11 de setembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia e Política, Editoriais e Notícias | Tags: artigo com muitas pesquisas sobre o Delfim Netto, publicado na revista Piauí, visões variadas
Sempre é difícil fazer um apanhado geral sobre uma personalidade como o professor ADN – Antonio Delfim Netto que já exerceu variadas funções importantes ao longo de seus 86 anos e que continua mais ativo que muitos jovens nos seus estudos. O jornalista Rafael Cariello efetuou muitas pesquisas, inúmeras e demoradas entrevistas tanto com o próprio professor, como muitos dos seus auxiliares, bem como outras personalidades que o conhecem diretamente ou pelos seus trabalhos para chegar a este artigo publicado no número 96 da revista Piauí, deste mês de setembro.
Tendo desempenhado um papel de destaque tanto no período autoritário do Brasil, antes como depois da volta à democracia, não poderia deixar de haver variadas interpretações sobre o seu papel que foi resumido num artigo bastante longo, onde não se observa nenhuma lacuna marcante, mas talvez pequenos exageros sobre as influências de seus colaboradores, entre os quais estou incluso. O trabalho resultante merece elogios pelo seu equilíbrio e qualidade.
O artigo, de forma criativa, começa por mencionar o seu papel nos dois períodos em que esteve no comando da economia brasileira, o primeiro entre 1967 a 1974, quando o crescimento foi acentuado depois de uma recuperação da recessão anterior, chegando a ser chamado de “milagre” indevidamente, pois era o resultado de muito trabalho. No segundo, já sobre os efeitos das duas crises petrolíferas mundiais, a que se seguiu uma crise financeira internacional, entre os anos 1979 a 1994, quando todo o mundo estava sendo atingido e se procurava somente estabilizar a inflação ao nível de 200% ao ano, procurando manter o setor externo como alavanca de um crescimento.
Ainda que o posterior Plano Real tenha estancado o processo inflacionário de forma imaginativa, não se conseguiu preservar a importância do setor externo, que hoje provoca problemas das pressões inflacionárias e um baixo crescimento da economia brasileira. Nem sempre houve uma compreensão adequada sobre o assunto, inclusive da equipe do ex-Presidente FHC – Fernando Henrique Cardoso, ele que também foi professor na FEA-USP, Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo, antes de passar para a Sociologia. Quando FHC era representante no Conselho Universitário da USP, ADN era o seu substituto.
Professor e economista Antonio Delfim Netto
O artigo procura destacar a capacidade de ADN manter o diálogo com as mais variadas correntes de pensamento econômico e político, como no início dos contatos com o ex-Presidente Lula da Silva, quando ele era conhecido como czar da economia e Lula começava a se destacar como líder metalúrgico. Também as lealdades dos seus colaboradores, muitos de origem na FEA-USP que ajudaram a compor seus Delfim’s boys, como Eduardo Pereira de Carvalho, Carlos Viacava, Carlos Antonio Rocca, Akihiro Ikeda, Affonso Celso Pastore e muitos outros. Também foram sendo agregados outros ao longo de sua carreira, provenientes das variadas regiões deste imenso Brasil.
A origem humilde de ADN é mencionada com o início da carreira profissional na função de office-boy na Gessy, onde teve a sorte de ser orientado para leituras que propiciaram a formação de uma fabulosa biblioteca, já doada para a FEA-USP. Muitos que conviveram com o seu trabalho no governo, como Ernani Galveas, Antonio Dias Leite, Shigeaki Ueki, Carlos Alberto Andrade Pinto, Mailson da Nóbrega, Luiz Paulo Rosenberg prestaram seus depoimentos. O gosto comum pela leitura incluiu depoimentos como de Eduardo Gianetti da Fonseca, hoje um dos principais assessores da candidata Marina Silva.
Muitos episódios relacionados com os governos autoritários estão mencionados, como do período do governo Costa e Silva, com o posterior Presidente Ernesto Geisel, mesmo alguns que não estavam devidamente divulgados, onde se incluíam Octávio Gouveia de Bulhões, Roberto Campos e Mário Andreazza. Também foram incorporados trabalhos importantes como do jornalista Elio Gaspari sobre o período que mantinha contatos frequentes com ADN.
