje, o que se ouve no mundo é uma nova MPB enriquecida com outras tendências, já polida pelo jazz atual, utilizando o que há de melhor em gravações sofisticadas em estúdios, sempre tendo por base a criativa música brasileira. Todos sabem que Garota de Ipanema é a música mais tocada até hoje no mundo, nas mais variadas versões.

Assistindo no SESC Pinheiros ao show de lançamento do novo disco de Francis Hime, Navega e Ilumina, comemorativo dos seus 50 anos de carreira, tem se a impressão que se dispõe ainda em pedra bruta de um verdadeiro diamante da mais elevada qualidade, que, com todo o respeito que se deve dar ao pioneiro selo SESC, merece uma edição de qualidade internacional como os que são feitos no Japão, lapidado com o que se dispõe de melhor em tecnologia. Todos os grandes artistas brasileiros gravam no Japão, que, além de contar com um expressivo mercado interno, ajuda a promover a exportação para outros países.

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A capa do novo CD de Francis Hime

O que não se deve esperar é que Francis Hime continue com a voz de quando jovem, pois mais que intérprete sempre foi um grande compositor, que criou músicas da mais elevada qualidade e sofisticação para letras elaboradas por muitos parceiros consagrados como Vinicius Moraes, Chico Buarque de Holanda e muitos outros. Fantasia para Violino, com arranjo e interpretação do maestro Claudio Cruz, é algo raro de ser encontrado mesmo nas melhores músicas eruditas.

Lamentavelmente, como os cantores acabam ganhando mais destaque no mercado brasileiro, muitos compositores insistem em fazer suas gravações por aqui, ainda que pudessem contar com intérpretes melhores.

Além do que consta deste novo CD Francis Hime, ele dispõe de um dos melhores acervos de trabalhos de elevadíssima qualidade que merece ser lapidado nos melhores estúdios disponíveis. É preciso aproveitar o momento áureo da melhor música brasileira nos mercados mundiais para um lançamento de qualidade internacional. Não há de faltar empresários interessados nesta empreitada, que, além de divulgar o que existe de criativo nas artes brasileiras, mostra que existe um acúmulo de trabalhos persistentes, conectado com o que há de melhor no mundo, que continua precisando mais do nunca desta alegria brasileira.


A Epopeia Para a Criação do Bluefin (hon maguro)

16 de novembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais, Gastronomia, Notícias | Tags: dificuldades até chegar ao estágio atual, extenso artigo no Wall Street Journal sobre a criação do atum, o trabalho da Universidade de Kinri

Há um consenso razoável de que hoje mais da metade dos peixes e outros frutos do mar, como o camarão, já são criados em cativeiro, e a grande maioria envolveu intensos e longos trabalhos para que isto se tornasse uma realidade. Os consumos destas proteínas saudáveis estão se elevando no mundo, principalmente depois que os chineses aprenderam a apreciar os produtos crus como os sashimis e o sushis, que antigamente eram inconvenientes dadas as condições sanitárias naquele gigantesco país. Contribuíram também as disseminações das culinárias japonesas e outras do Sudeste Asiático por todo o mundo, consideradas atraentes e saudáveis. Tudo indica que esta tendência do passado recente vai se intensificar no mundo nas próximas décadas.

Todas as criações, tanto dos camarões como dos salmões, também exigiram longos e intensos trabalhos. A do atum, principalmente os considerados de melhor qualidade, espécies conhecidas em inglês como bluefin e em japonês como o hon maguro (verdadeiro atum), que proporciona os mais apreciados toros na parte próxima a sua barriga, intensos em boas gorduras, exigiram grandes esforços, pois o estoque mundial de espécies naturais chegou a ser ameaçado com a intensidade das pescas e melhorias dos equipamentos utilizados para a sua localização, tanto no Pacífico como até no Atlântico, onde atuneiros trabalhavam ao longo de muitos meses. Técnicas de congelamento rápido também ajudaram a preservação de suas qualidades para transportes a grandes distâncias, consumindo longo tempo da captura até a sua comercialização nos grandes mercados como o de Tsukiji em Tóquio. Também foram aperfeiçoadas as técnicas de descongelamento até chegar ao consumo final com qualidade.

Uma parte desta memorável epopeia mereceu um artigo elaborado por Yuka Hayashi, publicado no The Wall Street Journal, que pode ser acessado em sua íntegra em inglês, podendo ser traduzido em partes com o uso do sistema da Google para tanto, no site http://online.wsj.com/articles/why-farmed-fish-are-taking-over-our-dinner-plates-1415984616?mod=WSJ_hp_EditorsPicks .

