14 de novembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias | Tags: artigo no The Japan Times, complementação de organismos já existentes, instrumentos para financiamentos de projetos de desenvolvimento
Um artigo publicado por Lee Jong-Wha, professor de economia e diretor do Instituto de Pesquisa Asiática na Universidade da Coreia, no The Japan Times, informa sobre as instituições bancárias internacionais chinesas onde seus representantes ocupam posições de comando. A China já vem aumentando seus funcionários em instituições internacionais como o G-20, o Fundo Monetário Interacional, o Banco Mundial e a Organização Mundial de Comércio, acumulando experiências. Mas não contava com o comando delas, pois suas participações no capital ainda são modestas e os norte-americanos e europeus continuam destacados. No Banco Asiático de Desenvolvimento, são os japoneses que detêm a sua Presidência, no banco cogitado para os BRICS haveria um rodízio no comando.
Assim, a China que vem aumentando sua participação de forma expressiva no cenário internacional resolveu criar o AIIB – Asian Infrastructure Investiment Bank, que, trabalhando complementarmente às demais instituições, teria comando chinês, que contaria com 50% do seu capital. O ministro de Estado dos Negócios Estrangeiros da Índia, Shashi Tharoor, já sugeriu que este banco financie o novo Silk Road, que tanto por terra como pelo mar facilite as ligações do Leste Asiático com a Europa, ainda que existam alguns receios de países asiáticos sobre a expansão das atividades da China nestas áreas. Com todo o prestígio conseguido pela China na recente reunião da APEC naquele país, com a presença de destacadas personalidades internacionais, as elevadas poupanças chinesas e de outros asiáticos poderão ser canalizadas nestas obras.
Cerimônia para lançamento dos trabalhos de elaboração do Asian Infrastructure Investment Bank em Beijing, China
Esta foi uma iniciativa chinesa para atrair as autoridades asiáticas para a possibilidade de financiamento dos seus projetos de infraestrutura, que todos necessitam, contando com mais de US$ 40 bilhões como um programa inicial.
Alguns analistas questionam a possibilidade de uma adequada governança neste banco, que já conta com metade do capital de origem chinesa. Mas, muitos são pragmáticos e sabem que podem contar com a ajuda destes recursos que possam ser completados pelos locais, para contemplar projetos vitais para a sua integração neste esforço asiático de intensificar suas relações com os europeus, como o resto do mundo.
Ainda que se esperem critérios internacionais para as avaliações dos projetos a serem contemplados com financiamentos, todos estão conscientes de que muitos dos apoios chineses podem estar vinculados, havendo esperanças de facilidades no acesso ao mercado chinês que deverá continuar crescendo nas próximas décadas, a ponto de superar os Estados Unidos.
Pode-se afirmar que também este novo banco faz parte da nova realidade, onde a presença chinesa tende a se consolidar, tanto alimentando o seu desenvolvimento como tendo impacto em toda a região asiática. É difícil imaginar que outros países tenham condições competitivas como estas que estão sendo colocados pela China.
É preciso considerar ainda que a China dispõe de outros bancos estatais e privados que podem complementar financiamentos que estejam ligados a estes projetos mais amplo, dada a presença de chineses na maioria dos países do mundo, que acaba tendo interesses relacionados com os fomentos do intercâmbio comercial.
14 de novembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política | Tags: artigo do The Economist sobre a China, divergências com tratamento irônico, presença de líderes mundiais na China, reunião da APEC
Todos sabem que a posição ideológica do The Economist com a atual dominante na China apresenta uma grande diferença. Mesmo que existam aspectos em que um artigo publicado na revista possa ter suas razões, diante da impossibilidade de modificar a atual realidade, como é da tradição inglesa, abusa-se da ironia para descrever o que aconteceu nos últimos dias naquele país. É como se a Pax Americana que seria apoiada pela revista tenha que ceder à nova ordem chinesa que vai se impondo ao mundo, como a maior economia do planeta. Denomina como coreografia quase imperial o quadro em que Xi Jinping recebeu Barack Obama, símbolo poente dos Estados Unidos, no cenário da residência oficial da China ascendente, na Zhongnanhai, ao lado da Cidade Proibida, deixando o grande Salão do Povo que vinha sendo utilizado para recepções semelhantes.
A revista enfatiza que na televisão como nos jornais chineses, Xi Jinping foi tratado sempre ocupando uma posição de comando, com os líderes mundiais pagando respeito à magnanimidade do presidente chinês. Como fato objetivo, parece que não restou a Barack Obama senão curvar-se diante da triste realidade, como se fosse o que poderia ser feito para deixar pequenas marcas de sua tentativa de contribuição como coadjuvante nas questões relevantes no futuro próximo para o mundo, como no caso dos entendimentos visando um avanço nas negociações relacionadas com as emissões de carbono. É preciso admitir que a diplomacia chinesa tirasse o maior partido possível da participação de grandes líderes mundiais na reunião da APEC.
