9 de novembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais, Notícias, Saúde | Tags: alimentações práticas, alimentos oferecidos na rua, mas menos sadias, refeições simples, tendência ao aumento dos idosos
Há uma visível tendência para a simplificação da alimentação, tanto no mundo desenvolvido como nos países emergentes, enquanto há uma nítida tendência demográfica para o aumento da população de mais idade. Estes alimentos mais simples tendem a concentrar-se no uso de derivados da farinha de trigo, como os pães e massas que são mais fáceis de serem manejados pelos cozinheiros e jovens clientes, e o aumento de carnes de baixa qualidade como os transformados em hambúrgeres e embutidos, com o intenso uso do sal e outros temperos para melhorarem os seus sabores. São adequados para estimularem o uso da bebida alcoólica. Quando procuram mostrar que existem preocupações com a saúde, utilizam uma pequena folha de um vegetal ou tomates, no máximo. Estes produtos são os práticos e de custo mais baixo, servidos até nos chamados trucks nas ruas em todo o mundo, intensificando o uso do fast food nas suas novas leituras, mas ainda precárias. As pessoas parecem contar com menos tempo para alimentações sadias ainda que elas estejam se tornando mais disponíveis, como verduras e legumes de todos os tipos sem o uso de agrotóxicos, que só são consumidos por poucos mais conscientes das necessidades de sustentabilidade.
Quando se verificam os novos guias dos locais de alimentação, como os de São Paulo, nota-se a multiplicação de estabelecimentos que oferecem alimentos simples, baratos ainda que pouco saudáveis, que podem empolgar mais os jovens. Mas, com o tempo, também estes jovens se tornarão idosos, carregando mais problemas de saúde diante dos hábitos que foram desenvolvidos. Não parece haver menções importantes sobre frutos do mar mais sadios e baratos, como uma sardinha ou uma manjuba, que podem ser preparados grelhados ou no vapor, sem os inconvenientes das frituras, que, além de proteínas importantes, também podem fornecer cálcios importantes para os ossos e dentes. Quando uma dentista observou que tenho uma dentição razoável apesar da idade, tenho que me lembrar da minha juventude pobre quando a sardinha era ingerida integralmente, inclusive com seus ossos e espinhas e dos muitos vegetais utilizados, crus, e portanto mais saudáveis. São efeitos que só podem ser observados ao longo do tempo.
Foods trucks em todo o mundo
Foods trucks em São Paulo
Na Europa parece que se generalizam alimentos como os tapas espanhóis, onde uma roda de idosos aposentados beliscam alguns alimentos, conversam com seus amigos e bebem um vinho razoável, que também fornece as calorias necessárias, acabando por resultar numa ligeira refeição barata. A bebida alcoólica no Brasil nem sempre é de qualidade quando seus preços são modestos.
No Japão, onde a população já almoçava muito rapidamente, outros alimentos, principalmente de origem estrangeira, também estão sendo oferecidos em qualquer terreno que ainda não esteja sendo utilizado para novas edificações. Pelo que observamos, não parece existir uma preocupação com a sua qualidade, notadamente com relação à saúde.
Não parece que esta onda que está ocorrendo em todo o mundo seja passageira, principalmente pela necessidade de redução dos gastos com a alimentação. Chefs famosos, inclusive, também promovem o seu nome, oferecendo alguns pratos menores de preços mais convidativos. Se estes produtos tiverem as mesmas preocupações de qualidade, visando a saúde ao longo da vida, devem ser aplaudidos.
Mas as experiências passadas com o fast food só aumentaram a obesidade, inclusive entre os adolescentes, pois nem sempre ocorre uma seleção adequada, com preferência para frituras e materiais que contribuem mais para o fornecimento de calorias do que de qualidade.
Como divulgações de todos os tipos estão ocorrendo sobre a saúde, cujo custo se torna mais elevado, principalmente quando as populações vão envelhecendo, espera-se que campanhas para a sua correção venham a ocorrer, aproveitando a moda que está se disseminando em todo o mundo.
7 de novembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política | Tags: afirmações nacionais e dificuldades decorrentes do passado, análise no Financial Times, as tentativas e os problemas políticos, dois gigantes asiáticos
Um interessante e extenso artigo foi elaborado por Demitri Sevastopulo e Jamil Anderlini e publicado no site da Financial Times sobre as conturbadas relações entre os dois maiores gigantes asiáticos, o Japão e a China. Apesar dos intensos interesses bilaterais comercias e econômicos, as dificuldades políticos militares mal resolvidas que vêm desde o final do século XIV e se agravaram durante a primeira metade do século XX até o término da Segunda Guerra Mundial não facilitam as reduções dos atuais atritos como os decorrentes das disputas das ilhas Senkaku/Diaoyu, bem como as expansões militares chinesas que estão ocorrendo pelos mares que os cercam, para garantir as rotas de suprimento da China. O artigo pode ser encontrado com detalhes no: http://www.ft.com/intl/cms/s/0/23d132ae-64d5-11e4-ab2d-00144feabdc0.html#axzz3IQVPDRgM .