Destaca-se a persistência e dedicação por muitos anos do professor Hidemi Kumai sobre o assunto, ele que é professor emérito da Kinki University do Japão.

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Professor Hidemi Kumai                   Produção de atuns em fazendas marítimas

O artigo informa que os trabalhos começaram em 1969 com a tentativa de dominar o ciclo completo da criação do bluefin, desde os seus ovos, os bebês, jovens e adultos numa tentativa de sua criação como se fora uma agricultura, sabendo-se que se tratava de um desafio imenso, como relata Hidemi Kumai, hoje com 79 anos.

Os pescadores consideram os professores como insanos, pois se acreditavam que o bluefin só se desenvolvia na natureza. O primeiro problema é que sua pele se desintegrava quando capturados. Em 2011 perdeu-se 300 peixes adultos de um estoque de 2.600 com um tsunami provocado por um terremoto, quando a maré provocou um escurecimento das águas, e os peixes entraram em pânico rompendo as redes.

Um tufão dizimou o seu estoque no ano passado, e neste ano os pesquisadores ficaram torcendo até começar a época da reprodução, pois o ano foi pródigo em tufões. Havia momentos que só se podia rezar, confessam os pesquisadores, como Tokihiko Okada, que cuida hoje da produção.

Houve um período em que os peixes não produziam os ovos, o que hoje é atribuído às mudanças de temperatura durante o dia, lição aprendida pelo acasalamento em outro local de pesquisas, ao sul do Japão.

Numa ocasião, 2 mil avelinos foram perdidos, todos com os ossos do pescoço quebrados. Descobriu-se posteriormente que eles entraram em pânico com a luz que foi acesa, depois de um apagão. As luzes intensas, devido a uma causa qualquer, deixam os peixes em pânico, exigindo que elas sejam mantidas acesas o tempo todo.

Hidemi Kumai tem vivido há cinco décadas próximo aos peixes, que considera como a sua família. Em 2002, a equipe foi a pioneira em conseguir produzir filhotes de pais que já haviam sido criados em cativeiro, completando todo o ciclo. Mas a taxa de sobrevivência ainda é baixa, quando comparada com a do salmão, que virou um negócio bilionário.

As pesquisas estão exigindo mais recursos, mas hoje já existem grandes grupos japoneses interessados nestes investimentos, tradings e inclusive um do grupo da indústria automobilística, pois o Japão é consumidor de 80% do total de capturas no mundo.

Já existem vendas de atum juvenis para serem engordados em fazendas de criação. Técnicas como as do kaizen, utilizadas nas indústrias automotivas, já são aplicadas na piscicultura. Muitos peixes morreram com a redução da temperatura, e rações foram criadas para os manterem quentes.

A taxa de sobrevivência está se elevando sensivelmente. As preocupações ecológicas estão aumentando, de forma que das rações de peixe que são consumidos em quantidade parte já estão sendo substituídas por rações de proteína vegetal.

Existem também preocupações com o sabor, pois os atuns selvagens são menos gordurosos, enquanto os criados são exagerados, mesmo que a gordura seja apreciada. Está se procurando corrigir sua alimentação. Também os criados são menos ágeis a evitar os perigos, como os choques entre eles. Há também preocupações com problemas de pragas, pois todos são de mesma origem, e cruzamentos estão sendo tentados com espécies selvagens. Existem, portanto, muitos problemas ainda a serem resolvidos, mas as pesquisas continuam.


O Difícil Processo de Aperfeiçoamento Democrático

15 de novembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política | Tags: a prisão de executivos de empreiteiras e dirigentes da Petrobras, análises preliminares um pouco mais profundas, o comportamento da mídia

É mais que natural que toda a imprensa brasileira conceda espaços generosos para a divulgação das espetaculares prisões de dezenas de importantes dirigentes das empreiteiras brasileiras, da Petrobras e outros envolvidos nos fortes indícios de irregularidades. Elas surpreenderam muitos analistas pelas personalidades envolvidas que propiciaram vantagens para empresas privadas e recursos para as mais variadas finalidades, inclusive financiamentos de campanhas eleitorais. A Constituição de 1988 concedeu amplos poderes para o Ministério Público que, por meio Polícia Federal, ainda está aperfeiçoando o uso dos mesmos, e no momento ainda exagera nas divulgações das operações espetaculares que parecem visar o aumento das delações premiadas, que podem identificar outras irregularidades, que certamente devem ser punidas, mas dentro de um longo processo judicial que, lamentavelmente, demanda muito tempo para ser justo.