Episódios críticos como os desligamentos dos ministros Fábio Yassuda e Cirne Lima também são abordados. Sobre os desligamentos dos ministros Karlos Rischbieter e Mário Henrique Simonsen no governo João Figueiredo atribuindo a empurrões de ADN não parece corresponder à realidade, pois foram eles que tomaram a iniciativa de desligar-se diante do difícil quadro em que se encontrava a economia brasileira.
São mencionados contatos mais recentes com Lula da Silva e Dilma Rousseff, inclusive com a participação de Luiz Carlos Belluzzo, fatos que não devem ser atribuídos à importância dada por muitos. Alguns economistas como Samuel Pessoa se impressionam com a capacidade de leitura de ADN, como também Carlos Langoni observa o recebimento de muitos artigos acadêmicos com observações registradas.
São mencionados casos como os ocorridos com Luis Paulo Rosenberg e Eduardo Gianetti da Fonseca com a preocupação de ADN sobre assuntos pessoais, que nem tinham relações com a economia ou a política, mostrando sua disposição de ajudar até na solução de pequenos problemas.
O artigo exagera no auxílio de alguns colaboradores, como é o meu caso, no entanto, observa-se que ADN se comporta muitas vezes como um verdadeiro capo, com destaque para os membros de sua família, mas também aos que foram incorporados para sua equipe ao longo de muito tempo.
11 de setembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais e Notícias, Esporte | Tags: lamentável coordenador das seleções Gilmar Rinaldi, pobre reformulação do futebol brasileiro, primeiras partidas com a Colômbia e o Equador, treinador Dulga | 2 Comentários »
Depois do chocante desempenho da seleção brasileira de futebol na Copa do Mundo de 2014, todos esperavam que aproveitando as lições do fracasso ocorresse uma reformulação radical no futebol brasileiro visando o seu futuro, a partir das suas bases. Infelizmente, a CBF – Confederação Brasileira de Futebol escolheu um corretor de jogadores como Gilmar Rinaldi para coordenador das seleções, que por sua vez trouxe de volta o lamentável treinador Dunga para a seleção principal, completando o comando técnico com o treinador Alexandre Gallo, técnico da seleção sub-20, que continuaria em suas funções. As primeiras declarações da dupla Gilmar/Dunga foram frustrantes para todos, como a que fariam viagens para se atualizarem com o que está acontecendo no futebol mundial, eles que estão relacionados com a cúpula que é a seleção nacional. Lamentavelmente, todos os brasileiros que se consideram técnicos em futebol entenderam que jogadores que os obedecessem sem questionar este novo comando em nada, seriam os que continuariam prestigiados. Enterrou-se a oportunidade de uma grande reformulação do futebol brasileiro aproveitando o trauma, começando pela cúpula.
Mas, seria na prática que se verificaria o que poderia acontecer. As duas primeiras partidas da seleção nacional com a Colômbia e o Equador confirmaram as sinalizações preocupantes, que se caminha para um joguinho de bola de gude. Alem de partidas amistosas que não acrescentam em nada, até em lamentáveis campos até com gramados improvisados, o que se observou foram alguns jogadores empenhados, que nada têm para formar uma grande equipe. A dependência a Neymar acentuou-se, alem de voltar a um clima de pouco diálogo dos novos dirigentes técnicos com todos, consubstanciado no desligamento do jogador Maicon de forma desastrosa.
Gilmar Rinaldi, Coordenador das seleções da CBF
Dunga, treinador da seleção, já enfrenta problemas
Todos sabiam que a dupla Gilmar/Dunga não possuem credenciais profissionais que os credenciem a comandar a parte técnica da reformulação do futebol brasileiro, e com o pobre desempenho da principal seleção brasileira de futebol diante das limitadas seleções da Colômbia e do Equador, o quadro que já era difícil complica-se ainda mais.
Juntar somente alguns jogadores considerados promissores para o futuro não chega a formar uma seleção, ainda que sejam esforçados, até por que a característica pessoal de Dunga é de um comando forte, sem contar com o mínimo de qualificação, notadamente na manutenção de um clima de cooperação entre todos os componentes do futebol brasileiro. Ainda que não tenham sofrido restrições pesadas de parte da imprensa especializada, as críticas tendem a elevar o seu tom no futuro.