Os dirigentes de ambos os países sabem, para efeito de suas políticas internas, que as afirmações nacionalistas atendem uma significativa parcela de suas populações, aproveitando variados episódios para afirmarem e demonstrarem com pequenos gestos seus empenhos na defesa destas posições. Ainda que elas tenham poucos efeitos práticos, estes problemas demonstram o quanto estas questões psicológicas coletivas acabam dificultando posições mais pragmáticas. No subconsciente de muitos japoneses e chineses, ainda que estes assuntos não sejam explicitados, existem preconceitos que alimentam o caldo de cultura sobre estes assuntos delicados, que não conseguem ser superados pelos entendimentos diplomáticos.
É preciso reconhecer que as cooperações econômicas bilaterais já passaram pelos períodos áureos, quando a transferência de tecnologia do Japão para a China era mais relevante diante das diferenças dos conhecimentos tecnológicos. Hoje, já existem muitos setores onde a China conseguiu absorver conhecimentos que vieram sendo utilizadas pelos chineses nas montagens de avançados equipamentos eletrônicos de empresas internacionais.
Ainda que existam substanciais diferenças das rendas per capita, as dimensões populacionais, que são acentuadamente diferenciadas, fazem com que a amplitude dos mercados acabe sendo importante, notadamente quando a economia chinesa continua mantendo, ainda que com problemas, uma elevada taxa de crescimento, enquanto a japonesa está estagnada por duas décadas.
Muitas declarações a favor de entendimento entre os dois países ocorrem com frequência, no mínimo para o seu início. O momento parece oportuno, pois a economia chinesa continua sofrendo uma pequena redução no seu ritmo de crescimento, que ocorre com visíveis dificuldades. No Japão, efetuam-se esforços para o volta ao crescimento, inclusive com maciça injeção de recursos pelo chamado easing monetary policy, nem sempre com resultados efetivos. A cooperação entre os dois países seria de grande importância para a Ásia e para o mundo.
No entanto, parece que as preocupações políticas ainda superam as dificuldades para simples gestos, não permitindo um pragmático entendimento entre os dois países, mostrando que existem problemas que superam as conveniências econômicas. No plano individual, registra-se, no momento, o aumento do turismo de chineses, até como decorrência dos problemas que ocorrem em Hong Kong.
7 de novembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias | Tags: considerações baseados em longas experiências, encontro de política fiscal 2014 da FGV, entrevistas como de Vito Tanzi e Barry Eichengreen no Valor Econômico
A entrevista concedida por Vito Tanzi para Flavia Lima, publicado no Valor Econômico, é um interessante aperitivo indicando que o encontro promovido hoje pela Fundação Getúlio Vargas sobre política fiscal pode apresentar importantes subsídios para o Brasil e para o mundo. De décadas de trabalho acumulando uma rica experiência sobre problemas fiscais, Vito Tanzi, sempre considerado como um dos economistas que mais estudaram estes problemas, tendo experiências também no Fundo Monetário Internacional, mostra algumas limitações que não se restringem somente às autoridades, como das agências de rating que possuem poderes superiores à capacidade de suas análises. Algumas perigosas aplicações recentes, como as da easing monetary policy, podem acabar prejudicando mais o mundo que contribuindo para as difíceis soluções para a retomada do crescimento econômico em muitos países deste universo globalizado.
Não se pode entender que os problemas dos desequilíbrios comerciais em muitas economias do mundo podem ser resolvidos somente com a política cambial, provocando as desvalorizações de suas moedas. Ainda que isto resolva temporariamente os problemas de alguns, as reações que provocam de seus parceiros podem conduzir a perigosas guerras cambiais. E a prioridade para as exportações dependem também de um conjunto de outras medidas que tornem seus produtos competitivos no mercado internacional. Além disso, parece que fatores políticos e de novos comportamentos, como a redução da capacidade de reações aos desafios, podem criar também problemas.
Vito Tanzi, autoridade mundial em assuntos fiscais, e Barry Eichengreen, da Universidade de Cambridge
Outros economistas, com larga experiência sobre a aplicação de políticas fiscais como as reformas que costumam ser cogitadas e que também participam do evento, devem mostrar que em países federativos como o Brasil apresentam dificuldades adicionais.