Na nova edição do The Economist, a capa é interpretada nos seus detalhes, mostrando que as posições foram sempre no sentido de dar um ângulo favorável a Xi Jinping, que se apresenta de frente nas fotos, enquanto Barack Obama fica com o seu braço cobrindo-o, como se fora uma posição de submissão, o que parece ser um exagero, mesmo respeitando a longa tradição da imprensa.
A capa da revista para a semana
Já postamos neste site que na reunião da APEC os líderes presentes na China deram respaldo ao prosseguimento dos entendimentos visando o acordo, enquanto a TPP, que seria um contraponto liderado pelos Estados Unidos, ainda não o conseguiu. Para conseguir tal objetivo, a China anunciou acordos de livre comércio com a Coreia do Sul e com a Austrália, bem como generosos investimentos de US$ 40 bilhões para melhoria da infraestrutura em países asiáticos, inclusive parte da Rússia, dentro do novo Silk Road, além da confirmação das aquisições de gás daquele país ao seu norte.
Ainda que existam preocupações e resistências ao avanço militares da China pelos mares que os cercam e que geram conflitos com seus vizinhos, o primeiro-ministro japonês Shinzo Abe foi recebido por Xi Jinping, ainda que a foto do evento mostre todo o desconforto existente entre os dois. A revista expressa sua pesada posição com a interpretação que o fato dá “a impressão de um proprietário de um cão obrigado a pegar o coco de outro cão (tradução da Google de “Lent the impression of a dog owner obliged to pick up another pooch’s turd”).
Outros acordos como a facilidade para o comércio de produtos de informática ainda depende da OMC e outro para evitar maus entendimentos ou confrontações militares, além de facilitar o visto de visitantes turistas ou empresariais.
Mas, segundo a revista, a maior surpresa foi o entendimento sobre os gases que provocam efeito estufa, onde os Estados Unidos se comprometeram com metas específicas que não encontram apoio unânime no país, quando os objetivos chineses ainda são vagos, o que deverá ser objeto de entendimento no próximo ano numa reunião das Nações Unidas em Paris.
Como os chineses aceitaram uma conferência com a imprensa ao término do encontro entre os dois presidentes, Xi Jinping deixou claro que o problema de Hong Kong era um assunto interno, o que foi interpretado pelo The Economist como uma posição que contraria entendimentos em que se procuram avanços nos relacionamentos com os países Ocidentais como outros aliados dos Estados Unidos.
O que parece difícil se aceito pela revista é que, apesar de pontos em que podem ser levantadas objeções, que certamente existem, o sentido geral mostra que existem possibilidades de convívio com a China, ainda que existam posições divergentes em diversos assuntos.
13 de novembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais, Notícias | Tags: artigo publicado no International New York Times, esforços para a preservação do picarucu, manejo para a sua preservação com a colaboração dos pescadores
Todos sabem que o pirarucu, também conhecido como o bacalhau brasileiro, está entre os peixes fluviais de maiores dimensões, podendo chegar a 7 metros e 400 quilos. Simon Romero publica no site do International New York Times um precioso artigo sobre o esforço que vem sendo feito em algumas regiões da vasta Amazônia para a sua preservação, contando com a colaboraçao dos pescadores que dependem de sua pesca. Isto se torna possível com um manejo adequado, preservando os mais jovens, com uma pesca controlada, evitando-se as efetuadas por redes. O pirarucu costuma atingir a sua maturidade aos 3 a 4 anos. Os que conhecem um pouco da Amazônia sabem os multiplos usos do piracucu, que começa pelas suas escamas que são usadas como lixas ou ornamentos, a sua língua seca é utilizada para ralar os bastões de guaraná, que é considerado saudável e até afrodisíaco, enquanto a sua carne seca e salgada ficou conhecida como o bacalhau brasileiro, mesmo que não apresente um sabor de elevada qualidade.
O autor do artigo relata o que observou no longuínquo Tefé, nos confins do gigantesco Estado do Amazonas, acompanhando a vida dos pescadores que alimentam sua ainda numerosa família com o produto de sua pesca. Nas proximidades das cidades, a sua pesca ilegal está colocando a preservação desta espécie como de outras com o risco de extinção. As espécies menores dos peixes fluviais da Amazônia já contam com criações até visando o abastecimento do mercado, eliminando riscos semelhantes. Na realidade, se os manejos adequados forem efetuados, tanto estes peixes como outros produtos da ampla biodiversidade da Amazônia conta com condições para a sua adequada preservação, sustentando a floresta e a região, proporcionando condições de melhoria do padrão de vida de sua população. Muitas iniciativas neste sentido estão sendo efetuadas, inclusive com o apoio externo.