Quando se compara a seleção brasileira com os jogos das seleções de futebol que começaram a competir na Europa, observa-se que os níveis de qualidade são gritantemente diferentes, mesmo que todos ainda estejam começando suas atividades depois da Copa. Na realidade, constata-se que não existe um plano amplo para a reformulação do futebol brasileiro que vai muito alem da seleção brasileira, que é simplesmente a resultante do quadro vigente.
Ainda existe um razoável tempo até a próxima Copa do Mundo. Mas, se não existir um programa radical que começa nas escolinhas de futebol, estende-se pelos clubes, abrange as Federações estaduais, chegando até a CBF, teremos que nos conformar com humilhantes comparações com o que vem acontecendo de bom no mundo futebolístico.
10 de setembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais e Notícias, Política | Tags: 61 volumes dos anais do Imperador Hirohito, posição contra a aliança com a Alemanha nazista, posição contra a guerra com os Estados Unidos
A Agência da Administração da Casa Imperial do Japão divulgou os anais do Imperador Hirohito que detalham os 87 anos de sua longa vida, que começou no dia 29 de abril de 1901 e terminou com o seu falecimento no dia 7 de janeiro de 1989. Inclui o período em que ele ascendeu ao Trono do Crisântemo em 25 de dezembro de 1926, o seu pronunciamento pelo rádio de 15 de agosto de 1945 declarando a rendição japonesa, até o seu falecimento no pós-guerra, já como Imperador constitucional. São 61 volumes que compreendem 12.137 páginas, com 3.152 conjuntos de materiais, sendo 40 não conhecidos até hoje. Estão publicados em todos os jornais japoneses.
Entre os fatos destacados no The New York Times pelo jornalista Martin Fackler está sua oposição à aliança na Segunda Guerra Mundial com a Alemanha nazista que levou a formação do Eixo junto com a Itália, e sua advertência antes do ataque a Perl Harbor que uma guerra com os Estados Unidos como autodestrutivo para o Japão.
Sua Majestade Imperial Hirohito
Atribui-se a demora na divulgação destes anais, dado que muitos dos assuntos abordados são sensíveis para a opinião pública japonesa e mundial, podendo ser atribuída a sua responsabilidade na Segunda Guerra Mundial por não ter assumido uma posição mais atuante ao período nacionalista e militarista que levou ao conflito mundial.
Os analistas norte-americanos também informam que os contatos do Imperador Hirohito com o general Douglas MacArthur, que comandou a ocupação dos aliados no Japão não estão apresentados em todos os seus detalhes.
Os documentos divulgados incluem o diário de Saburo Hyakutake, o grande camareiro do Imperador Hirohito, que compreende o período crítico do regime militar em 1936. Estes documentos japoneses do passado costumam ser muito detalhados, como os que foram divulgados, compreendendo o período deste a Restauração Meiji até a Segunda Guerra Mundial, e devem servir para muitos estudos dos historiadores.
10 de setembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais e Notícias | Tags: debate entre José Roberto Mendonça de Barros e Delfim Netto no Estadão, diagnósticos e opções de política econômica, entrevista de Eduardo Gianetti no Valor Econômico
Foi publicado no jornal O Estado de S.Paulo um debate entre os economistas Antonio Delfim Netto e José Roberto Mendonça de Barros sobre os problemas atuais de política econômica procurando estabelecer parâmetros para o julgamento das propostas dos candidatos à Presidência da República. Também foi publicado no Valor Econômico uma entrevista com Eduardo Gianetti da Fonseca, um dos principais assessores da candidata Marina Silva, que aparece atualmente nas pesquisas como a favorita para a vitória num eventual segundo turno. Todos se mostram conscientes que os problemas econômicos atuais exigirão fortes ajustes no começo da próxima administração, quem quer que seja eleito, que poderá provocar uma desaceleração adicional da economia brasileira por um período, que poderá ser mais longo ou mais curto. Os diagnósticos não diferem muito.
Delfim Netto acredita que se houver um choque de credibilidade com o novo governo, o ajustamento acabará sendo mais rápido, pois os agentes econômicos costumam se antecipar ao que vai ocorrer no futuro. Mas, como parece haver um consenso que o ajuste necessário será bastante profundo, sempre se admite que nem tudo pode ser feito rapidamente, como expressa Eduardo Gianetti da Fonseca, havendo necessidade de tempo para que seus efeitos se apresentem para a população.