O processo ainda está numa fase intermediária e poderá ter maior profundidade atingindo até membros do Conselho de Administração de muitas empresas, o que é permitido hoje pela legislação brasileira, não se restringindo somente aos executivos.

paulo

Ex-diretor de Abastecimento da Petrobrás, Paulo Roberto Costa, um dos primeiros delatores visando a redução de suas penas

SUB-RELATORIA/CORREIOS

Alberto Youssef, doleiro que seria um dos principais operadores de todo o sistema, que também visa a redução de suas penas com delações premiadas. Foto: Joedson Alves/Estadão Conteúdo

Em todo o mundo, os custos das campanhas eleitorais e de muitos movimentos políticos são elevados e diferentes mecanismos são utilizados para que os seus financiamentos sejam mais transparentes e justos, não havendo ainda um que seja recomendável para todas as diferentes democracias. Alguns países optam pelo financiamento com recursos públicos que já estão sobrecarregados, outros optam por pequenos financiamentos pulverizados dos eleitores, alguns permitem que empresas participem do processo. Difícil imaginar que todos os recursos sejam legais, havendo abusos dos usos de mecanismos ilegais nestes aprendizados para o aperfeiçoamento. Votações, como alguns dispositivos que interessavam a algumas correntes políticas da Constituição, exigiram no Brasil volumosos recursos em que foram usados meios suspeitamente ilegais, que tendem a se ampliar nas campanhas eleitorais.

Tudo que está ocorrendo, já com dezenas de prisões, principalmente temporárias, baseiam-se em algumas delações premiadas de criminosos confessos claramente envolvidos em irregularidades visando as reduções de suas penas. Muitos executivos, agora presos, acabarão sendo libertados pelas ações eficientes de dispendiosos trabalhos de seus advogados, mas tudo indica que este espalhafatoso processo objetiva obter novas delações premiadas, que visam a identificação de provas materiais com outros envolvidos.

Mas como consequência destas ações já pode ser especulada mudanças que deverão ocorrer na economia e na política brasileira, com efeitos de longo prazo e positivos. Historicamente, quando a Capital brasileira ainda se situava no Rio de Janeiro, havia algumas grandes empreiteiras que dominavam o cenário das grandes obras públicas no país. Quando da construção de Brasília, foram substituídas por outras que aproveitaram a oportunidade para volumosos trabalhos, com grande urgência, em regiões pioneiras de então, sem que houvesse um grande rigor nas suas fiscalizações.

Algumas novas empreiteiras se consolidaram com as grandes e numerosas obras que foram construídas intensamente durante o período de administração autoritária no país, quando os custos das campanhas políticas eram menos elevados. Muitas continuaram se expandindo até os tempos atuais. Elas sempre foram importantes nos financiamentos dos custos políticos, de formas regulares e até com mecanismos duvidosos. Mas, certamente, não são as únicas, podendo se suspeitar que instituições financeiras também tivessem um papel importante, ao lado de outras empresas que dependem dos favores da administração pública.

O atual processo deve provocar uma forte renovação nestas empreiteiras que contavam também com empresas de engenharia para a elaboração de projetos das construções pesadas, que não contam com eficientes mecanismos alternativos. Este processo poderá ser demorado até a consolidação de um novo quadro eficiente no Brasil, até que as novas tenham toda a tecnologia e dimensão econômica para poder arcar com os novos trabalhos.

Isto provocaria uma redução temporária das obras mais cruciais para sustentar um processo de recuperação do desenvolvimento, mesmo que estas adaptações contem com a colaboração de eficientes empresários. O mais natural é que haja cautelas adicionais, como algumas empresas tradicionais que já se declararam redirecionando suas atividades, evitando setores onde possam ocorrer problemas como os que estão sendo enfrentados.

Mesmo com todos estes problemas, deve-se encarar que as punições das irregularidades devam ser positivas, mostrando que a democracia continua se aperfeiçoando no Brasil, fazendo com que a concorrência tenha condições para aumentar a eficiência econômica no país.

As mudanças no quadro político acabam exigindo reconsiderações importantes, dentro do regime federativo em que o Brasil está inserido, com os políticos sendo eleitos nas eleições estaduais, não havendo os que se empenhem na defesa da União. Parece indispensável que exista alguma cláusula de barreira, permitindo que somente um número limitado de partidos tenha representação nacional. Algum mecanismo que permita uma fiscalização mais eficiente da ação dos eleitos pelos seus eleitores, como um sistema distrital misto parece indispensável. Tudo deve visar a redução dos custos das campanhas eleitorais.

A esperança é que a indignação provocada com a divulgação de tantas irregularidades seja canalizada internamente no sentido do aperfeiçoamento e não da desilusão dos eleitores com a política. Também do ponto de vista internacional, as análises desejáveis seriam às voltadas aos esforços de redução da corrupção no Brasil, de forma radical, como poucas vezes vistos na maioria dos países.