Um pescador puxa um pirarucu no lago do Macaco, perto de Maraã, Brasil. Crédito: Mauricio Lima e para The New York Times, onde foi publicada a matéria
É evidente que o artigo voltado para os leitores internacionais, principalmente norte-americanos, ainda contém alguns exageros como as abundâncias das piranhas e jacarés, que contam com muitas variedades, desde as mais agressivas como as mais inocentes. Os cardumes, como de algumas piranhas, ficam demasiadamente agressivas ao mínimo vestígio de sangue, inevitável nas pescas como o do pirarucu, tornando-se de alto risco para os pescadores mesmo acostumados com elas.
O artigo relata um caso de sucesso na conservação da Amazônia, o da região de Mimairauá, onde o estoque de pirarucu estaria alcançando uma elevação de 400 por cento, onde a preservação é feita em colaboração com os pescadores. Não se pesca os menores e os que apresentam potencialidade de se tornarem reprodutores. Voltou-se para as técnicas tradicionais de pesca que exigem maior paciência.
Como o pirarucu é de grande dimensão, quando é puxado para as pequenas canoas, é abatido usando-se tacos de madeira, apresentando-se o risco de virar a embarcação. Tudo se aproveita do picarucu, e suas víceras são apreciadas com um pouco de farinha de mandioca. O mais apreciado continua sendo sua carne, que, segundo o artigo, chega a proporcionar cerca de US$ 200 por cada um pescado, reforçando os orçamentos dos pescadores.
Os salgados não aparentam os bacalhaus secos, pois a elevada umidade da Amazônia ainda os mantêm escuros, ainda que possam ser preservados por muito tempo. Seu aproveitamento desta forma são antigas. O artigo informa que mais de 1.400 pescadores em torno de Mamirauá participam do programa de manejo do picarucu, permitindo etiquetar cada peixe pescado. Estes pescadores conseguiram obter uma média de 650 dólares por cada peixe pescado em 2013, o que é importante para esta população amazônica, ainda que a pesca ilegal tenda a depreciar os preços no mercado.
A esperança é a continuidade desta pesca sustentável, mostrando que existem formas racionais de manejo, que permitem a sua preservação e continue proporcionando meios para a população de pescadores.
12 de novembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política | Tags: decisões ousadas, encontro dos dois presidentes mais importantes do mundo, não podem agradar a todos, reunião de cúpula de Barack Obama e Xi Jinping, um esforço surpreendente
Ainda que Xi Jinping, o presidente da China com poder incrível, que pretende superar os Estados Unidos nas próximas décadas pela sua importância mundial, tenha obtido um grande resultado diplomático na sua reunião de cúpula com o Barack Obama, presidente dos Estados Unidos, que vem enfrentando variados problemas para consolidar a sua liderança no seu país como no mundo, há que se admitir que resultados surpreendentes para o mundo fossem obtidos. Ainda que isto não possa atender a todos, havendo observações como do site do The Economist que os Estados Unidos cederam mais que os chineses na questão das emissões dos gases de efeito estufa, não se pode negar que importantes avanços foram conquistados, como parece ter surpreendido muitos veículos de comunicaçâo importantes no mundo, inclusive agências noticiosas internacionais como o Associated Press.
O The Wall Street Journal publica no seu site um abrangente artigo escrito por Carol E.Lee, Jeremy Pagina e William Mauldin, informando que, além do entendimento sobre o clima, foram alcançados importantes acordos sobre questões militares, bem como o comércio relacionado com os produtos de informática, considerando inesperado este movimento, que certamente exigiu um grande esforço de Barack Obama e sua equipe, quando ele já era considerado um “lame duck”.
Tanto Xi Jinping como Barack Obama fizeram declarações públicas otimistas sobre o novo patamar em que colocam as relações bilaterais, que acabam provocando efeitos em todo o mundo. Apesar das diferenças existentes entre os dois países com relação a muitas questões, tudo o que é possível parece ter sido feito, mesmo considerando os compromissos existentes com seus aliados.
Quando a reunião de cúpula anterior foi realizada em Sunnyland na Califórnia num clima descontraído, os chineses capricharam para que o evento em Beijing fosse mais formal, envolvendo até uma visita pelos jardins da residência oficial, ao lado da Cidade Proibida. Os trajes utilizados eram formais e adequados ao rigoroso outono de Beijing, com paletós, gravatas e casacos.
Encontro de cúpula entre Xi Jinping e Barack Obama em Beijing
Muitos outros acordos foram estabelecidos, como o visto de negócios e de turismo de 10 anos bem como o Tratado Bilateral de Investimentos entre os dois países, mas os pontos altos referem-se aos entendimentos que permitem acelerar as providências para a redução do efeito estufa que deverá ser discutido nas Nações Unidas ainda este ano, como as medidas destinadas para evitar incidentes fortuitos que prejudiquem os avanços em direção a um entendimento relacionado com a defesa da China e dos Estados Unidos e seus aliados, notadamente nos mares que cercam os chineses.
Muitos detalhes mostram que grandes esforços foram efetuados para que os acordos fossem estabelecidos atendendo ao máximo os seus objetivos, reconhecendo as dificuldades existentes em ambas as partes. As reuniões, que estavam previstas para três horas de duração, acabaram exigindo quatro horas e quarenta minutos.