Professor Antonio Delfim Netto
Economista Jose Roberto Mendonça de Barros
Economista Eduardo Gianetti da Fonseca
O que parece difícil é que se consiga reunir facilmente competentes economistas de diversas origens para compor uma equipe no novo governo. Ainda que existam muito habilitados, nem sempre é fácil compor uma equipe que tenha um comando claro e uma estratégia consensual, pois os ajustamentos de diferentes personalidades costumam ser de grande complexidade.
Parece que, além de contar com muitos que possam colaborar em diversos setores, existem as necessidades de atendimento das reivindicações regionais e componentes de diversas facções políticas, quanto mais de diferentes partidos políticos e profissionais oriundos de instituições diferentes. Seria quase um milagre que houvesse uma liderança política capaz de galvanizar todos numa só diretriz, quando se observam ainda mudanças em muitos objetivos programáticos, mesmo que esteja no estágio da campanha eleitoral.
Quando se tratar que colocações gerais todos podem concordar, mas as diferenças acabam ocorrendo nos detalhes das execuções. O Brasil é demasiadamente grande, com fortes diferenças regionais e variadas tendências politicas que ainda não estão suficientemente consolidadas. Não há uma forte liderança política, com as qualificações de um estadista.
É evidente que os resultados eleitorais seriam importantes, mas mesmo as minorias não podem ser facilmente atropeladas, principalmente quando as execuções demandas tempo e sacrifícios. Os recursos disponíveis não costumam ser suficientes para atender todas as aspirações, por mais legítimas que sejam.
Nunca pode se subestimar as dificuldades da formação de uma base parlamentar sólida, mesmo que num primeiro momento as contrariedades não sejam expostas. Não se pode esperar um cenário mundial que ofereça um vento de cauda, pois muitos países e regiões se esforçam ainda para se recuperarem da crise que vem desde 2007/2008.
Ainda que se respeite o poder do setor financeiro que foi capaz de reunir recursos humanos competentes, é preciso constatar que as atividades reais como do setor rural e industrial possuem reivindicações que nem sempre se ajustam aos simples interesses financeiros de curto prazo.
Todos precisam torcer para que haja um governo reazoável, principalmente do ponto de vista econômico, mas devem se reconhecer que os problemas a serem enfrentados são gigantescos e variados, num cenário em que as críticas são sempre mais fáceis do que os trabalhosos projetos e programas que exigem muita paciência na sua execução.
8 de setembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais e Notícias | Tags: diferenças dos volumes de recursos, duas notícias no site da Bloomberg, um fundo europeu para pesquisas sobre o grafeno, um IPO para o comércio pela internet
Uma notícia elaborada por Leslie Picker publicada no site da Bloomberg informa que o grupo chinês Alibaba procura captar US$ 21,1 bilhões num IPO para financiar suas atividades voltadas ao comercio via internet, que seria o maior lançamento de papeis efetuado no mercado mundial. De outro lado, Oliver Stanley num outro artigo publicado no mesmo site, informa que a Europa procura criar um fundo de US$ 1,3 bilhão para um amplo programa de pesquisas europeias relacionadas ao grafeno, este novo material revolucionário que possui ricas características, como resistência, transmissão de energia, pequena dimensão, entre muitos outros que poderá ocupar no século XXI o tipo de papel que o aço desempenhou no século XX. No primeiro caso, um simples professor de inglês transformou-se num ousado empresário, Jack Ma, que teve dificuldades para lançar a operação no seu país, em Hong Kong. No segundo caso, entre muitos outros cientistas envolve o co-ganhador do Prêmio Nobel de Física de 2010, Kostantin Novoselov, e Kostas Kostarelos, ambos hoje na Universidade de Manchester que está se destacando nestes trabalhos, havendo já milhares de patentes solicitadas pelas grandes empresas que atuam com este produto nos segmentos de tecnologia de ponta nos mais variados setores e países.