Também as exageradas recomendações que a política fiscal seja adotada de forma restritiva em países emergentes que apresentam problemas tanto de emprego como da necessidade de manutenção dos seus níveis salariais acabam mostrando que estes assuntos são mais complexos que parecem. Simples recomendações que podem ser formulados nos papéis encontram terríveis resistências políticas e de outras naturezas.
Espera-se que contribuições e debates que estão sendo travados mostrem o que é realmente exequível de ser adotado para contribuir na recuperação e desenvolvimento destes países.
7 de novembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias | Tags: as dificuldades fiscais, efeitos controvertidos, necessidade de outras condições, novo impulso monetário do Bank of Japan
Parece fácil ao The Economist elogiar a maciça expansão creditícia do Bank of Japan comandada pelo presidente Haruhiko Kuroda, que nem dentro daquele banco central recebeu uma aprovação unânime, pois se trata de pimenta nos olhos dos outros. Os editores da revista inglesa reconhecem que a medida foi em dose mais que cavalar, fazendo com que os ativos do Bank of Japan superassem em muito ao do Banco Central Europeu e do Sistema Federal dos Estados Unidos. É preciso compreender que uma maciça easing monetary policy para provocar uma forte desvalorização do yen como esta acaba provocando dificuldades adicionais aos seus parceiros comerciais, como ocorre com as reclamações já feitas pelas autoridades filipinas, prejudicando outras economias mais fracas. Acaba estimulando uma guerra cambial, introduzindo incertezas adicionais para a economia mundial e não se constituindo em garantia da recuperação nem da economia japonesa, como reconhecido pelo artigo publicado.
Na minha modesta opinião, nenhuma política econômica pode concentrar todo o fogo num dos seus instrumentos, o monetário, quando o fiscal se encontra em sério risco, com o elevado nível do endividamento público do Japão. A elevação do imposto de vendas de 5 para 8% derrubou a demanda da classe média japonesa, e agora o The Economist afirma que não basta elevar para os 10% como já previsto e difícil de ser efetivado, mas chegar a 20% imaginável pelos mais radicais, de forma paulatina, algo como 1% ao ano. Além disso, muitas outras condições precisariam ser preenchidas, como as reformas mal definidas pela revista. Seria interessante que estas recomendações fossem propostas para o Reino Unido, para ver como arde a pimenta no próprio corpo. Uma recomendação desta natureza coloca em dúvida a sanidade dos seus redatores, como já vêm excedendo nas considerações políticas sobre o Brasil.
Gráfico publicado na revista The Economist
Existem analistas experientes que reconhecem que este tipo de recomendação se encontra atualmente em voga entre determinadas correntes de economistas, propondo fortes restrições fiscais para correção de desequilíbrios que estão se observando em algumas economias. Ainda que situações equilibradas do ponto de vista macroeconômico sejam desejáveis, há que se preocupar quando os remédios podem matar os doentes, notadamente as economias emergentes.
Deve-se reconhecer que a Coreia do Sul foi uma das primeiras a resistir às recomendações do FMI – Fundo Monetário Internacional alegando que a proteção do emprego e da renda dos seus recursos humanos era mais importante que as temporárias dificuldades de suas contas fiscais. Evidentemente, situações equilibradas proporcionariam mais tranquilidade para os credores externos, mas quando as dívidas externas não são tão cruciais, nem sempre a elegância macroeconômica deve ter tanta prioridade.
Mesmo reconhecendo que cada economia tem suas características próprias, e as experiências internacionais sejam sempre importantes, a análise correta da situação interna de cada país, principalmente dentro dos seus condicionamentos políticos, parecem ser recomendáveis ouvir-se um pouco mais a opinião daqueles que sofrem cotidianamente com os seus problemas, que nem sempre são compreensíveis para analistas estrangeiros, mesmo com as supostas capacidades de suas respeitáveis bagagens de experiências.
6 de novembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais, Gastronomia, Notícias | Tags: a prática no mercado, aceleração das inovações e divulgações com Ferran Adrià, o G11 do Conselho de Culinária Basca
Nada como uma viagem por algumas cidades do mundo como Tóquio, Barcelona e Cingapura para constatar a aplicação prática dos princípios que estão sendo destacados nas reuniões como o do G11 da culinária, representado pelos membros do Conselho do Centro da Culinária Basca, chefiada por Ferran Adrià, que acaba influenciando as intensas inovações que estão ocorrendo na culinária cotidiana do mundo, que aparenta ser muito mais do que estão sendo destacados. Todos enfatizam a valorização dos ingredientes locais, o uso de inovações aproveitando a biodiversidade existente e o respeito às lições das tradições que vieram sendo acumuladas por séculos. Não há necessidade de se experimentar restaurantes badalados e caros, pois, no atual processo de disseminação das inovações, o que parece indispensável é que eles cheguem à massa de consumidores nos muitos estabelecimentos que utilizam parte dos princípios que estão sendo destacados.