A entrevista à imprensa que se seguiu ao evento tinha a preferência dos chineses para ser algo formal, sem perguntas. Mas as pressões norte-americanas foram aceitas surpreendentemente, resultando num estilo que permitia maior flexibilidade para o trabalho da imprensa.
É preciso compreender que assuntos delicados que antecederam ao encontro de cúpula estavam frescos na memória de todos. A espionagem envolvendo escutas de personalidades, os problemas relacionados com as manifestações em Hong Kong, as tensões decorrentes das disputas territoriais com aliados dos Estados Unidos, os incidentes militares de aviões chineses e norte-americanos, os graves problemas de poluição, as tentativas de acelerar a implantação da democracia em países asiáticos, e muitos outros.
Tudo indica que os chineses entenderam que acordos na atual administração eram relevantes sobre os avanços já obtidos, tendo em consideração a possibilidade de orientações mais duras de um novo governo nos Estados Unidos.
Muitos analistas que participam de entidades que acompanham estes relacionamentos bilaterais se mostravam surpresos com os avanços que foram possíveis, mesmo com algumas concessões norte-americanas. Todos esperam que estes entendimentos favoreçam os que terão que ser submetidos à apreciação de outros países, como no caso dos problemas de poluição nas Nações Unidas, ou de maior liberalização do comércio de produtos relacionados com a informática, no âmbito da OMC – Organização Mundial de Comércio.
Neste acordo na OMC estará incluído o comércio de semicondutores, dispositivos médicos, sistemas de posicionamento global e outros produtos. Nas Nações Unidas, sobre o aquecimento global, os Estados Unidos já se comprometeram a reduzir até 2025 suas emissões de 26 a 28% sobre os níveis de 2005. A China concordou que suas emissões atingirão o pico em 2030, e que as produções de energias não fósseis atinjam 20% em 2025.
Observa-se que se admitiu que a China, apesar de se tornar a maior economia do mundo, a renda per capita de sua população ainda é baixa, e que o seu desenvolvimento ainda implicará em problemas de poluição. Mas há indícios que a própria população chinesa e principalmente os representantes das empresas estrangeiras que atuam naquele país acabarão impondo prazos mais curtos e metas mais ousadas, pois muitos se declaram sem condições de habitarem locais de tanta poluição.
12 de novembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias | Tags: informações no site da Bloomberg, manipulações das taxas de câmbio, manipulações das taxas de juros Libor, outras punições de funcionários
Os observadores do mercado financeiro ficam impressionados com as cifras iniciais das punições impostas pelos reguladores dos Estados Unidos, da Grã-Bretanha e da Suíça aos renomados bancos internacionais que chegam a US$ 3,3 bilhões, segundo as notícias divulgadas por Suzi Anel e Liam Vaughan no site da Bloomberg. Na Suíça, a UBS vai pagar mediante acordo mais de US$ 800 milhões, segundo declarações do Commodity Futures Trading Commission dos Estados Unidos, do Britain’s Financial Conduct Authority e do Swiss Financial Market Supervisory Authority. O Citigroup vai pagar US$ 668 milhões, o JPMorgan Chase US$ 662 milhões, o Royal Bank of Scothland cerca de US$ 634 milhões, o HSBC US$ 618 milhões, sendo que o Barclays que está negociando ainda não estava pronto para um acordo. São cifras assustadoras mostrando como o mundo está nas mãos de instituições privadas bancárias responsabilizadas por duvidosos comportamentos morais, que estendem suas influências sobre outras atividades econômicas.
As investigações das autoridades controladoras que já duram 13 meses ainda podem atingir indivíduos que atuaram neste mercado, pelos bancos como empresas coniventes, como gestores de fundos. As autoridades inglesas ainda estão fazendo investigações criminais que atingem o mercado de moedas, que chegam a US$ 5,3 trilhões por dia.
Como estas cifras foram estabelecidas nos acordos que foram estabelecidos visando reduções das punições, pode-se concluir que as irregularidades compreendem valores mais elevados e que as instituições e seus operadores usufruiram vantagens de valores superiores. Os reguladores estão pressionando os bancos a reverem os bonus concedidos a seus funcionários bem como seus dirigentes.
Segundo um diretor de uma das agências reguladoras, somente o Barclays está investigando suas práticas. Outros 30 bancos terão que fazer revisões de suas práticas e assinar compromissos para que elas não se repitam no futuro. Um operador do Bank of England, que já trabalhou por quase 30 anos como revendedor de câmbio, não teve provimento para ser isentado, ele que foi criticado num relatório disciplinar interno não relacionado com o câmbio.
As investigações iniciais foram no sentido de identificar se os operadores conspiraram as taxas de referência chamadas WM/Reuters para efetuar apostas não autorizadas, cobrando comissões excessivas. Mais de 30 deles foram demitidos, suspensos, colocados em licença ou renunciaram. As multas referem-se aos controles ineficazes nas margens das operações entre janeiro de 2008 a 15 de outubro de 2013.