A diferença de mais de 15 vezes entre as duas cifras, a menor para atividades que aparentam proporcionar benefícios apreciáveis para a humanidade ao longo de muito tempo, e a maior para atividades banais de comércio pela internet que já vem sendo efetuado por muitas outras empresas mundo afora, leva a suspeita que há alguma coisa de errado nas avaliações chamadas de mercado, que envolvem conhecidas instituições bancárias internacionais, ainda que elas pensem somente nos resultados privados. A possibilidade de uma grande especulação envolvendo a divulgação de impressionantes e ousadas informações de elevados retornos não podem ser descartadas, até porque a operação idêntica em montante muito menor foi recusada em Hong Kong.
Kostantin Novoselov, Prêmio Nobel de Física 2010, atualmente na Universidade Manchester, com destaque nos trabalhos relacionados com o grafeno.
Kostas Kostarelos da Universidade de Manchester, também acumulou experiências em outras universidades sobre o assunto.
Jack Ma, Chairman da Alibaba, que amplia suas operações nos Estados Unidos
Evidentemente as duas coisas são diferentes, sendo que a primeira é um fundo para financiar muitas atividades de pesquisa que procuram transformar em produtos comercializáveis conhecimentos que estão sendo acumulados no segmento científico. O segundo é uma inusitada operação de ampliação das atividades comerciais, principalmente nos Estados Unidos, envolvendo também empresas que seriam beneficiadas como a Google, utilizando mecanismos como os da internet.
Os trabalhos científicos exigem cuidados e longos períodos para suas maturações. As atividades comerciais costumam ser de grande rotação. Ainda assim, o grupo Alibaba que começou na China há poucos anos, onde passou a contar praticamente com um monopólio, nos Estados Unidos como em outros países, devem contar com a concorrência de outras empresas. Na realidade, parece que a operação envolve lucros nas suas associações com a Google, que parece que não eram rentáveis. Mas, sempre existe uma impressão de “mágica”, não se esperando que acabem resultando na frustração das expectativas que foram alimentadas.
8 de setembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais e Notícias | Tags: dificuldades não resolvidas, estímulo para a economia europeia, seguindo o FED norte americano e os japoneses | 2 Comentários »
Ainda que muitos brasileiros continuem achando que o desaquecimento da economia é um problema nacional, tanto os norte-americanos, os japoneses e agora os europeus, tomam medidas visando a estimular suas economias que se encontram com dificuldades. O mesmo acontece na China como, na Rússia como na Índia, havendo poucos países que ainda não foram afetados, e que continuam com seus desenvolvidos abaixo do esperado. O BCE – Banco Central Europeu, por intermédio do seu competente presidente, Mario Draghi toma um conjunto de medidas, segundo artigo de Muhamed A. El-Erian no site da Bloomberg, que são ousadas e apresentam elevados riscos.
Visando uma nova rodada de estímulos para a economia europeia que continua sem recuperação, foram tomadas três mensagens fortes e inequívocas que vão muito além da Europa, e acabam afetando de forma duvidosa países emergentes como o Brasil. O primeiro não convencional estabelece uma taxa de depósito ainda mais negativa para os recursos que os bancos mantêm junto àquela autoridade monetária, visando o aumento de suas aplicações nos programas de compra de títulos, algo parecido com o que o Brasil vem adotando no Banco Central do Brasil, ainda que os bancos não estejam satisfeitos com a necessidade de aumentarem seus riscos. No segundo grupo, com uma flexibilização monetária em grande escala, maior que a norte-americana, aumentam até o uso da política fiscal, para suportar o crescimento sustentável. E finalmente, fugindo dos papeis tradicionais dos Bancos Centrais, passa a atuar de forma múltipla, afrouxando o controle monetário.
ECB – European Central Bank
Com base na experiência em outros lugares do mundo, o BCE movimenta-se de forma expressiva com a preocupação legítima para estimular a economia europeia, com quatro elementos principais:
1. Forçar para baixos os rendimentos dos títulos e as taxas de juros, na esperança do suporte para o aumento do emprego e do crescimento da economia;
2. Se as medidas não surtirem efeitos rápidos, aumentar a compra de bônus, enfraquecendo o euro e estimulando as exportações;
3. Pressionar os governos, tanto na área pública como privada, para promover o crescimento e evitar a deflação;
4. Esperar que os custos e riscos das medidas experimentais não sobrecarreguem os beneficiários.
Segundo o articulista as medidas só terão consequências positivas se forem apoiadas pelos governos da Europa. Como haverá efeitos colaterais sobre outros países como os Estados Unidos, a Suíça, China e principalmente sobre os países emergentes como o Brasil, haverá necessidade de medidas para contraporem-se as desvalorizações do euro, como com as desvalorizações das outras moedas, provocando um acirramento da guerra cambial.