É evidente que quando um grupo seleto de conhecidos chefs com prestígio mundial se reúne em São Paulo, como ocorreu nos últimos dias, a imprensa destaque o que eles estão pensando e constatando. Mas seus restaurantes acabam sendo limitados ao acesso de poucos privilegiados. Parece que há um processo mais amplo onde parte das inovações está sendo utilizada até em estabelecimentos modestos, fazendo com que haja uma verdadeira revolução de outros anônimos que estão contribuindo com o que impressiona até mesmo os observadores menos especializados. Parece que são deles que os grandes chefs retiram parte dos aprendizados que ajuda a absorver, sofisticar e a divulgar para alegria e prazer de todos quantos procuram se alimentar de forma mais saudável e prazerosa em qualquer parte do mundo.
Componentes do G11 da culinária, de pé: Alex Attala, Michel Bras, Gastón Acurio, Kamilla Seidter e Rodolfo Guzán; sentados: Yukio Hattori, Enrique Oliveira, Ferran Adrià, Joxe Alzega e Joan Roca, que se reuniram em São Paulo
Como muitos sabem, Cingapura exerce o papel de capital de toda a região do Sudeste Asiático, incluindo a gigantesca Indonésia, esta muito rica na sua variada cozinha que recebeu influências múltiplas, aproveitando a ampla diversidade dos produtos disponíveis no país. Fomos convidados pela família do professor Chong Tow Chong, reitor da Singapore University of Technology and Design, para jantar num agradável restaurante ao ar livre de cozinha indonésia, evitando os pratos que eram exageradamente apimentados. Algumas informações sobre estes restaurantes podem ser obtidos no: http://www.thebestsingapore.com/eat-and-drink/the-best-5-indonesian-restaurants-in-singapore/ .
Um exemplo da diversificada cozinha da Indonésia que pode ser apreciada em Cingapura
De Tóquio, tradicional centro de uma das melhores culinárias do mundo, até a japonesa reconhecida neste ano pela Unesco, vamos destacar dois exemplos que muito me impressionaram pela criatividade. Um seria o Sakanaya Rokuzo, no luxuoso Roppongi Hills, onde fui surpreendido por um jantar de preço modesto, que entre outras delícias leves apresentava um excepcional e inovador cozido no vapor de legumes e peixes em fatias, que podiam ser apreciadas com um molho suave. Estas informações podem ser obtidas também pelo http://www.sakanaya-rokuzo.com/english.html .
Cozido de legumes e fatias de peixe no vapor, a que se seguia um udon aproveitando a calda da água deles
Como pratos introdutórios foram consumidos ostras frescas, grelhados de peixe e outros produtos, tudo acompanhado por dois tipos de chás, e fechando com uma sobremesa de gelatina do tipo japonês. O incrível é que este lauto jantar não chegava a uma conta por pessoa correspondente a US$ 40.
Outro estabelecimento na mais famosa rua de Tóquio, a Omotesando, muito frequentada por estrangeiros como jovens inovadoras em fashion, foi o Yasai Yamei, que foi até objeto de uma reportagem do The Japan Times, que apresenta uma criativa culinária veggie, ainda que utilizando alguns peixes e suas ovas. Ele está no http://www.japantimes.co.jp/life/2008/06/20/food/yasaiya-mei-bespoke-veggies-in-omotesando/#.VFtwBv9OVLN .
Um exemplo de um prato do Yasai Yamei
O jantar completo e impressionante, também a um custo inferior a US$ 40 por pessoa, referia-se aos ingredientes típicos de outono, pois a culinária japonesa enfatiza os de cada estação. Começava por uma emocionante salada com cerca de 15 produtos crus, crocantes e apresentados num vasilhame de gelo picado, acompanhado de um molho mantido quente numa espécie de espiriteira. Todos estes vegetais, muitos desconhecidos dos brasileiros, tinham sabores destacados, sendo produzidos especialmente pelos agricultores que mantinham um acordo com esta rede de restaurantes. Destaco uma fatia de abóbora para também ser consumida cru, de sabor muito agradável e diferente.
Seguia-se um grande vasilhame com pequenos recipientes onde legumes cozidos, com molhos diferenciados, alguns com peixes e suas ovas, algo emocionante para qualquer comensal, todos para serem apreciados como slow foods. Seguia-se a refeição propriamente dita (os japoneses consideram o arroz ou o udon acompanhado de conservas e um caldo, como a refeição, sendo todos os pratos anteriores como aperitivos, para preparar a boca para o prato principal), era uma espécie de risoto de um arroz especial, com pequenos pedaços de peixes e cogumelos, algo fora de série e leve.