Eles compartilharam informações sobre as atividades dos clientes que tinham confiado a manter confidencialidade e tentaram manipular taxas de câmbio em concluio com operadores de outras empresas, de forma a prejudicar os clientes e o mercado, segundo as autoridades. Uma dezena de bancos já foram multadas pelo menos em US$ 6,5 bilhões nas investigações sobre a taxa de juros Libor e seus derivados. Já provocaram revisões mais amplas nos parâmetros de avaliação utilizados nos mercados de petróleo e metais preciosos.
Lamentavelmente, os comportamentos do setor financeiro não apresentam parâmetros morais que permitam confiar em muitas de suas operações.
11 de novembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais, Gastronomia, Notícias | Tags: culinária saudável e deliciosa, pratos do dia, preços convenientes, um restaurante de Quioto
JJ O’Donnoghue é um jornalista que vem escrevendo regularmente no The Japan Times com dicas interessantes como de um simples restaurante Kyo no Okazu (o prato do dia), que oferece legumes e verduras frescas colhidas na própria horta, a preços realmente convidativos. Apesar do Japão ter sido considerado por muito tempo um dos países onde o custo de vida era dos mais elevados no mundo, o que se constata hoje é, que seguindo a tendência atual de alimentos frescos e saudáveis, os preços são assustadoramente baixos, quando comparados principalmente com o do Brasil, que por razões que excedem os dos câmbios, os alimentos nos restaurantes estão exagerados.
Colheita diária: Com a sua própria horta ao lado, Kyo no Okazu serve refeições saudáveis e deliciosas com ingredientes sazonais. JJ O’DONOGHUE. Publicado no The Japan Times
No artigo publicado no site do The Japan Times, este autor recomenda que entre as poucas palavras em japonês que V. deve aprender devem estar oishii (delicioso) e okawari (favor repetir o prato). Citando o simples restaurante Kyo no Okazu (acompanhamento do arroz de hoje, segundo sua tradução), que fica no centro de Quioto, a antiga capital do Japão, que se destaca pela abundância de legumes e vegetais de elevada qualidade.
Dois restaurantes localizados num edifício que tem uma horta na sua cobertura que fornece as principais matérias-primas para a simples culinária, e que não conta com poluentes, pois Quioto é uma das cidades com muito verde, e baixa poluição quer seja do tráfego como de atividades industriais, que se resumem às produções de artesanatos de elevada qualidade.
Kyo no Okazu oferece duas opções para o almoço completo, cujo custo não chega a US$ 15 cada no cardápio, ficando mais em conta quando se trata de um conjunto completo, cujo menu varia diariamente. Nestes restaurantes, os jantares também simples não costumam variar muito de preços, ainda que sejam à la carte. Além dos saborosos cozidos que costumam não estar passados em exagero, contando com um tempero equilibrado e suave. Costumam vir acompanhados de um arroz temperado, uma porção de missogiru e um picles levemente conservado.
Os ingredientes costumam acompanhar as estações, e como atualmente no Japão é outono, pode se contar com bardana, ou raiz de lótus, tudo temperado com o clássico molho japonês de shoyu, mirin (um tipo de saquê para cozinha) e saquê. A sopa costuma ter o sabor característico de cada estabelecimento, e no caso destaca-se o umami, segundo o autor. A abóbora japonesa com carne de porco, muito comum, também estava deliciosa, segundo ele.
O restaurante oferecia alternativas para os três pratos servidos, havendo um vegetal cozido no vapor, além de um chawanmushi, uma espécie de legumes, e outros ingredientes cozidos com ovo batido.
Muitos no Japão terminam a refeição hoje com algum tipo de sobremesa simples, acompanhado de café. E os clientes podiam subir ao último andar do edifício para apreciar a cidade, com um tempo para o relaxamento. Que inveja daqueles que podem usufruir destes simples prazeres.
11 de novembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais, Notícias | Tags: atriz norte-americana interpreta personagem escocesa que se casou com um japonês, história real das eras Taisho e Showa (1912 a 1989), horário nobre da TV NHK do Japão | 2 Comentários »
Como o assunto está provocando uma grande polêmica no Japão, apesar de não ser um apreciador de novelas, tendo como base um artigo publicado por Louise George Kittaka no The Japan Times e uma entrevista concedida pela atriz Charlotte Kate Fox no Club dos Correspondentes Estrangeiros no Japão, que frequento por ser amigo do jornalista Kotaro Horisaka, tomo a liberdade de escrever este artigo sobre a atual novela da NHK, acrescentando alguns comentários. Os artigos citados podem ser acessados em inglês ou precariamente traduzidos para outros idiomas pela Google: http://www.japantimes.co.jp/community/2014/11/10/issues/foreign-wives-of-japan-offer-nhk-and-massan-criticism-and-kudos/#.VGEk7TpOVLM .