Para que as medidas surtam efeitos, haverá necessidade de flexiblização fiscal (ou aumento do déficit fiscal, em outras palavras), bem como da regulamentação do emprego, alem da ampliação dos investimentos em infraestrutura.
As medidas adotadas na Europa acabam provocando sobre o Brasil e outros países emergentes efeitos mais deletérios do que quando o FED norte-americano tomou as primeiras medidas. No longo prazo a melhoria da Europa poderá beneficiar a todos, mas no primeiro momento, os mercados emergentes sofrerão com influxos de recursos financeiros que tendem a valorizar seus câmbios. A capacidade de reação brasileira e de outros países emergentes vai exigir medidas que não são populares.
5 de setembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia e Política, Editoriais e Notícias | Tags: a dimensão dos interesses, outras dificuldades potenciais, tentativas de desmembramentos
Todos sabem das dimensões e dos poderes históricas das indústrias petrolíferas no mundo. Um artigo elaborado por Tetsuya Abe, publicado no site do Nikkei Asian Review trata do assunto mostrando o que está acontecendo na China, onde o Presidente Xi Jinping tenta eliminar a corrupção e onde Zhou Yongkang, um ex-membro poderoso do Politburo daquele país aparece como alvo principal, por ter acumulado uma fortuna estimada em US$ 14 bilhões. Quando em 1988 foi criada a CNPC – China National Petroleum Corp juntamente com duas outras estatais, a Sinopec – China Petrochemical Corp e a China National Offshore Oil Corp estes assuntos petrolíferos estavam sob o comando de Zhou Yongkang.
A Sinopec, de acordo com a Fortune, teve em 2013 um faturamento de US$ 457,2 bilhões, o terceiro das empresas no mundo, depois da Wal-Mart Stores e da Royal Dutch Shell, contando com o monopólio do mercado interno chinês e protegido pelos regulamentos governamentais. Mas, seu lucro líquido sobre as vendas foi de 2%, enquanto os gigantes de petróleo dos Estados Unidos e da Europa variavam entre 4% a 8%, o que levantava dúvidas sobre a sua eficiência, que permitia o dreno de parte dos seus resultados. A National Audit Office da China levantou dúvidas sobre um montante de US$ 4,24 bilhões na Sinopec entre os anos 2006 e 2013.
China Petrochemical Corp.
China National Offshore Oil Corp.
Estas três empresas estatais chinesas contam com subsidiárias estão parcialmente listadas nas bolsas com 60% do total dos seus ativos.
O governo de Xi Jinping tenta fazer uma reforma para promover uma privatização das empresas petrolíferas, mas existem resistências. A Sinopec anuncia que irá vender 30% das suas ações em subsidiárias em postos de gasolinas para empresas privadas chinesas.
No entanto, acaba ficando a suspeita, segundo o artigo da Nikkei Asian Review que Xi Jinping estaria seguindo o exemplo russo de Vladimir Putin, acabando por criar um novo foco de corrupção.
Tudo isto estaria mostrando, também para o Brasil como outros países semelhantes como o México, que as privatização do setor de petróleo é complexo, exigindo transparências e controles democráticos e republicados, para não beneficiarem somente alguns grupos.
4 de setembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais e Notícias | Tags: a presença das estatais e menos importante do que imaginado, livro sobre a China, participação do setor privado
Nicholas Lardy, estudioso sobre a China, publicou um novo livro sobre a China, mostrando a importância do mercado naquele país, ele que é do importante organismo Instituto Peterson de Economia Internacional, de Washington, tendo sido entrevistado pelo The Wall Street Journal. Informa que as estatais chinesas não possuem a importância que todos lhes atribuem.