Seguia-se uma sobremesa tipicamente japonesa, com leituras novas, algo como feito de pasta de arroz, de delicado sabor, muito leve. Tudo acompanhado de variados tipos de chás. Todos os ingredientes deste jantar eram locais e frescos, muitos ainda desconhecidos até de apreciadores da boa culinária. Uma inovação surpreendente e acessível a qualquer bolso.
Em Barcelona, considerado hoje um dos centros mais inovadores da cozinha mundial, já postamos que fomos jantar no restaurante Bravo, no hotel W, do chef Carles Abellan que nasceu nesta cidade e hoje conta com fama internacional, rivalizando com Ferran Adrià, com quem trabalhou por longo tempo. Entre os muitos pratos que apreciamos estava um cordeiro cuja receita original girava em torno do ano de 1500, evidentemente com leituras novas, notadamente no excepcional molho com base em vinhos de boa qualidade, como especiarias difíceis de serem diferenciadas. Começava com o perfume deste prato, que valia a pena ser apreciado.
Restaurant Bravo onde Carles Abellan apresenta pratos com novas leituras sobre receias que vem desde o século XV
O que parece possível constatar-se é que está havendo uma fase de inusitadas inovações nas culinárias de todo o mundo, o que deve ser saudado, pois, além de contribuir para a saúde de todos, proporciona um elevado nível de satisfação, para compensar todas as notícias negativas que continuam sendo disseminadas pelo mundo.
5 de novembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais, Gastronomia, Notícias | Tags: adequado para dietas, artigo de Kate Bratskeir no The Huffington Post, origem na China, uso na cozinha
Um interessante artigo, publicado por Kate Bratskeir no site The Huffington Post, esclarece a origem do hashi, este genial e simples conjunto de dois palitos que começou a ser utilizado na China, inicialmente na cozinha quando se permitia controlar os alimentos que estavam sendo cozidos, evitando-se machucar com a alta temperatura. Evidencias do seu uso foram localizados nas tumbas na província de Henan, na parte central da China. Inicialmente eram de bronze e eram utilizados nos vasilhames e nas águas quentes, no preparo de alimentos, segundo o artigo. No ano 400 houve uma expansão da população, pois o hashi permitia alimentar-se em pequenas porções de alimentos, tendência que se espalhou pela Ásia.
O uso do hashi permite que os alimentos sejam levados à boca em pequenas porções. Shutterstock / HLPhoto
Existem, segundo o artigo, versões que atribuem a Confúcio esta possibilidade, ele que era vegetariano, e apresentava a alternativa de ser um utensílio que desestimulava a violência, ao contrário de uma faca. Assim, o hashi seria um símbolo de paz.
Hoje, o hashi é recomendado àqueles que desejam manter ou reduzir o peso, pois ao contrário do garfo que estimula se alimentar em grande quantidade, o hashi obrigaria a pequenas porções. É preciso constatar que esta é uma versão Ocidental, pois se verifica que existem orientais que são capazes de ingerir uma grande quantidade de alimentos com o uso do hashi, pois se costuma também levar a tigela à boca, ajudando com o hashi a empurrar os alimentos para dentro.
As cargas culturais nem sempre são possíveis de serem entendidas pelos que não estão acostumadas com elas. Os japoneses ficam chocados quando alguém simplesmente enterra o hashi, por exemplo, sobre uma porção de arroz, deixando-os em pé, durante uma refeição com amigos. Na realidade, tanto no budismo como no xintoísmo, que possuem o hábito de oferecerem pequenas porções de alimentos aos falecidos, os hashis são usados nestas formas junto aos pequenos altares. Se isto é feito numa refeição, acaba dando a chocante impressão que se deseja a morte de um dos participantes. O costume correto é depositar os hashis nos seus descansos.
Para quem não está acostumado ao uso dos hashis, existem hoje algumas pequenas peças que ajudam a mantê-los juntos, facilitando o seu uso, inclusive para as crianças. Na sua ausência, os restaurantes costumam oferecer um elástico que exerça esta função.
Fala-se também sobre outras etiquetas para o uso dos hashis, mas o que se constata é que, mesmo entre os povos que os utilizam, existem variações pessoais no seu uso, não se devendo importar com algumas imperfeições. É preciso entender, também, que não se utilizando o garfo e a faca os alimentos devem ser servidos cortados em porções pequenas, e os japoneses não se constrangem em cortá-los com os dentes quando isto não ocorre.
Entre os chineses aparecem também hashis de plásticos (originalmente eram de marfim), mais longos, principalmente para se servir das apresentações coletivas para pratos individuais. Como são flexíveis, pode haver algumas dificuldades para o seu manejo. Este instrumento tornou-se tão popular em todo o mundo, que se verifica no Ocidente crianças manejando-os com grande habilidade.