Inicialmente, esclareço que, como o Japão fica do outro lado do mundo, é preciso explicar para os leitores brasileiros que os noticiários mais importantes da televisão japonesa são nas primeiras horas do dia. É quando as notícias da Europa e dos Estados Unidos da noite anterior já estão disponíveis e muitos procuram se informar também sobre o clima e o trânsito local antes de saírem de casa para suas tarefas. Segue-se o horário nobre das novelas japonesas, que costumam ser veiculadas às 8 horas da manhã, e devem alcançar principalmente as donas de casa e os aposentados que estão disponíveis neste horário. Alguns da NHK obtiveram grande sucesso.
A NHK, televisão oficial do Japão que já contou com maior audiência, continua sendo importante tanto para as divulgações das notícias como das novelas, e, mesmo estando num hotel, acaba-se assistindo à sua programação para ficar atualizado sobre o que está acontecendo no Japão e no mundo, na política, economia como nos esportes, além de se preparar para os compromissos do dia, escolhendo as roupas adequadas ao clima da ocasião. Não se pode ignorar trechos das novelas que estão sendo exibidas, ainda que também interessado nos canais internacionais de televisão. Mesmo por mera curiosidade, no período de minha recente estada em Tóquio, estava no ar a novela “Massan”, apelido que a personagem Ellie Kameyama, uma escocesa, dava ao seu marido japonês, Masataka Taketsuru, que foi o pioneiro da introdução do uísque produzido no Japão, que hoje tem fama internacional. A história real sofreu adaptações adequadas às novelas, não sendo uma fiel reprodução do drama que deve ter sido uma europeia optar por morar no Japão, sem prévio conhecimento de sua cultura e dos hábitos de uma família japonesa na época.
Blonde girl in the ring: Charlotte Kate Fox and Tetsuji Tamayama (second from left) play the lead couple in the NHK morning drama ‘Massan,’ which is inspired by the true story of Japanese whisky pioneer Masataka Taketsuru and his Scottish wife, Rita. | KYODO Publicado no The Japan Times
É evidente que uma adaptação desta natureza necessita levar em consideração as conveniências da novela voltada para o público japonês de hoje. Rita era morena, mas escolheu-se uma atriz norte-americana loira, que confessa ter dificuldades de decorar suas falas, pois não entende japonês, e procurava interpretar uma escocesa. Mas a maioria dos que acompanham a novela acham que esta atriz está se saindo muito bem.
Todos sabem que os dramas de casamentos não aprovados por ambas as famílias envolviam um relacionamento muito difícil da sogra japonesa com a nora, muito pior quando estrangeira. Um pouco antes do período desta história, em 1903, o brasileiro Oliveira Lima já registrava: “…o animal fero e despótico que é a sogra japonesa – a qual deve ter fundado a fama universal da espécie…”, no seu livro “No Japão”.
A reportagem publicada no The Japan Times informa que o grupo poderoso de mais de 500 membros do Association of Foreign Wives of Japanese, que reúne membros de 40 diferentes nacionalidades, interessou-se sobre a novela, que ainda hoje reflete as dificuldades das estrangeiras que se casaram com os japoneses. Fica-se com a impressão que esta entidade conta com membros não asiáticos, como coreanas, filipinas, chinesas e até indonésias, além das nikkeis descendentes de japoneses, como brasileiras e latino-americanas, que são em grande número casadas com japoneses, e que apresentam outras realidades.
Mas muitas das entrevistadas (um terço) afirmam que também enfrentaram a oposição de suas famílias, sentiram um sentimento de isolamento da comunidade (64%), lutaram para encontrar um lugar na sociedade japonesa (63%) e tiveram problemas com o realinhamento das expectativas de casamento com as normas japonesas (57%). Mostram que estas adaptações são bastante difíceis.
Como o assunto é muito importante para entender mesmo os atuais problemas do Japão, recomenda-se a cuidadosa leitura dos artigos mencionados, na sua íntegra.
10 de novembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais, Notícias | Tags: da pobreza a um dos maiores bilionários chineses, entrevista concedida a Patti Waldmeir do Financial Times, grupo Fusun, suas bases filosóficas, um exemplo de um grande empresário chinês
Como muitos grandes empresários chineses começam a se destacar no Ocidente, parece importante conhecer parte das formações de alguns deles, seus princípios filosóficos e como encaram o sucesso que estão obtendo no mundo. Minha experiência pessoal com os chineses é que são mais francos que parecem, não sendo figurinos elaborados por equipes profissionais que facilitem formar uma imagem conveniente para o mercado.