Courtesy of the Peterson Institute for International Economics
Segundo o autor as empresas estatais chinesas respondem por cerca de um terço e um quarto do PIB – Produto Interno Bruto daquele país. Na indústria, representam 20% da produção nacional. Com a ampliação do setor privado, em muitos setores, as empresas privadas vem ocupando o espaço que eram das estatais.
Ele entende que a expressão “capitalismo do Estado” não se encaixa muito bem naquele país, até porque a política industrial tem sido um fracasso completo. O retorno dos ativos das estatais continua despencando, e em 2013 teria sido somente de 3,7%.
Ele entende que a China é, realmente, uma economia de mercado. O papel do Estado diminuiu drasticamente nos últimos 20 a 30 anos. O emprego no Estado na China é menor que na França. Na crise financeira mundial, a participação do Estado nos Estados Unidos e em outros países foi maior que na China para evitar os danos econômicos.
Sobre a atuação do setor financeiro, um grande percentual dos fundos chineses empresta para o setor privado, orientado pelo mercado. Ainda que não seja um sistema totalmente comercial, o sistema chinês é mais do que é notado por muitos analistas. Se o setor privado responde por dois terços e três quartos do PIB chinês, e não teriam atingido esta situação não fora os empréstimos bancários.
Com as reformas em andamento, os financiamentos destinados ao setor privado tende a crescer ainda mais. O controle do Partido Comunista é político, e muitos executivos são designados para postos privados pelo governo, o que é uma falha naquele país. O que está se ampliando é o setor de serviços, onde o controle estatal é reduzido.
Tanto as telecomunicações, os negócios de leasing como as operações logísticas são privadas, sendo fechado para os estrangeiros. Eles impõem custos elevados para o setor industrial.
Existem reclamações do setor privado, pois o poder de bloquear as reformas ainda é elevado nas estatais. Estão ocorrendo pressões das empresas privadas para que elas continuem cada vez mais competitivas em termos internacionais.
Verificando o que ocorre na China, como mais recentemente na Índia, grandes países emergentes nota-se que também no Brasil, se não se reduzir a presença estatal, não continuaremos competitivos em termos internacionais.
4 de setembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais e Notícias | Tags: ajustamentos difíceis, alumínio e construção naval, capacidade ociosa da indústria siderúrgica chinesa, cimento, problemas também com vidros planos
Ainda que todos os dados chineses sejam astronômicos, um artigo elaborado por Adam Minter e publicado no site da Bloomberg menciona o que está acontecendo com a siderurgia chinesa e sua capacidade ociosa, afirmando que algo semelhante estaria ocorrendo também com as indústrias de vidros planos, cimento, alumínio e construção naval. No último fim de semana 300 executivos da siderurgia da China teriam se reunido no Beijing Landmark Towers, um hotel estatal, para a oitava reunião anual da China International Forum de Reciclagem do Metal para enfrentar a nova realidade. Na versão anterior do evento tinham usado o novo e luxuoso Le Meridian de Chongqing, reunindo 500 entusiasmados executivos do setor.
De acordo com Zhu Jimin, vice-presidente da China Iron and Steel Association, a capacidade da indústria de aço daquele país cresceu de 200 milhões de toneladas de fins de 2012 para 1,1 bilhão de toneladas, todas estatais. Para comparação os Estados Unidos em 2013 produziu apenas 87 milhões de toneladas. No primeiro semestre deste ano o consumo chinês foi de 376 milhões de toneladas, o que permite estimar que pudesse chegar a 700 milhões no ano, ou mais de 30% de capacidade ociosa. O governo Xi Jinping pretende encerrar as atividades das unidades mais poluentes e menos eficientes.
Indústria siderúrgica chinesa, muitas estatais controladas pelas autoridades regionais.
Com esta capacidade ociosa os preços do aço continuam a despencar, e no primeiro semestre deste ano caiam 8,79%, apesar das exportações fortes, inclusive para o Brasil.
O mesmo quadro se apresenta para as demais indústrias pesadas chinesas e o Conselho de Estado da China destacou também as de vidros planos, cimento, alumínio e construção naval. No aço revelaram a disposição de corta 27 milhões de toneladas de aço, além dos 10 milhões já reduzidos em 2013. Cortes maiores de cerca de 400 milhões de toneladas visam às fábricas poluentes que estão com tecnologias defasadas.