5 de novembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias | Tags: a experiência japonesa, correções possíveis, expansão exagerada
Num artigo elaborado por Stella Fontes, publicado no Valor Econômico, informa-se que o faturamento da indústria farmacêutica brasileira vem crescendo de forma interrupta desde 2010 de 9 a 11% anual, segundo informações fornecidas por Antônio Brito, da Interfarma – Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa, tendência que se estima deva sofrer um ajustamento no futuro. A entidade representa 55 empresas que respondem pelo varejo de 80% dos medicamentos de referência e 33% dos genéricos, 46% dos medicamentos isentos de prescrição e 52% dos chamados tarjados, que requerem prescrição médica, segundo consta do artigo mencionado. Esta expansão é explicada pelo aumento da nova classe média e o acesso dos pacientes a estes medicamentos, o que evidentemente está acima do razoável, estimando-se que o Brasil é o quinto mercado destes produtos no mundo, segundo informações de outras fontes.
Ainda que se preveja um arrefecimento deste crescimento no futuro, atribui-se a sua razão ao aumento de doenças de alta complexidade que exigem medicamentos de alto custo nem sempre acessíveis aos pacientes brasileiros. Ao lado destas informações, poderiam ser esboçadas algumas hipóteses que levam a este exagero. De um lado, uma parte da publicidade desta indústria volta-se aos médicos que prescrevem os medicamentos para os seus pacientes, e existem informações de algumas distorções neste processo. E o sistema de venda em pacotes, contendo mais medicamentos que os necessários durante o período prescrito pelos médicos, cujas sobras acabam virando problemas, com a necessidade de que sejam agora eliminados com critérios, de forma que não sejam consumidos indevidamente por desavisados.
Dados publicados no Valor Econômico
Uma experiência com as farmácias no Japão poderia ajudar a sanar parte dos exageros. Mesmo com as prescrições médicas, os pacientes naquele país são obrigados a preencherem informações médicas adicionais nas farmácias, para verificar a possibilidade de algumas reações ou incompatibilidades, o que é de responsabilidade de uma farmacêutica habilitada.
Os fornecimentos dos medicamentos são por unidades, dentro da quantidade indispensável para a prescrição médica com detalhes das dosagens e de quando devem ser utilizados, pelos dias prescritos. As farmacêuticas esclarecem as finalidades perseguidas por estes medicamentos, bem como individualizando cada um deles, quando são mais de um. Com isto, não há possibilidade de haver sobras que não sejam utilizadas, fazendo com que os custos sejam menores do que os dos pacotes. As farmácias contam com uma dependência para estes controles, como costumam ocorrer nos hospitais.
Ainda que haja uma pequena demora, todos estes detalhes deixam os pacientes mais tranquilos, esclarecidos devidamente, e com a possibilidade de uma economia, quando as dosagens prescritas não atingem o conteúdo de um pacote. Tudo indica que para estes aperfeiçoamentos seriam necessárias algumas medidas adicionais da ANVISA, mas estabeleceu-se entre os governos brasileiro e japonês um acordo de cooperação, que poderia ajudar na introdução de um aperfeiçoamento desta natureza, que beneficiaria toda a população.
4 de novembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias | Tags: comparação com as alimentações em Tóquio, indicação de algo errado na economia brasileira, média dos restaurantes do Roppongi Hills
Atualmente em São Paulo, para um almoço chamado executivo nos restaurantes de média qualidade, compreendendo uma entrada, um prato principal e uma sobremesa, acompanhado de água mineral, café e os serviços, a conta fica no mínimo em R$ 70 por pessoa que ao câmbio atual em torno de R$ 2,50 por dólar norte-americano representaria algo em torno de US$ 28. Para um jantar normal, o seu custo chegaria a algo em torno do seu dobro, pois não costuma existir jantares executivos. Ocorrem muitas queixas dos estrangeiros sobre estes custos, e, para efeito de uma simples comparação grosseira, vamos utilizar os preços de jantares dos restaurantes constantes de um guia para gourmet no luxuoso Roppongi Hills, um dos melhores conjuntos existentes em Tóquio, que costumava ser considerada a capital de custo elevado no mundo e hoje figura como bastante razoável.