Na entrevista de Guo Guangchang, 47 anos, um dos mais destacados bilionários que formou sua fortuna pessoal que chega a mais de US$ 8 bilhões nos últimos 25 anos, concedida a Patti Waldmeir, do Financial Times, durante um almoço em Xangai, observa-se uma franqueza que é a marca de muitos chineses. Poderia decorrer da autoconfiança no grande destino que estaria reservado ao País do Meio, que se prepara para se tornar a maior economia do mundo nas próximas décadas, gostemos ou não desta posição. A íntegra da matéria, que vale a pena ser lida, pode ser acessada em inglês no http://www.ft.com/intl/cms/s/2/262628dc-64dc-11e4-bb43-00144feabdc0.html#axzz3Ih2xwPr0
O empresário Guo Guangchang do grupo Fusun
Ele compareceu sozinho à entrevista marcada com o almoço na sede de sua organização, no Bund Shanghai, fora de qualquer área mais charmosa daquela metrópole. Foi servido um almoço vegetariano, ainda que ele não se restrinja a esta orientação, mas que costuma adotar nos almoços sem luxo especial. Ele não é o empresário mais rico da China nem o mais exuberante, tendo começado como um simples camponês que procurou estudar filosofia na Fudan University, onde começou a formar o seu grupo junto com os seus colegas que continuam até hoje com ele.
No artigo, ele é comparado com Warren Buffett, e neste ano adquiriu 80% o maior grupo segurador de Portugal, a Caixa de Seguros, por US$ 1 bilhão, tendo uma ampla carteira de investimentos em diversos setores. Inclui uma joint-venture no Pramerica Fuson Life Insurance, e participações no Minsheng Bank, o maior banco privado na China. Possui parte do Club Med, que pretende controlar, e participações em empresas farmacêuticas, além de estacas de fundação.
Ele declara uma mistura de budismo, taoismo, confucionismo e um capitalismo do tipo adotado por Warren Buffett na sua formação, e é adepto da prática do tai-chi sempre que possível, cujos ensinamentos ele procura utilizar nos seus negócios na descoberta das oportunidades e tomada de decisões.
O momento certo para atacar é importante como agir, depois de sentir a mudança do momento, que pode extravazar os limites da inteligência humana. A sua vantagem seria a sua capacidade de sentir a mudança mais rapidamente possível, e tomar uma ação decisiva o mais rápido possível.
Ele informa que o tai-chi pode ser praticado a qualquer momento e qualquer lugar, o que contribuiria para a sua saúde. Do budismo, ele aprendeu a ver as coisas através das posições de outras pessoas, sendo que o dinheiro não seria a única finalidade, mas fazer o melhor para outras pessoas, com o dinheiro vindo como consequência. Também levaria a uma posição para considerar relevante o benefício às outras pessoas, contando com ajuda de uma boa equipe. Informa que Jack Ma, que ele admira, também adota posições semelhantes.
Também se refere a um conceito de xinli, que não ficou muito claro para mim, e não parece muito explicado no artigo. Ele não dependeria da riqueza nem da inteligência, mas de não desprezar os riscos, com visões de prazo longo, entre outros aspectos.
Na alimentação, que foi o início da conversa, ele se lembra do período de pobreza quando a tigela de arroz preparado pela sua mãe recebia uma camada do chamado meigancal, uma espécie de cozido chinês rico em gordura, do qual se lembra até hoje com água na boca. Lembra-se positivamente das reformas introduzidas por Deng Xiaoping, que proporcionou terras para os agricultores, livrando a China da fome.
Sobre o futuro da China, ele se preocupa com o excesso de ganância, mas entende que a procura da riqueza é compreensível para quem era pobre. Tem uma convicção que o confucionismo, o budismo e o taoísmo tendem a conduzir para uma posição de equilíbrio, lembrando que o equilíbrio espiritual interior é mais importante que a obtenção simples da riqueza.
Poderia se acrescentar que muitos orientais adotam como filosofia de vida, inclusive empresarial, muitos dos conhecimentos como do entrevistado, que não devem ser considerados exageros de misticismo, ainda que muitos interpretem isto como meras justificativas para ações de um capitalismo radical.
10 de novembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias | Tags: artigos no Valor Econômico relacionados com o encontro sobre política fiscal, dificuldades em situações de mudanças dinâmicas, medidas de estímulos e contrações fiscais
Muito diferente de exercícios acadêmicos, os profissionais de economia que tiveram experiências de responsabilidades no exercício da política econômica acabaram aprendendo o quanto é difícil a arte de combinar os diversos instrumentos, como monetários, fiscais, controles de diversas naturezas como os salariais, nos quadros dinâmicos em que as situações vão se alterando numa economia, tanto do ponto de vista interno como condicionado pelo contexto que se encontram nos seus relacionamentos com a economia mundial. Os muitos participantes do importante encontro sobre política fiscal, com suas diferentes experiências e pontos de vista, tiveram a oportunidade de apresentar subsídios neste evento patrocinado pela FGV – Fundação Getúlio Vargas que merecerão as atenções de todos quantos se preocupam com estes assuntos. Alguns dos relatos foram registrados por Tainara Machado e Arícia Martins e constam do site do Valor Econômico.