Ainda que estas reduções estejam programadas, ainda há um crescimento descontrolado de algumas em expansão. Existem subsídios que o governo está reestudando, financiamentos do mercado paralelos, corrupções e a maior parte do setor estar sob comando das autoridades locais.
Por ironia, mesmo na reunião mencionada, contava-se com a presença de stands de fornecimento de equipamentos inclusive por leasing, alguns deles para substituir os obsoletos.
Portanto, apesar das intenções do governo Xi Jinping é mais fácil de falar sobre o assunto do que executar as medidas dentro da mesma orientação, mesmo na China cuja economia é controlada de forma centralizada.
Com tudo isto acaba ocorrendo uma guerra no mercado internacional, fazendo com que as siderurgias brasileiras sofram parte de suas consequências.
3 de setembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais e Notícias, Política | Tags: problemas com os chineses nos mares da China, problemas com os russos na região da Ucrânia, problemas no Oriente Médio
Lamentavelmente, confrontos até militares estão se multiplicando pelo mundo de forma assustadora. A Rússia que se encontra numa tendência decadente depois da dissolução da antiga URSS – União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, onde explorava os países vizinhos, torna aguda a crise na região da Ucrânia, tendo já absorvido a antiga Criméia, fomentando a dissidência das populações de origem russa que ocupam partes destes países vizinhos. Os países ocidentais que contavam no passado com o policiamento mundial dos Estados Unidos, não contam mais com mecanismos para a solução destas dificuldades, mesmo que tenha ainda alianças como a da NATO – Organização do Tratado do Atlântico Norte. Eram as forças militares norte-americanas que tinham o poder para exercerem pressões operacionais para a solução rápida destes conflitos.
A expansão da China vem se efetivando pelos mares que os cercam, incomodando vizinhos que contavam antes com forças norte-americanas para evitar estes confrontos. Os desgastes que os Estados Unidos sofrem vêm se repetindo, começando no Vietnã, estendendo-se pelo Iraque, pelo Afeganistão e por muitas partes do Oriente Médio, junto com seus aliados, não permitem mais cogitar-se de suas participações na solução destas dificuldades na Ásia. As dificuldades de Israel com a Palestina, os problemas com a Síria e com as facções terroristas em países do Oriente Médio não podem mais ser resolvidos com a participação do país que era o líder mundial. Nem as Nações Unidas, que com o Conselho de Segurança que foram criadas depois da Segunda Guerra Mundial para evitar estas dificuldades internacionais não encontram espaços para as suas soluções, que além das ações diplomáticas, necessitam de forças militares, mesmo que elas não sejam utilizadas.
Sede das Nações Unidas em Nova Iorque
Se haviam dificuldades com o policiamento mundial dos Estados Unidos, o mal sem ele parece pior. Desde 1945 quando foi criada a Organização das Nações Unidas com o seu Conselho de Segurança, as grandes potências vencedoras da Segunda Guerra Mundial contam com o poder de veto dos Estados Unidos, da Rússia, da China, da França e do Reino Unido. Não se consegue que haja uma reforma considerando a complexidade mundial que é diferente da época da sua criação.
Como as principais dificuldades mundiais atuais dividem estes países que possuem poder de veto, não se consegue que haja uma decisão que permita a sua atuação, mesmo que não se espere que ninguém deseje uma guerra aberta. O fato concreto é que os países como a Rússia e a China vão ampliando as situações de fato, para aumentarem o seu poder, inclusive de uma negociação.
Evidentemente, atrás dos problemas político-militares estão os grandes interesses econômicos, como os relacionados com a energia e o suprimento de matérias primas estratégicos. Envolvem também a proteção das rotas indispensáveis para a garantia do seu suprimento estável. Não se podem relevar também os problemas étnicos de populações que se deslocaram pelas diversas regiões, e que se acentuam com a globalização econômica.
Parece, também, que não se dispõem de líderes estadistas que sejam capazes de conduzir os diversos países para soluções que sejam convenientes para todos, de forma estável e no longo prazo. O atual quadro de incertezas acaba afetando a todos, notadamente os países emergentes e menos desenvolvidos, que necessitam fomentar suas produções para conquistar estágios superiores de padrão de vida para suas populações.