Os preços mais frequentes começam em yen 2.000 e chegam a yen 4.000 que, ao câmbio atual em torno de 115 yens por dólar norte- americano, chega-se a menos de US$ 24,00 até US$ 48,00 por pessoa, compreendendo entradas mais ricas, prato principal mais sofisticado e uma sobremesa simples, que é uma refeição completa, pois no Japão não existem almoços ou jantares executivos, mas conjuntos completos. Evidentemente existem exceções nos restaurantes considerados de alto luxo que superam estes custos, mas, mesmo assim, poucos chegam ao seu dobro. Os restaurantes que frequentei numa viagem recente, tanto neste Roppongi Hills como em Omotesando, considerado a localidade de mais alto luxo muito frequentado pelos estrangeiros, apresentavam padrões de qualidade bem elevados comparados com os de São Paulo, mal chegando ao preço de US$ 50 por pessoa, sem bebidas alcoólicas cujo preço, em qualquer lugar, depende de suas qualidades, variando de forma substancial.
Alguns exemplos de restaurantes no Roppongi Hills
O que utilizei no Roppongi Hills foi o Sakanaya Rokuzo que por ser especializado em peixes e outros frutos do mar costumava ser mais dispendioso em qualquer lugar do mundo. Hoje, salvo os de elevadíssima culinária japonesa, os estrangeiros como os franceses estão com preços mais elevados, notando-se a elevação do consumo de carnes, que aumentaram no Japão e cujos preços se tornaram razoáveis, possivelmente diante da redução das tarifas de importação de outros países.
Em Omotesando utilizei um restaurante pertencente a pequena rede de culinária veggie, que também incluía alguns pescados e seus ovos, de extrema criatividade, chamado Creat Restaurante que conta com muitos agricultores fornecedores exclusivos. Para os brasileiros seriam novidades difíceis de serem obtidas para jantares, e ainda assim os preços estavam nas faixas citadas. Já postei um artigo neste site sobre este restaurante.
Os câmbios nos dois países estão muito voláteis como em todo o mundo, sendo que no Brasil o real está ainda muito valorizado, enquanto no Japão o yen está desvalorizado, mesmo com as correções que estão se observando recentemente. Até a algumas semanas atrás as comparações seriam piores para os restaurantes brasileiros.
Os indícios que se devem parcialmente aos câmbios decorrem da comparação de outros preços, como de táxi, e outros serviços. Ainda que a carência de recursos humanos no Japão esteja limitando as qualidades dos serviços, ainda estão melhores que no Brasil ou na Europa, o que era mais acentuado tradicionalmente.
Os japoneses sempre contaram com culinárias de boa qualidade, tanto japonesa como estrangeiras, sendo que mesmo que no Brasil haja uma tendência para a sua melhora, ainda não podem ser consideradas boas do ponto de vista internacional, mesmo contando com ingredientes invejáveis.
Tudo isto mostra que existem reformas substanciais a serem introduzidas, que não só limitam somente aos câmbios e as possibilidades de competitividade dos produtos industriais como de muitos serviços básicos.
4 de novembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Economia, Editoriais, Notícias | Tags: 365 dias ao ano, a região do mercado de Tsukiji, além dos tradicionais sushi e sashimis, operam atualmente 24 horas por dia, tudo para culinária
Apesar de ter sofrido alguns problemas com determinadas matérias que afetaram a sua credibilidade, o Asahi Shimbun continua sendo considerado um dos mais importantes jornais japoneses. Vem publicando uma série imperdível de artigos sobre o que chamam Tsukiji exterior, ou seja, cerca de 400 estabelecimentos que ficam em redor do mais famoso mercado de peixes do mundo. São especializados em sushi ou “kaisendon”, uma tigela de arroz coberto de frutos do mar. Hoje, já existem cadeias destes estabelecimentos como o “Sushizunmai”, que opera nada menos que 53 estabelecimentos no Japão, sendo nove da área de Tsukiji, segundo o artigo elaborado por Noriyuki Shigemasa, do site do Asahi. Os que oferecem estes “kaisendon” representam cerca de 20% destes 400 estabelecimentos da região.
O artigo informa que existem algumas reações a estas redes, mas os mais conscientes concorrentes informam que eles estão atraindo mais turistas, até estrangeiros, para a região, introduzindo o hábito de operarem 24 horas por dia, inclusive feriados e fins de semana. Para os que não conhecem a região, além destes restaurantes que aproveitam os frutos do mar frescos adquiridos no famoso mercado, encontram-se milhares de estabelecimentos que vendem tudo que se possa imaginar para ser utilizado na culinária japonesa. Desde ingredientes, dos mais caros aos mais populares, como panelas, facas, e outros produtos difíceis de serem imaginados. Existem estabelecimentos especializados somente nos enfeites dos pratos da culinária japonesa, que variam de acordo com as características da época, como galhos de cerejeiras em botão, para servirem de descanso para os hashis.