Personalidades como o professor Antonio Delfim Netto, Yoshiaki Nakano, Barry Eichengreen e Vitor Gaspar tiveram seus relatos registrados, mostrando que a situação para o aumento da taxa de crescimento econômico do Brasil apresenta dificuldades, dentro do quadro fiscal, monetário e de relacionamento com a economia mundial, tendo em vista a necessidade de manter o endividamento público em níveis controláveis, sem agravar as tensões inflacionárias. Como houve necessidade de medidas anticíclicas nos momentos em que a economia mundial entrava em recessão, hoje existem limites para o uso dos diversos instrumentos de política econômica, mas não deve haver exageros nas medidas contracionistas que acabem ampliando as dificuldades.
Professor Antonio Delfim Netto Professor Yoshiaki Nakano
Professor Barry Eichengreen Vitor Gaspar
O professor Delfim Netto deixa claro que o Banco Central ficou sobrecarregado com o problema de combate à inflação, quando a política fiscal e outros segmentos não ajudavam no mesmo sentido, como com o exagero de contabilidades criativas e reajustamentos salariais acima do aumento da produtividade. Mas recomenda cuidado nas contrações fiscais, para não acabar matando o paciente.
O professor Toshiaki Nakano se pronunciou a favor de uma drástica contenção fiscal, enquanto o professor Barry Eichengreen informou sobre as moderações nas medidas de política econômica devidamente coordenada nos seus instrumentos. Vitor Gaspar, do FMI, enfatizou as diferenças de situações dos diversos países em suas fases diferentes.
Todas estas contribuições devem ser examinadas nas suas íntegras, além do que foram apresentados nos artigos que necessitam resumir os pontos de vista colocados. De qualquer forma, o que parece é que subsídios importantes foram apresentados, mostrando o cuidado nas revisões e reformas propostas, não se encarando que elas sejam santos milagres que possam facilmente resolver os complexos problemas que apresentam outras condicionalidades existentes.
9 de novembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais, Notícias | Tags: dimensionamento do público, nível exageradamente elevado, suplementos dos fins de semana
Sempre fui partidário que a imprensa nacional como internacional fosse utilizada para a publicação de matérias de mais profundidade. Tanto intelectual e cultural, como espaço necessário para pesquisas mais profundas dos mais variados campos do conhecimento humano, como reflexões que fogem do atribulado cotidiano em que todos nós estamos envolvidos. Mas, observando o que vem sendo publicado por alguns jornais no Brasil semanalmente, ainda que sempre os procure folhear, mesmo para um leitor como eu, que tem um nível universitário e procure acompanhar o que ocorre com toda a humanidade, confesso que tenho limitações para me interessar pela quase totalidade deles. Parece que existe algum exagero, mesmo comparando com o que acontece na grande imprensa internacional, ou nas revistas voltadas para reflexões mais profundas do ponto de vista cultural. Como dizem muitos jovens hoje, é cabeça demais.
Seria interessante que estes jornais, que enfrentam problemas econômicos com seus elevados custos e publicidades que tendem a se reduzir, tenham uma postura pragmática com a questão, até para assegurar a sua indispensável sustentabilidade. Sempre haverá necessidade de que as vanguardas dos conhecimentos sejam apresentadas, dando oportunidade que os leitores dos jornais tenham a possibilidade de saber onde eles se encontram nas preocupações dos nossos intelectuais. Indicações resumidas poderiam ser oferecidas sobre outras fontes onde estas matérias estejam merecendo atenções, pois voltadas para um público diferente dos jornais diários. Sabemos que sempre haverá uma elite na sociedade que estará pensando sobre problemas que não se relacionam de forma direta com o cotidiano das pessoas, quase sempre de vital importância. O que se discute é o meio de trazer estes problemas para todos.
Não se trata de uma questão simples de ser resolvida. Todos nós temos opiniões diferentes, o que é saudável, e as prioridades que estabelecemos costumam ser diferentes. Mas os jornais diários são importantes para o desenvolvimento da democracia, como para o desenvolvimento econômico e social. Para a sua sobrevivência, há que se estabelecer uma escala de prioridade e pode-se suspeitar que o que é lido somente por um número restritíssimo de leitores deveria encontrar formas diferentes de divulgação. Somos daqueles que sempre aplaudem as matérias de maior profundidade, sabendo que conhecimentos de humanidades dos mais variados setores são importantes para as compreensões dos problemas enfrentados por um país, tanto no campo político como econômico.
Mas tenho a impressão que pode haver um desperdício com páginas preciosas de um jornal sejam simplesmente descartadas pela quase totalidade dos seus leitores, como se fora anúncios que não interessam a eles. Estamos gastando papel, tinta e principalmente um tempo precioso dos responsáveis pelos jornais, sendo talvez interessante que o custo benefício de tudo isto seja avaliado, em função do número de leitores que se interessam por muitos deles.
Assim como assuntos de política e econômica que afetam o cotidiano da população merecem ser “traduzidos” para a compreensão dos leitores, deixando o economês ou outros idiomas estranhos, parece que os conhecimentos mais intelectualizados que envolvem a cultura no seu sentido mais amplo sejam transmitidos de forma compreensível para o público.