Existe um site oficial sobre este mercado externo de Tsukiji no: http://www.tsukiji.or.jp/english/index.html que está em inglês, mas pode ser traduzido eletronicamente, ainda que não seja perfeito, mas compreensível até em português. Quase tudo que se desejar saber sobre este mercado pode ser encontrado neste site. Eu costumo visitar os mercados em todas as localidades que visito, pois dão uma ideia de como se alimentam as populações das mais variadas partes do mundo. Mas, toda esta região de Tsukiji é uma das mais impressionantes que se possa encontrar no nosso universo.
Uma das muitas ruelas em torno do Mercado de Tsukiji, numa hora excepcionalmente tranquila
O jornal publica histórias pessoais de personagens importantes da região, como da evolução ao longo do tempo desta região, que já passou por crises e hoje está plenamente recuperada, ainda que a economia japonesa não esteja muito bem. Além dos turistas, muitos executivos que trabalham na região de Ginza, que é próxima, costumam almoçar nestes estabelecimentos, que contam com produtos frescos de boa qualidade. Os preços das redes são mais elevados, mas também existem pequenos estabelecimentos que atuam com preços razoáveis.
Muitos funcionários das empresas e compradores que visitam as lojas de departamentos que existem em Ginza também aproveitam o fato de estarem na região para fazer suas refeições antes de voltar para suas casas. Existem redes que ficaram conhecidos pelo aproveitamento de pequenos espaços, becos nas entradas de alguns pequenos edifícios da região.
Muitos consideram que o principal estabelecimento da região seria o Tsukiji Sushisay, que foi criado na região de Nihombashi, considerado o centro de Tóquio, em 1889. Depois do grande terremoto de 1923, foi transferido para o local atual, próximo ao mercado. Existem algumas preocupações, pois o mercado de peixe está programado para ser transferido em 2016, mas muitos acreditam que a marca Tsukiji é muito forte, e que vai se encontrar algumas soluções para que este distrito continue sendo importante para a continuidade da maioria dos estabelecimentos que atraem compradores profissionais, clientes habituais como turistas de todo o mundo.
4 de novembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais, Notícias | Tags: comprovações estatísticas, piora nos sentimentos dos jovens japoneses, possíveis interpretações
Quando meus amigos no Japão informaram que muitos jovens japoneses não se sentiam suficientemente motivados, encarei o problema com certo ceticismo. Agora, uma pesquisa publicada pelo Instituto de Estatística Matemática naquele país, realizada a cada cinco anos, confirma esta informação de forma dura, segundo notícia distribuída pela agência Jiji Press e publicada no jornal Japan Today. 26% de uma amostra de 6.400 entrevistados entre jovens homens informam este sentimento, onde 3.170 deram respostas válidas numa pesquisa que foi feita em 2013, e que vem se repetindo regularmente desde 1953. Em 1988, este percentual era de 17%, mostrando um crescimento assustador. Segundo estas informações, eles não se interessam em estudar e/ou executar trabalhos, pois acreditam que não são compensadores.
As informações são de que as jovens também não se interessam em se casar e principalmente terem filhos, chegando a quatro entre cinco mulheres. Apesar do governo japonês incentivar o aumento de crianças, visando evitar a forte redução de sua população. Encontramos em alguns restaurantes grupos de jovens mulheres comendo e bebendo em grupos, com somente uma criança entre elas, brincando com um aparelho eletrônico, pois não se interessava pela conversa, chegando a apelar para uma delas, possivelmente sua mãe, que já era tarde, hora de dormir. Uma cena chocantemente triste, mas revelando uma dura realidade.
Grupo de jovens japonesas jantando
As mais variadas razões devem estar determinando uma situação desta natureza. Com a redução da população, muitos jovens se acostumaram a viver por conta dos seus pais, e o custo de um aluguel para morarem separados é relativamente baixo, pela grande disponibilidade de habitações modestas. O Japão tornou-se o país de mais alto percentual de população idosa.
Um longo período de deflação, com baixo crescimento econômico, não parece ter apresentado desafios para os jovens homens, fazendo com que muitos ficassem indeferentes e pouco motivados. De outro lado, as jovens conquistaram uma posição no mercado de trabalho, deixando de ter um papel relativamente subalterno na sociedade japonesa.
O custo de manutenção de um casamento, bem como de criação das crianças, tornou-se uma carga relativamente pesada, limitando a livre atividade das jovens, quando não se conta com babás e outras pessoas que ajudem a cuidar das crianças. O governo está estimulando as empresas a criarem creches que não existiam em grande número no Japão.
Este tipo de situação está se repetindo em países europeus, onde também a população deixou de crescer, aumentando relativamente a quantidade de idosos. Tudo indica este fenômeno, de forma precoce, tende a se reproduzir também nos países emergentes, inclusive no Brasil, que nas próximas décadas não apresentará mais crescimento populacional.
Tudo parece indicar que as autoridades terão que redobrar suas preocupações com problemas desta natureza.